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Diversificação ou concentração de

governança da infraestrutura (com especial foco no setor de transporte)

3. Diversificação ou concentração de

exportações na América Latina

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Como tem evoluído a diversificação e concentração das exportações latino-americanas neste século XXI? Como podem as economias latino-latino-americanas diversificar suas cestas exportadoras? Quais políticas são apropriadas para esse objetivo no contexto da forte expansão comercial com a Ásia? Quais fatores têm sido determinantes na geração de novas atividades econômicas exportadoras na América Latina? Quais papéis desempenharam, por exemplo, as políticas públicas e o investimento estrangeiro?

A literatura econômica recente sobre diversificação de exportações esteve orientada a medir a concentração das cestas exportadoras. Esta medição é utilizada regularmente como um insumo para analisar a incidência que um maior ou menor nível de concentração da cesta exportadora tem sobre o crescimento econômico. Em geral, a diversificação de exportações é considerada um elemento central nas estratégias de desenvolvimento. A literatura identifica geralmente dois grandes canais pelos quais a diversificação estimula o crescimento9: i) o efeito da diversificação do risco perante choques ou shocks externos da demanda, e ii) o efeito dinâmico sobre tecnologias produtivas (externalidades tecnológicas).

3.1. Evolução do índice

Herfindahl-Hirschmann

O indicador utilizado com maior frequência na literatura para medir a concentração de exportações e avaliar sua relação com o crescimento econômico é o índice Herfindahl-Hirschmann (IHH), embora também sejam utilizados outros, como o coeficiente de Gini aplicado às cestas exportadoras ou o índice Theil. Imbs e Wacziarg (2003), Hesse (2008), Agosín, Álvarez e Bravo-Ortega (2008), Cadot, Carrière e Strauss-Kahn (2009) são alguns dos estudiosos que utilizam esses indicadores.

A seguir, apresentamos os valores do índice Herfindahl-Hirschmann para diferentes economias latino-americanas e asiáticas, para os anos 2000, 2006 e 201110. Foram selecionados nove países latino-americanos11 que na década de 2000 representavam mais de 94% das exportações totais da região, e os seis países asiáticos com maior nível de exportações12.

8 Esta seção está baseada principalmente em Meller e Zenteno (2013). 9 Ver Agosín (2007), Dutt, Mihov e Van Zandt (2008), e Hesse (2008).

10 Os índices foram calculados segundo a metodologia sugerida pelo Handbook of Statistics (2010) da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

11 Os nove países latino-americanos são a Argentina, o Brasil, o Chile, a Colômbia, Costa Rica, o México, o Peru, o Uruguai e a Venezuela. 12 Os seis países asiáticos são a China, a Índia, o Japão, a Malásia, a Coreia do Sul e a Tailândia.

GRÁFICO 5. Concentração das exportações segundo o IHH para os países da Ásia e da

América Latina selecionados

Nota: As médias regionais não são ponderadas; isto significa que cada país tem a mesma ponderação.

Fonte: Cálculos dos autores com base nos dados de UN COMTRADE, na classificação SITC Rev. 3, nível de desagregação de três dígitos.

Os índices de Herfindahl-Hirschmann calculados são, em geral, maiores para os países latino-americanos do que para os asiáticos, embora a heterogeneidade dentro da América Latina seja significativa. Isto indica as diferenças regionais gerais respeito das estruturas exportadoras. De acordo com esta medição, as economias latino-americanas contam com cestas exportadoras mais concentradas em determinados produtos, em comparação com as economias asiáticas. Se observarmos a evolução dos índices através do tempo, os mesmos sugerem que, na média, os países asiáticos tenderam a uma menor concentração das suas cestas, enquanto os países latino-americanos têm cestas cada vez mais concentradas. O índice Herfindahl-Hirschmann teve um aumento de 17,13% na América Latina entre 2000 e 2011, enquanto na Ásia o indicador diminuiu 7,64% durante o mesmo período (gráfico 5).

3.2. Medições alternativas da

diversificação das exportações

Ao calcular a concentração das cestas exportadoras latino-americanas através do índice Herfindahl-Hirschmann, observamos um processo de maior concentração na década passada. A inferência implícita feita tradicionalmente desse padrão evolutivo é que se está exportando mais do mesmo e em maiores proporções. Em outras palavras, não existiria uma diversificação das exportações, mas sim uma concentração crescente.

Porém, esse resultado contrasta com o fato de que se tenham desenvolvido novas atividades exportadoras na América Latina durante a última década. A seguir, se apresenta a quantidade de categorias exportadoras cujo valor supera os USD 100 milhões para a mesma seleção de economias latino-americanas e asiáticas nos anos 2000 e 2006 e 2011 (tabela 6)13.

TABELA 6. Categorias exportadoras relevantes (3 dígitos) para as cestas latino-americanas e

asiáticas (seleção de países).

X > USD 100 milhões anuais (3 dígitos)

País 2000 2006 2011 Argentina 51 72 92 Brasil 100 137 155 Chile 25 42 57 Colômbia 18 36 41 Costa Rica 9 9 18 México 142 154 172 Peru 14 26 41 Uruguai 4 9 17 Venezuela 13 13 9 China 179 207 218 Índia 75 140 180 Japão 157 165 171 Malásia 92 130 164 Coreia do Sul 135 155 171 Tailândia 108 144 169 Estados Unidos 238 251 270

Média América Latina 42 55 67

Média Ásia 124 157 179

Mediana América Latina 18 36 41

Mediana Ásia 122 150 171

Nota: As médias regionais não são ponderadas; isto significa que cada país tem a mesma ponderação.

Fonte: Cálculos dos autores com base nos dados de UN COMTRADE, na classificação SITC Rev. 3, nível de desagregação de três dígitos.

Na América Latina (com exceção da Venezuela), verifica-se, na primeira década desse século, um incremento substancial na quantidade de produtos exportados cujo valor anual (3 dígitos) supera os USD 100 milhões. O surgimento de novas categorias exportadoras relevantes é denominado, em geral, na literatura como diversificação da margem extensiva. Por tanto, é evidente uma limitação da metodologia tradicional para medir a diversificação das cestas exportadoras: o índice Herfindahl-Hirschmann não dá conta da diversificação perante o surgimento de novas categorias exportadoras.

A seguir, é proposto um indicador alternativo para suprir esta deficiência das medições tradicionais. Vamos medir a diversificação relativa de cestas exportadoras tomando os EUA como benchmark14. Para isso, aplica-se o Índice de Diversificação Relativa de Exportações (IDRE) definido como o número de categorias de produtos exportados por um determinado país (cujo valor anual supera USD 100 milhões ou outro valor), em relação ao número de categorias exportadas pelos Estados Unidos15.

Os gráficos 6 e 7 ilustram como tem variado a diversificação relativa de exportações entre 2000 e 2011 para a seleção de economias latino-americanas e asiáticas. Para a maioria delas, o índice aumentou, indicando um incremento no número de categorias exportadoras relevantes, em relação ao número de categorias exportadas pela economia mais diversificada do mundo.

GRÁFICO 6. Índices de diversificação relativa das exportações para uma seleção de países da

América Latina, 2000 e 2011 (EUA=100, 3 dígitos)

Fonte: Cálculos do autor com base nos dados de UN COMTRADE.

Comparando as duas regiões (ano 2011), observa-se que todos os países asiáticos têm um índice de diversificação relativa superior a 60%, destacando à

14 Foram selecionados os Estados Unidos já que no ano 2000 foi o maior exportador do mundo, com um montante anual de exportações equivalente a USD 1.093.200 milhões correntes (Fonte: Banco Mundial).

China com 81% (gráfico 7). Pelo contrário, na América Latina, apenas o México e o Brasil têm índices de diversificação relativa similares aos asiáticos. No resto dos países da região, esses índices são menores: a Argentina, 34%; o Chile, 21%, e a Colômbia e o Peru 15% (gráfico 6). Em consequência, novamente observamos que os países asiáticos têm, em geral, uma cesta exportadora mais diversificada do que a latino-americana. No entanto, é interessante observar que, na maioria dos países latino-americanos, existe um aumento significativo, em uma década, na diversificação (relativa) das exportações neste século (2000-2011); quer dizer, houve uma redução da brecha de diversificação das exportações latino-americanas respeito dos Estados Unidos.

GRÁFICO 7. Índices de diversificação relativa das exportações para uma seleção de países da

Ásia, 2000 e 2011 (EUA=100, 3 dígitos)

Fonte: Cálculos do autor com base nos dados de UN COMTRADE.

Em síntese, o índice Herfindahl-Hirschmann oferece uma visão distorcida do padrão exportador da América Latina, sugerindo que existe uma maior concentração da cesta exportadora na última década. Mas, o índice Herfindahl-Hirschmann não é capaz de refletir o surgimento de novas atividades econômicas relevantes para as cestas exportadoras latino-americanas. Como indicador mais apropriado para medir esta diversificação é sugerido o número de categorias de produtos cujo valor anual supere um limiar determinado (por exemplo, USD 100 milhões). Esse indicador permite também observar a evolução relativa da diversificação exportadora de um país em relação a um “país exportador de referência” (os Estados Unidos).

3.3. Novas exportações