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infraestrutura na América Latina

2.1. Acesso e cobertura

Nos anos recentes, América Latina se caracterizou por ter aumentado o acesso e a cobertura dos serviços providos pela infraestrutura. Primeiro, aumentou o acesso à água potável3 nos países da região analisados, com valores mais altos em alguns do que em outros (Unicef e OMS, 2017). O gráfico 1 apresenta esta informação. Como se observa no painel A, o melhor desempenho foi no México e no Peru, onde a cobertura da água tratada era a mais baixa no começo da década de 1990, com aproximadamente 82% e 75% respectivamente, para finalizar em 2015 com aproximadamente 95% e 85%. Pelo contrário, a Colômbia se destaca pelo pouco avanço nesse sentido: sua variação foi mínima, passando de aproximadamente 88% para cerca de 91% no mesmo período. Na comparação com os países asiáticos, observa-se que, em geral, estes países avançaram em direção a cobertura universal de água potável de modo mais rápido. Dos países analisados, o mais atrasado era a China, com uma porcentagem por debaixo de 70% de população com acesso à água tratada. Porém, em 2015, o país contava com uma cobertura de aproximadamente 94%, o que constitui uma grande melhoria.

1 Infralatam é uma iniciativa da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e CAF para coletar informação sobre o investimento público e privado em infraestrutura. Para mais informação, consulte a seguinte página web: http://infralatam.info/

2 Não todos os países dispõem da informação para as séries estudadas. Portanto, o conjunto de países apresentados vai variar em alguns casos.

3 O Programa Conjunto de Monitoramento (PCM) do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) define a água potável como aquela utilizada para fins domésticos e higiene pessoal, assim como para beber e cozinhar. Uma pessoa tem acesso à água potável se a fonte da mesma se encontra a menos de um quilômetro de distância do lugar de utilização e podem ser obtidos de forma confiável, pelo menos 20 litros diários para cada membro da família. Para mais informação, consulte a página web a seguir: https://www.who.int/water_sanitation_health/mdg1/es/

GRÁFICO 1. Acesso à água potável nos países selecionados, 1990-2015

Painel A. Evolução do acesso em países da América Latina Painel B. Evolução do acesso nos países asiáticos

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Banco Mundial (2019).

Apesar do avanço evidente, os montantes agregados escondem as diferenças existentes ao separar zonas urbanas e rurais (CAF, 2018). Ao nível mundial, estima-se que 55% da população rural tem acesso a serviços de água devidamente tratada, em comparação com 85% da população urbana (Unicef e OMS, 2017). Com isso, é indiscutível que ainda é necessário fechar a brecha existente em termos de acesso a esse serviço, especialmente nestas áreas. Os problemas de governança e gestão eficiente dos recursos ao nível local explicam, em parte, a falta de desenvolvimento nas zonas rurais dos países latino-americanos (Castro, 2019). Por isso, a melhoria desses processos deve ser uma prioridade para conseguir uma maior cobertura.

No que respeita ao saneamento4, é notório também um incremento no acesso e cobertura, mas ainda existe muito espaço para melhorar (gráfico 2). Especificamente, os números mostram que existem grandes diferenças entre os países analisados. Em primeiro lugar, a Argentina e o Chile são os que contam com a maior taxa de acesso, chegando a mais de 90% da população. Segue um segundo grupo de países compostos pelo Brasil, o México e a Colômbia, com uma cobertura média de 80%. Por fim, o país mais atrasado, mas também o

4 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entende-se por saneamento o fornecimento das instalações e serviços que permitem eliminar sem risco a urina e as fezes, e a manutenção das boas condições de higiene graças a serviços como a coleta do lixo e a evacuação das águas residuais (Unicef e OMS, 2015).

que apresentou mais avanços é o Peru, passando de aproximadamente 53% em 1990 para pouco mais de 71% em 2015, o que reflete sua notável melhoria. Em comparação, os países asiáticos apresentaram um nível mais alto de cobertura, com a exceção da China, cuja evolução é semelhante à do Peru.

GRÁFICO 2. Acesso a saneamento nos países selecionados, 1990-2015

Painel A. Evolução do acesso em países da América

Latina Painel B. Evolução do acesso nos países asiáticos

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Banco Mundial (2019).

Ao analisar a situação de acesso à eletricidade e à internet, surgem algumas diferenças nos comportamentos observados. De acordo com o gráfico 3, a cobertura do acesso universal à eletricidade é alta e sugere que existe certa convergência na porcentagem de população que consegue acessar esse serviço. Em geral, observa-se um desempenho apropriado para o período 1990-2015, com destaque para a evolução do Peru. No início do período, a cobertura apenas atingia 60%, no entanto, no final do mesmo chegava aproximadamente a 93%. Para o resto dos países latino-americanos, a cobertura varia entre 97% e 100%, dando conta de como o desenvolvimento da infraestrutura orientado ao fornecimento de eletricidade na região é um dos elementos mais avançados. Entretanto, ao estudar a evolução do mesmo indicador nos países asiáticos é possível notar que houve uma convergência mais rápida, com uma cobertura próxima a 100%.

GRÁFICO 3. Acesso à eletricidade nos países selecionados, 1990-2015

Painel A. Evolução do acesso em países da América Latina Painel B. Evolução do acesso nos países asiáticos

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Banco Mundial (2019).

Ao igual que com o acesso à água potável, os montantes agregados sobre o acesso à eletricidade escondem diferenças entre as zonas rurais e urbanas. Em particular, segundo o estudo de Jimenéz (2016), no qual explora-se o acesso à eletricidade nas zonas rurais5 em 16 países da América Latina, o problema é maior para aqueles de renda baixa devido a que a cobertura da eletricidade nas áreas rurais atinge apenas 55% para as pessoas da renda mais baixa. A principal barreira de acesso está relacionada com a localização e, em menor medida, com a renda, que explica também parte da insuficiente cobertura. Como elemento adicional respeito de como atingir esta cobertura universal, deve se promover a participação do setor privado nos processos de investimento e desenvolvimento de energia, com ênfase nas energias renováveis pela redução de custos que apresentam (Panos, Densing e Volkart, 2016). No caso dos países asiáticos, o foco no desenvolvimento de tecnologias de pequena escala para o fornecimento de energia renovável ajudou a região a melhorar seus indicadores de cobertura, permitindo atingir um maior desenvolvimento (Sovacool e Duprady, 2016). Nesse sentido, a América Latina poderia também se beneficiar com esse tipo de tecnologia baseada em fontes renováveis para aumentar o acesso à eletricidade em zonas remotas e rurais.

5 Os países considerados no estudo são a Bolívia, o Brasil, o Chile, a Colômbia, a Costa Rica, a República Dominicana, o Equador, a Guatemala, Honduras, a Jamaica, o México, a Nicarágua, o Peru, o Paraguai, El Salvador e o Uruguai.

O caso do acesso à banda larga fixa é um pouco diferente. O gráfico 4 apresenta as brechas existentes entre os países latino-americanos e asiáticos analisados. Especificamente, na América Latina, em média, 12 de cada 100 pessoas contam com subscrição a banda larga fixa, sendo a Argentina e o Chile os países com maior número de subscritores (aproximadamente 15 de cada 100 pessoas) enquanto o Peru (8 de cada 100) registra o número menor. Pelo contrário, nos países asiáticos, acontece que a irrupção da banda larga foi mais rápida: na Coreia do Sul e em Singapura, o número de subscrições por cada 100 habitantes é de aproximadamente 39 e 28, respectivamente, enquanto na Malásia e a Tailândia apresenta níveis semelhantes aos dos países latino-americanos.

GRÁFICO 4. Subscrição a banda larga fixa por cada 100 habitantes nos países selecionados,

1990-2015

Painel A. Evolução do acesso em países da América Latina Painel B. Evolução do acesso nos países asiáticos

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Banco Mundial (2019).

Apesar do aumento claro na cobertura de banda larga, os níveis da região ainda são baixos em comparação com alguns outros países emergentes da Ásia. Vários aspectos explicam esse menor nível de acesso. Em primeiro lugar, está a baixa renda das famílias, os custos dos dispositivos e as taxas na prestação do serviço. Em segundo lugar, vem a fraca infraestrutura, a falta de educação digital e a desconfiança, e em terceiro lugar, as políticas, os impostos e as barreiras operacionais (West, 2015). Por isso, é importante garantir a concorrência na prestação desses serviços na região para, desta forma, incentivar o ingresso de outros atores no mercado. De igual forma, é

fundamental incrementar a penetração da internet nas zonas rurais e, assim, conseguir uma maior articulação nos países.

Em síntese, observa-se que a região tem apresentado melhorias na cobertura e o acesso à infraestrutura de água, saneamento, eletricidade e internet. O progresso tem sido chamativo, mas ainda é necessário promover mais processos de investimento e desenvolvimento que permitam que uma maior parte da população acesse esses serviços. Neste aspecto, resulta vital articular os processos de desenvolvimento com as populações rurais, que são as mais afetadas pelos problemas no fornecimento de infraestrutura. A seguir, serão discutidos os aspectos relativos à qualidade desses serviços, o qual nos permitirá incluir outros serviços como telecomunicações, estradas e portos.

2.2. Qualidade

Em termos de qualidade, a região apresenta os maiores desafios. Tanto a cobertura quanto a qualidade têm melhorado em forma palpável, no entanto, neste último aspecto ainda há muito trabalho pela frente. Para estudar esses comportamentos, foram utilizados os dados fornecidos pelo Fórum Econômico Mundial, disponíveis até 2017. Em particular, os indicadores utilizados são os de qualidade das vias (transporte), a eletricidade, as telecomunicações e os portos. Nesta escala, um é uma qualidade extremamente ruim, e sete é extremamente boa.

O gráfico 5 apresenta a evolução do indicador para vias, apresentando pouca convergência e menor qualidade para os países da América Latina. Salienta-se que, em comparação, a qualidade das vias nos países asiáticos é superior, localizando-se por cima de 5 nos países analisados, enquanto nos países latino-americanos está por debaixo de 4, com a exceção do Chile, que obtém entre 4 e 4,5. Apesar de que o investimento tem-se focado neste setor (Lardé, 2016; Garemo et al., 2018), os dados mostram que não é necessário impulsionar o fornecimento nem a alocação de recursos para o desenvolvimento e manutenção viária na América Latina.

GRÁFICO 5. Qualidade viária nos países selecionados, 2007-2017

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Fórum Econômico Mundial (2019).

A qualidade da eletricidade e da telefonia apresenta maiores diferenças entre os países da América Latina. Como apresenta o gráfico 6, o Chile é o país da região com maior qualidade, com um índice de aproximadamente 5,5. A Argentina, o Brasil e a Colômbia compartilham uma qualificação média de 4,4. Entre os mesmos, destacam a Argentina e o Brasil por apresentar reduções na avaliação de qualidade obtida entre 2012 e 2015, no entanto, a Colômbia tem apresentado uma tendência crescente no período 2012-2017. Finalmente, dentro dos países estudados, a Venezuela conta com uma pior qualidade no fornecimento de eletricidade e telefonia, com uma qualificação de 3. Embora alguns desses países tiveram uma melhoria, uma característica que compartilham é o pouco incremento na qualidade. Como se observa, a variação entre 2010 e 2017 foi mínima, o que ressalta a necessidade de continuar promovendo o desenvolvimento e o fornecimento de infraestrutura para eletricidade.

GRÁFICO 6. Qualidade da eletricidade e telefonia nos países selecionados, 2007-2017

Painel A. Evolução nos países da América Latina Painel B. Evolução nos países asiáticos

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Fórum Econômico Mundial (2019).

Entre os motivos pelos quais não foram observadas melhorias importantes no setor de eletricidade, destacam-se a regulação e a governança do setor. De Halleux, Estache e Serebrisky (2018) salientam que o fracasso no desenvolvimento de capacidade de regulação, impediu o fortalecimento do sector.

Outro elemento fundamental para a atividade econômica é a infraestrutura portuária. Na América Latina, a eficiência portuária melhorou, e observa-se uma associação positiva entre a eficiência do porto e os operadores privados (Serebrisky et al., 2016). Todavia, apesar dos aportes positivos de permitir que operadores privados sejam os encarregados da operação dos portos, a qualidade ainda é um aspecto importante a ser fortalecido. Como apresenta o gráfico 7, a região se caracteriza pela baixa qualidade, sendo que a Argentina, a Colômbia, o Brasil e a Venezuela possuem uma avaliação inferior a 4, enquanto o Chile é o único país entre os analisados que a supera. Um comportamento destacado é o da Colômbia: a partir de 2010, tem apresentado melhorias superiores ao resto dos países, passando de uma avaliação de aproximadamente 2,9 em 2007 para 3,8 em 2017.

Em comparação, os países asiáticos apresentam melhor qualidade de infraestrutura portuária e isso se deve em parte aos processos de investimento que foram implementados, procurando reduzir os custos de transporte associados com uma baixa eficiência nos portos. (Abe e Wilson, 2009). Para incrementar a qualidade dos países latino-americanos é fundamental

consolidar estruturas integradas de transporte que facilitem os processos logísticos relacionados com o tráfego portuário, para que se fortaleça a relação entre o setor público e privado (Wilmsmeier e Monios, 2016).

GRÁFICO 7. Qualidade portuária nos países selecionados, 2007-2017

Painel A. Evolução nos países da América Latina Painel B. Evolução nos países asiáticos

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Fórum Econômico Mundial (2019).

Assim, a evolução dos indicadores de qualidade para os tipos de infraestrutura estudados mostra que os progressos foram poucos e que é importante continuar fortalecendo o seu funcionamento, e não só incrementar a cobertura. A falta de convergência com os níveis atingidos pelos países asiáticos manifesta a necessidade de implementar melhores processos de investimento que garantam um maior desenvolvimento. Melhores vias, eletricidade, redes de comunicação e portos, entre outros tipos de infraestrutura, favorecem a atividade produtiva e o progresso da região ao reduzir os custos da transação e incrementar a eficiência.