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Investimento público e privado

infraestrutura na América Latina

2.3. Investimento público e privado

América Latina tem-se caracterizado pela necessidade imperante de incrementar o investimento em infraestrutura. Apesar dos referidos aumentos na cobertura, entre 1992 e 2013 se evidencia um investimento menor do que o necessário, cuja média foi de 2,4% até 2,7% do PIB, comparado com 7,7% e registrado na Ásia Oriental e no Pacífico, 4% na Ásia Central e 6,9% no Médio Oriente e no Norte da África (Fray et al., 2017). Além disso, a composição do investimento em infraestrutura é principalmente pública, embora se

tenha registrado um aumento da participação privada nos últimos anos (Serebrisky et al., 2015; CAF, 2019; Fray et al., 2017). Parte desse incremento está relacionado com as PPP, que foram se consolidando na região como uma das vias para melhorar o fornecimento e o desenvolvimento da infraestrutura. Por este motivo, apresentam-se a seguir as particularidades da evolução do investimento na Argentina, no Brasil, no Chile, na Colômbia, no México e no Peru, de acordo com os dados mais recentes fornecidos por Infralatam.

De forma geral, o gráfico 8 apresenta a média de investimento total em infraestrutura para os períodos 2008-2011 e 2012-2015. Para cada período, separa-se o componente privado do público, procurando identificar como foi aumentando ou diminuindo o investimento por fonte de financiamento. Dessa forma, observa-se que o Chile, a Colômbia, o Peru e, em menor medida, o México têm incrementado o seu investimento em infraestrutura como proporção do PIB. Em particular, fica em evidência o aumento dos três primeiros valores: na média, de um ponto porcentual. Especificamente, o Chile passou de 3,07 % para 4,01 %; a Colômbia, de 3,46 % para 4,46 %, e o Peru, de 4,51 % para 5,73 %, sendo nesse último onde mais cresceu. Note-se também, que este aumento se deveu em parte a uma maior participação privada: cresceu em proporção ao investimento total, o que explica a reconfiguração dos processos de desenvolvimento de infraestrutura que vêm ocorrendo na região. Pelo contrário, na Argentina e no Brasil, a média do investimento diminuiu; isso pode ser justificado pela situação econômica, política e social que ambos países têm enfrentado nos últimos anos.

GRÁFICO 8. Investimento total em infraestrutura

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de Infralatam (2019). Última data de consulta: setembro de 2019.

A análise da evolução do investimento total em infraestrutura mostra que o aumento tem sido lento e, em alguns casos mínimo para as necessidades de cada um dos países. Ao dividir por tipo de infraestrutura, o comportamento é similar, mas muda a participação de investimento público e privado dependendo do setor estudado. Por exemplo, a participação privada em energia e telecomunicações foi sempre maior do que em outros setores.

Como apresenta o gráfico 9, a participação no setor da energia foi principalmente privada em todos os países com a exceção da Argentina. Distingue-se também o crescimento da participação privada no Chile, na Colômbia, no México e no Peru, contrastando com a redução do nível de investimento no Brasil. Por sua parte, o gráfico 10 apresenta a proporção do investimento em telecomunicações, que corresponde a telefonia fixa e móvel, transmissão de dados e internet. Neste caso, pela natureza do setor, é chamativo como a participação privada é a maior em todos os países, com a característica de contar com investimento público em uma pequena proporção. Os problemas de concorrência marcaram o desenvolvimento desse setor e apesar das melhorias privadas observadas, persistem as estruturas monopólicas que têm impedido um maior progresso (Andrés, Schwartz e Guasch, 2013).

GRÁFICO 9. Investimento em energia nos países da América Latina

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de Infralatam (2019). Última data de consulta: setembro de 2019.

GRÁFICO 10. Investimento em telecomunicações nos países da América Latina

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de Infralatam (2019). Última data de consulta: setembro de 2019.

O transporte é o setor que mais acumula despesas em investimento em relação a outros setores. O gráfico 11 apresenta sua evolução. A Colômbia sobressai como o país com maior investimento nesse setor, passando de uma média de 2,12% no período 2008-2011 para 3,32% em 2012-2015. De igual forma, o Peru evidencia um aumento importante, de 2,5% para 3,26%, enquanto no Brasil a variação foi mínima: passou de 0,99% para 1,13%. Também, ao analisar a composição do investimento, observa-se que nos três casos aumentou a participação privada: na média, com um aumento de 28% para 45% do total do investimento em transporte. Pelo contrário, a Argentina, o Chile e o México diminuíram o investimento destinado a infraestrutura do transporte.

GRÁFICO 11. Investimento em transporte

Nota: Refere-se ao transporte terrestre, aéreo, fluvial e marítimo.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de Infralatam (2019). Última data de consulta: setembro de 2019.

A partir desse diagnóstico, é possível notar como, apesar do avanço evidenciado nos últimos anos, a região continua apresentando grandes desafios para melhorar o acesso e a qualidade dos serviços de infraestrutura. Esses desafios incluem não só um incremento do investimento, mas também tornar essa despesa mais eficiente, por exemplo, através de políticas que garantam a manutenção e um melhor uso da infraestrutura existente. Como afirmam Fay et al. (2017), não é suficiente concluir que cada país deve destinar entre 4% e 5% do seu PIB ao investimento em infraestrutura. Mais do que isso, é importante que existam alvos claros, de forma que os legisladores tenham a capacidade de conhecer quais são as necessidades que existem no interior de seus países (Fay et al., 2017). De igual forma, é fundamental consolidar a capacidade regulatória do Estado para garantir o fornecimento de melhores serviços de infraestrutura que levem para um maior desenvolvimento econômico e social na região. Na próxima seção serão analisadas de que forma as parcerias PPP podem colaborar na conquista desse objetivo.

3. As parcerias público-privadas