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A evolução das Tecnologias de Informação na sociedade e no governo

CAPÍTULO I ORIGEM E CONCEITO DO GOVERNO ELETRÔNICO

1.2 A evolução das Tecnologias de Informação na sociedade e no governo

A Sociedade da Informação (SI) pode ser traduzida como a influência da informação na sociedade (Castells, 2006), ou os impactos e as consequências das Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC) sobre a sociedade (Sorj, 2003) e ênfase à aplicação das inovações tecnológicas por meio da convergência da computação e telecomunicações (Gianassi, 1999).

Seu surgimento teve início na década de 1940 quando apareceram as principais descobertas na área (Castells, 2006), mas seu maior avanço ocorreu a partir de 1970, com o surgimento dos microcomputadores e as tecnologias de integração em rede (Mantovane, 2012). Esse processo sinalizou, também, um novo cenário político com ênfase na importância das políticas de informação11, nas práticas e modelos da NPM e no Estado como agente de

elaboração e implementação (González de Gómez, 2002; Jardim et al., 2009).

Caracterizando uma nova fase do capitalismo informacional (Almeida & Ganzert, [n.d.]), a emergência da informação enquanto fator estratégico de governo a partir do período pós Segunda Guerra Mundial, sobretudo nos países de capitalismo central (González de Gómez, 2002), conduziu a um novo paradigma tecnológico que alterou os processos na economia, política, relações sociais e culturais e conduziu a uma transformação na sociedade como um todo (Dantas, 1996; Santos, 2004).

Weinberg Report, ou Science, Government and Information (U.S. President’s Science and Advisory Commitee, 1963) do governo norte-americano e as agendas internacionais sobre o tema da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) foram marcos importantes para promover o uso da informação enquanto política pública. O primeiro documento abordou a importância da transferência da informação científica, enquanto o segundo visou à promoção de uso e acesso da informação entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos (González de Gómez, 2002).

Os Estados Unidos, considerados pioneiros na criação das plataformas de computação e comunicação, propuseram aplicações livres e irrestritas, sem vínculo às regras sociais que permitissem ao usuário utilizá-las conforme suas necessidades. Por outro lado, as perspectivas europeias as entendiam como parte de um sistema de mediação da informação para facilitar a execução das políticas públicas (R. D. J. L. Dos Santos, 2002). Com essa nova abordagem, oriunda principalmente do Relatório Bangemann intitulado Europa e a Sociedade Global da Informação (European Council, 1994), surgiram mudanças sociais trazidas pelas inovações tecnológicas que revelaram a SI como elemento essencial da produtividade e do poder, destacando sua capacidade transformadora do conhecimento tecnológico (Marcondes & Jardim, 2003; Moreira & Maia, 2013).

Para Castells (2006), três fatos históricos representaram o surgimento da SI: i) o fim da guerra fria com a ascensão geopolítica e econômica dos Estados Unidos na arena mundial

11 Sugestão de leitura complementar: Jardin et al. (2009), Hernon e Relyea (1991), Jardim (2003),

perante um mundo mais interdependente e desmembrado economicamente; ii) a reestruturação do capitalismo, com a descentralização de empresas, diversificação das relações de trabalho, maior uso de mão de obra não humana e flexibilidade de gerenciamento; e, iii) o desmantelamento do Estado de bem-estar social e sua adaptação às novas tendências de mercado.

Essa SI passa a ser vista como uma sociedade em rede, cuja informação e conhecimento – sempre vistos como valiosos – conectam-se agora por redes tecnológicas que dão flexibilidade e capacidade de adaptação à constante evolução, ao mesmo tempo que coordenam a lógica da própria sociedade. O avanço tecnológico foi proporcionado não apenas pelo desenvolvimento das ciências eletrônicas com os microprocessadores, mas, sobretudo, por outras tecnologias, como a fibra ótica, a convergência digital12 e a Web, que se instituíram

marcos importantes para as mudanças sociais (Castells, 2005). De acordo com Carvalho (2011, p. 14), “as redes eletrônicas digitais, a fibra ótica, a banda larga, o wireless ou o próprio cloud computing coadjuvaram e aceleraram as comunicações, o acesso, o processamento e a distribuição da informação”.

Nessa conjuntura, a Internet difundida tanto em meio comercial quanto governamental, principalmente a partir de 1990 (Mantovane, 2012), permitiu interligar três principais dimensões para a informação governamental: as abordagens da NPM, as teorias de governança e o conceito de “cidadão empoderado” (González de Gómez, 2002, p. 35), sob a ótica da “democratização da informação” (Moreira & Maia, 2013; Prado & Loureiro, 2006).

Esses conceitos transformaram as relações internas e externas do governo e permitiram o aperfeiçoamento da prestação de serviços públicos, intercâmbio de informações, melhoria na comunicabilidade entre Estado/cidadão e criou dispositivos à participação social nas políticas públicas (Frey, 2002; Guerra & Massensini, 2012; Marcondes & Jardim, 2003). Assim, a primeira fase da SI caracterizou-se pelo desenvolvimento da tecnologia, e a segunda, esse desenvolvimento, ainda que contínuo, deu enfoque à assuntos sociais, como “ênfase à mudança da forma como trabalhamos” (Castells, 2005, p. 349).

O avanço das estruturas de relacionamento resultou em tecnologias de suporte e apoio: a invenção da Internet ou das redes de conteúdos (Web 1.0), para redes de relacionamento (Web 2.0), para redes de contextos (Web 3.0), para redes de conexão de inteligências (Web 4.0). A Web 1.0 é associada às mudanças oriundas com a NPM, seus processos mais eficientes e o paradigma da transmissão; a Web 2.0 trouxe mudanças no corpo político e administrativo dos processos de governo e no modo das pessoas se relacionarem através do paradigma da comunicação; e enquanto referência, a Web 3.0 é

12 Conceituada por Castells (2005) como a digitalização de conteúdos e a junção de tecnologias de

marcada pelo conhecimento usado de maneira mais organizada e inteligente, revolucionando o modo como é analisado, sintetizado, interpretado e usado o conhecimento coletivo (Campos, 2012; De Angelis, 2013; Lee & Kwak, 2012; Navarra & Cornford, 2012).

Essa evolução, baseado no termo Web 2.0, criado por Tim O’Reilly em 2004 (Caminha, Furtado, Vasconcelos, & Ayres, 2010), oferece novas possibilidades de utilização da Internet e poder de multiplicação de opinião e rápida expansão, numa plataforma de comunicação mediada com extensiva capacidade interativa (Dziekaniak, 2012; Manovich, 2009). As tecnologias Web 2.0 convergem-se à socialização, comunicação e participação das pessoas trazendo consequências para sociedade, para a política e para a economia (Thomas e Sheth, 2011), sendo considerado por O'Reilly (2007) como a arquitetura da participação e colaboração em massa. Para Mcnutt (2014), as ferramentas Web 2.0 oferecem novas oportunidades de colaboração, consulta, educação, transparência e accountability.

Segundo Khan (2015), as diferentes ferramentas da Web 2.0, incluindo as mídias sociais, no setor público tornariam os governos mais transparentes, abertos, acessíveis e colaborativos; proporcionariam diferentes perspectivas de interação bidirecional com o cidadão; trariam a facilidade administrativa e financeira para divulgar informações úteis; e proporcionariam uma cultura de valores. Dziekaniak (2012) considera essa perspectiva com vistas à construção do conhecimento coletivo incorporada também pela Web 2.0 e as mídias sociais, o que Mcnutt (2014) associa à oportunidade de engajamento público através das comunidades das redes sociais.

Com isso, surge o conceito de Governo 2.0 baseado na interatividade da Web 2.0 (business 2.0, not-for-profit 2.0, democracy 2.0 e citizen 2.0) e na nova postura da administração pública sobre a informação e serviços governamentais. Sustentado sob os pilares da transparência, participação e inovação, o Governo 2.0 traz tecnologias com ferramentas que acompanham a nova cultura de participação e colaboração (Caminha et al., 2010; Mcnutt, 2014), e a NPM como uma rede baseada em participação (De Angelis, 2013).

Esses conceitos permitiram o desenvolvimento de um governo interativo, que tem base no compartilhamento de conhecimento e num aprimoramento das plataformas de informação para o despertar da colaboração social nos assuntos políticos. Por meio dessas possibilidades tecnológicas viabilizadas pelas plataformas Web 2.0, o Governo 2.0 permite “abrigar, sustentar, estimular e valorizar a participação social” (Dziekaniak, 2012, p. 55).

Para De Angelis (2013), a evolução da sociedade e das tecnologias forçaram o setor público a abrir-se para a era das redes e da inteligência, partindo do Governo 2.0 (governo aberto + mídias sociais + dados abertos) para o Governo 3.0 (Inovação colaborativa + engajamento público + customização de serviços inteligentes), apoiados sob a gestão do conhecimento nas organizações, suporte ao processo de produção de políticas públicas.

O caminho para o Governo 3.0, portanto, proporciona outras oportunidades para a administração pública promover a otimização de processos de governo, ter o cidadão como centro de suas decisões, integrar-se nos níveis de governo, elevar o conceito de e-democracia (do inglês electronic democracy), customizar a interface de governo para o cidadão (conceito de “meu governo”), dentre outros (Campos, 2012).

Os benefícios e resultados alcançados com a introdução das Tecnologias de Informação (TI) no setor público denotam a importância dos governos manterem esforços na racionalização de processos básicos e no contato com os cidadãos de maneira mais eficiente (Andersen e Henriksen, 2006), com fomento a espaços participativos, melhora nos serviços prestados, maior abertura e transparência de gestão (Luciano e Macadar, 2016).