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A seleção dos fatores de influência da maturidade do e-gov

CAPÍTULO VI OS FATORES DE INFLUÊNCIA DA MATURIDADE DO E-GOV ENQUANTO

6.2 A seleção dos fatores de influência da maturidade do e-gov

Na tentativa de responder à segunda pergunta de partida e testar a hipótese da tese, iniciou- se os estudos dos fatores de influência do e-gov com base no levantamento e nos resultados da aplicação do IMeG, no Capítulo V.

Os estudos e relatórios das Nações Unidas (United Nations, 2012, 2014, 2016) apontam que países com os maiores IDH possuem melhores resultados em e-gov. Diante disso, as capitais dos estados brasileiros, as quais possuem IDH-M entre alto e muito alto54

(Quadro 6.2), teriam as condições necessárias e relativamente semelhantes para desenvolver ações e estratégias estruturadas de uma política de governo eletrônico.

Sob essa premissa, e na intenção de analisar sua correlação nos municípios estudados, fez-se o cruzamento entre o resultado do IMeG e os respectivos IDH municipais, de modo que este último seria um fator de influência sobre a maturidade dos portais.

Baseado nos conceitos estatísticos apontados na Subseção 3.5.3 do Capítulo III, fez- se a correlação entre IMeG e o IDH-M. A correlação de paramétrica de Pearson (0.606) e a não-paramétrica de Spearman (0.650) apontaram uma correlação positiva e moderada, indicando que as variáveis aumentam na mesma direção. A análise de regressão mostrou-se significativa (0.01), mas, o modelo sozinho não foi capaz de explicar o efeito dessa variável na maturidade do e-gov (R quadrado 0.367), o que sugere que outros fatores estariam correlacionados ao resultado da maturidade do e-gov nas capitais dos Estados brasileiros.

A literatura aponta alguns estudos que relacionaram a e-participação, serviços digitais e transparência pública com IDH, os quais parecem confirmar que as métricas de qualidade de vida de uma população mensuradas pelo IDH não são os únicos fatores que estariam correlacionados ao maior ou menor nível de desenvolvimento de um e-gov.

Dentre estes estudos, Huther e Shah (1999 apud Beuren & Kloeppel, 2013) encontraram correlação positiva das práticas de e-gov com o PIB; Mello (2009 apud Beuren & Kloeppel, 2013) confirmou a correlação de maior PIB, maior IDH e menor Gini para o desenvolvimento do e-gov, e incluiu o tamanho do município como outro fator de influência; Prado e Loureiro (2006) afirmam que somente IDH-M e orçamento público não seriam capazes de explicar e-gov mais transparentes que outros, mas que obrigações legais e compromisso de agentes políticos teriam mais força na transparência dos portais de governo; Lee, Chang e Berry (2011 apud Sampaio, 2014) constataram fatores internos e externos a influenciar as políticas de e-gov, dentre eles o IDH, o nível dos usuários de internet e relativa competitividade em países próximos aos tido como referência em e-gov; Dias e Costa (2013), num estudo de e-gov local, argumentam que diferentes fatores socioeconômicos estariam associados a diferentes níveis de desenvolvimento das dimensões de um e-gov (informação, serviço e participação), e que população residente, e a concentração de recursos potencializaram fortemente este desenvolvimento; Maciel, Gomes e Dias (2016) enfatizam a densidade populacional como fator relevante e necessário para explicar o e-gov em

54 Valores do IDH-M: 0.0 – 0.499 muito baixo; 0.500 – 0.599 baixo; 0.600 – 0.699 médio; 0.700 – 0.799

municípios ibero-americanos; Sæbø, Rose e Flak (2008 apud Sampaio, 2014) relacionam, dentre outras questões, a estrutura administrativa e organizacional como um aspecto influenciador para e-participação; Al Hujran, Aloudat e Altarawneh (2013) apontam infraestrutura de TI, recursos financeiros, capacidades pessoais do usuário e resistência a mudanças; Al-Shboul et al. (2014) citam como fatores de influência a implantação do e-gov: orçamento público, questões tecnológicas de infraestrutura, recursos humanos com habilidades insuficientes (resistência, falta de conhecimento ou de experiência), obstáculos administrativos e jurídicos, influência social e literacia para uso de tecnologias; Rossoni e Beiruth (2016) indicaram em seus trabalhos que orientações político-partidárias de esquerda estariam relacionadas com o aumento da transparência pública; Patel e Jacobson (2008) relatam fatores organizacionais, como o tamanho e a burocracia dos governos e as características da população como importantes influenciadores para adoção do e-gov.

Outrossim, as entrevistas em profundidade da fase exploratória com os formuladores da política pública do Brasil do cenário federal permitiram confirmar alguns desses fatores e extrair outros que poderiam ajudar a explicar o resultado encontrado nas capitais estudadas. Na análise de conteúdo das entrevistas (Anexo A), dentre os fatores que influenciariam a maturidade de um e-gov, extraiu-se as seguintes categorias: renda e condições de vida da população, literacia, conectividade à rede mundial, cultura organizacional, nível de experiência e capacitação de funcionários, vontade e influência política, descontinuidade com as transições de governos, estrutura administrativa da agência e distribuição do orçamento público para as áreas de TI. Nas falas, observou-se também ênfase aos fatores institucionais e políticos em detrimento aos fatores socioeconômicos, dando relativa importância aos primeiros enquanto influenciadores da política. Na perspectiva individual, a análise das subcategorias sugeriu que a estrutura administrativa dos governos e a vontade política teriam mais força no desenvolvimento do e-gov (Anexo A).

Por outro lado, a análise do ciclo de produção da política do e-gov do governo federal apontou a importância de atores-chave para impulsionar o agendamento e formulação da política e influenciar a cultura organizacional, além de aspectos relativos a mudanças dos cenários políticos nas transições de governo. Outro ponto é a relevância da inclusão digital, retratando o acesso à internet como pré-requisito para os investimentos em e-gov.

Esses dados ajudam a guiar respostas às perguntas de partida que originaram a hipótese de pesquisa desta tese (Figura 3.1). Com base na literatura, na análise do ciclo da política federal (que poderia moldar perspectivas municipais) e nas entrevistas em profundidade, os fatores de influência foram desmembrados em dois grupos: fatores socioeconômicos e político-institucionais, e suas respectivas variáveis independentes.

Com base nisso, as seções subsequentes destinam-se a estudar estas variáveis com vistas a entender sua capacidade explicativa no resultado encontrado com o IMeG.

6.3 As assimetrias da maturidade do e-gov e os fatores socioeconômicos nos 26