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CAPÍTULO III PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 Procedimentos técnicos de recolha e análise de dados

3.3.2 Coleta e análise dos dados

A coleta e análise de dados reuniu variáveis, características, categorias, elementos e demais contributos para o caso de estudo, com vistas à análise e proposição de resultados.

Ressalva-se que os resultados encontrados em cada etapa são estudados considerando-se as limitações do escopo previamente relatadas na Introdução desta tese, representando, portanto, uma fotografia da maturidade do e-gov local na ótica do cidadão, sob critérios previamente definidos, em dada problemática e num dado momento (período da coleta de dados).

Tal como descrito antes em termos do desenho do estudo, a pesquisa foi dividida em três etapas: i) elaboração da métrica para avaliar a maturidade do e-gov local; ii) aplicação da métrica sobre o caso de estudo, resultando na classificação das capitais em estudo por nível de maturidade; e, iii) estudo sobre os fatores de influência na maturidade do e-gov. Esta última etapa foi subdividida em duas fases: a) estudo comparado entre as 26 capitais dos Estados

brasileiros para avaliar a influência dos fatores socioeconômicos; e, b) estudo de caso em profundidade, para analisar a influência dos fatores político-institucionais.

O procedimento adotado em cada etapa é descrito a seguir.

1° etapa: Elaboração da métrica para avaliar a maturidade do e-gov local

A primeira etapa da pesquisa foi dedicada à elaboração de um índice para avaliar a maturidade do e-gov dos portais governamentais. Através de uma extensa recolha na literatura (pesquisa bibliográfica em livros, periódicos, artigos científicos, dissertações e teses, etc; e documental em relatórios de governo, documentos oficiais, tabelas estatísticas, dentre outros) de modelos teóricos, criou-se um modelo voltado à avaliação do e-gov local e aplicado à realidade do caso em estudo: os municípios brasileiros. Subdividido em dimensões e atributos de análise, o índice foi baseado na literatura (relatórios internacionais, estudos e artigos científicos) e nos instrumentos legais e oficiais (leis, decretos, resoluções, regulamentos, recomendações, etc) do Governo brasileiro aplicados ao tema.

O índice foi validado por meio de entrevista exploratória e um pré-teste.

As entrevistas tiveram objetivo de identificar o grau de importância das dimensões de análise e explorar os possíveis fatores de influência da maturidade do e-gov para a 3° etapa. Foram entrevistados os responsáveis pela Política do Governo Eletrônico e da Estratégia de Governança Digital, no contexto federal, da gestão atual e da anterior, os quais foram selecionados no portal do governo federal a partir da indicação dos responsáveis por cada setor. Fez-se uso de entrevistas em profundidade semiestruturada com perguntas abertas e fechadas, aplicadas presencialmente ou via conferência virtual, conforme a conveniência de acesso. As questões abertas foram analisadas sob o método de análise de conteúdo, com técnicas voltadas a procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. A análise do conteúdo foi organizada em três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Faz-se uso da categorização para obter o núcleo central do texto da entrevista, identificando suas subcategorias, unidades de registro (ou de significação) e unidades de contexto (inferência dos atributos na fala dos entrevistados), criando uma matriz/diagrama de avaliação (Bardin, 2009; Carmo e Ferreira, 1998; Duarte, 2004). A categorização das entrevistas foi realizada com auxílio do programa MAXQDA, versão 12, relacionando trechos da fala dos entrevistados às respectivas categorias. As categorias de análise para codificação e os segmentos em números estão disponíveis no Anexo A, parte 1.

O pré-teste teve o intuito de afinar e validar o instrumento antes de sua aplicação definitiva nos casos de estudo. A escolha do tema e dos casos para a aplicação do pré-teste é detalhado na Subsecção 4.2.3 do Capítulo IV.

2° etapa: Aplicação da métrica no caso de estudo

Nesta etapa, concentrou-se na avaliação do nível de maturidade dos 26 portais das capitais dos Estados brasileiros realizada a partir do índice criado na 1° etapa.

O índice foi aplicado sob técnica de observação sistemática direta durante o mês de março de 2017, terceiro mês consecutivo da nova gestão municipal, após as eleições realizadas em outubro de 2016. Apesar de pouco tempo de gestão, considerou-se que as novas administrações puderam nesse ínterim rever as diretrizes definidas nos governos anteriores e considerá-las aptas ou não para terem continuidade na gestão atual. Este período faz parte do escopo do estudo, e apontou a maturidade do e-gov neste dado momento de análise, sob os demais critérios estabelecidos.

A fim de manter objetividade e padronização na avaliação dos portais e evitar possível fadiga do pesquisador e eventual possibilidade de confundir uma observação num portal com a de outro, optou-se por realizar três análises por dia, com um intervalo entre cada avaliação. Em paralelo, registrou-se à parte aspectos e características mais relevantes de cada portal. Para se chegar aos portais, utilizou-se como critério a pesquisa em site de busca (<www.google.com.br>) da combinação “prefeitura do município/capital do Estado” ou similar. Entendeu-se que esta seria a forma mais simples e direta para um cidadão comum encontrar dados e informações a respeito de seu município.

Os portais foram analisados no âmbito das três questões propostas como objeto de estudo (Secção 3.4 deste capítulo), considerando três níveis de inserção no portal, isto é, até 3 páginas seguintes a partir da página inicial.

Todos os dados foram inseridos em planilha Excel e computados ao final da avaliação dos 26 portais, resultando na classificação da maturidade do e-gov dos municípios avaliados (ranking).

3° etapa: Estudo sobre os fatores de influência na maturidade do e-gov

Com base no ranking da maturidade do e-gov obtido na 2° etapa, prosseguiu-se com a etapa da análise dos fatores de influência, por meios da hipótese central da tese e suas respectivas subhipóteses. Para testá-las, esta etapa foi subdividida em duas fases, descritas a seguir.

a) Estudo comparado para avaliar a influência dos fatores socioeconômicos

A primeira parte da análise dos fatores de influência na maturidade do e-gov caracterizou-se num estudo de caso comparado entre os 26 municípios estudados, a partir de um estudo com indicadores, seguido de uma análise estatística dos dados. Iniciou-se a análise do ranking da 1° etapa – resultado da aplicação do método proposto – com indicadores socioeconômicos dos respectivos municípios. O intuito foi comparar a maturidade do e-gov

com indicadores socioeconômicos em municípios com IDH semelhantes (capitais dos Estados brasileiros).

A seleção dos indicadores baseou-se em estudos que os avaliaram em outros contextos (nacionais, estaduais e municipais). Os indicadores foram coletados a partir de dados públicos disponíveis na Internet, cujas fontes caracterizaram-se por serem fontes oficiais do Governo brasileiro, tais como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em virtude de muitos indicadores não terem periodicidade anual, alguns dados possuem lapso temporal em relação à avaliação da maturidade dos portais. Ressalta-se, entretanto, que diante dos dados que o Brasil dispõe, esta é uma limitação do escopo da pesquisa, e que, portanto, não afeta o método de avaliação, mas limita conclusões assertivas relativas aos resultados encontrados.

Os dados socioeconômicos foram analisados estatisticamente (técnica multivariada25)

por meio do Programa IBM SPSS Statistics, versão 22, usando as funções correlação de Pearson e Spearman e a análise de regressão de Pearson. Uma correlação linear analisa a associação entre as variáveis do estudo: dependente e independente, medindo a intensidade dessa relação. Variando de 1 a -1, quanto mais próximo de 1 ou -1 for o coeficiente de correlação, mais forte é a correlação entre as variáveis; e, quanto mais próximo de zero, mais fraca é a correlação, podendo não indicar correlação. O sinal positivo indica que as variáveis caminham na mesma direção, e o negativo, que caminham em direções contrárias. Por sua vez, a análise de regressão linear estuda a relação funcional entre a variável dependente e uma ou mais variáveis independentes (Barbetta, 2008; Levin & Fox, 2004), numa suposta (por poder apresentar níveis de complexidade variáveis que impedem a afirmação da relação causal em valores) situação de causa e efeito. O poder da relação entre as variáveis é medido pelo valor de R-quadrado (conhecido como coeficiente de determinação), que quanto mais próximo de 1, mais forte é a relação e mais explicativo é o modelo (Stevenson, 1981).

Com base nestes conceitos, as análises foram feitas individualmente para cada variável independente investigada (agrupando seus respectivos indicadores), e baseado nos seguintes valores: nível de significância 0.05, significância do valor-p menor que 0.05, valores de β como a capacidade de influenciar a variável dependente, e o coeficiente de correlação na seguinte classificação: 0.0 a 0.3 como uma correlação desprezível, 0.3 a 0.5 fraca, 0.5 a 0.7 moderada, 0.07 a 0.9 forte, e maior que 0.9 muito forte (Mukaka, 2012).

Para definir o teste de hipótese a ser aplicado no estudo, a variável dependente foi submetida ao teste de normalidade. Tendo em vista que o estudo apresenta n pequeno (n<30), seguiu-se a padrão de Shapiro-Wilk para a distribuição de normalidade (Ghasemi &

25 Usada quando há duas ou mais medidas para cada elemento e as variáveis são analisadas

Zahediasl, 2012; Torman, Coster, & Riboldi, 2012): com variável dependente seguindo padrão de normalidade (sig. <0.05), aplicar-se-ia o Teste t de Student; com padrão de distribuição não normal (sig. >0.05), o Teste U de Mann-Whitney.

A variável dependente (representada pelo valor do IMeG) apresentou padrão de normalidade (Anexo D), e, portanto, os indicadores selecionados foram analisados pelo teste paramétrico t de Student. A distribuição analisou a média dos valores dos indicadores considerando que a média de dado indicador no estágio 2 de maturidade seria igual a média deste indicador no estágio 3. Foi utilizada a seguinte hipótese nula “Ho: a distribuição do

indicador ‘x’ é a mesma entre as categorias de maturidade (estágios de maturidade encontrados no estudo)” no intuito de falseá-la. Ao reter a H0 (valor-p > 0.05) foi suposto que,

com os dados disponíveis no estudo, não é possível demonstrar sua falsidade, ou seja, não se confirma a hipótese alternativa (negação da H0) de que há diferenças entre as médias nos

dois estágios de maturidade. Ao rejeitar a H0 (valor-p < 0.05) foi suposto que, com os dados

disponíveis no estudo, há diferenças entre as médias nos estágios de maturidade e que estes indicadores tenderiam a explicar, em menor ou maior grau, a variação da maturidade do e- gov, uma vez que dado os estágios de maturidade há diferença nos valores destes indicadores nos municípios estudados.

Como resultado desta fase, o teste de hipóteses permitiu destacar indicadores socioeconômicos que tenderiam a influenciar a maturidade do e-gov.

b) Estudo de caso em profundidade, para analisar a influência dos fatores político- institucionais

Esta fase caracterizou-se por um estudo de caso em profundidade para investigar as variáveis independentes dos fatores político-institucionais relacionados ao processo de produção da política pública.

A escolha foi baseada num caso com alto nível de maturidade do e-gov no ranking da 1° etapa, ou seja, destaque dentre os melhores resultados no IMeG, e cujos fatores socioeconômicos foram favoráveis conforme a avaliação da fase “a”.

A análise foi fundamentada em entrevistas com os gestores municipais da gestão atual e da anterior para entender o processo de produção da política pública e observar a influência dos aspectos político-institucionais na maturidade do e-gov. Fez-se uso de entrevistas estruturadas tipo questionário, com perguntas abertas, as quais foram encaminhadas via correio eletrônico. Os entrevistados foram indicados pelo responsável pelo departamento de comunicação da prefeitura municipal, cujo contato foi mediado por telefone. A análise do conteúdo seguiu o padrão aplicado na 1° etapa, com auxílio do programa MAXQDA, versão 12, seguindo a categorização definida para esta etapa. As categorias de análise para codificação e os segmentos em números estão disponíveis no Anexo A, parte 2.

Além disso, a análise foi complementada com outras informações referentes ao município, cujos dados foram coletados do portal da prefeitura, do respectivo Portal de transparência, das pesquisas do IBGE sobre a administração pública, dentro da Pesquisa de Informações Básicas Municipais26, das pesquisas do Cetic.br sobre o governo eletrônico no

setor público, da série TIC Governo eletrônico, bem como de outros estudos relacionados.

26 Disponível em:

CAPÍTULO IV - PROPOSTA DE ÍNDICE DE MATURIDADE DO E-GOV (IMEG) PARA AVALIAÇÃO DE PORTAIS

Este capítulo tem por finalidade apresentar uma proposta de avaliação do e-gov baseada num índice de maturidade, o qual é utilizado para medir o nível de desenvolvimento do e-gov do objetivo de estudo desta tese. Para tanto, recorre-se à literatura discutida na Secção 1.4 do Capitulo I para embasar e dar suporte teórico à referida proposta.