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CAPÍTULO 4 – PARTICIPAR OU NÃO PARTICIPAR, EIS A QUESTÃO

4.5. A construção das esferas públicas: a mediação do conflito pela instância

4.5.2. A expansão do conflito: relatos, fatos, revelações, seminários,

“não sou caranguejo para andar pra trás: o povo do Centro Histórico não quer sair”

Durante o ano de 2003 e 2004 os moradores da 7ª Etapa envolvidos diretamente na organização da AMACH e buscando participar no projeto de intervenção, tiveram uma série de ações diretas, manifestações e estratégias utilizadas para fortalecer o que eles denominavam de movimento. Pontuo aqui que estes dois anos foram de fundamental importância para a publicização das denúncias e fortalecimento das estratégias de pressão junto aos órgãos públicos de forma a fazer cumprir os termos compostos nos documentos

públicos enviados aos órgãos financiadores, principalmente na pesquisa já referida anteriormente. A AMACH, naquele momento com poucos moradores envolvidos, cerca de quatro mulheres e mais o grupo de amigos, este, da mesma forma, restrito ao CEAS, à representação da professora Lysiê Reis da UEFS e uma das advogadas, sabiam da importância em mobilizar os moradores para a efetivação do que o grupo entendia como seu direito, constituído, inclusive, nas ações jurídicas em defesa dos moradores.

É importante destacar aqui algumas das estratégias lançadas e suas consequências para a esfera pública que envolvia o projeto urbano aqui estudado. Com a resistência de alguns moradores a saírem das casas, a mídia foi sendo cada vez mais mobilizada pelo grupo e a 7ª Etapa foi se transformando em pauta constante dos jornais locais. Com o título “Moradores resistem a deixar os casarões no Centro Histórico”, o jornal A Tarde destacava uma frase significativa emitida por um dos moradores: “não sou caranguejo pra voltar pra trás”, referindo-se à sua decisão de permanecer em sua casa e não voltar para seu interior de origem após estar vivendo por mais de 20 anos na casa onde habitava. (A Tarde, 2003: 06). Enquanto a mídia ia divulgando informações, e dando voz aos atores que constituíam o embate, os moradores passavam a articular ações de maneira a fortalecer a AMACH.

Cabe destacar aqui, inicialmente, a formação da Articulação de Luta por Moradia. Desta forma o Centro Histórico (AMACH), juntamente com os moradores e associações do Alto de Ondina, Marechal Rondon, Gamboa de Baixo, Pau da Lima, São Marcos, Cabrito e Sussuarana, tiveram uma série de encontros e formações conjuntas para que eles pudessem estabelecer um diálogo entre eles. Como afrimado anteriormente a primeira constatação de todo grupo era de que eles passavam por situações semelhantes de buscar o direito à moradia ameaçado. Porém, o mais singular ainda era que a CONDER aparecia para eles como o órgão que mais ameaçava aquelas comunidades. A primeira ação do grupo, então, consistiu numa manifestação na frente deste órgão, com cerca de 600 pessoas, para entrega de uma pauta conjunta de reivindicação. Nesta manifestação os representantes fizeram conhecer suas intenções em carta aberta para toda sociedade, conclamando-a a se aliarem às suas lutas.

Como resultado concreto desta articulação, foi elaborado um “Dossiê de Luta por Moradia”, um documento com a história de vida e luta dos bairros envolvidos. Na parte que trata especificamente sobre o Centro Histórico, o documento lista a construção das reivindicações dos moradores. Para a redação deste documento o CEAS realizou uma reunião com cerca de 15 moradores, em um dia de muita chuva em um dos casarões em ruína e,

também, habitado, e nesta reunião foram tirados nove pontos que sintetizavam as principais demandas dos moradores da 7ª Etapa. O destaque desses pontos é que foi justamente a partir deles que o Ministério Público posteriormente acabou por elencar algumas das cláusulas do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), quando da vitória da Ação Civil Pública para o Governo do Estado da Bahia. Desta forma, o dossiê acabou se constituindo um instrumento de pressão e sensibilização da sociedade para com as demandas e a realidade de vida dos moradores, posterior à intervenção da 7ª Etapa.

Um segundo momento, a ser destacado de expansão da luta, agora no ano 2004, acontece sob a influência de um “outro amigo”, o deputado Zilton Rocha (PT). Aqui é necessário informar que o PT acabara de vencer as eleições para presidente da República e Lula estava no primeiro semestre do seu mandato como Presidente, contexto que aparecia como favorável para a AMACH construir um diálogo com instâncias do Governo Federal através Ministério da Cultura, via Zilton.

Assim, o Deputado Zilton Rocha provocou o Ministério da Cultura a se fazer presente em uma Audiência Pública que seria organizada pelos moradores do Centro Histórico, contando com a presença do Ministério Público e do Governo do Estado da Bahia.

A partir dessa iniciativa foi organizado um seminário “Que Pelourinho queremos” e o CEAS foi contatado naquela ocasião pelos assessores de Zilton para ajudar na organização da audiência. Ao todo foram seis reuniões envolvendo a AMACH, os moradores da Rocinha (uma área também de forte influencia popular no centro Histórico) e os moradores do casarão da Rua do Passo, nº. 48, onde famílias resistiam desde a primeira etapa de revitalização. Nas reuniões foram analisadas as diferentes situações entre os grupos, as possibilidades e limites das ações conjuntas, as dificuldades de todos entenderem o que é uma audiência pública e como pressionar o Governo Federal (PT) e estadual neste momento estratégico.

As diferenças encontradas estavam menos no perfil econômico dos moradores e mais na forma política de organização, onde a Rocinha e os moradores da Rua do Passo (casa 48) primam pela articulação política via arte-cultura para também justificar a permanência (como moradores e trabalhadores). Isto, de certa forma, ia de encontro com a tentativa de organização popular dos moradores que estavam à frente da luta por moradia na área da 7ª Etapa de Revitalização, os quais criticavam desde a linguagem até o tempo para participar em

reuniões demoradas pelas elucubrações filosóficas e espirituais das lideranças, baseadas no rastafarianismo23, que acabavam fazer alongar demasiadamente as reuniões.

Com a aproximação da audiência, o lado prático teve que se sobrepor às divergências particulares. Montar a formação da mesa foi o primeiro passo, e a voz única era de que nenhum político, além do mediador (Zilton Rocha) terá voz ao microfone, "eles já falam muito", argumentou um morador do casarão de número 48. O professor Gey Espinheira foi o primeiro a ser lembrado por todos, pelos seus conhecimentos teóricos e práticos sobre a área e suas histórias. O Promotor de Justiça, Lidivaldo Brito, responsável pela Ação Civil Pública (nº 38.148-7/2002) contra a CONDER, foi o segundo nome indicado. Também era importante ter os dois governos, estadual e federal, na mesa, tanto para ouvir, como para dizer qual o papel deles neste histórico da expulsão dos moradores. Porém, o fator primordial nesta composição era garantir a representação de cada um dos três focos de resistência, com suas falas bem organizadas, conjuntamente.

A audiência, no auditório da antiga Escola de Medicina, localizada no Terreiro de Jesus no Centro Histórico, elucida as diferenças e o poder da palavra das vozes dos diferentes componentes desta esfera publica. Aqui se destaca duas falas, uma de um morador do prédio nº 48 da Rua do Passo e outra do representando Ministério da Cultura que esclarecem a riqueza do momento, das denuncias e dos resultados alcançados a partir das pressões dos moradores:

O Centro Histórico de Salvador, patrimônio da humanidade vem, através de sua própria história, mostrar que "humanidade" acaba por passar longe deste Sítio... nº 48 Vivemos da arte... Somos artesões, quatro bandas de reggae que atuam como instrumento de luta-resistência, artistas plásticos e mestre de capoeira angola, que durante estes 22 anos de morada mesclaram seus trabalhos artísticos com a manutenção do prédio... uma casa que era abandonada, sem banheiro, sem água, luz, com escadas caídas, paredes rachando... Foram muitos anos de mutirões e hoje cada família possui seu banheiro, existe uma canalização de água, rede elétrica, escoramentos diversos, a escada está em ordem e o ambiente é limpo e arejado. Sem contar que, pelo dom artístico, todo o casarão é enfeitado com obras de arte... O 48 quer o que lhes é de direito: o usucapião e a reforma do prédio, ainda sob o risco de desabamento (MORADOR do 48, maio de 2004)

O representante do Ministério da Cultura (Monumenta, BID), órgão repassador dos recursos para o projeto da 7ª Etapa apresentou as metas do Monumenta (construção de uma

23

O rastafarianismo, também conhecido como movimento rastafari ou Rastafar-I (rastafarai) é um movimento religioso que proclama Hailé Selassié I, imperador da Etiópia, como a representação terrena de Jah (Deus). (fonte: pt.wikpedia.org-movimento_rastaf%C3%A1ri)

nova forma de ocupação dos centros históricos, como moradia das “classes baixas”), deu sequência a audiência e disse conhecer o perfil dos moradores atuais da área, porém ponderou que pela linha do financiamento da Caixa Econômica Federal – PAR, só quem ganha de três a seis salários mínimos teria condições de ser beneficiado pelo projeto, fato que “não contempla a maioria dos moradores do local” , reconheceu. Mas, segundo ele, como os moradores se organizaram e questionaram todo o processo, o Governo Federal está estudando o caso e analisando outras linhas de financiamento. E concluiu que o projeto da 7ª Etapa está com a tramitação parada e esta só continuará com a aprovação dos moradores locais organizados, “foi uma vitória conquistada por vocês”. Ali ele anunciava o que todos queriam ouvir, que a Ação Civil Pública realmente tinha conseguido parar a transferência dos recursos e que, assim, o Ministério da Cultura e o Governo do Estado da Bahia se viam obrigados a dialogarem com os moradores afetados pela intervenção da 7ª Etapa. Assim, colocava-se outra forma de presença dos moradores na sua relação com os demais atores. Ao final da audiência houve um convite para que o MinC fosse até a área para visitar as família e realizar uma reunião com os moradores da 7ª Etapa, e o pedido foi acatado.

Uma semana depois da audiência, o CEAS recebeu um telefonema de uma assessora do Ministério da Cultura, requerendo um contato com a “comunidade do Centro Histórico” representada pela AMACH. Uma questão porém, que angustiava as pessoas dentro da AMACH, parecia cada vez mais perto: as ambiguidades internas à comunidade e o possível envolvimento de alguns moradores que compunham o movimento de resistência por moradia no Centro Histórico com delitos, fator que poderia ser utilizado pelo Poder Público local no momento ideal. Este momento parecia ter chegado. Com a visibilidade alcançada pela AMACH, sendo reconhecida pelo Governo Federal e Ministério Público, a ameaça à execução da 7ª Etapa estava posta. Mesmo sabendo que a maioria das pessoas era trabalhadores e trabalhadoras, era evidente que o Governo ao se confrontar com os pleitos iria intensificar sua atenção quanto às pessoas envolvidas com drogas, roubos, ou prostituição, uma realidade presente em qualquer bairro popular, ainda mais em locais centrais das grandes cidades, e, assim, tentar descaracterizar todos os moradores, a partir dos poucos exemplos a serem detidos.

Apesar das condições de vida dos moradores locais caracterizar-se pela falta de opção de sobrevivência, e levá-los a envolver-se com atividades ilícitas, a questão não é tão simples assim. O tráfico e uso de crack, ao mesmo tempo em que poderia parecer naturalizado no local, causava revolta dos próprios moradores da área (às vezes até dos próprios usuários e

traficantes), muitas vezes só percebido por longo tempo de convívio e certo vinculo de confiança estabelecido. Muitos se revoltam quando escutam de alguns a justificativa de que “pela falta de oportunidade tenho que traficar”. Outros se dizem presos a esta vida e a essas atividades em função da necessidade e da possibilidade de um ganho para o sustento de toda a família. Acreditar ou não, e compreender realmente se passa é um desafio a ser analisado todos os dias nesta área de trabalho afetada pelas mazelas urbanas. Conviver com ratos, casas rachando, fome, drogas, violência de todos os níveis e tipos, doenças, ameaças de expulsão, sem espaço público de lazer, quadras de esporte (nem nas ruas há espaço pra um “golzinho”), educação de qualidade, emprego, renda, lazer, parecia fazer destes moradores uma tragédia em si. Mas os diversos outros exemplos de pessoas trabalhadoras faziam o contraponto das condições de reprodução desses bairros relegado e não reconhecido.

Na terça, 01 de junho 2004, houve um encontro na casa de um dos moradores e foi decidido que a reunião com o Ministério da Cultura não seria na CONDER e sim nesta mesma casa. O relato abaixo integra um relatório “Agora sim o Pelourinho pirou de vez!” elaborado pelo CEAS sobre esta reunião, onde descreve e caracteriza o cenário deste primeiro encontro com o MinC na área:

Chego na área no horário marcado com uma advogada voluntária que acompanha a luta destes moradores do Centro Histórico, e encontramos três dos representantes locais nos aguardando. Perguntei se estavam preparados pra luta, uma delas disse: mais ou menos e apontou pra casa de outra moradora toda fechada, janelas e grades. E veio a informação bombástica: "A casa caiu pai, a polícia Civil tá na casa desde as 8h. da manhã e acharam uma quantidade grande de droga (crack)". Quando olhamos para a esquina estavam chegando a assessora do MinC mais três assistentes sociais da CONDER. Todos se cumprimentaram e uma das mulheres da AMACH convidou todos para ir andando pra casa onde seria a reunião, uma caminhada de no máximo 200 metros que parecia eterna. Percebi que a área estava repleta de policiais "enquadrando" todo mundo, colocando as pessoas na parede e exercendo o popular "baculejo" (mão em tudo que parte do corpo, porrada...), nunca antes havia presenciado uma ação da polícia deste nível, no local. (CEAS, 2004)

A reunião se deu na varanda da casa e durante todo o tempo ouviram-se gritos e policiais batendo em gente. Marcante mesmo na memória, ficou o grito de um travesti morador da rua: "ai meu Deus, é fim de mundo". A situação era tensa, até porque tanto a representante do MinC, como as funcionárias da CONDER pareciam não estar antenadas com o que estava acontecendo, e realmente não estavam. As pessoas presentes naquela reunião, entre moradores e os Amigos, pareciam saber que a ação foi planejada para acontecer quando ocorressem as primeiras vitórias dos moradores contra a ação de intervenção do projeto

desenvolvido pelo Governo do Estado da Bahia. De fato, este era um momento extremamente importante para o movimento de defesa da moradia no Centro Histórico, já que em todos estes anos de expulsão e reformas não se tem registro da comunidade ter sido realmente ouvida pelos órgãos públicos envolvidos.

A assessora do Ministério da Cultura começou dizendo que a vinda dela respondia à pressão que os moradores estavam fazendo, citando a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) enviada ao governo Federal, a Ação Civil Pública, as denúncias no jornal e o próprio movimento em si. Ela relatou também que o processo da 7ª Etapa já está em andamento e "não temos como voltar o que já aconteceu", se referindo as pessoas que já saíram e/ou já negociaram com a CONDER e continuam morando na área (relocadas, expulsas, indenizadas, quem assinou e ainda não recebeu a casa ou auxílio relocação...). Mas ela anunciou uma novidade "quem permaneceu não vai sair de forma alguma, foi uma vitória conseguida por vocês". Porém, estimava com base nos dados da CONDER, que existiam apenas 39 famílias residindo no local, fato totalmente refutado pelos representantes da AMACH, presentes naquele encontro. Ademais, outra notícia trazida por ela foi a introdução de um outro programa de financiamento da Caixa Econômica, mais compatível com o perfil de renda dos moradores da área, o PSH – Programa de Subsídio Habitacional (recursos estaduais e federais). Ou seja: depois de reformadas as casa poderão ser financiadas tanto pelo PSH (quem ganha de zero a três salários), como pelo PAR (quem recebe de quatro a seis salários). Segundo a assessora o PSH pegará os imóveis com menores problemas arquitetônicos e que gastarão no máximo 21 mil reais na reforma, iniciando as obras nos imóveis que já estejam vazios. A prioridade será dada aos moradores da área, que continuarão no local, mas com poucas chances de retornarem para o mesmo imóvel. Ela finalizou indicando que haverá um amplo trabalho social, no local, diretamente coordenado pela Secretaria de Combate a Pobreza e que implicará em ações de formação de mão de obra para trabalhar na reforma dos casarões além de outras atividades socioeducativas.

O primeiro ponto considerado pelas representantes da AMACH presentes foi desconstruir esta hipótese de “vitória” pela permanência de 39 famílias, já que o universo anterior envolvia cerca de 600 famílias e mais de 1.000 habitantes, só nesta 7ª Etapa. As presentes reconheciam a importância da vinda do Ministério, ainda que tardia, e algumas informações e ações que foram anunciados nesta reunião: a introdução do PSH, a permanência de quem não aceitou e resistiu em negociar com a CONDER e esta proposta de capacitação e utilização da mão de obra local, nas obras de restauro. Questionou-se a situação

de exclusão dos benefícios das pessoas que "já negociaram", aludindo a forma como foram feitas tais negociações (com policiamento, na noite de natal, com apresentação apenas de duas opções...) e solicitando portanto que fossem esquecidas. Desta forma foi mantida a posição de estudar uma alternativa que busque englobar a parcela que sempre viveu e morou no local e que querem o direito de permanecer.

A propriedade das casas também foi questionada por uma das moradoras locais presentes na reunião que argumentava que as pessoas não estão só lutando por permanecer no Centro Histórico e sim continuar morando em uma casa que faz parte de sua vida e que é sua referência. Para confrontar os dados apresentados pela CONDER em relação ao universo de famílias da área foi proposto fazer-se um novo cadastro da AMACH para saber-se quantas famílias ainda estão morando, quantas já negociaram, porque negociaram, como e o que se quer para com a área. Os resultados desta reunião, que presenciamos enquanto assessor do CEAS, estão relatados num depoimento meu à época e que integra o mesmo relatório do CEAS:

De volta à casa da reunião, sentamos e ficamos meio estáticos. A primeira coisa a ser lembrada era de que a luta era por moradia, respeito, direitos humanos, emprego, renda, educação, lazer... Imaginava-se como o Poder Público local poderia usar o fato (criar o comum conhecido como “bode expiatório”) contra um movimento legítimo de luta por moradia e respeito aos direitos constitucionais. O momento também exigia preocupação com a chegada, na semana seguinte, do relator da ONU que iria andar pela área da 7ª Etapa; uma vitória conquistada pelos moradores em tantas denuncias e ações. Coloca-se em mente que a luta pela transformação social, sonho, utopia ou realidade perpassa por questões conjunturais e particulares e que os problemas sociais da área terão que ser abordados de forma política pela AMACH, sejam eles o tráfico de drogas, o uso de tóxico e álcool, a fome, desemprego e, principalmente, a luta contra um Estado autoritário que retira moradores de suas casas por auxílios relocações que variam entre R$800,00 à R$ 2.000,00 e/ou coloca-os em bairros extremamente distantes de seus locais de origem, ferindo as leis que regem este país, como um despejo forçado. (Ibdem, 2004)

Na semana seguinte a esta reunião com o MINC aguardava-se a visita do relator da ONU para Moradia Adequada, o indiano Miloon Kothari. O objetivo principal desta visita era conhecer de perto os problemas de moradia e exclusão social, no Brasil, e, posterior construção do relatório da ONU com as recomendações ao governo Brasileiro e local, com base nos acordos internacionais sobre direitos humanos assinados entre as nações. A chegada do indiano Miloon Kothari seguiu processo organizativo semelhante ao da audiência pública relatada, sendo o CEAS a entidade contatada pela ONU. Foram seis encontros preparatórios e uma audiência pública. O diferencial desta reunião com a ONU estava na ampliação dos

participantes (apesar do relator ter vindo especificamente para conhecer os problemas do Centro Histórico), somou-se a estes os três pontos de resistência do Centro, outros grupos populares organizados (FABS – Federação das Associações de Bairro de Salvador; Movimento dos Sem Teto de Salvador –MSTS-, Articulação de Moradia; União de Luta por Moradia e Fórum Nacional de Moradia). O relator iria caminhar com os diversos movimentos