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Em 20131 a Pinacoteca expôs uma grande quantidade de peças gráficas em come-

moração ao centenário de seu primeiro catálogo de obras, publicado em 1912. A exposição “100 anos de edição gráfica da Pinacoteca do Estado: 1912-2012” foi o primeiro contato com a memória gráfica da instituição preservada em acervo, o que inspiraria as questões que dariam origem a esta pesquisa. A proposta dessa exposi- ção, bem como seu modo de organização, foi descrita pelos curadores em uma das paredes na entrada do saguão:

Em 2011, a Pinacoteca comemorou cem anos da edição de seu primeiro ca- tálogo de obras. A coleção inspirou esta mostra, que propõe um panorama da edição gráfica e editorial no museu ao longo deste período.

Os catálogos de acervo ou de exposição, ao lado de outros impressos consi- derados efêmeros, como o cartaz, o convite e o folder, são documentos fun- damentais para o estudo da história das manifestações artísticas. Além de sua capacidade de registrar e mesmo de representar eventos ou ações, também encerram valores estéticos que expressam tendências e características de uma época. Sua preservação e estudo podem revelar modelos, representações e ideias, contribuindo para o entendimento e a reflexão acerca do museu e de sua produção cultural em relação aos artistas, seus públicos e seu papel social. A exposição está organizada em seis módulos integrados. Publicações e car- tazes produzidos ou organizados pela Pinacoteca estão concentrados nas duas paredes principais da galeria. Publicações e cartazes editados por outras instituições, que contextualizam a produção no período, se encontram ou na vitrine central (catálogos e livros) ou emoldurados na parede (cartazes). Um terceiro módulo exibe uma série temática de cartazes produzidos para exposições do Gabinete Fotográfico (1980-1982). Já a seção que apresenta processos e técnicas da tipografia é composta por dois objetos expostos na entrada e na saída da sala e por uma vitrine menor, ao lado daquela dedica- da às publicações do museu. Contemplam a mostra dois espaços interativos: uma sala de leitura com publicações do museu, e um dispositivo multimídia que permite acesso integral a catálogos raros e outros documentos pertencen- tes aos acervos da Pinacoteca do Estado.

As publicações e documentos aqui selecionados são um convite para o vi- sitante adentrar um universo que abriga não só registros e testemunhos de ações, mas também a representação visual e estética de meios e modos de

1 De 16 de março a 29 de setembro de 2013.

Figura [30] Quatro imagens

da exposição “100 anos de edição gráfica da Pinacoteca do Estado: 1912-2012”. De 16 de março a 29 de setembro de 2013. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Fonte: acervo pessoal.

produção e circulação de ideias ao longo de mais de um século. Gabriel Moore Forell Bevilacqua; Isabel Ayres Maringelli. (100 ANOS..., 2013)

A exposição trouxe publicações como os catálogos de obras – os mais antigos foram digitalizados e estavam disponíveis em equipamento audiovisual interativo –, catálogos de exposições, impressos como cartazes de exposições promovidas no mu- seu e das obras do museu em outras instituições, folhetos e convites. Esses materiais gráficos fazem parte do acervo do Cedoc, localizado no primeiro andar da Estação Pinacoteca2.

Foram expostos cartazes e catálogos de exposições de arte que fazem parte do acervo da Biblioteca Walter Wei, proporcionando uma contextualização histó- rica local a partir de outras publicações de artes gráficas de diferentes épocas. Uma parte do material exposto faz parte do catálogo da mostra, acompanhado de textos produzidos por especialistas ligados aos campos das artes gráficas e do design grá- fico, como o texto “Do ambiente à página: os catálogos da Pinacoteca”, de Chico Homem de Melo (2013), que contextualiza esse tipo de publicação gráfica e antece- de uma extensa coletânea de imagens dos catálogos da Pinacoteca.

Entretanto, para a realização desta pesquisa, foi necessário rever esses mate- riais, já conhecidos outrora de maneira contemplativa. O acesso a essas fontes pri- márias de dados materiais foi solicitado ao Cedoc3.

Acesso às fontes primárias: o acervo do Centro de Documentação e Memória

O Cedoc foi fundado em 2005, ano de comemoração do centenário da Pinacoteca, “com a missão de coletar, organizar e disponibilizar a documentação histórica do museu e, assim, possibilitar a reconstrução de seu passado” (PINACOTECA, 2015, p. 4). Essa coleta e organização dos dados culminou na cronologia histórica da insti- tuição e das exposições de arte já realizadas pela Pinacoteca.

O Cedoc contribui com a equipe de pesquisa interna do museu e com pesqui- sadores externos, por possibilitar o acesso aos materiais preservados para estudo. A partir de 2015 foi possível pesquisar on-line em um banco de dados (PINACOTECA, s. d. b.) os conjuntos documentais que compõem o acervo arquivístico.

No final do ano de 2014 foram realizadas as primeiras visitas pessoais ao acervo do Cedoc. As visitas são permitidas mediante agendamento, para que haja funcionários disponíveis para realizar o atendimento. Nessa época a busca na base de dados do acervo se dava a partir de uma planilha eletrônica no editor Microsoft Office Excel e era realizada nos computadores do próprio Cedoc. Apenas os funcio- nários têm permissão para buscar as peças solicitadas no acervo e a observação das mesmas se dá mediante o uso de luvas para o manuseio.

2 A Estação Pinacoteca – localizada no Largo General Osório, 66, São Paulo – ocupa o edifício onde

antes funcionava o escritório da Estrada de Ferro Sorocabana. Esse edifício já sediou anteriormente o Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP), entre os anos 1940 e 1983. Além do Cedoc, funcionam na Estação Pinacoteca o Memorial da Resistência de São Paulo, a Biblioteca Walter Wey, o acervo da Coleção Nemirovsky e o Gabinete de Gravura Guita e José Mindlin (PINACOTECA, s. d.).

3 Todas as consultas realizadas no Cedoc tiveram auxílio e acompanhamento da coordenadora Isabel

Ayres Maringelli e dos profissionais Cleber Silva Ramos e Giovana Faviano, que foram bastante solíci- tos à pesquisa.

Figura [31] Catálogo da

exposição 100 anos de

edição gráfica da Pinacoteca do Estado: 1912-2012.

Pinacoteca do Estado de São Paulo. Original escaneado. Fonte: acervo pessoal.

Nessa primeira etapa de visitas, realizadas durante duas semanas em dezem- bro de 2014, foram consultados os catálogos de obras mais antigos da Pinacoteca. Os catálogos publicados de 1912 até 1965, por serem materiais sensíveis ao manuseio, foram fornecidos digitalizados, na íntegra, em formato “.pdf” via pen-drive. Foi pos- sível observar, em mãos, diversos tipos de documentos e materiais gráficos dentro deste recorte inicial, até 1965, e foi permitido fotografá-los com câmera digital.

Em uma segunda etapa de consulta ao acervo, realizada durante duas se- manas em agosto de 2015, foi almejado um recorte posterior ao ano de 1965 até a atualidade. Nessas visitas foi possível utilizar o banco de dados on-line para filtrar a pesquisa. Ao todo foram consultadas caixas que continham materiais diversos, relacionados à Pinacoteca, definidos pelas seguintes tipologias: adesivos, álbuns de fotografias e cromos, anais, atas, autorização de despesa, bilhetes, bonecos, books de exposições, calendários, cartas, cartões, cartões postais, cartazes, catálogo, catálo- gos de exposições, comunicados, contratos, convites, correspondências enviadas e recebidas, declarações, decretos, dossiês, fac-símile, fôlder, fotografias, ingressos, listas, livros, logotipo, manual técnico, material promocional institucional, objetos, ofícios e orçamentos.

Diante da extensa quantidade de materiais impressos, a seleção das fontes se deu a partir de características gráficas que trouxessem a identidade institucional da Pinacoteca, que apresenta a nomenclatura através da assinatura gráfica nos mate- riais. A seleção de fontes primárias privilegiou os documentos impressos e os catá- logos institucionais da Pinacoteca. O fato desses materiais se relacionarem direta e unicamente à instituição contribuiu muito para que essas fontes fossem privilegiadas neste recorte, bem como por apresentarem uma ordem cronológica e se concentra- rem em uma quantidade possível de ser analisada.

Fontes como cartazes, catálogos e convites de exposições foram deixa- das à parte do estudo de caso. Foi observado em algumas ocorrências tanto que a Pinacoteca sede espaço para a identidade gráfica da exposição, ficando em segundo plano, quanto o fato de a identidade gráfica da exposição incorporar e envolver a assinatura da Pinacoteca dentro de sua linguagem gráfica e tipográfica, contribuin- do para que uma imensa variedade de formas de identificar a instituição fossem ali encontradas. Alguns padrões pareciam mais flexíveis nessas fontes: as assinaturas da Pinacoteca nos cartazes, catálogos e convites de exposições, no geral, parecem mais refletir a identidade da exposição do que impor uma identidade gráfica do museu. Essas imagens ofereceriam maiores dificuldades para serem publicadas, devido aos direitos autorais de fotógrafos e artistas, bem como de seus familiares. Haveria ainda a dificuldade de fechar um recorte preciso para amostragem, pela grande quantida- de de peças existentes. Há, ainda, uma questão a ser pontuada aqui: os materiais mais recentes, como os produzidos após 2012, ainda não fazem parte do acervo do Cedoc – até a coleta de dados realizada em agosto de 2015 –, cujas fontes ainda vêm sendo catalogadas.

A partir das fontes encontradas no Cedoc foram selecionados documentos institucionais, de qualquer natureza ou função, que utilizam papéis timbrados ou que carregam a assinatura gráfica da instituição de alguma maneira. Primeiramente foram obtidas as imagens das assinaturas gráficas distintas que identificam a insti- tuição em documentos impressos, desde o primeiro documento, datado de 1912. Em um segundo momento, foi necessário filtrar esse quantitativo, optando-se por deixar à parte os documentos em que a nomenclatura da instituição figurava em um

carimbo – sendo este o indício da veracidade daquele papel enquanto documento. Foram deixados de lado os documentos timbrados apenas pelas secretarias de go- verno, nos quais a menção à Pinacoteca se dava por caligrafia ou datilografia. Entre os documentos restantes havia diversos exemplares muito semelhantes, nestes casos optou-se por escolher uma imagem com qualidade para reprodução. As regras para obtenção de imagens no Cedoc4 mudaram a partir do ano de 2015.

O acervo do Cedoc da Pinacoteca representa a fonte de dados primários mais importante desta pesquisa. Posterior ao contato e coleta visual destes materiais grá- ficos foi necessário o tratamento dos dados visuais, com a compilação de informa- ções descritivas sobre os materiais para análise.

4 Passou a ser cobrada uma taxa de R$ 2,50 por cada solicitação de imagem e, a partir de então, somen-

te os funcionários do Cedoc têm permissão para fotografar e enviar por e-mail as imagens, em resolução inferior a 300 dpi.

Figura [32] Documentos da

Pinacoteca com detalhes ampliados contendo os carimbos da instituição, datados respectivamente de 1935, 1940 e 1947. Originais fotografados pela pesquisadora.

Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo.