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Na década de 1930, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, a Pinacoteca foi fechada e o edifício do Liceu de Artes e Ofícios cedido aos combatentes. O edi- fício do Liceu, que já havia sido fechado por um mês em junho de 1924, durante a Revolução Tenentista (CAMARGOS, 2007), permaneceu fechado durante um longo período, e a Pinacoteca teve suas obras dispersas por diversas instituições pú- blicas. O arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo, peça importante para a gestão da instituição nos anos anteriores, havia falecido em junho de 1928 e, pos- teriormente, “[c]om a chegada de Getúlio Vargas ao poder e o consequente afasta- mento dos políticos do antigo regime ligados à sua trajetória”, configurou-se uma fase delicada, que beirava o fechamento da Pinacoteca (CAMARGOS, 2007, p. 55). O acervo foi reorganizado e reaberto ao público posteriormente em um novo endereço.

Entre os anos de 1921 e 1930 não se tem registro de quem dirigiu a Pinacoteca. Sabe-se que Luiz Scattolini, um ex-aluno do Liceu, tomou conta das obras entre 1928 e 1932, e Tarsila do Amaral, em depoimento, disse ter atuado como diretora, ou conservadora, da Pinacoteca por breves três ou quatro meses por volta de 1930. O cargo de diretor somente seria criado oficialmente anos mais tarde (AMARAL, 2006, p. 182). Entretanto, um painel exposto na Pinacoteca no ano de 2015 trazia

Figura [66] Antiga sede da

Imprensa Oficial que abrigou a Pinacoteca e a Escola de Belas Artes nas décadas de 1930 e 1940, localizada na Rua XI de Agosto, Centro, São Paulo. Acervo Faculdade de Belas Artes. Fonte: Camargos e Moraes (2005, p. 23).

Na página seguinte:

Figura [67] Capa do catálogo

de 1938 – Pinacoteca do Estado de S. Paulo, Rua XI de Agosto nº 41, Catálogo – 1938, Imprensa Oficial do Estado, São Paulo. Original escaneado. Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo.

uma cronologia de seus responsáveis, apontando o engenheiro e arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo entre 1905 e 1928, o conservador Luiz Scattolini7 entre

1929 e 1938, e o pintor Paulo Vergueiro Lopes de Leão entre 1939 e 1944.

A Pinacoteca foi fechada à visitação pública em outubro de 1930, quando, em meio ao movimento militar, o edifício do Liceu de Artes e Ofícios foi cedido aos combatentes vindos do Paraná (CAMARGOS; MORAES, 2005, p. 21-22). Ainda nesse ano toda a ala direita do edifício, antes ocupada pelas obras do acervo da Pinacoteca, foi cedida ao Grupo Escolar Prudente de Moraes a pedido da Secretaria de Segurança Pública – o que duraria até 1948. No ano seguinte, em 1931, a ins- tituição ficou subordinada à Secretaria da Educação e Saúde Pública e foi criado o Conselho de Orientação Artística (ASSEMBLEIA..., 1947), órgão do governo res- ponsável por assuntos relacionados às belas artes e ao Pensionato Artístico. Em 1932 o edifício do Liceu foi novamente fechado durante a Revolução Constitucionalista para o abrigo de militares e seu acervo ficou disperso em outros órgãos públicos.

A coleção voltou a ser reunida na antiga sede da Imprensa Oficial do Estado, em um edifício localizado à Rua XI de Agosto, sob guarda da Escola de Belas Artes de São Paulo, reabrindo ao público em 1936 (CAMARGOS; MORAES, 2005, p. 21-23). Ainda em 1932 torna-se responsável pela Pinacoteca, sendo empossado ofi- cialmente em 1936, o pintor Paulo Vergueiro Lopes de Leão, permanecendo até 1944 (AMARAL, 2006, p. 182).

O museu recebeu em 1937 uma importante doação de obras através do testa- mento de Henrique Bernardelli, quando inaugurou uma sala de exposições de mes- mo nome em sua homenagem. No ano seguinte sediou o “V Salão Paulista de Belas Artes” (CAMARGOS; MORAES, 2005, p. 24-25).

Camargos e Moraes (2005, p. 23) mencionam a publicação de um catálogo pela Pinacoteca em 1935 que não consta no acervo do Cedoc, e que por esse motivo não foi possível ser visualizado e analisado. Em 1938 seria lançado um catálogo com a listagem atualizada das obras do acervo do museu, este sim constante naquele acervo.

Além dos problemas políticos envolvendo a sua sede, a dispersão das obras e a realocação em outro endereço, o cunho acirradamente acadêmico do acervo da Pinacoteca, segundo Amaral (2006, p. 185), afastava os jovens artistas, interessados em novas ideias da arte, que pouco frequentavam o “velho museu”.

O despojamento visual do catálogo de 1938

Com doze anos de intervalo em relação à publicação anterior8, o catálogo da

Pinacoteca publicado em 1938 trouxe modificações estéticas radicais em relação aos anteriores. Desprovida de ornamentos, a composição da capa do catálogo é limpa e exclusivamente tipográfica.

De formato 15x20 cm aproximadamente, a capa foi impressa em um papel com leve textura e coloração que lembra a cor azul, agora já amarelado pelo tempo. A or- ganização das informações se mantém com o nome da instituição no cabeçalho, agora incluindo seu novo endereço. Nessa assinatura gráfica da Pinacoteca há um esforço para justificar a palavra “Pinacoteca” – que aparece pela primeira vez grafada sem o “h” – e as palavras “Estado de S. Paulo”, deixando a palavra “do” centralizada com

7 Grafado como Luiz Scatollin. 8 Com base no acervo do Cedoc.

longos espaços laterais. O nome da instituição dividido em três linhas mantém o uso de caracteres maiúsculos e uma tipografia sem serifa, de peso regular com traço fino, não mais condensada. Logo abaixo, o endereço “Rua XI de Agosto nº 41” completa esse bloco de informações. O título “Catálogo” aparece centralizado na área da capa em letras bem grandes. Centralizada no rodapé consta a informação de quem imprimiu o material: “1938 / Imprensa Oficial do Estado / São Paulo”. Uma variação observada na composição dos elementos textuais está ligada ao corpo das letras, que oscila de acordo com o tipo de informação, conferindo destaque ao título “Catálogo”.

Duas tipografias distintas foram utilizadas nos componentes textuais da capa, sempre em maiúsculas e sem serifas. Uma delas foi usada exclusivamente para os caracteres do título – de característica sem serifa e geométrica (LUPTON, 2006), remetendo às formas pontiagudas da tipografia Kabel – e a outra – sem serifa de largura estendida – foi utilizada na assinatura gráfica da Pinacoteca e nas demais informações. A tipografia Kabel apresentava uma família com 10 variações de estilo segundo o catálogo da Funtimod (ARAGÃO, 2010).

Encontrou-se bastante semelhança – de desenho e peso – entre a fonte utiliza- da na assinatura gráfica da Pinacoteca e a fonte Grotesca Larga Clara, comparando- se9 as versais, do catálogo da Funtimod (ARAGÃO, 2017). A partir da comparação

por sobreposição dos arquivos digitalizados, é possível afirmar que esta assinatura gráfica da Pinacoteca de 1938 tenha sido composta com a fonte Grotesca Larga Clara do catálogo Funtimod. Segundo Aragão:

Os tipos que mais caracterizam o começo do século 20 são configurados sem serifa, cuja criação foi impulsionada, entre outros fatores, pelos conceitos funcionais da Bauhaus e pelos ideias de Jan Tschichold. Sob essa perspecti- va, a Funtimod manufaturou no Brasil as faces sem serifa geométricas Kabel

9 O comparativo utilizou-se da imagem da assinatura gráfica da Pinacoteca, presente no catálogo

de 1938 (acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo), comparada através da sobreposição da página da fonte Grotesca Larga Clara do catálogo FTM I Funtymod – Fundição de typos modernos Ltda. São Paulo: Funtymod, [1937?] (acervo pessoal da pesquisadora Isabella Aragão), manipuladas através do

software Photoshop.

Figura [68] Detalhe das

tipografias utilizadas na capa do catálogo de 1938 – Pinacoteca do Estado de S. Paulo, Rua XI de Agosto nº 41,

Catálogo – Imprensa Oficial do

Estado, São Paulo. Original escaneado. Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo.

Figura [69] Detalhe da

comparação da letra “A” entre a assinatura gráfica da Pinacoteca, conforme o catálogo de 1938, com o catálogo da Funtimod, fonte Grotesca Larga Clara – Versais, corpo 20 – design original de Wilhelm. Woellmer’s (Alemanha), 1913. Fonte: elaboração da pesquisadora

e Futura, respectivamente, da Klingspor e Bauer, assim como vários estilos da Reform-Grotesk, da D. Stempel, e a Grotesca baseada na Breite Grotesk, da J.G. Schelter & Giesecke. (2016, p. 202)

Visualmente, a capa rompe com todos os elementos gráficos e tipográficos já vistos anteriormente nos catálogos da Pinacoteca. A estrutura simplificada – que traz reflexos da Semana de Arte Moderna de 1922 – era bastante moderna para a época, devido ao uso da tipografia e ao despojamento dos elementos decorativos, embora mantenha princípios projetuais clássicos como a composição centralizada. É possível que essa renovação na estrutura gráfica, que à época guardava características mini- malistas, estivesse relacionada à estética das publicações da Imprensa Oficial. Para verificar essa possibilidade foi realizado um levantamento de outras publicações da Imprensa Oficial no mesmo período.

As publicações da Imprensa Oficial do Estado

A Imprensa Oficial do Estado surge diante da necessidade de impressão dos Actos

Officiais do Governo, que anteriormente à sua fundação, em 1891, eram realizados

mediante contratos de serviços de periódicos. Também referida por “Typographia do Estado de São Paulo”, seu maquinário advém da “compra feita, pelo governo do Estado, do espólio do antigo jornal abolicionista A Redenção, que, com o advento da Lei Áurea, cumprira seu objetivo” (IMPRENSA..., 1983, p. 22). O Decreto nº 162 de 28 de abril de 1891 oficializa a publicação do Diário Oficial do Estado de S. Paulo pela oficina tipográfica do Estado (IMPRENSA..., 1983).

A Imprensa Oficial apresentava condições precárias de maquinário, não pos- suía luz elétrica – utilizava iluminação à gás – e foi resistente às modernizações do pe- ríodo, como a utilização de máquinas de escrever. Com uma administração conturba- da e atuação bastante limitada, funcionou até 1931 no edifício da Rua XI de Agosto nº 21, quando foi transferida para a Rua da Glória nº 88, configurando-se como um

Figura [70] Primeira capa

preservada dentro de reencadernação Repartição de

Estatistica e Archivo. Divisão judiciaria e administrativa e districtos eleitoraes do Estado de São Paulo em 1930, publicado

em 1931. As demais imagens correspondem às folhas de rosto das respectivas publicações, que foram reencadernadas: Departamento

da Administração Municipal. Relatorio sobre a organização e trabalho do Departamento de Administração Municipal: 1930-1933, 1933. Departamento da Administração Municipal. Relatório dos trabalhos da Conferência dos Prefeitos,

1938. DECRETO nº 9775 de 30

de novembro de 1938, 1940.

Todos impressos pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Originais fotografados pela pesquisadora. Fonte: Coleção João Falchi Trinca, CMU; AHM ; Idem; CMU.

Figura [71] Detalhe das fontes

tipográficas utilizadas nas folhas de rosto das respectivas publicações: Departamento

da Administração Municipal. Relatorio sobre a organização e trabalho do Departamento de Administração Municipal: 1930- 1933, 1933. DECRETO nº 9775 de 30 de novembro de 1938,

1940. Impressos pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Originais fotografados pela pesquisadora. Fonte: AHM; CMU.

estabelecimento gráfico de grande porte. Foi transformada em autarquia em 1966, e a contratação dos funcionários foi submetida às leis trabalhistas. Mediante a Lei nº 228, de 30 de maio de 1974, foi transformada em uma sociedade por ações, e passou a ser denominada Imprensa Oficial do Estado de São Paulo S. A. (Imesp), tornando- se uma importante indústria gráfica ainda em atuação (IMPRENSA..., 1983).

Foram encontrados muitos impressos produzidos pela Imprensa Oficial do Estado em diferentes acervos e uma grande concentração destes foi encontrada na biblioteca do Arquivo Histórico de São Paulo, que preserva principalmente mate- riais impressos dos governos estadual e municipal. O filtro pela proximidade com o período em que foi impresso o catálogo da Pinacoteca, em 1938, norteou a primeira seleção dos materiais.

Nessas publicações oficiais a simplificação dos elementos estético formais, com- ponentes textuais e esquemáticos, pode ser percebida a partir da ordem cronológica das imagens. Em 1931 a capa de Repartição de Estatistica e Archivo. Divisão judiciaria e

administrativa e districtos eleitoraes do Estado de São Paulo em 1930 apresenta ao menos

seis fontes tipográficas distintas, quase uma diferente para cada linha de texto presente na composição. O estilo de fonte tipográfica muda ao longo das quatro publicações: as clássicas serifas são deixadas para trás e nota-se uma tendência às terminações retas.

As tipografias utilizadas nas publicações de 1933 e 1938, uma na frase “Realizada em São Paulo em Janeiro de 1935” – sem serifa e estendida – e outra no título da publicação de 1940 “Decreto N. 9775 de 30 de novembro de 1938” – geo- métrica – parecem ser as mesmas, ou muito semelhantes, às utilizadas na composição da capa do catálogo da Pinacoteca de 1938.

Nesses impressos a profusão tipográfica que contemplava estilos diferenciados foi deixada para trás, seguindo uma tendência de renovação editorial característica do período posterior à década de 1920 (HALUCH, 2005). Os elementos estético formais não textuais, decorativos, foram caindo em desuso, e os que ainda restavam tendiam às formas esquemáticas simplificadas, como os traços lineares.

Os livros publicados pela Imprensa Oficial do Estado datados de 1937 e 1940 trazem capas compostas somente com elementos tipográficos, despojadas de qualquer ornamentação pictórica ou imagética. A composição centralizada é característica das capas dessa gráfica no período. Tipografias sem serifa ou com serifa retangular (egípcia), de terminação quadrada, estão presentes nas capas ob- servadas. As características de despojamento da ornamentação e centralização da composição em fonte sem serifa, encontradas principalmente na capa de Um amigo

Figura [72] Capa Um amigo

do Museu Paulista Dr. Alberto Penteado: (1872-1934), 1937. Guia da Secção Histórica do Museu Paulista, 1937. O pensamento de Alberto Torres,

1940. Todos impressos pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Originais fotografados pela pesquisadora. Fonte: Coleção João Falchi Trinca, CMU; AHM; Coleção Oficina do Livro: Acervo de coleções Especiais e Obras Raras Bccl, Unicamp.

Figura [73] Detalhes de dois

documentos timbrados, ambos datados de 1936 - Pinacotheca do Estado de São Paulo. Originais fotografados pela pesquisadora. Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo.

Figura [74] Ao lado: documento

timbrado, detalhe, 1933 - Pinacotheca do Estado de São Paulo. Original fotografado pela pesquisadora. Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo. do Museu Paulista, remetem visualmente à composição da capa do catálogo da

Pinacoteca desta mesma década.

Os ofícios compostos por tipografia e datilografia

Na década de 1930, a instituição passou a ser identificada pela nomenclatura “Pinacotheca do Estado de São Paulo”, através de assinaturas que aparecem no can- to superior esquerdo dos documentos.

Os documentos encontrados são caracterizados visualmente por uma assi- natura gráfica composta em arranjo curvilíneo, semicircular, formado pelas palavras “Pinacotheca do Estado”. Centralizado, em disposição horizontal, as palavras “de” e “São Paulo” parecem sustentadas por discretos traços divisores lineares no ofício de 1933.

As tipografias com e sem serifas foram mescladas em duas assinaturas datadas de 1933 e 1936, e em um dos exemplos de 1936 foi utilizada somente uma tipografia sem serifa.

A tipografia sem serifa encontrada no documento timbrado datado de 1936 foi comparada10 com a fonte Grotesca Normal Meia Preta do catálogo de tipos da

Funtimod (ARAGÃO, 2017). Ao sobrepor as versais em corpo 10, encontrou-se certa semelhança na estrutura da letra “A”, mas diferenças nas curvas e terminações

10 O comparativo utilizou-se da imagem da assinatura gráfica da Pinacoteca, presente no documen-

to timbrado de 1936 (acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo), comparada através da sobreposi- ção da página da fonte Grotesca Normal Meia Preta do catálogo FTM I Funtymod – Fundição de

typos modernos Ltda. São Paulo: Funtymod, [1937?] (acervo pessoal da pesquisadora Isabella Aragão),

manipuladas através do software Photoshop.

Figura [75] Documento

timbrado, 1933 - Pinacotheca do Estado de São Paulo. Original escaneado. Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo.

Figura [76] Documento

timbrado, datados de 1936 - Pinacotheca do Estado de São Paulo. Original escaneado. Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo.

Figura [77] Documento

timbrado, datado de 1936 - Pinacotheca do Estado de São Paulo. Original fotografado. Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo. Nas páginas seguintes:

da letra “S”. É possível, portanto, deduzir o uso de uma fonte bastante similar à Grotesca Normal Meia Preta da Funtimod, mas não precisamente a mesma.

Essas três ocorrências de assinaturas da Pinacoteca são características da dé- cada de 1930. A composição tipográfica em arranjo curvilíneo pode caracterizar uma liberdade na composição das assinaturas gráficas desses documentos impressos e re- fletir uma tendência que pode ser observada no campo das artes gráficas nas primei- ras décadas do século XX. Alguns detalhes de documentos timbrados de diversas secretarias de governo, encontrados no acervo do Cedoc, reforçam tal afirmação.

Nos documentos pertencentes à década de 1930 as informações passaram a ser datilografadas, prática que se estende até os documentos do início dos anos 1990. Cabe pontuar que a técnica de impressão predominante no campo gráfico até então era a impressão tipográfica plana, substituída décadas depois pela impressão offset (GORDINHO, 1991).

No geral, a estruturação das informações compostas em datilografia segue um padrão envolvendo o cabeçalho, com a data e a numeração do ofício (em dois dos exemplos), o título ou a menção ao destinatário, o conteúdo e a assinatura do docu- mento, área com um traço composto em datilografia seguido das informações como o

Figura [79] Detalhes de

documentos timbrados. Assinaturas com composição em arco. Respectivamente: Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, 1912; Secretaria do Interior – Estado de São Paulo, 1927; Secretaria da Justiça e Segurança Pública – Almoxarifado – Diretoria, 1934; Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda – São Paulo, 1944. Originais fotografados pela pesquisadora. Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo.

Figura [78] Detalhe da

comparação das letras “A” e “S” entre a assinatura gráfica da Pinacoteca, conforme o documento timbrado de 1936, com o catálogo da Funtimod, fonte Grotesca Normal Meia Preta – Versais, corpo 10 – design original de J.G. Schelter & Giesecke (Alemanha), 1890. Fonte: elaboração da pesquisadora.

nome ou o cargo de quem assina o documento. O ofício de 1933 contém linhas finas impressas em toda a folha, a fim de orientar a distribuição das informações. Nele, a mancha gráfica aparece deslocada para o lado direito, sem a padronização da mar- gem conforme acontece no lado esquerdo, talvez por seguir as linhas impressas que respeitam apenas a margem esquerda do papel. Nos ofícios de 1936 são respeitadas as duas margens em tamanhos diferentes, com exceção de algumas linhas divisórias de uma tabela e linha de assinatura, que se estendem até o final da página do lado direito. Esses documentos trazem apenas a assinatura gráfica da Pinacoteca, livre de menções às secretarias de governo que seriam observadas em larga escala nos documentos seguintes cronologicamente.

Considerações sobre a identidade da Pinacoteca nos primeiros anos de atividade

A partir dos primeiros catálogos e documentos preservados foi possível esboçar uma caracterização inicial de como a Pinacoteca se identificava institucionalmente. Percebe-se uma intenção de identidade nos materiais gráficos analisados, influencia- dos por tendências estilísticas em voga, com composições recorrentes na assinatura gráfica em alguns momentos específicos. O primeiro catálogo, ainda com a nomen- clatura de “Pinacotheca do Estado” composta com um misto de duas tipografias distintas, traz traços Art Nouveau bastante ornamentados.

Nos catálogos seguintes foi observada uma padronização na nomenclatura da instituição como “Pinacotheca do Estado de S. Paulo” – tanto em sua grafia quanto em sua composição tipográfica. Nos três catálogos publicados entre 1914 e 1921, e também no de 1926 – ainda que este último apresente uma alteração, mantendo-se o mesmo estilo, da fonte tipográfica –, percebe-se uma intenção de padronização da identidade devido à constância das composições tipográficas com elementos verbais e esquemáticos, mantendo a mesma mancha gráfica e estrutura de layout. No mesmo conjunto também é possível perceber que, gradualmente, a ornamentação curvilínea foi deixada para trás.

Seguindo muito mais tendências do campo do design do que características de um padrão próprio institucional, a linguagem visual dos catálogos acompanhou em partes as tendências visuais de seu tempo – embora sem fazer o uso de imagens e ilustrações, recursos muito populares no período – mantendo-se vigente a serieda- de institucional. Pode-se supor, com base nos estudos historiográficos consultados, que a falta de estabilidade administrativa nas primeiras décadas da Pinacoteca teria contribuído para uma menor preocupação no sentido de desenvolver uma identidade visual institucional. Isso teria ficado, portanto, a cargo das gráficas atuantes naquele período na cidade de São Paulo, que compunham as capas dos catálogos e a forma de identificação da instituição, tanto nessas capas quanto em documentos oficiais, embora acredite-se que os leiautes a serem impressos passavam pelo crivo da institui- ção e recebiam forte influência do que se ensinava e se produzia no Liceu, ligado aos movimentos europeus, principalmente ao Art Nouveau.

Na década de 1930 a instituição enfrenta uma fase bastante conturbada, quando ocorre a dispersão de seu acervo, permanecendo fechada para visitação em algumas temporadas e reabrindo ao público em outro endereço. Ainda assim a