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Instituída oficialmente em 15 de novembro de 1905 (AMARAL, 1982), a Galeria de Pintura do Estado – Pinacoteca – foi instalada em uma das salas do edifício do então Liceu de Artes e Ofícios, sob responsabilidade do engenheiro Ramos de Azevedo. Segundo Aracy Amaral (1982, p. 22), seus fundadores foram: “José de Freitas Valle, poeta, simbolista e mecenas das artes em São Paulo [...], o engenheiro Ramos de Azevedo, Sampaio Viana, e o engenheiro Adolfo Pinto, sendo secretário do governo o Dr. Cardoso de Almeida”.

A Pinacoteca contava inicialmente com 26 obras transferidas do eclético acer- vo do Museu Paulista – o único museu no estado até então, inaugurado em 1895 (CAMARGOS; MORAES, 2005, p. 18) –, como as telas do pintor Almeida Júnior (CINTRÃO, 2011, p. 64). Tais obras remetiam a diversos gêneros de pintura, “entre paisagens, retratos e naturezas-mortas, elas destoavam do projeto republicano da institui- ção, que manteve as de perfil ‘histórico’ como Partida da Monção, de Almeida Júnior, e

Primeiro Desembarque, de Oscar Pereira da Silva” (CAMARGOS, 2007, p. 40).

O edifício do Liceu de Artes e Ofícios, que recebeu as obras e abrigou a Pinacoteca em um salão do andar superior (CAMARGOS, 2007), foi projetado pelo escritório de Ramos de Azevedo com projeto de Domiciano Rossi. De estilo neo- clássico, o edifício foi construído em um terreno cedido pelo governo do Estado e inaugurado em 1901 – parcialmente concluído, sem a cúpula e o revestimento exter- no –, passando a abrigar os cursos de artes aplicadas do Liceu e o Ginásio do Estado até 1924 (CAMARGOS; MORAES, 2005). Segundo Camargos, a Pinacoteca foi

[a]berta com pompa, em 25 de dezembro de 1905, na capital habitada por cerca de 250 mil pessoas (...) O entusiasmo inicial, porém, arrefe- ceu. Cinco anos após sua inauguração solene, a Pinacoteca não pas- sava de um depósito de quadros, que ninguém via nem sabia para que fora criado, segundo artigo publicado em O Estado de São Paulo de 11 de novembro de 1911. Nessa época, José de Freitas Valle, Deputado pelo Partido Republicano Paulista, redigiu projeto que resultaria na Lei 1271, regulamentando a Pinacoteca. Embora ainda vaga, nos seus nove artigos deixava patente a preocupação em formar o gos- to estético das futuras gerações, estipulando que, além da exibição e conservação de obras, o Museu deveria funcionar como núcleo de aprendizado, nos moldes que já haviam sido propostos pelo próprio Liceu. Por isso, as manhãs de quinta-feira e as tardes de domingo eram reservadas aos estabelecimentos de ensino públicos e particu- lares do Estado, cujos professores poderiam dar explicações aos alu- nos. A entrada era gratuita, exceto aos sábados, quando se cobrava ingresso de um mil-réis. Profissionais e amadores tinham autorização para copiar quadros da galeria em quatro dias da semana, das onze horas da manhã à uma da tarde. Fechava às terças-feiras para ‘lava- gem asséptica das salas e alimpamento rigoroso dos objetos de arte’. (CAMARGOS, 2007, p. 40-42)

Após ser regulamentada pela Lei Nº 1271 de 21 de novembro de 1911 en- quanto museu estatal – instituição subordinada à Secretaria do Interior e da Justiça –, a Pinacoteca abriu oficialmente suas portas ao público em 24 de dezembro do mes- mo ano, com a “1a Exposição Brasileira de Belas Artes” (CAMARGOS; MORAES,

2005, p. 19). Em 1912, após a 2a mostra de mesmo nome, foi lançado o primeiro

catálogo de quadros. Outros catálogos foram publicados nos anos 1914, 1917, 1921, 1926 e 1938 e serão analisados neste capítulo.

Segundo Cintrão (2011), a Pinacoteca passou a ocupar quatro salas do andar superior do edifício do Liceu no ano de 1913 e ampliou significativamente seu acer- vo. A instituição passou a ser subordinada à Secretaria do Governo a partir de 1925 (CAMARGOS; MORAES, 2005, p. 19-20).

O acervo inicial do museu contava com 59 obras de artistas consagra- dos do Rio e de São Paulo – entre os quais Antônio Parreiras (1860- 1937), Benedito Calixto (1853-1927), Baptista da Costa (1865-1926), Oscar Pereira da Silva (1867-1939) e Almeida Jr. (1850-1899), parte delas pertencentes ao Museu Paulista e transferidas à Pinacoteca. Até 1930 o acervo foi ampliado, a partir de doações privadas e aqui- sições do Estado. Obras de artistas pensionistas no exterior, como Victor Brecheret (1894-1955), Anita Malfatti (1889 - 1964) e Wasth Rodrigues (1891-1957), entre outros, passaram a integrar a coleção do museu, de acordo com as regras do Pensionato Artístico de São Paulo. As primeiras obras internacionais passaram a integrar o acervo por ocasião das exposições de arte espanhola e francesa realizadas na instituição. (CINTRÃO, 2011, p. 83)

Em suas três primeiras décadas de existência, a composição do acervo da instituição se ligava aos critérios artísticos da burguesia paulistana. As obras pro- vinham, em sua maioria, de doações estritamente acadêmicas, recebidas sem quaisquer critérios de seleção, oriundas das famílias abastadas e dos bolsistas do Pensionado Artístico do Estado de São Paulo. Constituíam, portanto, uma série “ainda distanciada das novas manifestações artísticas” (CAMARGOS, 2007, p. 55) da capital, fato que configurava um cenário de baixa visitação do público, embora a Pinacoteca ainda fosse o único museu de artes do estado.

O primeiro catálogo e a linguagem visual de seu tempo

A análise do modo como a Pinacoteca se identifica nos materiais gráficos se inicia com o registro mais antigo dos catálogos impressos. O primeiro catálogo de obras da instituição data de dezembro de 1912 e foi publicado na ocasião da “2a Exposição

Brasileira de Belas Artes”, com 76 obras listadas no acervo.

Grafado com letras maiúsculas, com duas fontes distintas em três linhas, o nome da instituição definido por “PINACOTHECA DO ESTADO” foi envolto em uma moldura de linha dupla de característica orgânica. Uma tipografia condensada com serifas retangulares e abruptas (BRINGHURST, 2005), de hastes marcantes, definem o nome “PINACOTHECA”. A sequência “do Estado” aparece em duas linhas, em tamanho menor, com tipografia sem serifa em peso regular. Ao redor da palavra “Estado” existe uma sequência de elementos triangulares com um traçado abaixo deles, preenchendo e equilibrando este espaço. O nome da instituição ocupa cerca de um terço do espaço da capa.

Na parte central da capa se encontra o título “Catálogo dos Quadros” em um tipo decorativo, com contornos externos e uma linha interna, logo abaixo há um

Figura [35] Capa do catálogo de 1912 – Pinacotheca do Estado, Catalogo dos Quadros, Em Dezembro de 1912 –

Figura [36] Páginas internas do catálogo de 1912 – Pinacotheca do Estado, Catalogo dos Quadros [s.l.;s.n.].

elemento de ornamentação central e a data. Com exceção à assinatura da Pinacoteca, as tipografias utilizadas na composição apresentam características decorativas, assim como as molduras e os elementos gráficos. A peça foi produzida através de impressão tipográfica, em preto, no tamanho aproximado de 15x23 cm.

Toda a estrutura retangular vertical da capa é envolta pela moldura de traços orgânicos, que delimita a mancha gráfica, e que permanece nas páginas internas e evo- lui para situações mais retilíneas, com as informações centralizadas. Existem pequenos espaços visíveis que separam algumas partes da moldura e deixam entender que as mesmas foram compostas através de vinhetas metálicas encaixadas, através da técnica de impressão com tipos móveis metálicos, amplamente difundida nesse período1.

O uso de molduras ornamentadas se estende no decorrer das seis páginas do miolo desse catálogo, que traz apenas em texto as listagens de obras, sem a impressão de imagens.

Os elementos esquemáticos decorativos, bastante característicos do mo- vimento Art Nouveau, se assemelham especificamente a alguns livros e periódicos europeus, principalmente franceses, bastante curvilíneos como nas artes gráficas de Alfons Maria Mucha e Maurice Pillard Verneuil (MEGGS; PURVIS, 2009).

A ornamentação Art Nouveau também foi muito utilizada em anúncios e em- balagens de produtos nas primeiras décadas do século XX (GORDINHO, 1991; CARDOSO, 2009), e alguns produtos mantêm o estilo até hoje nos logotipos e em- balagens, como o Biotônico Fontoura e os produtos da Granado Pharmácias.

Em publicações do mesmo período, como a capa de um folheto com listas de preços de envelopes de 1914 (FARIAS, 2005), foi possível identificar semelhanças nos elementos da moldura com finas linhas duplas, cantoneiras e elementos centrais decorativos curvilíneos, esteticamente bastante semelhantes aos utilizados no catá- logo de 1912. Essa capa traz a assinatura no cabeçalho de “Albino Gonçalves & C.”, gráfico fundador da Companhia Paulista de Papéis e Artes Gráficas, existente desde 1908, quando funcionava como uma importadora de itens de papelaria e produzia impressos gráficos.

Entre as publicações do estado de São Paulo levantadas no período de 1910- 19192, os jornais trazem uma estética visual bastante distinta dos catálogos, devido 1 “Segundo Mello, diretor da Oficina Tipográfica São Paulo e professor de tipografia nos cursos de

design gráfico e design digital da Universidade Anhembi Morumbi, as primeiras impressoras trazidas para o Brasil pelos portugueses foram as prensas tipográficas manuais utilizadas na Europa. Nelas, os tipos, feitos de chumbo, eram dispostos, um a um, em um ‘componedor’, instrumento utilizado para formar as linhas, que depois eram transferidas para um suporte plano de metal, chamado ‘bolandeira’. Desse modo, era formada uma matriz, também conhecida como chapa. Esse material, então, era entin- tado e cada folha era impressa individualmente na prensa.” (MEZA, 2008, n. p.)

2 Nesse levantamento foram visualizadas as publicações (SP) entre 1910-1919: A Lanterna; A

Vanguarda; Almanach da Comarca do Amparo; Correio Paulistano; Diário Español; Gazeta Artística; Il Pasquino; O Combate; O Coronel; O Estado de S. Paulo; O Furão; O Pirralho; O Sacy; Panoplia; Relatório dos Presidentes dos Estados Brasileiros. Impressos digitalizados pela Hemeroteca Digital Brasileira -

Fundação Biblioteca Nacional (FUNDAÇÃO..., s. d.).

Figura [37] Marca e linguagem

visual dos produtos Granado / Phebo e Biotônico Fontoura. Fonte: Granado... (s. d.); Biotônico... (s. d.).

Figura [38] Página impressa

em litografia com ilustração de Alfons Mucha, Ilsée, Princesse

de Tripoli, 1901. Fonte: Meggs e

Purvis (2009, p. 263).

Figura [39] Exemplo de padrões

no estilo Art Nouveau para uso em livros. Maurice Verneuil,

Combinaisons ornementales,

1900. Fonte: Meggs e Purvis (2009, p. 264).

ao tipo de publicação informativa que compreendem e, por esse motivo, foram deixa- dos à parte desta análise. A publicação Gazeta Artística, revista de música, literatura e belas artes, dirigida por Augusto Barjona, se destacou como uma referência pontual neste estudo, pois foi uma das publicações observadas do início do século XX que fazia amplo uso de molduras curvilíneas, além de imagens e ilustrações pictóricas.

As edições de 1909 até 1914 da Gazeta Artística trazem páginas com molduras no estilo Art Nouveau curvilíneo, envolvendo anúncios, títulos e imagens, bastante semelhantes às utilizadas no primeiro catálogo da Pinacoteca. Na primeira e segunda edições da Gazeta Artística, em 1909, não há o registro de quem imprimiu, embora existam anúncios da Cia. Graphica Paulista com destaque nessas e em diversas outras edições. Na terceira edição, em 1910, consta assinatura na capa da Typ. Amicucci – S.

Paulo. Na 10a edição da Gazeta Artística, de 1911, consta assinatura da Typ. Hennies

Irmãos – São Paulo em página interna e, em outra página da mesma edição, da Typ. Amicucci; na 17a edição, de 1911, consta na capa a assinatura da Empreza Graphica

Moderna – Rua Barão Duprat, 19 e 21 – S. Paulo, assinatura que também aparece

em uma página específica da 28a edição, de 1914, no quadro com data de setembro

de 1911. É possível concluir que mais de uma empresa de composição tipográfica prestava serviços em uma mesma edição e não é possível concluir quem as imprimia, embora existam anúncios da redação da Gazeta Artística divulgando serviços de im- pressão em uma oficina própria.

Uma extensa reportagem sobre obras da Pinacoteca foi publicada na 14a edi-

ção da Gazeta Artística, em 1911, com molduras ornamentadas no estilo Art Nouveau, e quatro imagens de obras do acervo. O primeiro catálogo da Pinacoteca com ima- gens só seria impresso na década de 1940.

Alguns livros, encontrados nos acervos pesquisados, datados de períodos pró- ximos, revelam características semelhantes às encontradas no catálogo da Pinacoteca de 1912. A característica que sobressai é a utilização da moldura linear orgânica, no estilo Art Nouveau, como elemento decorativo e estruturador nas capas de Geographia

do Estado de São Paulo, impresso nas Escola Profissionais Salesianas em 1906 e de Souvenir de la fète célébrée a L´Ecole Normale de São Paulo (Brazil), com impressão co-

lorida assinada por Augusto Siqueira em 1907. A moldura com traços mais retilíneos aparece contornando a imagem impressa na segunda capa do livro Gritos patrioticos, assinado pela Casa Vanorden em 1911.

Figura [40] Albino Gonçalves

& C. - Listas de preços de

enveloppes, 1914.

Fonte: Farias (2005).

Figura [41] Catalogo de typos,

modelos para carimbos de borracha, clichés e vinhetas do Estabelecimento Graphico Albino Gonçalves & C., São Paulo, 1914.

Figura [42] Gazeta Artística,

revista paulistana de música, literatura e belas artes. Capa da edição nº 3 de 1910. Fonte: Fundação... (s. d.).

Figura [43] Exemplo de moldura

e ornamentos em página dupla interna na Gazeta Artística – São Paulo, fev. 1914, 28a ed.

Fonte: Fundação... (s. d.).

Figura [44] Exemplos de

molduras e ornamentos nas páginas internas e em anúncios na Gazeta Artística – São Paulo, 1910, 1911 e 1913. Fonte: Fundação... (s. d.).

Figura [45] Reportagem sobre

as obras da Pinacoteca na

Gazeta Artística – São Paulo,

14a edição, 1911.

Embora não haja registro de quem imprimiu o primeiro catálogo da Pinacoteca de 1912, os fatos observados dão pistas de que ele possa ter sido composto com ti- pos e ornamentos como os oriundos do estabelecimento gráfico Albino Gonçalves – a posterior Companhia Paulista de Papéis e Artes Gráficas – situado na Rua José Bonifácio, 25, com as “officinas” situadas na Rua B. de Duprat, 43. Existia uma pro- ximidade geográfica e estilística entre o fornecimento destes materiais e as tipografias atuantes em São Paulo.

Contudo, as características visuais da composição do catálogo de 1912 estão fortemente ligadas às tendências gráficas de seu tempo devido ao uso das molduras curvilíneas em estilo Art Nouveau e presença de elementos decorativos. Sua criação parece antes se apropriar de padrões de composição e de uso tipográfico característi- cos do campo do gráfico paulistano de então, conforme os exemplos observados3, do

que configurar algum padrão gráfico específico de orientação interna da Pinacoteca.

A caracterização de uma estrutura gráfica através de agentes do campo gráfico paulistano: Tipografia Siqueira Nagel, Tipografia Augusto Siqueira, Casa Vanorden e a Cia. Paulista de Papéis e Artes Gráficas

Em janeiro de 1914, pouco mais de um ano após a primeira publicação, foi lançado o segundo catálogo da Pinacoteca com 25 páginas.

O nome da instituição foi grafado como “PINACOTHECA DO ESTADO DE S. PAULO”, em uma única linha com caracteres maiúsculos. A tipografia utili- zada na composição dessa assinatura gráfica tem características condensadas e sem serifas. Essa configuração de assinatura da Pinacoteca, incluindo a grafia, a tipogra- fia e o posicionamento no cabeçalho, ocupando quase toda a extensão horizontal e

3 Na publicação Gazeta Artística e nos livros Geographia do Estado de São Paulo, Souvenir de la fete ce-

lebrée a L´Ecole Normale de São Paulo (Brazil), Gritos patrioticos e ainda nas capas de Listas de preços de enveloppes, 1914, Albino Gonçalves & C. e Catalogo de typos, modelos para carimbos de borracha, clichés e vinhetas do Estabelecimento Graphico Albino Gonçalves & C., 1914, todos publicados em São Paulo

e na mesma época.

Figura [46] Capa do livro

Geographia do Estado de São Paulo, impresso nas Escola

Profissionais Salesianas em 1906. Capa de Souvenir de la

fête célébrée a L´Ecole Normale de São Paulo (Brazil), impresso

por Augusto Siqueira em 1907. Segunda capa e folha de rosto de Gritos patrioticos, impresso pela Casa Vanorden em 1911. Originais fotografados pela pesquisadora. Fonte: Ahle, Biblioteca Monteiro Lobato; Acervo de coleções Especiais e Obras Raras / Bccl, Unicamp; Idem. Figura [47] Detalhe da assinatura gráfica da Pinacoteca na capa do Catálogo de 1914 – Pinacotheca do Estado de São Paulo, Galeria de Bellas

Artes em Janeiro de 1914 –

Typ. Siqueira, Nagel & C., São Paulo. Original escaneado. Fonte: Acervo Cedoc / Pinacoteca de São Paulo.

Figura [48] Capa do catálogo de 1914 – Pinacotheca do Estado de São Paulo, Galeria de Bellas Artes em Janeiro de

rodeado por ornamentos, viria a se tornar um padrão nos dois catálogos seguintes, nos quais a composição tipográfica se manteve idêntica, apenas com uma variação pontual em alguns espaços entre letras, o que pode ser observado na comparação das três capas sobrepostas, mais à frente.

A capa do catálogo de 1914 traz uma estrutura gráfica diferente da anterior. O leiaute é centralizado e bastante ornamentado, agora mais geométrico, retilíneo, mas ainda em estilo Art Nouveau. Traz uma moldura linear sólida com camadas in- ternas de ornamentos, linhas paralelas e finas, compondo com cantoneiras quadradas e ponteiras arredondadas. O título “Galeria de Bellas Artes”, é disposto em formato de arco e ao centro; a palavra “em” cercada por dois traços longos; e abaixo, forman- do um arco contrário, a data “janeiro de 1914”. O espaço abaixo foi ocupado por um elemento de ornamentação, com características orgânicas extremamente rebusca- das que se diferenciam esteticamente da moldura, posicionado ao centro. Na parte inferior, em um retângulo integrado à moldura, consta o nome de quem compôs o material “1914 /Typ. Siqueira, Nagel &C. /Rua Alvares Penteado nº 7 /S. Paulo”.

Cabe observar que a tipografia utilizada no título “Galeria de Bellas Artes”, com serifa retangular e abrupta, com mais peso que as demais informações no leiaute, é a mesma que foi utilizada anteriormente no catálogo de 1912, para compor o nome “Pinacotheca”.

No catálogo publicado em 1917 foi identificada uma estrutura gráfica bas- tante semelhante à observada anteriormente. A assinatura gráfica da instituição e o título do catálogo de 1917, “Galeria de Bellas Artes”, estão grafados da mesma maneira que no catálogo anterior. Abaixo do arco formado pelo título existe um ele- mento orgânico floral, de característica linear. Na sequência, o subtítulo, “Catalogo Geral”, aparece grafado em uma tipografia decorativa com características bold e con- densada, em maiúsculas e versaletes (LUPTON, 2006), com traços paralelos logo acima das versais. Ocupando o espaço na parte inferior, o mesmo ornamento de ca- racterística orgânica do catálogo anterior se repete de maneira idêntica. A estrutura gráfica, organizada através da moldura e do eixo central, se apresenta bastante similar à publicação anterior e funciona como um padrão visual, apenas os cruzamentos de linhas e os elementos centrais com traços orgânicos foram modificados. O retângulo inferior traz Augusto Siqueira em um novo endereço assinando o material “1917 / Typ. Augusto Siqueira &C. / Rua S. Bento nº 25 / S. Paulo”.

Sabe-se, a partir do estudo de Marcia Razzini (2006), que a tipografia fun- dada em São Paulo por João Augusto Siqueira teve diferentes nomenclaturas e forte atuação na produção de livros didáticos. As publicações consultadas pela autora

(...) apresentam as seguintes chancelas editoriais de acordo com o período: Typographia a vapor Espindola, Siqueira & Comp., de 1894 a 1905; Typ. Augusto Siqueira & Comp., de 1906 a 1922; Siqueira, Salles & Comp., em 1910; Siqueira, Nagel & Comp., de 1911 a 1915; Siqueira, Salles Oliveira, Rocha & Comp., de 1927 a 1933; Typographia Siqueira, de 1912 a 1947; Casa Siqueira, Salles Oliveira & Cia. Ltda., em 1934; Gráfica Siqueira e Indústria Gráfica Siqueira S/A, nos anos de 1950 e 1960.

(…) Importante salientar que o uso de diferentes nomes por uma mesma em- presa ao longo dos anos era comum em relação às editoras brasileiras e ge- ralmente traduzia uma mudança no comando do negócio ou na composição societária. (RAZZINI, 2006, p. 05-06)

Figura [49] Capa do catálogo de 1917 – Pinacotheca do Estado de São Paulo, Galeria de Bellas Artes, Catalogo Geral –

Figura [50] Capa do catálogo de 1921 – Pinacotheca do Estado de São Paulo, Galeria de Bellas Artes, Catalogo Geral –

Figura [51] Comparativo entre as assinaturas da Pinacoteca, através de sobreposição de imagens das capas dos

catálogos de 1914, 1917 e 1921. Há uma variação no espaço entre as letras no nome “Pinacotheca do Estado de S. Paulo”, que pode ser produto de uma provável mudança de ajuste óptico para ajuste geométrico entre as composições. Fonte: elaboração da pesquisadora.

Foram encontrados nos acervos pesquisados alguns exemplares da produção gráfica do mesmo período, assinadas com diferentes nomenclaturas, relacionadas à