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Semelhantemente a Frigotto (2003), Katz (1996) aponta que a flexibilização do trabalho possui como grande intuito assegurar à classe burguesa a obtenção de mais-valia o

que é possível graças à majoração do uso das novas tecnologias a partir da década de 1990 principalmente no setor econômico-industrial.

Katz (1996) nos faz perceber um importante fator referente ao emprego das novas tecnologias no setor industrial, a saber, estas inovações coincidem com a crise do emprego nas sociedades de economia capitalista que tem como decorrência o aumento da pobreza e a conseqüente exacerbação da disparidade social.

Este fator não parece ser meramente contraditório, mas principalmente proposital na medida em que permite ao patronato, através da flexibilização do trabalho, reforçar as formas de exploração e expropriação do trabalhador diante da crise enfrentada pela economia durante a última metade da década de 1970.

Por sinal, na superfície do esgotamento do Welfare State as dificuldades são atribuídas à rigidez do padrão de acumulação, ao esgotamento do mercado consumidor, ao modelo de trabalho fordista e à necessidade de grande arrecadação pública para se garantir a política social do Estado de bem-estar.

A crise reacende a ideologia neoliberal que ganha força e procura reestruturar o capital através de políticas privatizadoras e desregulamentadoras do Estado de bem-estar e dos direitos trabalhistas. A tônica reorganizadora repousa sobre o argumento da flexibilização da atividade produtiva ocorrida através de um avanço do emprego das novas tecnologias no setor produtivo.

As relações entre os países de economia central e os países de economia periférica são, neste período, comandadas pelas diretrizes dos programas de financiamento bancados pelas agências internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM).

Dependente e subordinado economicamente aos países de economia central, o governo brasileiro promove, durante a década de 1990, a abertura de sua economia através de

processos de privatização, seguindo os ditames políticos do Consenso de Washington. Em virtude deste fato as indústrias nacionais passam a se adequar à lógica neoliberal para que possam competir e sobreviver no mercado capitalista. Impulsionam-se assim os investimentos em microeletrônica que permitirão a automação da produção impelindo-a a modelos mais flexíveis que os anteriores fordismo e taylorismo.

As conseqüências deste novo cenário serão sentidas pela classe trabalhadora que terá que conviver com o desemprego estrutural e com a crescente precarização do trabalho advindas da automação e de práticas terceirizadoras que objetivam reduzir os custos produtivos. A especialização e a qualificação do trabalhador soam, assim, como argumento falacioso visto que o trabalhador é impelido, neste curso, a situações de subemprego e reduções salariais.

Para Katz, este fato é fortalecido pelo processo de automação do trabalho; ao flexibilizar a produção este processo possibilita o barateamento dos salários visto que, segundo o autor, com a modernização do setor industrial “[...] reforça-se a pressão empresarial para a redução de gastos em salários porque as novas tecnologias potencializam a concorrência pela mais-valia ali gerada” (1996, p. 229).

Esta realidade objetiva, na verdade, revigorar a competitividade entre os empresários permitindo que aumentem os seus ganhos diminuindo os seus gastos e responsabilidades trabalhistas.

Segundo Katz (1996), quando deveria propiciar melhores condições de vida ao homem o que se observa é que a flexibilização trabalhista, que impele o trabalhador a adaptar- se ventrilocamente às novas tecnologias, permite que o processo inovador vivenciado pelo capitalismo na atualidade maximize a obtenção de mais-valia por parte da classe burguesa. A flexibilização, para o referido autor, não consiste em uma modernização do processo produtivo, mas sim em uma barreira para o desenvolvimento integral do próprio homem pois

ela permite a “[...] intensificação dos ritmos de trabalho e [...] o incremento do ganho patronal” (KATZ, 1996, p. 228) a custos e responsabilidades trabalhistas cada vez menores.

A flexibilização não é, parafraseando Coggiola (1996), um requisito sine qua non do processo tecnológico, mas um verdadeiro obstáculo aos direitos trabalhistas até então conquistados pela classe trabalhadora, visto que acelera o ritmo de trabalho a ser executado através de parcelas cada vez menores de tempo. Desta forma, a flexibilização do trabalho seria sinônima de potencialização da obtenção da mais-valia relativa obtida através de “[...] cotas crescente de trabalho em menores lapsos de tempo” (KATZ, 1996, p. 228).

O que se torna flexível não é tão somente a capacidade do trabalhador se moldar às novas tecnologias empregadas no setor de produção, mas principalmente a capacidade do capitalismo de se reproduzir especulando os ganhos advindos da exploração do trabalhador qualificado/adestrado para atender às novas exigências produtivas. “A expansão da informática por meio da flexibilização trabalhista constitui uma confirmação de que a extração de mais-valia é o móvel central da inovação no sistema capitalista” (KATZ, 1996, p. 227-228).

A flexibilização do trabalho é para Katz (1996) um artifício que intensifica a exploração do trabalhador e aumenta a opressão social, sem que a classe capitalista se veja obrigada a criar novas frentes ou postos de trabalho que aumentem o número de trabalhadores empregados.

Temos feito, até a presente parte deste trabalho, algumas considerações acerca das novas configurações do cenário sócio-econômico considerando que estas possuem como substrato a ação do sistema capitalista objetivando conter a crise estrutural que vivenciara em meados da década de 1970.

Consideramos que as políticas educacionais em curso no Brasil a partir da década de 1990 são fortemente influenciadas pelas alternativas estruturais – transformações no mundo do trabalho - concebidas como um limite à crise.

O próximo tópico deste trabalho se presta a observar como as políticas educacionais brasileiras – a partir da década de 1990 - delineiam e incentivam as práticas de municipalização do ensino; este é o segundo aspecto sob o qual julgamos possível estudar a municipalização do ensino.

3.6 Uma educação para a qualificação do trabalhador: a questão do capital humano e o