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O cenário para o início das grandes ocupações de terras no Pontal do Paranapanema durante os primeiros anos da década de 198014, como observamos anteriormente, decorre de dois motivos centrais15: o primeiro relaciona-se ao desemprego provocado pela redução de postos de trabalho nas usinas hidrelétricas locais e o segundo deriva do enchimento do reservatório da Usina de Rosana, no mesmo período, que inundou as terras de muitos pequenos posseiros desalojando-os de suas propriedades16.

Estes dois grupos de trabalhadores, unidos pela mesma sorte, juntamente com aqueles que se encontravam há anos atordoados pela exploração econômica (bóias-frias, meeiros e pequenos arrendatários) promoveram em 15 de novembro de 1983, nas fazendas Tucano e Rosanela pertencentes, na época, às empresas Vicar S.A. e Camargo Corrêa17,

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As informações contidas neste tópico são extraídas de: SOUZA, João Maria de. Histórico da ocupação da

região do Pontal do Paranapanema. [s.i.: s.n.], 2001 e do site da Prefeitura Municipal de Rosana: www.

rosana.sp.gov.br. 15

Salientamos que estes motivos se encontram inscritos no quadro mais amplo de crise – colapso do milagre econômico experimentado durante meados de 1970, ondas de greve e queda no abastecimento de combustível - que se abatera sobre o Brasil em princípios da década de 1980 afetando o campo.

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Há ainda um terceiro motivo que se refere à histórica existência, no Pontal do Paranapanema, de uma classe de trabalhadores/agricultores que se deparou no local, deste o principio do século XX, com vastas possessões de terras, nas mãos de fazendeiros, que são em parte juridicamente irregulares e em parte improdutivas.

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Esta última empresa, com a construção do Ramal de Dourados que deveria sair de Presidente Prudente em direção à Dourados (MS), estendendo-se até as margens do rio Paraná, nas proximidades do rio Paranapanema, onde hoje se localiza Rosana, adquiriu terras no Pontal objetivando loteá-las e vendê-las posteriormente. Com efeito, a cidade de Rosana nasceu do intuito da Imobiliária e Colonizadora Camargo Corrêa Ribeiro S. A. de construir uma cidade no ponto final dos trilhos, próximo às margens do rio Paraná, em domínio paulista.

aquela que seria parte de uma ocupação que encorajaria, posteriormente, uma série de trabalhadores em torno da luta pela conquista da terra no Pontal do Paranapanema.

O Brasil vivia, neste período, os preâmbulos da passagem do regime militar àquilo que se concebia como uma nova ordem política e social – a redemocratização do país. Apesar de todo o entusiasmo do cenário nacional em torno de sua reabertura política, o clima entre os trabalhadores sem-terra e os fazendeiros, no Pontal, era tenso. Após quase uma semana de ocupação das fazendas Tucano e Rosanela, a Justiça concedeu às empresas Vicar e Camargo Corrêa uma reintegração de posse. Os trabalhadores sem-terra mobilizados e dispostos a não se desorganizarem transferiram, então, o acampamento para as margens da rodovia SP-613, evitando assim que a Polícia Militar (PM) os dispersasse.

Em maio de 1984 o governo do Estado desapropriou parte das terras, consideradas devolutas, das fazendas Bonanza, Santa Paula, Porto Maria. Santa Marina, Água do Peão, Junqueira, Santa Terezinha e Guanamirim e as destinou para a formação do assentamento Gleba XV de Novembro.

Através da equipe técnica do extinto Departamento de Assuntos Fundiários (DAF) do Estado, foram cadastradas todas as famílias acampadas às margens da rodovia, aproximadamente 600 famílias. Ao cadastramento seguiu-se um processo de seleção das famílias com base no número de seus componentes. Todas elas foram deslocadas, então, para um acampamento em uma área provisória no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Rosana até que se efetuasse a demarcação dos lotes de terras que seriam destinados gradativamente a todas as famílias, iniciando-se pelas mais numerosas. Para que os trabalhadores rurais não ficassem dependendo exclusivamente das cestas básicas fornecidas pelo governo, o DAF, juntamente com a CESP, concedeu provisoriamente a cada família a oportunidade de realizar alguns cultivos, entre o final de 1984 e o inicio de 1985, em áreas emergenciais de 1,5 alqueire em uma parte do próprio assentamento Gleba XV de Novembro.

Finalmente, em 1985 os trabalhadores começaram a ser assentados definitivamente nos 572 lotes que formaram o assentamento. A título de uma melhor organização dos trabalhadores e de uma eficaz administração, o DAF dividiu o assentamento inicialmente em 6 setores. Cinco destes setores deveriam atender às atividades agrícolas e um deles destinou-se ao manejo da pecuária leiteira. Hoje, o assentamento possui sete setores e caracteriza-se eminentemente pela atividade pecuária devido à baixa produtividade do solo. Cada setor possui uma área de uso comum denominada agrovila. Nas agrovilas são construídas algumas instalações básicas necessárias aos trabalhadores como: escolas, postos de saúde, igrejas, quadras esportivas, salões de recreação para festas e bailes. Nem todas as agrovilas contam com a mesma estrutura, diga-se de passagem precária. Não há em todo o assentamento, por exemplo, sequer um telefone público em funcionamento. As maiores conquistas são fruto da organização e mobilização dos agricultores, o que lhes permitiu contar com uma rádio comunitária, situada na agrovila do setor III, uma agência dos correios e telégrafos, uma panificadora – mantida pela organização das Mulheres Unidas do Setor II (OMUS) - e um projeto, Escolas de Informática e Cidadania (EIC), incipiente, de inclusão digital elaborado em parceria entre a Fundação ITESP (Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva”) e o Comitê de Democratização da Informática (CDI) no final de 2004, todos situados no setor II.

Inicialmente o Projeto de Valorização e Desenvolvimento do Pontal do Paranapanema, Gleba XV de Novembro, foi concebido com uma área de 13.310,76 hectares que abrigaram 572 famílias. O intuito do DAF era criar um projeto cujo objetivo seria revitalizar a paisagem local – marcada pelo desmatamento e pelas pastagens infindáveis – e conferir aos agricultores uma fonte de renda alternativa.

A coordenação do assentamento é desenvolvida, na atualidade, pela Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva” (ITESP), criado em l99l. A

sede local do ITESP situa-se na cidade de Primavera distante aproximadamente 30 Km do assentamento. Este órgão é responsável pela execução da política agrária e fundiária do Estado e encontra-se vinculado à Secretaria de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania. Este fato demonstra que o governo paulista reduziu a reforma agrária a uma judiciarização da luta pelo acesso à terra. Segundo esta concepção as mobilizações dos trabalhadores são tomadas – principalmente na região do Pontal do Paranapanema – como um caso de polícia/repressão e não como um problema sócio-agrário que, se resolvido, pode fomentar o desenvolvimento econômico-cultural da região.

Em suma, a história da constituição do assentamento Gleba XV de Novembro é a história da luta dos trabalhadores rurais organizados travada contra a opressão capitalista representada no local pelos latifúndios agro-exportadores. Esta luta acontece não somente em prol da conquista de um pedaço de chão para ser cultivado, mas se dá também em nome da batalha que o agricultor opera em torno da construção social de sua identidade, de sua cidadania e da conquista de educação escolar que atenda aos seus anseios.

No próximo tópico nos dedicaremos a um estudo dos convênios Estado – município, para a municipalização do ensino, e procederemos a uma descrição dos estabelecimentos de ensino rosanenses.