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84. As categorias utilizadas por MENDONÇA foram tomados do modelo desenvolvido por Souto-Maior (1989) para avaliação da participação democrática As quatros categorias são: a) Oportunidade,

5.1. Cenários e atores do OP de Florianópolis

5.1.4. A Frente Popular

A Frente Popular de Florianópolis, composta pelo PPS, PT, PSDB, PC do B, PV, PSB, PDT, PC e MSR, tinha seu programa de ação de governo, intitulado

AGORA A VEZ DO POVO e centrava-se em quatro eixos: a) A questão cidade- região metropolitana; b) Transparência Administrativa / Gestão Democrática; c) Participação Popular / Cidadania e; d) Inversão de Prioridades. Os quatro eixos desdobravam-se em nove prioridades: 1) Reduzir as desigualdades, combater a miséria e a deteriorização das condições sociais; 2) Democratizar o poder: estimulando, ampliando e assegurando a participação nas decisões; garantindo todas as informações à sociedade (prestação de contas, projetos, planos, recursos, em total transparência administrativa); estimulando a organização autônoma e independente da população e sua auto-gestão; 3) Resgatar a cidadania em todos os seus níveis e formas; 4) Gerenciar e estruturar a cidade garantindo um ambiente saudável a toda a população; 5) Planejar, democraticamente, o espaço urbano e periférico, invertendo as prioridades governamentais até aqui conhecidas; 6) Articular as demandas locais às questões estaduais, nacionais e internacionais; 7) Promover a integração dos municípios da Grande Florianópolis, entendendo a cidade como um grande ecossistema; 8) Desenvolver ações e experiências, individuais e coletivas que apontam para uma nova ordem social, cultural, ética e moral e; 9) Conscientizar os cidadãos, de forma crítica, acerca dos limites de um Governo Municipal e das demais Instituições.

As nove prioridades do programa de ação inseriam-se em treze áreas: administração pública; desenvolvimento econômico; educação; cultura; esporte e lazer; políticas sociais - assistência social; saneamento; saúde; meio ambiente; resíduo urbano (lixo); planejamento urbano; transporte coletivo e segurança pública. As questões relativas a transparência administrativa, gestão democrática, participação popular, cidadania e Inversão de prioridades, com maior ou menor ênfase, permearam todas as treze áreas, mas é no item “Administração Pública” que estas questões se colocam de forma mais direta. Assim é que, no sub-item “Transparência Administrativa”, além da preocupação com a lisura nas compras e contratação de serviços, o programa de governo propunha uma “Sala de Controle Popular”, onde os cidadãos interessados tivessem acesso fácil a todos os projetos do governo municipal em fase de elaboração ou execução. Além do sub-item “Transparência Administrativa”, outro enfatiza o “Controle Social” através do

compromisso de criação e fortalecimento de conselhos populares com caráter consultivo e/ou deliberativo.

A Frente Popular e o Orçamento Participativo

O Orçamento Participativo, aparece como desdobramento do sub-item “Orçamento e Finanças”, sob o título “Transparência e Participação Popular”, mais como relato de outras experiências e uma possibilidade de implantação do que efetivamente programa de ação de governo,

O Orçamento participativo tem sido uma empreitada bem sucedida em alguns municípios brasileiros. As comunidades devem participar desde a elaboração até o

acompanhamento na Câmara Municipal e no momento de aplicação e execução pelo Poder Executivo. Este sistema pode se revelar tão eficaz na constituição da cidadania que em algumas experiências já se tornou parte integrante do método de Planejamento da gestão pública.110

Segundo o então Secretário do GAPLAN, no primeiro momento, o grau de conhecimento dos integrantes do governo (colegiado) e dos partidos da Frente Popular sobre o que seria uma democratização do orçamento público, sobre o Orçamento Participativo, “era baixíssimo, quase ninguém tinha muito claro como ele funcionava”.111 O próprio GAPLAN, destituído de qualquer importância política e praticamente desativado na gestão anterior (Esperidião Amim e Bulcão Viana), somente começou a adquirir importância e a ser discutido no final da composição do secretariado da Frente Popular e só por ser sua a atribuição da elaboração orçamentária. O Orçamento Participativo “só foi ganhando importância no decorrer da gestão, tanto é que não foi ponto forte na campanha eleitoral e no Planejamento Estratégico do Governo, realizado no segundo semestre de 1993, o OP não foi eleito como uma das marcas do governo”.112 Ainda de acordo com o ex-secretário do GAPLAN, no primeiro ano de governo, “pouca importância se deu ao OP, pouca gente sabia do que tratava”. Para o Colegiado, o Orçamento Participativo “era mais uma coisa que ia começar e talvez não desse certo, com exceção dos secretários do PT.” Os debates em torno de como concretizá-lo, “se deram mais a nível de Diretório do PT do que no Colegiado da Frente”.

110 . Programa de Ação de Governo da Frente Popular de Florianópolis, 1992. 111 . Cfe. entrevista com o ex-secretário do GAPLAN em 12/11/97.

Já o ex-prefeito, mesmo concordando que o OP de Florianópolis se referenciava no de Porto Alegre, afirma que procurou conhecer outras experiências e foi influenciado pelas metodologias utilizadas em Joinville e Lages. Entretanto, reconhece que, não só no primeiro ano, mas no decorrer de toda a experiência, “quem carregava a proposta do Orçamento Participativo era o PT’. O que ocorria é que “como não se tinha uma visão de unidade dentro do govemo, cada secretário transformou a sua secretaria numa prefeiturinha”. Ressalta, contudo, que não havia um boicote de outras secretarias ao OP, mas sim “que algumas pessoas do govemo entenderam que aquilo era uma prioridade e se dedicaram mais e outras viam ao contrário”.

Se as análises do ex-secretário do GAPLAN e do ex-prefeito coincidem quanto a quem levou adiante o OP, a do ex-prefeito prima pela clareza com que revela (conforme veremos no decorrer do trabalho) os desencontros dentro do govemo da Frente Popular. Prioridades são, segundo a visão do ex-prefeito, opções pessoais e não política de governo. Mesmo considerando as afirmações de que não havia um boicote direto ou explícito ao OP por setores do próprio govemo popular, tanto as declarações do ex-prefeito, quanto as do ex-secretário do GAPLAN, demostram, além da resistência de alguns setores internos e o baixíssimo índice de integração entre as diversas secretarias, a total falta de coordenação política e unidade de ação do govemo, ao menos no tocante a condução do Orçamento Participativo.