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84. As categorias utilizadas por MENDONÇA foram tomados do modelo desenvolvido por Souto-Maior (1989) para avaliação da participação democrática As quatros categorias são: a) Oportunidade,

5.2. O perfil dos participantes do Orçamento Participativo

Nesta seção, a partir dos resultados da pesquisa (ver Metodologia da abordagem empírica e fonte de dados no Capítulo 3 e Anexo V), realizada através de questionários com os participantes do Orçamento Participativo de Florianópolis - 96/97, de onde destaco alguns pontos, procurarei traçar o perfil dos mesmos.

Após elaboração e aplicação do questionário, tomei conhecimento de pesquisa semelhante realizada em Porto Alegre por uma equipe formada pelas Organizações Não-Govemamentais, CIDADE e FASE-RS, e pela pesquisadora Rebeca ABERS (UCLA/USA), em parceria com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre. A partir de então, mesmo não sendo objeto deste trabalho, resolvi comparar, onde fosse possível,

os dados levantados junto aos participantes do OP-PoA 95/96 com os do OP-Fpolis 96/97. Nas comparações utilizei algumas observações e hipóteses levantadas por FEDOZZI e PODOZZOBON sobre a pesquisa de Porto Alegre, procurando verificar se, e em que medida, as mesmas se repetiam no OP de Florianópolis.

Finalmente, há que se levar em consideração, enquanto limites para a comparação entre as duas pesquisas, além do espaço temporal distinto (julho e agosto de 1995 em Porto Alegre e julho de 1997 em Florianópolis), também o tamanho das amostras (cerca de 10,7% em Porto Alegre e 5,8% em Florianópolis) e o fato da pesquisa de Porto Alegre ter trabalhado com a renda familiar, enquanto em Florianópolis pesquisei a renda individual. Outrossim, para melhor visualização das diferenças e semelhanças entre as duas pesquisas, nos dados do OP-PoA optei por utilizar apenas os das plenárias regionais, excluindo os referentes às plenárias setoriais.

O Perfil sócio-econômico dos participantes do Orçamento Participativo

Comparando o perfil dos participantes do OP de Porto Alegre com os do OP de Florianópolis, grosso modo, pode-se dizer que entre os participantes do OP-PoA há uma paridade entre homens e mulheres; sendo que a maioria têm até 41 anos de idade, cor branca, com renda familiar até cinco salários mínimos e escolaridade até o primeiro grau completo. Já entre os participantes do OP-Fpolis, os homens são a maioria; com até 41 anos de idade; com renda pessoal até dez salários mínimos e escolaridade até o segundo grau completo.

Se no OP de Porto Alegre existe maior paridade na participação entre homens e mulheres, com pequena maioria de homens, no OP de Florianópolis a participação masculina é 10,64% maior que a feminina, respectivamente, 55,32% e 44,68%. Esta desigualdade na participação é ainda mais evidente quando verificamos que as mulheres são maioria na população de Florianópolis. De todo modo, nas duas pesquisas a desvantagem das mulheres manifesta-se também na renda e na participação em associações e direções dessas organizações. Entretanto, mesmo havendo essa desigualdade na participação entre homens e mulheres, ao que tudo indica, ela ainda é menor nos orçamentos participativos do que em outros espaços de participação política expontânea. O Partido dos Trabalhadores, por exemplo, que, estatutariamente, tem uma cota mínima para mulheres nas instâncias partidárias e a

obrigatoriedade de um serviço de creche durante todos seus eventos, em seu Encontro Municipal de Florianópolis, ocorrido na mesma época (junho/96) da pesquisa, teve uma participação de apenas 34,4% de mulheres.

Em Porto Alegre, a pesquisa foi realizada aferindo-se a renda familiar dos participantes, dificultando assim a comparação. Entretanto, mesmo comparando-se a renda individual dos participantes do OP de Florianópolis com a renda familiar dos de Porto Alegre, observa-se que percentualmente, os participantes do OP de Florianópolis situam-se em faixas de renda superiores.

A curva da escolaridade apresenta uma semelhança em todas as categorias analisadas. Ela parte de um índice baixo de participantes sem instrução, cresce espetacularmente nos participantes com primeiro grau incompleto e a partir daí vai decrescendo até a faixa dos participantes que possuem segundo grau incompleto, quando inicia um novo ciclo a partir dos que possuem segundo grau completo com um índice alto que vai decrescendo a medida que aumenta o nível de escolaridade.

Todavia, apesar do paralelismo no desenvolvimento das curvas, há diferenças bastante nítidas entre o grau de escolaridade dos participantes do OP/Fpolis e os do OP/PoA, bem como entre os diferentes sexos no OP/Fpolis. No OP/PoA o número de participantes sem instrução é quase três vezes maior que o dos participantes do OP/Fpolis, sendo que no OP/PoA 45,59% dos participantes não tem o primeiro grau completo, contra 17,02% no OP/Fpolis. No outro extremo a situação se inverte, o número de participantes com curso superior é, no OP de Florianópolis, mais do que três vezes o do OP de Porto Alegre.

A maior escolaridade dos participantes do OP/Fpolis em relação aos do OP/PoA é evidenciada independentemente do sexo, ou seja, mesmo comparando- se isoladamente, tanto os participantes do sexo masculino como feminino do OP/Fpolis possuem maior escolaridade do que os do OP/PoA. Entretanto, no OP/Fpolis o percentual de mulheres que possuem segundo grau completo é 13,28% maior que o dos participante homens. Também o índice de mulheres participantes do OP/Fpolis que possuem pós-graduação (completo ou incompleto) situa-se muito acima do índice dos homens (9,53% contra 3,85%).

A relação dos participantes dos orçamentos participativos com associações comunitárias mostra diferenças significativas entre os participantes do OP/Fpolis e

do OP/PoA. No OP/Fpolis 47,87% dos entrevistados participam de alguma entidade comunitária, em Porto Alegre o nível de participação é de 73,92%. É provável que o baixo índice de associativismo entre os participantes do OP de Florianópolis esteja relacionado, além das variáveis renda e escolaridade (são bem maiores que a dos participantes do Porto Alegre e tanto lá quanto aqui, quanto maior a renda e a escolaridade, menor o índice de participação em entidades comunitárias), também com a fraca inserção destas entidades na vida das comunidades.

A fraca relação entre entidades comunitárias e participantes do OP, em Florianópolis, pode ser também aferida pelas respostas dadas a três outras questões. Na primeira, frente a pergunta: qual o principal motivo porque não participa de entidade da comunidade? 23,41% responderam não saber da existência de entidade na comunidade e 56,38% dos qUe sabem da existência de entidades não participam por “falta de tempo e/ou motivação”. Aqui, além de significativa parcela não saber da existência de entidade, o fato das pessoas que conhecem uma entidade afirmarem que “falta tempo” para participar e ao mesmo tempo participarem das reuniões do Orçamento Participativo pode indicar um descrédito nas associações enquanto ferramentas para “melhorar a situação da comunidade/rua”. Fazendo uma inferência ainda mais profunda, é possível que esta “preferência” pelo OP esteja ligada ao fato destes participantes verem o OP como algo “oficial”, do governo, no sentido de ter mais poderes, mais recursos e, portanto, mais possibilidades de conseguir resolver os problemas da comunidade (eficácia x participação). À segunda questão, (Como soube da reunião/assembléia [do OP] de hoje?), a comparação entre Porto Alegre e Florianópolis em relação ao papel das entidades na mobilização das comunidades para as assembléias do OP mostra uma diferença significativa. Em Florianópolis apenas 9,57% souberam da reunião do OP pela entidade comunitária, ao passo que em Porto Alegre as entidades da comunidade são responsáveis por 59,00% das convocações para as assembléias do OP. Em Florianópolis, mesmo entre os participantes que são/eram dirigentes de entidades, 29,63% disseram ter tomado conhecimento da reunião pelo representante do OP e não pela entidade que dirigem. Ainda em Florianópolis, 45,74% dos entrevistados disseram ter sido convidados para a assembléia do OP pelos amigos, vizinhos e parentes, o que indica que são estas as relações que

suprem a debilidade das entidades frente a mobilizações. Em Porto Alegre apenas 12,76% dos participantes do OP são mobilizados através dessas relações informais. O terceiro ponto que se destaca na comparação das duas pesquisas é que quando questionado sobre “porque está participando da assembléia do OP?” nenhum entrevistado em Florianópolis fez qualquer referência à entidade comunitária, ao passo que entre os participantes do OP de Porto Alegre 12,53% vincularam sua presença na assembléia do OP por “ser liderança” ou “pertencer a alguma entidade”.

COSTA, em estudo onde procura demarcar o papel dos movimentos sociais na transição democrática e no processo de construção de esferas públicas locais no Brasil, afirma que boa parte dos trabalhos existentes sobre movimentos sociais, “acabam privilegiando, paradoxalmente, a perspectiva institucionalista das teorias da transição”, com os autores (e outros atores sociais) cobrando um “maior empenho institucional dos movimentos sociais”. (1997 : 2). De fato, no decorrer mesmo deste trabalho, é facilmente verificável, não só a expectativa, mas também e principalmente, uma contínua sucessão de montagem e aplicação de táticas e estratégias para que os movimentos sociais participem institucionalmente do processo do OP. Entretanto, para COSTA, a contribuição dos movimentos sociais nos processos de democratização não pode ser “aquela que cabe a atores como sindicatos ou partidos políticos”. Para ele, as possibilidades dos movimentos sociais “residem precisamente em seu ‘enraizamento’ em esferas sociais que são, do ponto de vista institucional, pré-políticas e é no nível de tais órbitas e da articulação que os movimentos estabelecem entre estas e as arenas institucionais que podem emergir os impulsos mais promissores para a construção da democracia”. (1997 : 2).

Tomando-se em conta que o objeto desta pesquisa não é analisar qual possibilidade - maior institucionalização ou maior enraizamento em esferas pré- políticas - é mais promissora no processo de democratização brasileira, mas sim verificar qual delas se concretizou no OP de Florianópolis, é necessário reconhecer que, nesta experiência, os movimentos sociais não conseguiram, ou não se dispuseram, a realizar as articulações (entre as esferas pré-políticas e institucionais) a que se refere COSTA. Frente ao pequeno enraizamento nas esferas pré-políticas, buscaram legitimar-se (conforme veremos no decorrer do trabalho) institucionalizando-se.

Ainda com referência à questão anterior, (motivo da participação) é notável, tanto em Porto Alegre quanto em Florianópolis, o alto índice daqueles que vincularam sua presença à “cidadania, à democracia”, 19,15% em Florianópolis e 25,70% em Porto Alegre. Estes dados são ainda mais relevantes se cotejados com o percentual de participantes que afirmou estar nas assembléias por demandas (do bairro, rua ou cidade), 48,94% em Florianópolis e 33,91% em Porto Alegre.

No tocante cidade de origem, 51,06% são naturais de Florianópolis. Dos que vieram de outro município, entre as mulheres, 45,0% vieram de outro estado e 55,0% de Santa Catarina. Já entre os homens, apenas 23,08% vieram de outro Estado e 76,92% são originários de Santa Catarina. Independente do sexo, entre os que vieram de outro município, o tempo médio de moradia em Florianópolis é de 18,43 anos, sendo que apenas 4,35% residem há menos de três anos em Florianópolis e 63,04% dos participantes do OP que vieram de outro município moram em Florianópolis há mais de quinze anos.

Quanto à fonte e freqüência de informações recebidas via jornais e televisão, entre os 39,36% que lêem jornal diariamente, o percentual de homens é 6,59 % superior. Entretanto, entre os 14,90% que não lêem jornal o % de homens é 9,71% superior aos das mulheres. Em relação a noticiários de televisão, 60,64% assistem algum noticiário diariamente.

As entrevistas mostraram uma grande rotatividade dos participantes no decorrer dos quatro anos da experiência do OP em Florianópolis. Assim é que 62,76% dos entrevistados disseram estar participando pela primeira vez do OP, enquanto que apenas 7,45% afirmaram ter participado nos quatro anos. Esta mobilidade, juntamente com a maior renda e escolaridade dos novos participantes ajuda a explicar, provavelmente mais do que o atendimento das demandas, a mudança na escolha da primeira prioridade (saneamento em 93 e educação em 96, conforme ver-se-á adiante). Em Porto Alegre, 51,45% dos participantes entrevistados já haviam comparecido as assembléias em anos anteriores, em Florianópolis este índice é de 37,24%.

Em relação à escolaridade acompanhando-se o percentual de participantes, no decorrer dos quatro anos, com 19 grau incompleto e com superior completo, verifica-se que as curvas tem uma trajetória inversa. Cresce, praticamente triplicando, (passa de

10,00% em 1993 para 29,80% em 1996), o percentual daqueles que tem nível superior completo e decresce, quase que quatro vezes, (de 50,00% em 1993 para 14,90% em

1996), o percentual daqueles que tem o 19 grau incompleto.

Tal qual a escolaridade, também a renda dos participantes sofre modificações significativas. Verifica-se que no decorrer da experiência o percentual daqueles situados na faixa de renda de 1,1 a 3,0 s. m. decresce quase que linearmente, (40,0% em 93; 35,8% em 94; 23,3% em 95 e 18,1% em 96). Inversamente, o percentual daqueles que se situam na faixa de renda imediatamente superior, isto é, de 3,1 a 5 s. m. eleva-se gradualmente em proporção semelhante (de 0% em 93 para 14,9% em 96) ao decréscimo da faixa de 1,1 a 3,0 s. m. Fenômeno semelhante ocorre entre as faixas de renda de 10,1 a 15 s. m. (20,0% em 93; 14,3% em 94; 13,3% em 95 e 11,7% em 96) e a de mais de 15 s. m. (0% em 93 e 12,7% em 96). Os percentuais das demais faixas de renda permanecem praticamente inalterados.

Considerando-se em conjunto a renda e a escolaridade dos participantes verifica-se que no OP de Florianópolis apenas 10,64% enquadram-se num extrato que pode ser denominado camadas populares (até 3 s. m e até 1s grau completo). Em Porto Alegre este índice chega a 29,57%. No outro extremo, em Florianópolis, 37,29% dos participantes do OP de Florianópolis possuem renda maior que 5 s. m. e no mínimo segundo grau completo e destes, 22,40% possuem curso superior. Já em Porto Alegre, neste mesmo extrato de renda e escolaridade situam-se 24,92% dos participantes do OP, sendo que 11,74% possuem curso superior.

As alterações ocorridas na renda dos participantes, juntamente com a questão da escolaridade, reforça a tese de que, no decorrer dos quatro anos, a mudança no perfil dos participantes se efetivou com o ingresso de pessoas situadas em extratos de escolaridade e renda superiores e com a exclusão daqueles de menor renda e escolaridade. Desse ponto de vista é possível dizer que o OP “elitizou-se” com o decorrer dos anos.

Também quanto à classificação das profissões há grande diferença entre as duas pesquisas. No OP de Porto Alegre o maior percentual (14,63%) é o das profissões relativas a serviços manuais sem qualificação (ex. pintor, servente, cozinheira etc.), contra 8,51% em Florianópolis. A situação se inverte quando

consideram-se as profissões que exigem serviços não manuais com qualificação (ex. digitador, bancário, engenheiro, dentista etc.) pois 26,60% dos participantes do OP de Florianópolis enquadram-se nestas categorias contra apenas 10,13% dos de Porto Alegre. No tocante a situação de emprego, entre os participantes do OP de Porto Alegre 6,75% estavam desempregados contra 2,13% em Florianópolis.

Na pesquisa de Florianópolis procurou-se aferir a “solidariedade” dos participantes do OP com a seguinte questão: Se duas comunidades/bairros (a sua e outra) elegerem uma prioridade igual (ex. uma creche), e só tiver recursos (R$) para uma e você tivesse que decidir, o que faria e porque? A maioria, (51,06%) responderam que optariam “pela mais carente, mais necessitada” (com critérios como: maior população, nível de carência, maior número de crianças, condições de vida etc.). Se somados aos que responderam que decidiriam pelos critérios “da maioria, por sorteio, pelo consenso e metade para cada comunidade”, ou seja, que buscariam uma solução “democrática e justa”, chega-se ao percentual de 71,28%, contra apenas 20,21% que responderam que decidiriam automaticamente “pela sua comunidade”.

A pesquisa procurou aferir também qual a avaliação (aspecto mais positivo e mais negativo) que os participantes tem do OP. Entre os pontos positivos ressalta- se a “participação”, (participar das decisões da administração, não deixar só o governo decidir)” com 37,23% e a “transparência” com 14,89% (decisões sem politicagem, sem clientelismo, saber para onde o dinheiro vai), sendo que apenas 8,51% assinalaram como ponto mais positivo as “obras realizadas”. Entre os pontos negativos o “descompromisso da Prefeitura com as prioridades aprovadas”, (não realização de obras, realização de obras por fora do OP, interesses políticos que desviam verbas) é citado por 25,53% dos participantes do OP.

No tocante ao Legislativo Municipal, a pesquisa procurou aferir a “visão” dos entrevistados em relação aos vereadores através de duas questões: a) Qual deveria ser o papel, a função dos vereadores e; b) Na prática, o que eles fazem?

Comparando-se as respostas dadas às duas questões fica evidente que os participantes das assembléias do OP têm maior clareza de qual deveria ser o papel dos vereadores e menor do que eles fazem na prática: 17,02% não sabiam a função contra 36,17% que disseram não saber o que fazem os vereadores. Dos que afirmaram saber qual deveria ser o papel dos vereadores, quase a metade (45,74%)

dos entrevistados concebe o vereador como o representante da comunidade, cuja função seria defender (lutar, ajudar, trabalhar) os interesses da comunidade que o elegeu. Entretanto, 17,02% vêem o vereador com uma representação mais ampla, como um articulador, um organizador para solucionar os problemas da cidade como um todo. Este dado é ainda mais relevante se somado aos 11,70% que assinalaram como papel do vereador funções típicas como legislar e fiscalizar. De outro lado, à pergunta: Na prática, o que eles fazem, revelou que 37,24% acham que os vereadores usam o cargo público no interesse privado, pois só defendem seus próprios interesses (só fazem politicagem, só promessas, roubalheira, clientelismo, fisiologismo). Considerando que os 24,46% que disseram que os vereadores “não fazem nada” expressaram uma visão semelhante da prática dos vereadores, chega- se a um percentual de 61,70% dos participantes do OP que têm uma visão altamente negativa do que fazem, na prática, os vereadores. Algumas respostas, mesmo não sendo numericamente significativas, como por exemplo, “eles [os vereadores] é que deveriam saber das necessidades do povo" ou “o vereador é que deveria fazer o que estamos fazendo, pois o povo não tem tempo para isso [referência às assembléias do OP]” ou ainda, “se eles trabalhassem não precisava o OP,” chamam a atenção pela contradição em relação à proposta de participação popular embutida no OP. Fica clara a contradição entre a democracia, enquanto um método de solucionar assuntos restritos a questões do governo, e a democracia como uma forma de vida. Outras, também não numericamente significativas, espelham a intenção de uma democracia direta com toda sua radicalidade, mas também uma visão restrita da função dos vereadores: “não seria necessário [os vereadores] existirem”, ou “com o Orçamento Participativo eles ficam deslocados, sem ter o que fazer".

Comparando-se os resultados das duas pesquisas, principalmente os níveis de renda e escolaridade ( muito maiores em Florianópolis) e de associativismo (bastante superior em Porto Alegre) dos participantes, pode-se observar diferenças significativas entre uma e outra pesquisa, o que de certa forma reflete as diferenças que se constituíram historicamente entre as duas cidades.

Já na pesquisa entre os participantes do OP/Fpolis, o que ressalta é a mudança no perfil dos mesmos no decorrer dos quatro anos da experiência. Medida

pelo crescimento quase linear da renda e da escolaridade, tal fato ressalta e expressa uma elitização no processo do Orçamento Participativo de Florianópolis.