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2 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

2.4 Os corpora utilizados

2.4.2 Os documentos impressos

2.4.2.1 A Guerra da Balaiada: Panorama Histórico

Na primeira metade do século XIX situa-se o tempo histórico da Balaiada, revolta que se desenvolveu no sertão maranhense. A historiografia consagrou 13 de dezembro de 1838 como o início da revolta. Considerada uma das maiores e mais significativas rebeliões populares já registrada em terras do Maranhão e com forte repercussão em todo o país, aconteceu num momento de falta de estabilidade nas províncias, consequência natural da disputa entre as forças políticas. Na época da revolta, a economia agrária do Maranhão estava em crise, sua riqueza principal, o algodão, perdeu seu preço e quem mais sofreu as consequências foi a população pobre, como os vaqueiros, sertanejos e escravos. (SANTOS, 2010).

A guerra da Balaiada durou quase três anos e teve como líderes principais: Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, fazedor de balaios, daí o nome balaiada, Cosme Bento das Chagas, chefe de um quilombo que reunia aproximadamente três mil negros fugitivos e o vaqueiro Raimundo Gomes, juntos, eles conseguiram conquistar a cidade de Caxias, uma das mais importantes do Maranhão. Contudo, não havia uma organização consistente entre os líderes, o que houve foram lutas dos sertanejos marcados pelo desejo de vingança social contra os poderosos da região. A Historiadora e pesquisadora do assunto Sandra Santos (2010, p. 12-13), complementa:

Embora no começo as autoridades provinciais desconhecessem ou procurassem negar a força que os rebeldes representavam, isto se reverteu, quando da ocupação da cidade de Caxias e da ameaça da ocupação de São Luís, razões que levaram o governo regencial a encarar a revolta como uma ameaça à ordem e ao poder. Isto explica a nomeação de Luís Alves de Lima e Silva, oficial do Exército como presidente e comandante das Armas. Este militar, utilizando-se de fortes mecanismos de controle e da repressão armada, conseguiu pôr fim no momento.

Essa guerra foi também chamada de 'revolta dos balaios’, pois resultou em mais uma manifestação do processo de crise por que passava a sociedade brasileira durante o período regencial. Em 1839, esses balaios invadiram a Vila de Caxias e andavam pelas ruas da Vila cantando:

“O Balaio chegou! O Balaio Chegou. Cadê branco!

Não há mais branco!

Não há mais sinhô!” (SANTOS, 2010, p. 16)

Esses rebeldes organizaram-se em um Conselho Militar com a participação de elementos apelidados de bem-te-vis,26 e uma delegação foi enviada a São Luís para entregar ao presidente da Província da época uma proposta de pacificação: anistia para os revoltosos, revogação da “lei de prefeitos”, pagamentos das forças rebeldes, expulsão dos portugueses natos e diminuição de direitos aos naturalizados e instauração de processo regular para os presos existentes nas cadeias. O movimento pacifista apesar de ter atingido a parte mais importante da Província ameaçou São Luís e entrou em declínio (SANTOS, 2010).

A foto abaixo demonstra um momento de descanso dos escravos na roça durante a guerra da Balaiada no século XIX, no Maranhão.

26Os bem-te-vis foram os liberais que iniciaram a revolta contra os grandes fazendeiros onservadores

Figura 2.4 - Momento da revolta dos balaios no Maranhão

Fonte: www.google.com.br/search?momento+da+revolta+dos+balaios+no+Maranhao.

Luis Alves, em 1841, com farto armamento e um grupo de oito mil homens, obteve sucesso na contenção dos revoltosos e, por isso, recebeu o título de Conde de Caxias. A desarticulação entre os vários braços revoltosos da Balaiada e a desunião em torno de objetivos comuns, facilitaram bastante a ação repressora estabelecida pelas forças governamentais.

Todos os negros fugidos acusados de envolvimento na revolta foram reescravizados. Manoel Francisco Gomes foi abatido durante o movimento de retaliação da revolta. Já o vaqueiro Raimundo Gomes foi expulso do Maranhão e, durante sua deportação para São Paulo, faleceu em uma embarcação. O líder dos escravos, Cosme Bento, foi preso e condenado à forca, em 1842. (ARAÚJO: 2001).

Figura 2.5- Escravos em luta na Guerra da Balaiada

Fonte: www.google.com.br/search?momento+da+revolta+dos+balaios+no+Maranhao

A Balaiada se distingue das outras revoltas que eclodiram no período regencial por ter sido um movimento eminentemente popular contra os grandes proprietários agrários da região e o conflito só termina com Luís Alves de Lima e Silva que por ter vencido os rebeldes em Caxias recebeu o seu primeiro título de nobreza: Barão de Caxias, mais tarde foi chamado de Duque de Caxias, com o qual é mais conhecido.

Os documentos relativos à Balaiada consistem na correspondência dos presidentes Manoel Felizardo de Souza e Melo e de Luís Alves de Lima (Duque de Caxias) com vários ministérios. Trata-se da versão dos eventos que o comando militar dá ao governo central. Os documentos seguem a ordem dos acontecimentos em diversos municípios maranhenses, a partir dos últimos meses de 1838. Há vários tipos de documentos como cartas de oficiais inferiores e até algumas cartas de

rebeldes relatando as lutas dos quilombolas em várias áreas do interior do Maranhão. Através dos relatos dos comandantes militares, nesses documentos, percebe-se o dia-a-dia da guerra e as dificuldades enfrentadas, particularmente do lado dos balaios. As cartas relatam a luta contra o despotismo e a reivindicação de cidadania (documento de número 012 exemplifica esta passagem), ao lado da fidelidade ao imperador e à religião católica. (ARAÚJO, 2001).

Os documentos da guerra revelam também a figura de Caxias, no que tange à reorganização do Exército da legalidade para lidar com uma guerra de guerrilhas. Há também documentos que relatam alguns dos artifícios usados para o triunfo da guerra: espalhar a discórdia entre os escravos aquilombados (o documento de número 214) e atiçar o ódio entre rebeldes escravos e livres. (ARAÚJO, 2001).

Do conjunto da edição de documentos para A História da Balaiada, dentre duzentos e cinquenta e oito documentos reunidos neste volume, apenas foram escolhidos trinta para análise ortográfica, dentre eles os gêneros textuais ofícios, manifestos e proclamações. Os outros documentos não foram analisados, devido um número enorme de palavras repetidas. Levou-se em consideração o nível da linguagem desses textos, geralmente escritos pelo negro Cosme, os escravos líderes da revolta e os aprisionados, assim como os Prefeitos das Comarcas, Comandantes Militares e Presidentes das Províncias.

O quadro abaixo mostra os documentos utilizados na análise do sistema ortográfico de língua portuguesa, do século XIX.

Quadro 2.2 - Demostração dos documentos analisados da Guerra da Balaiada

Documento

Impresso Autoria Destinatário Ano/pag/número documento

1. Manifesto Raimundo Gomes João Luiz de Abreu 1838 / p. 36 / 012

2. Ofício Rebelde Pedro Alexandrino dos Santos

Presidente da

Província. 1839 / p.98 / 062 3. Ofício Rebelde Raimundo Gomes Prefeito da Comarca de

Itapecuru-Mirim 1839 / p.104 / 066 4. Ofício Rebelde Raimundo Gomes Alexandre Pereira da Cunha 1839/ p.105 / 067 5. Ofício Rebelde Raimundo Gomes Major Falcão 1839/ p.125 / 079 6. Ofício Rebelde Raimundo Gomes Membrosda Comissão 1839/ p.139 / 088 7. Ofício Rebelde Arcenio Domingos da Silva Matruá 1839 / p.159 / 100 8. Ofício Rebelde Mathias Comandante da Coluna Em Frente 1839 / p.172 / 108 9. Oficio Rebelde Raimundo Gomes Rebelde Valério Braúna 1839 / p.190 / 122 10. Ofício Rebelde Raimundo Gomes Rebelde Valério Braúna 1839 / p.191 / 123

11. Ofício Rebelde Vicente Arruda Rebelde Antonio Pedregulho 1839 / p.192 / 124

12. Ofício Rebelde Pedro Alexandrino dos Santos Rebelde João da Mata Coelho Castelo Branco 1839 / p.203 / 133 13. Ofício Rebelde Pedro Alexandrino dos

Santos

Rebelde João da Mata Coelho

Castelo Branco 1839 / p.208 / 135 14. Ofício Rebelde João Da Mata Castelo

Branco

Rebelde Pedro Alexandrino dos

Santos 1839 / p.209 / 136 15. Ofício Rebelde Pedro Alexandrino Dos

Santos

Rebelde João da Mata Coelho

Castelo Branco 1839 / p.214 / 139 16. Ofício Rebelde Raimundo Gomes Commandante de uma Força Bem-Te-

Vi 1840 / p.289 / 176

17. Proclamação

18. Ofício Presidente da Província Prefeito da Comarca do

Itapecuru-Mirim 1838 / p.20 / 002 Documento

Impresso Autoria Destinatário Ano/pag/número documento 19. Oficio Prefeito da Comarca do

Itapecuru-Mirim

Presidente da

Província 1838 / p.35 / 011 20. Proclamação

dos Rebeldes Sem informação Sem informação 1839 / p.235 / 153

21. Ofícios Subprefeito do Iguará Prefeito da Comarca do

Itapecuru-Mirim 1838 / p.34 / 010 22. Ofício Presidente da Província Subprefeito da Vila do Rosário 1839 / p. 63 / 030

23. Ofício Comandante da Expedição ao Norte de Caxias

Comandante e Presidente das

Armas da Província 1840 / p.312 / 193 24. Ofício Rebelde Raimundo Gomes Commandante de Icatú 1840 / p.330 / 204

25. Ofício Comandante Militar da Vila do Rosário

Presidente e Comandante das

Armas da Província 1841/ p.372 / 228 26. Aviso Presidente da Provincia do

Maranhão

Ministério da

Justiça 1842/ p.405 / 255

27. Ofício Rebelde Jezuino Sucupira Rebelde Francisco Pio. 1839 / p.228 / 150

28. Ofício Presidente da Província Prefeito da Comarca do

Itapecuru-Mirim. 1839 / p.37 / 013 29. Ofício Presidente da Província Subprefeito da Chapada 1839 / p.166 / 104

30. Ofício Presidente da Província

Ministro e Secretário do Estado dos Negócios da Marinha 1839 / p.109 / 070

Fonte: Elaborado pela própria autora.

Esses documentos atualmente são motivos de estudos e análises por historiadores e pesquisadores das mais diversas áreas. Eles representam a escrita

do século XIX em sua forma mais popular de linguagem. Isso porque esses textos eram redigidos por pessoas de níveis de escolarização diferentes, como o negro Cosme e outros.

Este estudo se propõe a análise de distintas formas de escrita ortográfica da língua portuguesa no período novecentista, fez-se também um estudo comparativo do sistema ortográfico da língua portuguesa em São Luís, analisando-se as primeiras páginas dos principais jornais que circulavam àquela época na cidade.

O enfoque sobre esses textos deve-se à hipótese de que esse suporte textual, via de regra, é redigido dentro de uma norma mais padronizada da língua. Os jornais noticiavam e comentavam fatos da atualidade norte-americana e brasileira, dedicando-se a assuntos como política, música, educação, economia. agricultura, moda, literatura, entre outros.

Tem-se O Semmanário Maranhense (doravante jornal 1), O Globo (jornal 2),

O Federalista (jornal 3) e A República (jornal 4), contidos no fac-símile “Poesia e

Prosa Reunidas de Sousândrade. Na parte intitulada “Caderno Iconográfico”. O primeiro marca a data de 15 de novembro de 1867, reproduzido na coleção xerocopiada desse periódico, pertencente a Jomar Moraes, que posteriormente fez a edição fac-símile e integral dessa publicação. O segundo, data de 15 de fevereiro de 1890 jornal em que Sousândrade manteve a Seção Republicana. O terceiro data de 20 de agosto de 1894 e, finalmente, A República, publicado em 19 de fevereiro de 1890. O jornal A República era oficial do Estado do Maranhão, lido pelos mais cultos. Contudo, todos esses jornais contribuíram para divulgação de informações e para conhecimento dos fatos ocorridos naquele século.

Em seguida se ilustram dois dos cinco jornais, retirado do fac-símile em estudo, “O Globo” e a “República”:

Figura 2.6 - Primeira página do Jornal o Globo do século XIX

Figura 2.7 - Primeira página do Jornal oficial do Maranhão “A Republica”