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1 PANORAMA HISTÓRICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

1.6 História da Ortografia do Português do Brasil

1.6.1 A ortografia e o sistema da escrita

1.6.1.1 O alfabeto

O alfabeto é um conjunto de sinais usado para representar de forma gráfica a linguagem verbal humana. A ortografia exerce uma função fundamental e superior sobre o sistema da escrita. Os valores sonoros que as letras têm são ditos pela ortografia. De acordo com as leis ortográficas, o alfabeto da Língua Portuguesa, utilizado hoje, é composto por vinte e seis letras.

O vocábulo “alfabeto” veio do latim alphabetum, formado pelos nomes das duas primeiras letras do alfabeto grego, alpha e beta, que foram emprestadas das línguas semíticas. O uso mais antigo do alfabeto foi encontrado no monte Sinai, no templo da deusa Hator, em Serabit AL-Khadim. O documento mais antigo, com a

decifração da escrita alfabética, é a estátua Esfinge do Sinai, datada de 1800 a.C. Também houve outros documentos que datam cerca de 1500 a.C. Encontraram-se ainda documentos antigos, com escrita fenícia, na lápide da tumba do rei Ahiran de Gebal, em Biblos. (CAGLIARI, 2009, p. 44-45).

A prática da escrita começou na antiga Mesopotâmia e Egito antigo, conforme relatado anteriormente. Os sistemas de escrita desses povos foram desenvolvidos de forma independente. Por volta de 3.000 a.C. o Oriente Médio foi dominado por dois sistemas: o ideográfico sumério e o emergente egípcio. Este atingiu um equilíbrio entre a escrita ideográfica e a fonográfica, aquele evoluiu para atingir esse equilíbrio e se transformou em um sistema silábico. Estes dois sistemas, segundo Cagliari (2009) tornaram-se basicamente fonográficos e com uma ortografia que neutralizava as diversas variações de pronúncias.

Os sumérios desenvolveram, originalmente, o sistema de escrita, a fim de facilitar as negociações, e assim seria com os fenícios. No entanto, o sistema de escrita desenvolvido pelos fenícios era muito diferente do criado por egípcios ou sumérios. Os fenícios tinham contato mais próximo com os egípcios do que com os sumérios. O alfabeto fenício arcaico, apesar de ter poucas letras, dava possibilidade de escrever qualquer palavra com os sinais consonantais. (HIGOUNET, 2003, p. 65).

A necessidade do alfabeto iniciou muito tempo atrás e se expandiu por toda a parte do mundo. Alguns povos que não o utilizavam como sistema principal usavam-no como necessidade de comercializar seus produtos e de intercambiar com outros povos. A esse respeito Cagliari (2009, p. 89) afirma: “é fácil constatar que, com o passar do tempo, o alfabeto teve uma importância cada vez maior entre os sistemas de escrita”.

O sistema alfabético18, de certa forma, precisa da ortografia, pois esta é o

grande invento da escrita. Sem a ortografia, o sistema tem pouca probabilidade de uso pelas pessoas. Para um melhor funcionamento, o alfabeto precisou que as formas gráficas das palavras se fixassem. Cagliari (2009, p. 91) a esse respeito postula que:

18Para maiores estudos e conhecimento sobre este assunto, veja o livro “A História do Alfabeto”.

[...] ao fazer isso, perdeu em grande parte sua base fonética primitiva. Assim, podemos reconhecer nas letras do alfabeto dois valores: um advindo do próprio alfabeto, do nome das letras seguindo o princípio acrofônico, e o outro originado da ortografia. Nesse segundo caso, uma letra representa um som que os falantes de todos os dialetos atribuem a ela em todas as palavras da língua em que ela ocorre.

O alfabeto, segundo Cagliari (2009), teve uma grande importância entre os sistemas de escrita e o alfabeto latino foi o mais importante deles, devido ser o mais conhecido em todo o mundo.

As letras do nosso alfabeto têm origem, principalmente, no fenício, que se estendeu pelos povos da Ásia a partir do século XV, antes de Cristo. Progressivamente, o alfabeto fenício foi adaptado na Grécia. Na Itália, o alfabeto grego influenciou bastante o abecedário etrusco, que, por sua vez, originou o alfabeto latino (século VII a III antes de Cristo). (HIGOUNET, 2003).

O quadro abaixo exemplifica a história do alfabeto a partir dos Egípcios, demostrando as diferentes letras desde a escrita dos Hieroglíficos, Hierático, Fenício, Grego Clássico, Capital Latino, minúsculo Carolíngio, Gótico até Garamond.

Figura 1.10 - História do Alfabeto

A escrita alfabética parte da representação dos sons da fala, isto é, do que Saussure chamou de significante do signo linguístico (escrita fonográfica). A partir das próprias características da linguagem humana, na sua unidade mínima – o signo linguístico – é que se constrói a escrita alfabética. Mas Saussure diz, também, que se pode representar a fala a partir do significado do signo linguístico, ou seja, escrever a partir das idéias (escrita ideográfica).

Nesta assertiva conclui-se que a fala pode ser representada partindo das ideias ou dos sons, Cagliari (1999b, p. 65) relata:

Pode-se escrever, quer a partir do significado, quer a partir do significante, ou seja, quer a partir de idéias, quer a partir dos sons das palavras. No primeiro caso, temos a escrita ideográfica, no segundo a escrita fonográfica. Toda escrita precisa ser uma representação linguística e não apenas um desenho, uma figura, um rabisco. Com exceção das escritas pictográficas primitivas (que não puramente ideográfica) e das transcrições fonéticas (que são puramente fonográficas), todos os sistemas de escrita que a humanidade tem usado caracterizam-se por ser em parte ideográficos e em parte fonográficos, às vezes, prevalecendo um desses aspectos, às vezes outro. Todos os sistemas procuram um “equilíbrio” entre os dois modos de escrever.

O caráter fonográfico é predominante na escrita alfabética, devido ao uso deste partir da representação dos sons da fala. Para se representar esses sons da fala foram utilizados caracteres denominados de letras. As letras do alfabeto durante anos utilizaram um único estilo, que atualmente é chamada de letras maiúsculas. Cagliari19 (2009, p. 79-80), em seu livro A História do Alfabeto, a este respeito afirma

que:

Todos os sistemas e escrita desenvolvem também uma forma “mais rápida” de escrita, para uso pessoal ou comercial, que se caracteriza por uma simplificação gráfica no traçado, por ligaduras que chegam a amalgamar caracteres e por preferência de forma arredondada às demais. Essa maneira de escrever é conhecida como escrita cursiva. O estilo de escrita padrão, mais formal, nunca foi substituído por um modelo de escrita cursiva, mas esta influenciou aquela muitas vezes, chegando a introduzir características que geraram até novos estilos formais para as letras. Assim, por exemplo, a letra A passou a ter a forma inicial  devido ao fato de necessitar de dois traçados e não de três, uma clara influência da maneira como se escreve cursivamente, modificando a forma gráfica da letra tradicional.

A escrita faz reviver as diferentes civilizações, informando sobre o cotidiano, história, ciência, literatura, religião... enfim, ela deixa o legado de um patrimônio cultural das civilizações já desaparecidas. E por ela, compreende-se como a escrita atual foi desenvolvida.

Parafraseando a fala de Cagliari (2009), a ortografia tem uma enorme importância para o alfabeto, pois ela é o grande invento da escrita. Sem ortografia os sistemas abatem-se e o uso da escrita fica inacessível, um sistema ortográfico não se cria do nada.