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2 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

2.4 Os corpora utilizados

2.4.1 O documento manuscrito

O documento manuscrito foi retirado do livroedição fac-símile, “Poesia e

Prosa reunidas de Sousândrade reproduzido integralmente, que se encontra em

delicado estado de conservação. Esta edição fac-similar foi elaborada com a colaboração do Professor Dr. Virgílio Domingues da Silva Filho, e os organizadores foram o norte-americano e Frederick G. Williams, e o maranhense Jomar da Silva Moraes. O escritor norte-americano é bacharel em Civilização Hispânica pela Universidade de Brigham, mestre e doutor em Literatura Luso-Brasileira. Em 1970, veio a São Luís para fazer parceria com o escritor Jomar Moraes da qual resultaram diversos trabalhos, tais como: Sousândrade: inéditos, Sousândrade: prosa e Poesia

e Prosa Reunidas de Sousândrade. Ajudou e criou o Centro de Estudos

Portugueses, no qual desenvolveu intensas atividades editorias, publicando obras sobre autores renomados da literatura portuguesa, brasileira e africana, a exemplo de: Camões, Anchieta, Vieira, Carlos Drummond de Andrade, George de Sena, Graciliano Ramos. O escritor maranhense, Jomar Moraes, é bacharel em Direito e

mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Foi vencedor de onze prêmios literários e reeditor de mais de quarenta títulos para os quais fez crítica textual. Fez introduções e notas, a exemplo de Harpa de Ouro, de Sousândrade, dos jornais do século XIX – Semmanário Maranhense, O Censor Maranhense, dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, dentre outros. Co-autor e co-editor com Frederick Williams das introduções de notas dos livros Sousândrade: inédito (1970) e Sousândrade: prosa (1997) e Poesia e Prosa Reunidas de Sousândrade (2003), (WILLIAMS e MORAES, 2003).

A obra original está capeada por papel imitação de couro, de cor marrom, como proteção aos manuscritos de Harpa de Ouro e seguida dos versos escritos em cores originais. Encontra-se na biblioteca pública de São Luís em estado razoável de conservação. Abaixo uma foto da capa.

Figura 2.1 - Foto da capa original da Obra “Harpa de Ouro”

Fonte: WILLIAN E MORAES (2003, p. 311).

No lado direito da capa da obra encontra-se em manuscrito de caneta azul o nome do autor – Joaquim de Sousa Andrade, do lado, o nome da obra entre aspas “Harpa de Ouro” e em seguida o ano de 1889 – 1899 e abaixo o número 28 que se acredita ser a referência do livro. O poema foi escrito com tinta vermelha e em papel almaço pautado, tamanho comum. O original acredita-se que não tenha sido

manuscrito por Sousândrade, pelo fato de ter correções feitas com outra caligrafia que, indiscutívelmente semelhança com a caligrafia do poeta Sousândrade. Há emendas, acréscimos, substituições e correções, tudo feito por seu próprio punho.

Percebe-se que as estrofes, em sua maioria, encontram-se com letras delineadas, uma caligrafia bem escrita que, acredita-se, foi escrita por pessoa do sexo feminino, pois ao compará-la com as várias correções de caneta de outra cor, pode-se registrar que essas correções são do autor, daí a dedução aqui chegada com relação à caligrafia. A letra do poeta foi reconhecida a partir de comparações de sua grafia em documentos pertencentes ao arquivo da Câmara Municipal de São Luís e dedicatória de livros seus a diversas pessoas. (WILLIAMS e MORAES, 2003).

Para melhor ilustração, exemplifica-se, a seguir, uma página com estrofes manuscritas e a mesma página digitalizada do livro de poesia Harpa de Ouro de Sousândrade (Op. cit., 2003).

Figura 2.2 - Folha manuscrita dos poemas Harpas de Ouro

Figura 2.3 - Folha digitalizada das estrofes Harpa de Ouro

Os autores Williams e Moraes (2003) no fac-símile relatam que o poema tinha o título Harpas Douradas, e este está rasurado com uma emenda para o nome

Harpa de Ouro, apagando-se a letra S de Harpas, e a terminação DAS da palavra

DOURADAS, como mostra a figura de número 2.3, acima.Anteriormente foi denominada Harpa de Oiro.

“Harpa de Ouro” faz parte do livro de poesia intitulado Poesia e Prosa Reunidas de Sousândrade. São poesias ricas em adjetivação, na qual Sousândrade adjetiva através de substantivos dando mais solidez à sua poesia, pois se trata de uma louvação à República. Ele faz graves e incisivas acusações aos descaminhos em que errava a aplicação, no Brasil, do novo sistema político adotado. A estrofe 145 exemplifica essa passagem. Ao longo das estrofes, Sousândrade faz referência à verdadeira paixão pelo governo republicano dos Estados Unidos e o grande amor pelo Brasil, constata-se isso nas estrofes 147 e 224; 166 e 167. Faz também referência às suas outras obras, utiliza palavras de origem estrangeiras, principalmente da língua inglesa (estrofes 76, 108). (WILLIAMS e MORAES, 2003).

Escolheu-se para compor o corpus deste trabalho a poesia Harpa de Ouro, dentre um número enorme de outras poesias escritas por Sousândrade, devido ser um documento possível de detectar o sistema de escrita e de registrar fragmentos escritos em língua portuguesa no século XIX. Encontraram-se algumas variações na escrita daquela época que serviram de base para análise ortográfica dessa pesquisa.

Sousândrade foi um autor que muito contribuiu para o engrandecimento da cultura brasileira, sobretudo, na criação de novas palavras e expressões que rechearam toda sua literatura. Os poemas de Harpa de Ouro foram lamentações do poeta e acredita-se que a linguagem utilizada por ele retrata de forma um pouco mais formal a ortografia da época.

Nesses poemas o autor mostra seu desapontamento em face à República com que sonhara e a que via instalada no Brasil. Harpa de Ouro contém 285 estrofes que totalizam 1.706 versos. Dessas, foram selecionadas 200 estrofes para a análise ortográfica da língua portuguesa escritas no século XIX.

2.4.1.1 Sousândrade: Poeta Maranhense

Um dos escritores mais originais do Romantismo Nacional, após diversos reveses na vida, veio a se tornar importante político maranhense, presidindo a comissão que redigiu o primeiro projeto da constituição Republicana do Maranhão. Joaquim de Souza Andrade conhecido como Sousândrade, escritor e poeta brasileiro, teve formação em Letras pela Universidade de Sorbonne, em Paris, supostamente não concluído e lá mesmo fez o curso de Engenharia de Minas.

Em 1857, publicou seu primeiro livro de poesia, Harpas Selvagens. Nos Estados Unidos publicou a obra poética O Guesa, em 1871; nesta obra, o autor utilizou recursos expressivos, como criação de neologismo e de metáforas, escreveu três volumes de poesias, além do O Guesacompôs diversos poemas que figuram no livro de poesia Liras perdidas. (WILLIAMS e MORAES, 2003).

Escreveu várias obras como Harpas selvagens, Harpas eólias, O Guesa, Novo Éden, Harpa de ouro e Liras perdidas e publicou artigos em jornais de grande circulação em São Luís – O Semmanário Maranhense, O Federalista. (WILLIAMS e MORAES, 2003).

De volta ao Maranhão, aderiu ao golpe de 188925, foi o primeiro presidente da Intendência (prefeitura) Municipal de São Luís, em 1890. No seu estado realizou a reforma do ensino, fundou escolas mistas e idealizou a bandeira de Estado, garantindo que as cores representassem as raças ou etnias que construíram sua história. Foi professor de grego no Liceu maranhense (1894); abolicionista e republicano, desenvolveu uma intensa e variada atividade que o coloca como atuante cidadão e patriota de seu tempo. No final de sua vida, dedicou-se ao poema

O Guesa, seu mais caro e ambicioso projeto literário.

Morreu na capital maranhense em completo abandono, tendo sido considerado louco. Durante várias décadas sua obra foi esquecida do público maranhense. (CAMPOS e CAMPOS, 1979).