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3 O SISTEMA VOCÁLICO E CONSONANTAL NO FAC-SÍMILE DE

3.10 A Ortografia das Consoantes

3.10.3 As Letras M e N

As letras M e N nos corpora em análise seguem a mesma grafia do sistema ortográfico do português atual com relação à formação das palavras. A letra M ocorre em início de sílaba representando uma nasal bilabial sonora. É marca de nasalidade quando em posição pós-vocálica dentro de uma sílaba. Neste caso esta letra é representada foneticamente pela vogal anterior à letra M com o diacrítico til, estando sempre em posição de onset e de coda na sílaba.

Oliveira (1536, p. 9) faz referência á letra M mostrando que “A pronunciação do .m. muge entre os beiços apertados apanhando para dentro” e o N é “tocado com a ponta da língua as gengivas de cima”. O autor preconiza que:

Esta letra .m. não é semivogal nem pode fenecer em ella as nossas vozes: porque isto é verdade que nesses cabos onde a escrevemos e também no meio das dicções em cabo de muitas sílabas soa uma letra muito branda que nem é .m. nem .n. como nós escrevemos ora uma delas: ora outra imitando os latinos. Mas a meu ver de necessidade escrevamos nos tais lugares esta letra que chamamos til ainda que a alguns parecera sobeja e que não serve mais que de soprir por outras (OLIVEIRA, 1536, p. 29).

Leão (1606) diz que as letras M e N são semivogais, pois pronunciam-se por si só formando o som de uma semivogal. A letra M é sempre escrita antes das consonantes B e P e em início de sílabas. Acrescenta ainda que:

Nas palavras, que assim no Latim, como no Português, são compostas das preposições Con e In e de dicções, que principiem por M, mudaremos o N das preposições em M; e escreveremos outras palavras: commedo,

communicação, commendaste, commissário, immenso, immemorial, immovel etc. as mais, que não forem compostas, na duvida se escreverão

com N, ainda que os compostos da preposição Circum como circumferencia, circumstancia, se escrevem também com M e não é dobrado, nem se segue B ou P, nem palavra, que principie por M. Do mesmo modo se escrevem Solemnidade, Silamne mas eu não achei outras desta exceção (LEÃO, 1606, p. 81).

Vera (1631), comungando com outros ortógrafos e gramáticos, relata em sua gramática que a nasal bilabial M e nasal alveolar N são semivogais e que a letra M é

pronunciada quase fora da boca entre os beiços. Este autor acrescenta com relação à letra M que:

Fere todas as vogais diretamente, não admitindo antes nem depois de si outra consoante mais que B e P e a mesma letra M, antes das quais escreveremos sempre M e não N, e assim dizemos: ambos, tempo, immenso e não anbos, tenpo inmóvel. [...] Contudo, há de se advertir que há alguns nome propriamente Gregos e verbos Latinos que admitem .m. e não .n. antes da dita consoante n, que é bem se saibam para sabermos usar deles sendo

necessário, como: hymno, solemne, somno, condemno, calũnio, e muitos

nomes próprios que por brevidade deixo, como: Agamêmnon, Polymneia, Clytemnestra e outros que os versados na língua Latina sabem e usam na pronunciação e escritura. E só este nome Latino se achará que se escreve com m antes de s que é: hyems (VERA, 1631, 13-13v).

E com relação à letra N:

[...] dela se servem as línguas por ser mui necessária: nenhuma a põe (salvo a Castellana antes das três letras, B, M, P: nem se juntam com outra consoante, mais que com a letra S: como, transferir, instrumento. Polo na composição dos vocábulos, quando vem as pronunciações in, con; se o verbo ou nome a que se ajunta, começa em algumas das ditas letras, B, M, P, N se muda em M: como embeber, commutar, implorar (VERA, 1631, 13-13v).

Na Gramática de Madureira Feijó (1734) as letras M e N são descritas também como a forma de articulação. Assim ele as descreveu:

A letra M, pronuncia-se abrindo ligeiramente os beiços. Como se vê em

Mano, Manuel. É pronunciada por si só, forma o som de semivogal, com se

disséramos, Eme. O uso desta letra é fácil de reduzir a regras certas, e serão as seguintes com a sua inteligência. (FEIJÓ, 1734, p. 81).

A letra N, pronuncia-se com a extremidade da língua tocando no principio do paladar, soltamente, como se vê nestas palavras. Nascimento, Nação,

Nome, Nuvem. É pronunciadasó, soa como se disséramos Ene. O uso

desta letra é fácil depois de sabermos, quando se escreve M, como fica dito acima. Donde, pode ser regra geral, que nunca usaremos do N antes de B, P, M, e nas palavras, que levam a proposição Circum, como circumferencia, circumloquio, circumstancia, circumspecto. Ainda que alguns também escrevem as duas ultimas com N.(FEIJÓ, 1734, p. 85).

Para o foneticista português, Gonçalves Viana (1892), as letras M e N são sons sonoros, isto é, com voz e conforme a maior ou menor aproximação dos órgãos que as produzem são chamadas de nasais. O autor acrescenta:

Quando uma vogal nasal se segue consoante explosiva além dessa vogal, ouve-se atenuada, reduzida, uma consoante nasal, homorgânica com essa explosiva: assim, campa, canta, manda, tranca, manga, pronunciam-se

campa, cãnta, mãnda, trãnca, manga. A nasalidade portuguesa é mais

fraca do que a francesa, pelo menos no centro e sul de reino: é de 1º grau (26). (GONÇALVES VIANA, 1892, p.52-53).

Silva Neto (1979) classifica as letras M e N em nasais, sendo a primeira labial e a segunda dental. Mostra que em posição final esses sons não são pronunciados, o que não é diferente de todos os outros autores citados nesta pesquisa. A representação fonética destas letras são feitas pelo diacrítico til (~).

Cagliari (2004) escreve que, de acordo com as normas ortográficas, diante de P, B, (e M) só se escreve letra M e não N. E que em final de palavras só ocorre a letra M, a letra N ocorre em pouquíssimos casos. No período fonético, a letra M, quando seguida de uma consoante nasal a vogal anterior, podia ser empregada antes de alveolar ou dental. Nos documentos da guerra da Balaiada ocorreu este fenômeno com a palavra emsinar – ensinar. A letra N era usada para nasalizar a vogal anterior. O autor formulou regras de uso de algumas consoantes e as regras para as letras M e N foram:

1. Se houver nasal entre vogal e consoante, ocorre M diante de P e B. Nos demais casos ocorre N. exemplos: campo, tambor, canto canção cânfora, anjo...2. depois de N, não se usam letras duplas (do tipo RR e SS). Exemplos: honra, insulto..etc. 3. O plural dos nomes terminados em M é NS. (CAGLIARI, 2004, p. 178).

Nos corpora analisados, as letras M e N ocorrem nas mais diversas posições como:

3.10.3.1 No início de palavras em posição de onset

Harpa de Ouro

Menino, manco, mirar-se, mamman, mudo, mal, mesa, mel, manhan, Musa, mar, montanha, muro, mão, madrugada, Metamorphoseados, môça, marinheiro, murtas, miragem, mensagem.

Nação, nome, noite, namôro, não, navegamos, nem, noivinha, nuven, natureza, nuvens, nunca, nesse, nova, noiva, naufragio, navio, noctâmbulo, nato, nutrição, nidoso,

Documentos da Guerra da Balaiada

Manga, mil, Munin, milhores, major, Mirim, meo, minha, motivo, mãos, medidas, Meretissimo, máxima, Manoel. Militar, mandada, mesmo, maiores, madrugada, marinha, marcho, mal, malvados, marxa, Maranhençes.

Nossa, necessidade, neste, noticia, noça, nada, não, nos, nenhum, noso, notiçias, Nazareth, Nunes,nesse, noços, negócios, nunca, nenhuma, numero, nome, negros, Norte, nopticia.

Jornais

Maranhense, matadouro, moda, Messias, Moysés, monumentos, mundo, membro, monstruosidade, mascaras, menos, maioria, mereça, mandou, magnífica, maquinas, maravilhadas, mencionadas.

Novo, navegação, numero, nenhuma, Nazareth, nosso, novidade, natureza, Nunes, nacional, navio.

3.10.3.2 No meio de palavras

Harpa de Ouro

Primeirinha, amor, alma, amor, amante, armada, symbolo, firmamentos, tempos, fome, Redemptora, tamanho, ermo, família, prémio, nalma, democracia. Constellemos, firmamento, formosura, promissão, sublime.

Fontes, jardins, encontrar, interno, transpor, renascida, divina, Virginia, minerva, açucena, Athenas, outomno, gênio, somno, planetas, planeta, lunar, meninos, rouxinoes, sonoro, infinito.

Documentos da Guerra da Balaiada

Demettido, empregos, famílias, armada, fizemos, amiaçada, mesma, ânimos, semilhante, fizemos, conhecimento, acalmar, remediadas, primeiro, famílias, armado, despotismo, tomadas, armado, imediatamente, simelhante. Reunião, governo, Parnaíba, reunido, ânimos, funestas, governo, reginerador, funestos, dono, coluna, Cabanos, asacinar, emnovar, detriminar, piqueno,pineira, ingano.,

Jornais

Sublimes, simples, começou, comparado, homem, admirável, romances, pontissima.

Vinte, ancianidade, grandeza, principais, antiguidade, engenho, tratando, barbante, principais, antigo.

3.10.3.3 Diante de consoantes e em posição de coda

Harpa de Ouro

Imperio, sempre, embota, limpa, relampago, sómbrio, companheiros, lembraram, lembrança, comtigo, hombro, tombado, pombas, Omhero, semblante, lampeja, relâmpagos, bemdiz, triumphador.

Horizonte, uns, envermelham, grand, sangue, morangos, gentil, estrangulado, aprendei, antemuraram, Princeza, pendão, Incorruptivel, Sancta, pentastral, descansa, trança, infesto, vingança, mensagem, pondo, incendeia, Magnólia.

Documentos da Guerra da Balaiada

Dezembro, Imperio, empregos, composto, assemblea, membros, lembranças, novembro, pernambucano, emdagar, comprio, embora, sempre, emfuluidos, emxerga, comvida, emfim, emtoziasmo, amocambados, ambição,tempestade, emperador.

Quinze, sustentada, manga, prezidente, província, entrega, Constituição, honra, vindo, grande, conselho, commandante, reprezentação, pecontrario, consecuençias, honrados, pretensão, vantajozo, concedem, ponto, penteado.

Jornais

Simples, bem, com, fazem, conservem, comprado, ordem, homem, assumpto, simplicidade, composição, cumprir, imposto.

Grandioso, evangelho, principaes, entrou, consagrado, monumento, infinito, convensermos, mundo, attenção, romances, monstruosidade, tratando, convinha, mencionado , engenho.