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PARTE 1 OS BATISTAS MINEIROS E SUA HISTÓRIA

2.4. A Igreja Batista da Lagoinha no período de Nascimento

A vida de Nascimento e sua trajetória social e histórica estão relacionadas com as experiências religiosas ocorridas com ele. A experiência de “batismo no Espírito Santo” acontecida em seu gabinete pastoral foi fundamental para sua dedicação à igreja batista em Vitória da Conquista e para o crescimento dela. Nascimento compreendeu essa experiência como um “toque do Senhor”. Para ele, essa experiência confirmava a condução de Deus na sua vida e também a sua qualificação carismática. Isto significa que a experiência mística capacitou e impactou carismaticamente a vida e ministério de Nascimento, até porque, de acordo com Tognini e Almeida (2007:90) a após o “batismo no Espírito Santo” ele se tornou revestido de “poder e graça” e suas mensagens passaram a ser “ungidas e proféticas”.

O ministério de Nascimento na Igreja, em Vitória da Conquista, como todo movimento social, relaciona-se com a presença do carisma extraordinário, mas também com a racionalização para se utilizar a terminologia de Weber (2004:65-68). Nesse aspecto, o pastorado desenvolvido por Nascimento após a sua experiência de “batismo no Espírito” significou um intento de racionalização, o que pode ser entendido como uma sucessão de estratégias não só para o crescimento da Igreja, mas também para sua interferência na realidade. A partir dessa experiência e da racionalização implantada, a Igreja Batista em Vitória da Conquista tornou- se uma “burocracia” e passou a funcionar com “regras” e “preceitos” independentes dos sujeitos que dela participavam. Isso indica que Nascimento adotou um estilo de vida religiosa metódico, dedicado ao trabalho, de forma disciplinada e ordenada, bem como uma lógica de

fins tangíveis e “mundanos”. Nascimento adotou na vida cotidiana ações “racionalizadas” e “racionalizáveis”, segundo Bourdieu (2005:35), tanto para si quanto para seus fiéis.

Mas é na cidade de Vitória da Conquista e no pastorado da Primeira Igreja Batista que Nascimento teve mais uma experiência religiosa marcante e significativa, o “batismo com o Espírito Santo”. Segundo os textos de Tognini (2006:75) e de Tognini e Almeida (2007:90), foi na Igreja Batista da cidade de Vitória da Conquista, em 1955, que Nascimento foi visitado poderosamente pelo Senhor, batizando-o com o “Espírito Santo”. Esta experiência, de acordo com Delcio Monteiro de Lima (1991:71), é o âmago da experiência do crente, pois aquele que é “batizado com o Espírito Santo” transborda em virtude. A experiência místico-religiosa individual de Nascimento, conforme Wach (1986:43), confirma a propensão do Novo Testamento e do protestantismo de colocar mais ênfase sobre o indivíduo.

Diante disso, Nascimento foi se tornando conhecido cada vez mais na denominação batista, sendo requisitado para pregar em muitas igrejas e se agigantando como líder carismático. Desde essa experiência, segundo Souza (2008:298-299), começou a escrever no “O Jornal Batista”, publicar textos pelos órgãos denominacionais e pregar nas igrejas batistas de vários estados do país, alcançando notoriedade. A pequena cidade de Vitória da Conquista, na Bahia, onde situava a igreja que pastoreava, por não se localizar num grande centro, tornou-se pequena para os objetivos e intentos de Nascimento. Conforme Pereira (2001, p. 195), Vitória da Conquista ia se tornando pequena para Nascimento e principalmente para a missão que ele queria exercer no Brasil evangélico. “Vindo ao Rio, em 1957, falou aos alunos do Seminário e impressionou tão bem, que naquele ano foi eleito paraninfo da turma” (PEREIRA, 2001, p. 195).

A influência de Nascimento crescia e se fortalecia não só entre os batistas, mas pregação tida como “ungida” e “envolvente”, começava a irradiar em todo o Brasil. Por causa disso, em 1957, a recém-inaugurada Igreja Batista da Lagoinha, mesmo não conhecendo Nascimento como devia, a não ser por notícias e artigos escritos no “O Jornal Batista”, resolve convidá-lo para o seu pastorado, segundo Tognini e Almeida (2007:87). O convite foi feito porque ele, de acordo com Valle (1959: p. 2), já era considerado por muitos como o melhor pastor do Brasil. Esse convite traduzia a convergência entre os interesses da própria igreja com os dele. Ela, com um “ideal de pureza evangélica” e “ardorosa na evangelização”, conforme Pereira (1982:195), desejava se tornar “uma grande igreja”. Com a convergência de interesses da IBL

com os de Nascimento, segundo Pereira (1983:195) e também Tognini e Almeida (2007:87), José Rego do Nascimento, depois de anunciar a saída da igreja em Vitória da Conquista, comprometeu-se de pastorear em BH, assumindo o pastorado da IBL em 17/05/1958.

Essas três experiências sucedidas com Nascimento, o “batismo no Espírito Santo”, sua dedicação maior ao ministério e o avanço e crescimento da igreja na Bahia tornou Nascimento conhecido entre os batistas brasileiros. Elas contribuíram para que a IBL o convidasse para o pastorado no início de 1958. Dessa forma, a vinda de Nascimento para Belo Horizonte, constituiu-se numa oportunidade que ele desejava para difundir o que lhe havia lhe acontecido: a experiência extática nos moldes pentecostais. Chegando-se à IBL, Nascimento começou a ensinar e a propagar o avivalismo e suas doutrinas. Porém, com a sua ida ao STBSB e a experiência ali ocorrida, a qual foi vista como uma confirmação de que o avivamento estava por acontecer, Nascimento entendeu que ele e a IBL, deveriam assumir a frente desse movimento entre os batistas. Depois do episódio da biblioteca do Seminário, o trabalho de Nascimento na IBL e entre os batistas teve como centralidade o avivalista e o ensinamento para a busca da “plenitude do Espírito Santo”. A esta altura assumimos que a experiência pentecostal vivida por Nascimento fez com que ele “tomasse” o lugar de Appleby como líder e mediador carismático do movimento na fase de implantação do avivamento que fora somente sonhado por ela.

A vinda de Nascimento para BH e para a IBL era um desafio, mas também uma oportunidade, pois seu entendimento era o de que a “obra do Espírito”, diga-se do avivamento, precisava ser evidenciada e colocada em marcha. Dessa maneira, chegando em BH, Nascimento, com a ajuda de Appleby, passa a ocupar-se da fase de implantação do avivalismo. Após, assumir o ministério da IBL, o que aconteceu no dia 15 de maio de 1958, Nascimento iniciou o processo de difusão das ideias avivalistas e carismáticas. Como esse ensinamento era algo novo, a IBL atraiu a atenção de muitos seguidores, principalmente com os programas radiofônicos comandados por Nascimento, cuja mensagem principal era a renovação espiritual por meio do avivalismo. A repercução do trabalho de Nascimento na IBL era grande, atraindo novos seguidores para o seu ministério. A IBL começou a se desenvolver e a crescer, pois novos seguidores a ela se achegavam. A ênfase do ministério de Nascimento era o avivalismo, o “batismo no Espírito Santo” e o exercício dos “dons espirituais”.

Apesar de uma influência da doutrina avivalista em muitos seguidores do protestantismo em Belo Horizonte, em Minas Gerais e em outras partes do Brasil, Nascimento começou a enfrentar problemas com alguns os fiéis da IBL, especialmente por causa do seu carismatismo e do ensinamento acerca do avivamento. Mesmo com o crescimento do número de fiéis da IBL, houve um levante contra Nascimento e as doutrinas por ele propagadas. Com isso, o ministério de Nascimento, e muito mais da Igreja Batista da Lagoinha, começaram a receber ofensas e a enfrentar de forma contundente de atos de retaliações, coação e violência, o que culminou num processo de desligamento da IBL do movimento batista e da Convenção Batista Mineira.