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PARTE 2 – A IGREJA BATISTA DA LAGOINHA: IDENTIDADE E CULTURA

4.3. Carisma, parentesco e sucessão na IBL

4.4.3. Estratégias de crescimento da Igreja Batista da Lagoinha

A IBL, desde a época de sua organização como igreja autônoma no ano de 1957, apresentava- se como um potencial e uma propensão a alcançar crescimento do número de seus fiéis. Em se tratando do aumento do número de seguidores da IBL, nos primeiros anos de existência, faz- se necessário considerá-lo a partir do contexto e da experiência batista, já que essa organização emergiu como uma igreja batista. Vale ressaltar, porém, que a IBL, mesmo em sua fase inicial, quando não havia ainda desenvolvido internamente o processo de pentecostalização, alcançava um crescimento significativo, o que a diferia da maioria das igrejas batistas históricas em Belo Horizonte.

O potencial crescimento da IBL, neste aspecto, pode ser explicado por dois fatores. O primeiro fator é relativo ao motivo de seu surgimento, que no contexto dos anos de 1950, entre os batistas mineiros, era favorável à criação de uma igreja “que fosse exigente com seus fiéis, intransigente com o pecado e sem frieza espiritual”, conforme Valle (1959). O segundo fator, refere-se ao estilo de culto que foi adotado, mais avivado, e com um esforço na evangelização de novas pessoas. Para se ter uma ideia do crescimento da IBL, em sua fase

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O programa “Profetizando Vida” foi ao ar por mais de duas décadas na Rede Bandeirantes. Com a aquisição da Rede Super pela IBL, esse programa recebeu um novo formato e passou ser veiculado no próprio canal de propriedade da organização.

inicial, ainda como congregação, em outubro de 1957, possuía apenas oito fiéis. Em dezembro, no dia de sua organização em igreja, a IBL já contava com 28 seguidores, correspondendo a um crescimento de 250% em dois meses. Em maio de 1958, seis meses após a sua organização, a IBL possuía 140 fiéis, o que corresponde a um crescimento de 400% no período.62

A IBL continuou a crescer e a aumentar o número de seus seguidores. Mas, os conflitos e embates originados pela implantação do processo de pentecostalização arrefeceu seu ímpeto de crescimento. Esse arrefecimento aconteceu por que a IBL enfrentou uma divisão interna entre seu líder e parte dos seguidores e uma cisão externa, isto é, com os batistas mineiros e brasileiros, por causa da incorporação das doutrinas e práticas pentecostais. Esse processo de pentecostalização iniciado na IBL, segundo Alonso (2008:47) culminou no primeiro cisma pentecostal entre os batistas, os quais divididos em dois grupos, os “históricos” e os “renovados”, travaram lutas e batalhas para, de um lado, defender a sua fé e, de outro, para divulgá-la. Mas, o foco, especialmente, na IBL passou a ser da defesa da fé e não a sua divulgação, o que ocasionou, de fato, uma diminuição no crescimento do número de seguidores.

O aspecto da luta, da militância e da belicosidade travada entre os dois grupos é confirmada por Tognini e Almeida (2007:110-111), quando declaram que o “exército da renovação” foi formado por muitos homens destemidos e corajosos. Como o embate envolveu as igrejas, a denominação, o “movimento de renovação” e uma visão do sagrado, até mesmo o hino “Obra Santa” dos batistas pentecostalizados dava ênfase às ações de combate. O estribilho desse hino assim declara: “A obra é santa, ninguém detém”. Neste contexto, a militância passou a ser a principal ênfase da IBL e de seu líder, e por causa disso, seu ímpeto de crescimento foi diminuído, até porque Nascimento, líder do processo de pentecostalização, devido aos embates e combates constantes, caiu em enfermidade, afastando-se da IBL.

Com a chegada de Valadão à IBL, em 1972, como seu pastor e líder, a organização começou a experimentar paz e tranquilidade, pois o foco da organização deixou de ser as lutas e embates religiosas com os batistas históricos. Com a serenidade adquirida e o dinamismo implantado por Valadão, além da realização das noites de vigília e das “reuniões de fogo”, atividades caracteristicamente pentecostais, o crescimento da IBL até o ano de 1979 foi no

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estilo dos batistas históricos. Ou seja, o crescimento da IBL se dava com a abertura de congregações nos bairros e cidades vizinhas a Belo Horizonte. Com um enfoque em missões, a estratégia de crescimento eram as “caravanas evangelistas63” da IBL para vários bairros de BH e diversas cidades do estado nos finais de semana.

Consta-se que a estratégia das “caravanas evangelística” já tinha sido usada por David Miranda no crescimento da Igreja Pentecostal Deus é amor (IPDA), conforme analisado por Mendonça (2009:116-117), em sua dissertação de mestrado. Isso mostra que a ideia de Valadão não era nada original, mas que deu certo e resultou na expansão da IBL, tal como havia acontecido com a IPDA de David Miranda. Valadão, no entanto, para desenvolver a estratégia das “caravanas evangelísticas” na IBL, “Em 1975, propôs à organização a criação do “Fundo Missionário”, que era uma espécie de dízimo do dízimo”. Com estratégia das “caravanas evangelísticas” e o os recursos oriundos do “fundo Missionário”, IBL fundou 37 congregações em 18 bairros de Belo Horizonte e em 19 cidades do estado mineiro (Anexo 4).

Vale salientar que a estratégia das “Caravanas evangelísticas” gerou um crescimento significativo do número de seguidores da IBL. Contudo, este crescimento não repercutia diretamente na sede da organização, pois uma congregação, segundo a eclesiologia batista, deve ter suas próprias atividades e cultos e se preparar para se tornar uma igreja. Na sede da IBL, as estratégias de crescimento utilizadas foram as “conferências evangelísticas” e os “encontros de avivamento”, o que também propiciou crescimento do número de seguidores. “Em 1977, foi construído um prédio de três andares e ainda a troca de todo o mobiliário da IBL, tornando-o mais moderno”.64 Além desse aspecto, no início do ano de 1980, a IBL adquiriu vinte lotes ao redor do templo, uma fazendinha e começou a investir na área cultural e comunicacional, com o jornal Atos Hoje e em programas radiofônicos.

Em 1987, a partir de uma nova proposição política, administrativa e organizacional feita por Valadão, a IBL emancipou todas as congregações que ela havia fundado. Essa ação de Valadão foi determinante para uma radical alteração no destino da IBL. Emancipar as congregações, tornando-as igrejas, por um lado, significou a eliminação de despesas, estrutura e compromisso institucional da IBL com a Convenção Batista Nacional (CBN). Por outro,

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se “Caravanas evangelísticas” por que vários ônibus eram locados para transportar os fiéis da Igreja, seminaristas e pastores-obreiros para a realização do trabalho missionário nos bairros da região metropolitana de BH e em cidade do Estado de Minas Gerais. Dados coletados em arquivo digitalizado fornecido por Ângela Valadão Cintra.

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significou para a IBL uma maior liberdade para trilhar seu próprio caminho e adotar outras metodologias de crescimento de igreja, bem como para administrar e gerenciar a Instituição.

A emancipação das congregações pode ser pensada como um tipo de “reforma interna” da organização, o que quase sempre se torna um processo complicado. Mas, como o poder de mando na IBL estava centralizado em Valadão, a “reforma” aconteceu sem maiores problemas e possibilitou a sua adequação a um novo tempo e a uma nova forma de ser igreja, mesmo tendo diminuído número seguidores para mil e trezentos, conforme Valadão65.

Após a implementação da estratégia de emancipação das congregações, inicia-se na IBL um período de grande preocupação com o crescimento do número de fiéis na organização. Em 1985, Valadão coloca o pastor Jonas Neves66, atualmente líder da Igreja batista do Povo em SP, como um dos pastores da IBL e em 1989, como o responsável direto para desenvolver e implementar uma nova estratégia de crescimento na IBL. Nesse ano, foi implantada e colocada em prática, a metodologia de “pequeno grupo”, conforme modelo de Paul Yong Cho. Com esse método e por meio de seus fiéis a IBL espalhou “células” em vários bairros da cidade de Belo Horizonte, alcançado em sete anos, ou seja, até o no de 1999, um crescimento significativo, atingindo o número de dez mil membros.

Ano N° de seguidores Período em anos Variação de n° de seguidores Variação % do n° de seguidores Dados do n° de seguidores até 2007 1987 1990 1999 2003 2007 1.300 5.200 10.000 20.000 37.319 3,0 9,0 3,0 4,0 3.900 4.800 10.000 17.319 300 % 92,31 100 % 86,60%

Por não se ter acesso aos dados de crescimento anual, apresenta-se os dados por período. Destaca-se que a implantação da metodologia de crescimento de igreja em célula foi fundamental para o crescimento da IBL

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Entrevista de Márcio Valadão à equipe do portal Lagoinha.com, acesso feito de 08 de junho de 2009.

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Jonas Neves trabalhou com Valadão por 15 anos. Nesse período sua maior dedicação foi na implantação da metodologia de crescimento da igreja. Em 1999, deixou a IBL e foi para a Igreja Batista do Povo, em SP.

Com o crescimento obtido por meio da metodologia de igreja em célula, a IBL criou diversos projetos67, programas religiosos e ministérios para todas as faixas etárias de seus seguidores. Os ministérios que mais se destacam são os ministérios de “Louvor Diante do Trono”, “Gideões da Oração” e o Lagoinha.com, além do ministério dos “grupos de crescimento por meio de células”. Estes ministérios podem ser considerados os “carros chefes” do crescimento da IBL. Com eles, a IBL aumentou do número de fiéis e ampliou seu patrimônio, pois esses ministérios se desenvolveram atrelados ao marketing, à comunicação e em estreito relacionamento com o público interno e externo, tanto quanto alavancado os empreendimentos que a organização tem realizado.

Em 1999, no mês de dezembro, estiveram na IBL68 os “apóstolos” Harold Caballeros e Renê Terra Nova pregando e ensinando sobre a visão do G12. No início do ano de 2000, a IBL69 realizou a “Conferência Profética”, e nela, Valadão recebeu a “unção de apóstolo”, como tantos outros líderes de igrejas pentecostais e neopentecostais. Nesse mesmo ano, a IBL inicia o trabalho com os “encontros” e com as “células” e a partir dele formou uma estrutura de “Rede de Células” como uma nova estratégia de crescimento, colocando vários líderes de células como pastores. Com a estratégia da “Rede de células”, o “Ministério de Louvor Diante do Trono”, a “Escola Carisma”70, o CTMDT71, e o investimento no setor de comunicação com a Rede Super, a IBL continuou aumentando o no número de fiéis, o que os dados abaixo mostram.

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Os projetos criados pela IBL foram: a “Centésima ovelha” que trabalha com fiéis “desviados”; “Madalena” e “Deus Importa” para atuar junto às prostitutas, “garotas de programas” e “homoafetivos”.

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Entrevista com um líder de células da IBL, trabalho que assumiu desde o ano de 1999. Esta entrevista foi realizada em 31 de março de 2011.

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Dados coletados em arquivo digitalizado fornecido por Ângela Valadão Cintra

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Esta escola é um tipo de seminário e foi criada pra treinamento ministerial de fiéis da IBL.

71 O CTMDT - Centro de Treinamento Ministerial Diante do Trono pertence ao Ministério de Louvor Diante do

Trono. É uma escola que funciona em tempo integral e está voltada para a capacitação na área de música e de missões

Ano N° de

seguidores Período em anos Variação do n° de seguidores n° de seguidores Variação % do

Dados do crescimento a partir da “visão da conquista” 2007 2008 2009 2010 2011 2011.5 37.319 37.261 39.197 41.592 45.124 47.147 1,0 1,0 1,0 1,0 0,5 42 1.836 2.395 3.532 2.023 0,11% 4,91% 6,11% 8,49% 4,48%

Tomou-se por base o ano de 2007, pois foi em dezembro desse ano que Valadão lançou a campanha “Visão da Conquista”. De 2007 para 2008, apresenta-se um crescimento de apenas 42 seguidores, pois esse dado refere-se à passagem de dezembro para janeiro. Nos anos subsequentes, os dados apresentados referem-se a um período anual. O percentual de 4,48% referente ao ano de 2011 corresponde ao crescimento obtido até o mês de julho.

O gráfico que se segue mostra o crescimento evolutivo da IBL desde o ano de 1987, época em que a organização emancipou as congregações e preparou-se, política e administrativamente, para adotar a metodologia de crescimento de igreja desenvolvida pela igreja de Paul Yong Cho.

Os dados apresentados confirmam que as estratégias mais importantes para o crescimento da IBL foram, de fato, o método de crescimento adotado, a comunicação social da organização, as técnicas de propaganda de seus programas e atividades e a difusão de suas ações. Em dezembro 2007, após a comemoração do “Jubileu de Ouro”, a IBL, por meio de uma proposta de Valadão, adotou um novo projeto de crescimento a “Visão da Conquista” para alcançar dez por centro da cidade de Belo Horizonte, conforme consta no jornal Atos Hoje (1/06/08). Este novo projeto é considerado como uma “estratégia de Deus” e foi lançado com um “ato profético” que assim foi celebrado:

“No dia 1° de janeiro de 2008, pastores, obreiros e membros da Lagoinha participaram de um ato profético dando sete voltas de carro em toda a avenida do contorno, derramando óleo da unção e o vinho, que são os símbolos da presença do Espírito Santo de Deus. Depois das sete voltas, 12 pastores da Lagoinha seguiram para algumas entradas de Belo Horizonte para afixarem 12 estacas”.

Esta visão e este alvo de “alcançar 10% de Belo Horizonte para Jesus” serão trabalhados até dezembro de 2020, conforme documentário72 apresentado pelo “Amigo DT” em 05 de maio de 2011. Com o aumento de seus seguidores, a IBL vem ampliando o seu patrimônio com a construção de prédios e a aquisição de imóveis (lotes, casas e pequenos edifícios) nos arredores do seu templo, situado à Rua Manoel Macedo, 320, no bairro da Lagoinha. Como a IBL está aumentando o número de seguidores e tem o objetivo de alcançar 10% de BH, com a “Visão da Conquista”, há um projeto de construção de um novo templo para a organização

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Informação coletada no site: http//noticias da prosperidade.com.br/category/artigos/noticias. Acesso em 11 de julho de 2011.

(Anexo 05). Neste sentido, mesmo carregando o nome “batista, a IBL é uma organização religiosa diferente das igrejas batistas históricas e das “renovadas”, pois, empreende ações e estratégias que a colocam como uma corporação que consegue organizar a religião na perspectiva de um ramo de negócio e de uma empresa, sem perder seu caráter religioso.