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PARTE 1 OS BATISTAS MINEIROS E SUA HISTÓRIA

1.6. Appleby e a difusão do avivalismo

O movimento batista após um período de crescimento significativo entre os anos de 1915 a 1930 começou a enfrentar uma acomodação espiritual e missionária por parte dos fiéis. A razão dessa acomodação foi a crise econômica7 e sociocultural que atingiu o país. Os historiadores Cláudio Vicentino (1997:372), Leonel Itaussu A. Melo e Luís César A. Costa (1999:334) enfatizam que essa crise foi diferente das demais pelas alterações que provocou e pela proporção que alcançou: falência, desemprego e reformulações políticas que mudaram a face do mundo. Na religião, de acordo com Assis (1989:94), a crise também se manifestou e contribuiu para que houvesse uma perseguição sistemática às igrejas evangélicas.

A crise contribuiu para que as igrejas batistas se esfriassem na fé e parte dos fiéis abandonasse o movimento. Mesmo assim, os missionários continuaram a sua tarefa de evangelização e o pastoreio das igrejas, mas os resultados não eram satisfatórios. A crise religiosa persistiu até os anos de 1940 e os líderes batistas, que atuavam na capital e no interior do estado mesmo mantendo o propósito evangelizador, não conseguiam fazer o movimento avançar. Os fiéis estavam desanimados e não defendiam a fé, e por outro, o movimento batista ficou “paralisado”. Diante desses fatos, algo precisava ser feito para contornar a crise religiosa e, ao mesmo tempo, aumentar o fervor espiritual das igrejas e dos fiéis batistas e os estimular a

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Essa crise geralmente é descrita pelos historiadores como a “Grande Depressão”, uma das maiores crises econômicas da história capitalista. No Brasil, essa crise é descrita como a crise do café.

evangelizar e a permanecer na fé. Como a crise religiosa perdurava no movimento batista, os escritos8 de Appleby que difundiam o avivamento se intensificaram ainda mais a partir do ano de 1945.

Nesse contexto de crise religiosa, a missionária Appleby começou divulgar a necessidade de um avivamento, o que se tornou, num primeiro momento, objeto de sua oração. Appleby, segundo Tognini e Almeida (2007:50-51), sentiu grande responsabilidade pelo avivamento e orou para que ele acontecesse e “incendiasse com fogo do céu” as igrejas batistas históricas. Por acreditar nas ideias avivalistas, Appleby assumiu a bandeira do avivamento e, com coragem e determinação, passou a questionar a religiosidade tradicional com sua rigidez, “frieza” e “pouco poder espiritual”. O avivalismo propugnado por Appleby tornou-se contrário ao discurso oficial, à teologia e à vivência da fé batista. Contudo, o espaço para a enunciação de outro sagrado, mais dinâmico e extático, foi aumentando e o interesse pelas experiências avivalista e carismáticas também.

A difusão do avivalismo aconteceu no movimento batista não só por causa da crise e do “esfriamento” dos fiéis, mas também porque a religião no seu desenvolvimento político, teológico e vivencial se expressava e ainda se expressa na constituição de experiências formativas que se alteram e se transformam. Isso mostra que o movimento batista pensava a sua religião pelo prisma da formalidade e da rigidez. Mas como ela faz parte de um “sistema simbólico estruturado” e funciona como “princípio de estruturação”, não está imune à transformação, conforme Bourdieu (2007:9). Portanto, em religião, não há e nunca haverá absoluta “imutabilidade”. Neste sentido, mesmo que existam categorias rígidas e duráveis por décadas num sistema religioso, elas não permanecem intocáveis. Por isso, entre os batistas podia até haver padronização, mas não absolutização, pois “(...) as categorias do pensamento humano não são jamais fixadas sob uma forma definida; elas se fazem, se desfazem e se refazem sem cessar, mudam segundo o lugar e o tempo” (DURKHEIM, 2006, p. 157).

Por focar o “batismo no Espírito Santo” e os “dons do Espírito”, o avivamento proposto e difundido por Appleby foi identificado com o programa da “Cruzada Nacional de Evangelização” nos meados da década de 1950. Por isso, logo “rejeitado” por parte dos pastores batistas que detinham o poder religioso, sendo considerado um movimento de “despertamento pentecostal” das igrejas históricas, para usar a expressão de Beatriz Muniz de

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Souza (1969:27). Num artigo do jornal “O Batista Mineiro” (3/8/45), Appleby já havia indicado a santidade necessária ao movimento batista para que o avivamento acontecesse.

“Em toda parte de nossa bela terra, há (...) aqueles que almejam ardentemente santidade de vida e igrejas espirituais. Quantas vidas seriam transformadas ou ‘corroboradas com poder pelo seu Espírito no homem interior’ com poder de sacrificar, servir, de entregar tudo a Cristo”.

Para Appleby, crentes “sem vida e sem poder“ e que haviam perdido o entusiasmo da evangelização necessitavam de santidade. Portanto, o avivamento era propagado como a solução espiritual já que os fiéis batistas estavam enfraquecidos na fé ou haviam perdido o entusiasmo pelas “almas perdidas”. Para superar esse estágio em que se encontravam as igrejas batistas, Appleby difundia o avivamento e motivava os fiéis a buscá-lo com mais “fervor” e intensidade, enfatizando que “a oração eficaz do justo pode trazer um avivamento espiritual”. Appleby acreditava que a santidade capacitava o fiel “batizado no Espírito Santo” a receber os “dons espirituais” e a usá-los na igreja e na obra de Deus. Em um artigo do ano de 1946, Appleby (1946:3) apontava a necessidade do avivamento entre os batistas e o definiu como um novo pentecostes: “Para obtermos um avivamento pessoal ou na igreja, necessitamos de um pentecostes com o seu poder para o serviço de Deus” (grifo da autora). No avivamento difundido por Appleby, havia uma forte ênfase na santificação. Logo, a santidade foi inserida no seu ensino acerca do avivamento e passou a ser concebida como uma obra do “Espírito Santo”. Dessa forma, para Appleby, o “Espírito Santo” agia na vida do crente, e este agir sendo um ato extraordinário de Deus, capacitava o fiel a receber “os dons espirituais”, o que segundo Walter J. Hollenweger (1976:7-12) era uma crença oriunda do “Movimento de Santidade” e da teologia de Wesley. Isso significa que a santidade tal como acontecera nos avivamentos norte-americanos novamente era colocada na raiz teológica do avivalismo difundido por Appleby. Com isso, segundo Campos (2008:47b), abriu-se espaço para uma mistura entre avivamento e santificação nas pregações, o que certamente aumentava a densidade teológica da doutrina do “batismo no Espírito Santo”.

A tarefa inicial do avivalismo proposto por Appleby era a de “atualizar” e fazer uma espécie de remontagem religiosa dos batistas históricos. Como era peculiar naquela época, o movimento avivalista difundido entre os batistas tinha como ênfase a recepção do “operar vigoroso e dinâmico do Espírito”, de acordo com Tognini e Almeida (2007:278). Nessa perspectiva, o avivalismo ajuntava a emoção e a mística da oração, o que se manifestou como

similar e semelhante ao pentecostalismo dos anos de 1950. Sendo assim, o avivalismo difundido por Appleby representava um protestantismo que se desinteressava pela doutrina e centrava-se no aspecto místico e emocional da experiência religiosa. Desinteressar-se da doutrina e centrar-se na emoção, segundo Florêncio Galindo (1995:190-191), é uma forma de mostrar-se mais interessado nas particularidades humanas.

Podemos também afirmar que o avivamento difundido por Appleby aproximava-se do pentecostalismo já instalado no Brasil desde 1910 e 1911, o que, segundo Paulo D. Siepierski (2004:71-74), mantinha ainda nos anos de 1950 a sua uniformidade. Essa identificação do avivalismo com o pentecostalismo se dava porque Appleby preceituava a oração e a santidade como uma estratégia para que acontecesse um “novo pentecostes” nas igrejas batistas, como já havia acontecido em Belém do Pará em 1911, por meios de dois seguidores de William Durhan, conforme Campos (2005:112): “Do círculo de seguidores de William Durhan, que em 1907 organizou a North Avenue Mission, saíram Louis Francescon, Daniel Berg e A. Gunnar Vingren, que iniciaram a propagação do pentecostalismo no Brasil”.

“Dois seguidores de Durhan, os suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, crendo ter recebido revelações de Deus, vieram para o Norte do Brasil, Estado do Pará, onde, numa Igreja Batista, começaram a pregar o batismo com o Espírito Santo e ali fundaram a Igreja Assembléia de Deus” (CAMPOS, 1996:82).

Berg e Vingren foram expulsos da igreja batista, segundo Waldo Cesar e Richard Shaull (1999:21), mas um grupo de batistas os esperava do lado de fora, tornando-se seus seguidores. Em suas memórias acerca da pentecostalização da igreja batista em Belém do Pará, Berg assim expressa:

“...quase todas as noites recebíamos visitas dos membros da igreja desejosos de saber mais a respeito das verdades que anunciávamos e (...) No contato que eles tinham conosco, notaram que vivíamos o que pregávamos, tanto a vida de oração como a vida de fé. Essas coisas serviram para atrair esses irmãos. Por essa razão passávamos tardes e noites orando em nosso pequeno quarto...” (BERG, 2008, p. 49).

A realização de vigílias de oração e o anúncio de novas verdades do “batismo no Espírito Santo” e dos “dons espirituais”, por Berg e Vingren, marcaram entre os batistas um novo tipo de experiência religiosa e de igreja em 1911. Em sua biografia, Daniel Berg (2008:54), declara que as visitas dos membros da igreja batista num lugar de oração, um quarto-corredor, eram cada vez mais intensas e alguns já tinham recebido o “batismo no Espírito Santo” e, doentes também, haviam sido curados. A experiência com o pentecostalismo em Belém do

Pará foi traumática para os batistas, pois Berg e Vingren, não só foram convidados a deixar a igreja como tiraram dela 18 fiéis, segundo Reily (2003:370). Talvez seja por isso que a pregação e todo o trabalho de Appleby tenham causado impacto no movimento batista, ora de aceitação, ora de recusa.

Como a oração já tinha sido usada para contagiar a religiosidade dos batistas em Belém do Pará, ela estava novamente sendo utilizada para inflamar a fé dos batistas em Belo Horizonte. No pentecostalismo, por exemplo, a oração está associada às experiências extáticas. William W. Menzies e Stanleu M. Horton (1995:147), por exemplo, ao abordar as doutrinas bíblicas, na perspectiva pentecostal, fazem a associação entre falar e orar em línguas. Da mesma forma que o pentecostalismo implantado em Belém do Pará, o avivalismo propagado por Appleby entre os batistas mineiros pautava-se na oração. Tal como Berg e Vingren, Appleby acreditava na oração e fazia dela um elemento primordial para revigorar espiritualmente os fiéis batistas. A oração e o avivalismo ganharam espaço substancial no trabalho de Appleby e ela organizou duas atividades com o objetivo de buscar o avivamento e restaurar crentes e igrejas: “as vigílias de oração” e “as semanas pró-avivamento”. O clamor de Appleby pelo avivamento passou a ser constante e, junto a ela, fiéis e igrejas se ajuntaram para fazer o mesmo.

Tal posicionamento a respeito da oração pode ser confirmado num texto escrito por Appleby: “Demoramos a ver um avivamento espiritual entre nós, porque não clamamos a Deus dia e noite com toda sinceridade. O ambiente dos nossos cultos é muitas vezes frio pela mesma razão” (“O Batista Mineiro”, 1945, p. 3). A prática e a crença na eficácia da oração tornaram- se fundamentais para a difusão do avivamento e para a remontagem religiosa dos batistas, as quais se manifestaram como experiências espirituais místicas, extáticas e emocionais. Segundo Souza (2008:128), as programações de oração aconteciam pela manhã e à noite. Mas, como forma de intensificar a oração, os crentes eram convocados a orar de madrugada, suplicando mais poder, santidade e renovação espiritual de suas igrejas. Embora a prática da oração fosse comum no movimento batista, as campanhas prolongadas e intensificadas de oração em busca do avivamento, não. Já as campanhas de oração foram realizadas e promovidas, porque Appleby acreditava nelas como uma forma de “sacrifício a Cristo” e de obter o avivamento.

No movimento batista, as campanhas de oração se assemelhava com aquelas que as igrejas pentecostais da época realizavam. É como se os cultos e as campanhas de oração fizessem

parte do calendário diário, semanal e mensal da igreja e fossem determinantes para acontecimentos “miraculosos” e uma vivência carismatizada da fé. Com isso, as campanhas de oração e clamor pelo avivamento se tornaram práticasreligiosas especiais entre os batistas mineiros que desejavam se alcançar poder e milagres nos moldes pentecostais. As campanhas de oração em prol do avivamento se tornaram um tipo de ação, despojada e “sacrificial” – “um sacrifício a Cristo” que traduzia a confiança antecipada de que o avivalismo ocorreria no movimento batista. Essas campanhas mostraram que Appleby estava se colocando como uma “agente especializada” que cumpria, ao mesmo tempo, uma função religiosa diferente daquela que os batistas se acostumaram.

O foco das campanhas realizadas por Appleby era: é tempo do avivamento, o que passou a ser não só a tônica dos batistas mineiros, mas também de outros segmentos religiosos. Campos (1996:97) enfatiza que as campanhas passaram a acontecer em todas as denominações, e o objetivo era o avivamento e o retorno dos crentes à evangelização. Com essa ênfase, as campanhas de oração se tornaram abrangentes e uma pauta do dia a dia de algumas igrejas batistas que se envolveram com o avivalismo. Nessa direção, as campanhas de oração traziam os sinais não só de uma maior dedicação a Deus, mas também de difusão e de penetração do avivamento no movimento batista, que foi desenvolvido como uma forma carismática de expressar e de vivenciar a fé cristã.

Tal perspectiva pode ser respaldada pelas experiências ocorridas em Los Angeles, com Seymour, que juntamente com outros crentes “oraram a gritos durante três dias e três noites”, segundo Hollenweger (1976:9), e que após esse período aconteceu um fenômeno pentecostal: o “batismo no Espírito Santo”. Nesse contexto, as campanhas de oração promovidas por Aplleby no movimento batista eram praticadas como uma chave para uma vida avivada, santificada e de poder. Além das campanhas de oração para o avivalismo, Appleby ensinava que o “batismo no Espírito Santo” era fundamental e necessário para que o avivamento acontecesse. Em um dos folhetos escritos, ela afirma:

“A expressão ‘batismo no Espírito Santo’ é bíblica e, portanto, aceitável. João a usou. A expressão usada por João ficou registrada nos quatro evangelhos, o que demonstra a sua importância e valor. Eis a declaração do profeta do deserto, João Batista: ‘Ele (Jesus) vos batizará com o Espírito Santo...’ (João 1:33; Mateus 3:11; Marcos 1:8 e Lucas 3:16). O próprio Senhor prometeu aos discípulos batizá-los no Espírito (Atos 1:4-5) e Pedro usou a expressão em conexão com a experiência na casa de Cornélio (Atos 11:16)” - (APPLEBY, 1945, p. 17).

O que se constata a partir do trecho citado é que Appleby afirmava, tal como os pentecostais daquela época, a experiência do “batismo no Espírito Santo” como necessária para se alcançar o avivamento espiritual. Sendo assim, as ideias de Appleby convergiam com a doutrina pentecostal da conversão, santificação e “batismo no Espírito Santo” como a “terceira obra da graça”, conforme Campos (2008:47b) e Isael de Araújo (2007:119). A experiência do “batismo no Espírito Santo” foi entendida e divulgada por Appleby e pelos avivalistas como algo subsequente à salvação, tal como apregoavam os fundadores da Assembleia de Deus no Brasil.

O “batismo no Espírito Santo”, sendo uma doutrina basilar do pentecostalismo, promoveria santificação completa no crente, conforme declara Souza: “Assim como o batismo nas águas simboliza o “novo nascimento” subsequente à conversão, a graça do batismo no ‘Espírito Santo’ marca, no pentecostalismo, o recebimento da santificação completa” (SOUZA, 1969, p. 54). Nessa perspectiva, o “batismo no Espírito Santo” não é algo que acontece só na “conversão”, como ensinam as igrejas protestantes históricas, mas alguma coisa que ocorre num estágio posterior da fé e é uma “segunda bênção”. Freston (1993:67) enfatiza que o conceito de uma segunda obra da graça, separada e distinta da salvação, se remonta ao pentecostalismo originado nos Estados Unidos.

Diferentemente do pentecostalismo, as igrejas tradicionais ensinavam a doutrina do “batismo no Espírito Santo”, mas apenas como uma experiência ligada ao aspecto soteriológico de sua ação. Para os pentecostais, o “batismo no Espírito Santo” que acontece na ação soteriológica é, tão somente, uma experiência inicial para quem “professa a fé em Cristo”, segundo Araújo (2007:119), e que carrega também uma dimensão mística. Porém, ela não impede que outras experiências extraordinárias aconteçam. Dessa maneira, para o pentecostalismo, a “experiência do batismo no Espírito Santo” vai além do aspecto soteriológico e reforça outras dimensões da fé cristã, tais como: “fervor espiritual”, “santidade”, “dons espirituais” e “poder para testemunhar”.

Por isso é que a “experiência do batismo no Espírito Santo” recebe destaque na teologia e na religiosidade pentecostal. De acordo com Menzies e Horton (1995:10-131), ela é uma experiência distinta e subsequente ao novo nascimento e, quando acontece, faz com que o fiel experimente a plenitude da santificação e os dons espirituais. Já que essa experiência traz dons espirituais, segundo Ari Pedro Oro (1996:19) e Freston (1993:67), a vivência da

glossolalia, ou seja, de “línguas estranhas”, é a marca distintiva do pentecostalismo. Por ser uma experiência de “santificação” do fiel, o “batismo no Espírito Santo” se evidencia com o recebimento do “dom da glossolalia”. Na crença pentecostal, segundo Hollenweger (1976:244-250), a santificação se dá em dois estágios. O primeiro, ligado à “conversão/regeneração”, e o segundo, à santificação seguida de “dons espirituais”. Velasques Filho (2002:257) e Mendonça (2002:47) explicitam que o segundo “batismo”, isto é, o do “Espírito Santo”, é acompanhado do falar “línguas estranhas”, que é um “dom espiritual”. Tendo-se em vista as doutrinas que sustentavam a religiosidade avivada, Appleby, para realizar o seu trabalho de difusora do avivalismo, nos anos de 1940 e 1950, utilizou-se de quatro estratégias: a pregação em igrejas e congressos, a publicação de artigos no jornal “O Batista Mineiro”, a radiofonia e o envio de folhetos a pastores e líderes do movimento batista. Sobre as estratégias de propagação do avivamento utilizadas, Tognini e Almeida (2007:84) esclarecem:

“Uma pessoa, entretanto, agia, falava com Deus, escrevia, testemunhava na unção do espírito. Sentíamos o brilho de Deus nas suas faces quando pregava e nos ensinava a Palavra. Suas mensagens escritas e faladas atingiam corações, no meio evangélico do Brasil. A semente lançada por D. Rosalee ia encontrando abrigo em corações, e lhes gerando sede de vida espiritual nova” (TOGNINI & ALMEIDA, 2007, p. 84).

Conclusão

Diante do exposto, Appleby pode ser considerada como mentora, difusora e portavoz do avivamento em Belo Horizonte e em Minas Gerais na sua fase inicial. O avivalismo foi uma atividade zelosa de Appleby, obra pela qual ela orou, pregou e ensinou por aproximadamente 19 anos, conforme Xavier (1997:28). Com a propagação maciça feita inicialmente por Appleby, a ideia de avivamento ganhou força e amplitude e aumentou o número de adeptos. Mas, quem dinamizou o processo de instalação do avivamento no movimento batista foi Nascimento, utilizando-se de programas radiofônicos. Como o avivamento foi aceito por muitos líderes e igrejas, segundo Tognini e Almeida (2007:278), ele pode ser considerado como um fenômeno que fazia burburinhar as águas paradas pela inércia reinante entre os batistas, metodistas e presbiterianos. Ao contagiar fiéis, igrejas e denominações, a ideia do avivamento ganhou força no país e qualificou seus mentores e seguidores como um “exército”

de pessoas levantadas por Deus para avivar os arraiais evangélicos “frios e apáticos”, dos quais os batistas faziam parte.

Nos anos de 1950, a radiodifusão começou a ser usada por ela na propagação do avivalismo, pois era mais eficaz e de longo alcance. A difusão do avivamento que começou a ser feita por Appleby demonstrava, contudo, que avivar uma igreja pertencente ao protestantismo histórico era sinônimo de pentecostalizá-la. Em 1957, ela inicia um programa radiofônico para divulgar o avivalismo. Mas, com a chegada de Nascimento em Belo Horizonte e na IBL, em maio de 1958, ele assumiu a direção dos programas radiofônicos na rádio Inconfidência e Guarani, ampliando a sua influência e seu alcance com a mensagem do avivamento.

Com a inicial difusão do avivalismo feita por Appleby, bem como a propagação e instalação feita por Nascimento, a religiosidade avivada e carismática fez eclodir o primeiro cisma pentecostal no movimento batista. Com as bases do avivamento estabelecidas por Appleby e uma nova religiosidade emergindo e crescendo entre os batistas mineiros, o pastor Nascimento, a partir de sua experiência fundante, o batismo no Espírito Santo, ocupou-se de implantá-la na Igreja Batista da Lagoinha e a propagá-la mais abertamente em todo o estado de Minas Gerais. O avivamento difundido por Appleby foi assumido por Nascimento na Igreja Batista da Lagoinha e, a partir da belicosidade instalada, ocasionou a ruptura pentecostal entre os batistas mineiros.

CAPÍTULO 2

A HISTÓRIA DA IGREJA BATISTA DA LAGOINHA

Introdução

Este capítulo apresenta a trajetória religiosa da IBL e a construção de sua identidade religiosa. A atenção será concentrada no tempo e no espaço, assim como nos personagens e processos que influenciaram a constituição, o desenvolvimento e o estágio atual da IBL. Essa visão histórica é fundamental em nossa análise e indica, mesmo que genericamente, o modo como a sociedade, as pessoas e a religião se concebiam e como foram e são construídas as representações religiosas individuais e coletivas, pois segundo David Harvey: “as ordenações