• Nenhum resultado encontrado

PARTE 2 – A IGREJA BATISTA DA LAGOINHA: IDENTIDADE E CULTURA

4.3. Carisma, parentesco e sucessão na IBL

4.3.3. Liderança e linhagem sucessória

Através do carisma pastoral e familiar, os “valadões” estão se perpetuando na liderança, na gestão e no comando da IBL. Essa espécie de perenização dos “valadões” na IBL tem a ver com a legitimação da autoridade carismática e institucional de Valadão, com as suas características pessoais como líder, sua influência e também com a “devoção” que ele consegue impor aos seus seguidores. Além desses aspectos, o carisma de Valadão está atrelado à sua família, especialmente aos seus filhos e genros, fazendo com que a IBL seja uma corporação religiosa que se organiza na forma de um “clã’. Neste sentido, a IBL, como qualquer outra igreja pentecostal, se estrutura em torno do carisma, e Valadão ocupa o topo da corporação, pois parece que ele tem a exclusividade do carisma e o “poder” de preparar e definir o seu sucessor.

Considerando os aspectos salientados, devido ao trabalho que Valadão realiza na IBL há uma relação intrínseca entre carisma, liderança, família e linhagem sucessória. Neste sentido, o carisma de Valadão como aquela “qualidade extraordinária” está se confirmando na IBL, na liderança, e possivelmente, na definição de quem será o seu sucessor à frente da organização. O carisma, nesta perspectiva é determinante, pois, segundo Etizioni (1974:249), ele se manifesta como uma forma de poder normativo que depende exclusivamente do poder de uma pessoa, que no caso em tela, depende de Valadão. Isto indica que Valadão tem recrutado outros líderes religiosos, mas os mais carismáticos e influentes são de sua família. Como a liderança está pautada no carisma e nas relações de poder, conforme Weber (2004a) e Foucault (1987), a obediência é um elemento central na IBL. Este tipo de posicionamento é comum nas igrejas carismáticas e, portanto, caracterizado por um “espírito de clã”, em que a família torna-se prioridade nos organização e nos negócios.

Esta ideia de “espírito de clã” pode ser aplicada também às igrejas protestantes, pois, a maioria delas geralmente é comandada por uma família ou por pequenos grupos de famílias. Contudo, nessas igrejas o “espírito de clã” é desenvolvido de forma diferente, já que o comando da organização religiosa não se dá pelo carisma pessoal, como acontece com Valadão, que concentra o poder em suas mãos. Portanto, na IBL a interseção dos elementos da família é influenciada por forte componente religioso e ainda por fortes laços de ordem sentimental, os quais contribuem para o domínio dos “valadões” à frente da organização.

O “espírito de clã” e a noção de parentesco são engendrados na IBL de modo a facilitar o processo de sucessão de Valadão que, segundoum líder célula da igreja, deverá ficar entre o filho André Valadão e o genro Gustavo Bessa52. Assim declara o entrevistado: “O Pr. Márcio está preparando seu sucessor e, possivelmente, a escolha será feita entre André Valadão e Gustavo Bessa. Os dois são carismáticos, mas, o Pr. André é mais e, além disso, é filho e tem mais vantagem do que o Gustavo. Não temos esta preocupação, pois o Pr. Márcio é um homem de Deus, um ungido do Senhor, e fará a escolha certa”.

Em se tratando de liderança e de linhagem sucessória na IBL, há possibilidades de que os “valadões” continuem perpetuando-se, dando prosseguimento ao trabalho pastoral e ao comando da organização iniciado por Valadão. Mas, este é um processo complicado e complexo, não permitindo que se faça previsão, pois ninguém sabe quem substituirá Valadão na IBL, como líder e chefe carismático. Porém, há uma suspeita de que o sucessor natural de Valadão seja o André Valadão, seu filho mais velho. Esta suspeita se respalda em Levi Batista Oliveira, pastor filiado à CBN, que assim expressa: “Quando nós pastores da CBN, em conversa informal e de bastidores, tratamos da sucessão pastoral da IBL, é consenso de que o sucessor do Marcinho seja seu filho André, pois ele tem o mesmo carisma do pai e desde criança está sendo preparado para esta função”53.

Apesar de o assunto da sucessão ser muito delicado e complexo, há uma confiança de que a substituição de Valadão será tranquila e sem complicações e isto por dois motivos. O primeiro é que Valadão fará a escolha do seu substituto e. pelo fato de ser ele possuidor de qualidades carismáticas – o “ungido” e o “homem de Deus” fará a escolha certa, ou seja, Deus orientará a sua escolha. Estas expressões mostram o status ocupado por Valadão na IBL que é, segundo Campos (2006:123), idêntico ao status dos pastores do pentecostalismo e também da IURD. O segundo motivo, é que a escolha do substituto será feita entre pessoas de sua família, podendo ser seu filho ou seu genro, os quais são pastores que ocupam uma posição de destaque na organização. Como a sucessão na IBL está envolvendo a família, vale destacar que o êxito de um programa de sucessão, conforme Lodi (1993:21), depende da maneira como o pai preparou sua família. Nas igrejas evangélicas a prática da educação religiosa dos

52 Depoimento feito por um líder de célula, no dia 17 de julho de 2011, em Belo Horizonte. Esse depoimento foi

coletado em uma entrevista realizada pelo pesquisador cuja ênfase era sobre o processo de substituição de Valadão no pastorado na IBL.

53

Dado coletados em entrevista feita com o Pr. Levi Batista Oliveira, no dia 30 de junho de 2011. Esta entrevista aconteceu em uma das salas da Igreja Batista do Povo em SP.

filhos é comum, e em muitos casos, quando o pai é um “agente pastoral”, geralmente, os filhos acusam-se como “vocacionados” ao ministério, como é o caso família Valadão. Sobre o aspecto da preparação e do desenvolvimento do sucessor, Lodi (1987:9) ainda esclarece: “Na realidade, a sucessão começa muitos anos antes, quando os filhos ainda são pequenos. A base do futuro sucessor é a educação que ele recebeu de sua família, a vocação despertada pelo legado de seus pais”. É por isso que no âmbito da religião e de uma organização religiosa, a sucessão é um procedimento importante. Nessa perspectiva, a sucessão de um líder religioso por outro equivale a um rito religioso, um rito de transferência de poder na organização. No caso da IBL propriamente dito, como ela é uma organização carismática, o rito de transferência será também a “transferência de carisma”, pois a linhagem de Valadão irá continuar sua saga de dominação carismática na organização.

4.4. A dimensão administrativa da IBL

Na contemporaneidade, existe um aspecto bastante comum entre as corporações religiosas carismáticas e as organizações empresariais, que é a dimensão administrativa. Na verdade, a maioria das corporações religiosas e das organizações empresariais para funcionar bem, planejar o futuro e atuar com eficiência e eficácia, precisa contar com uma dimensão administrativa. É por isso que a principal tarefa da administração e do gestor de uma corporação religiosa e uma organização empresarial é criar condições para atingir os seus objetivos e metas. Nesse contexto, há uma maior preocupação com os resultados tanto em nível organizacional quanto pessoal, o que envolve o líder da organização, sua gestão e a visão de futuro que tem para a corporação, seja ela religiosa ou não.

Como as corporações religiosas, especialmente as carismáticas, estão envolvidas com a pluralização religiosa e também com uma acirrada competitividade, a dimensão administrativa ganha relevância e passa a ser determinante no enfrentamento dessa situação, seja a de pluralidade, seja a de competição religiosa. Tendo em vista esses dois cenários, a dimensão administrativa traz os indicadores de sua adequação organizacional que são expressões em estratégias, políticas e práticas de gestão. Como a IBL é uma igreja corporação religiosa carismática, a dimensão administrativa tem sido fundamental para a existência de

uma estreita relação entre gestão religiosa e gestão empresarial. Sendo assim, nesta parte do trabalho, analisamos a IBL como uma corporação empresarial, dando destaque ao seu empreendedorismo, o que está alinhado às estratégias de crescimento e de comunicação.