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PARTE 2 – A IGREJA BATISTA DA LAGOINHA: IDENTIDADE E CULTURA

4.3. Carisma, parentesco e sucessão na IBL

4.4.2. Empreendedorismo e estratégias comunicacionais da IBL

As igrejas protestante-evangélicas, de um modo geral, têm por princípio religioso a difusão e a propagação de sua fé. Campos (2008e:61-62) salienta que os protestantes-evangélicos, desde o século XVI, têm sua história ligada às novas tecnologias de comunicação social, utilizando-as como uma estratégia missionária para difundir sua fé e fazer novos prosélitos. Existe, dessa maneira, uma relação estreita entre a proclamação da fé, o processo de comunicação e as estratégias comunicacionais da igreja. É por isso que Campos (2008b:2) destaca que os estudos acerca da presença dos evangélicos na mídia, geralmente, é iniciado com a “fase da oralidade”, passando em seguida pela “fase da imprensa” e culminando na “fase da mídia eletrônica”.

De fato, as diferentes igrejas e as inúmeras expressões de fé existentes no Brasil parecem não mais se contentar com suas reuniões e cultos para difundir sua fé. Nesse aspecto, o avanço da tecnologia e o uso de variadas mídias são o caminho de sucesso para as religiões propagarem a sua fé. Freston (1993:135) enfatiza que os evangélicos no afã de cumprirem o princípio de divulgação da fé começaram a fazer uso de quaisquer meios de comunicação. Sendo assim, Mariano (2008:76) declara que o evangelismo midiático, seja o do rádio, seja o da tevê, é o mais poderoso meio para atrair e aliciar novos seguidores. Freston (1993:135-136), afirma ainda que o protestantismo, com todo o seu conservadorismo teológico e, ao contrário de confissões sacramentais, nunca teve restrições ao uso de meios impessoais de comunicação.

Mas, isso é algo novo, pois na fase de implantação do protestantismo no Brasil, o testemunho pessoal e a pregação oral nos templos e nas praças eram as estratégias mais utilizadas na proclamação da fé evangélica. O uso dessas estratégias, segundo Campos (2008e:61), era o resultado de um tipo de postura típica de uma religião da “era da imprensa”, pois se respaldava na Bíblia, seu livro base, e a partir dela, nos livros de Confissão de Fé e de catecismo. É por isso que nas últimas décadas a estratégia de divulgação da fé das igrejas

evangélicas foi modificada e elas começaram a investir no setor de comunicação e mídia. Vale ressaltar, no entanto, que o uso da radiofonia pelos segmentos evangélicos começou a acontecer no final dos anos de 1940 e uma com maior intensidade a partir de 1950, especialmente fortalecida pelas transformações ocorridas no campo religioso brasileiro. Nesse sentido, Campos afirma que,

“Houve uma multiplicação no número de emissoras no Brasil em OM e em FM. Por isso, a programação religiosa nas rádios passou a atrair as pequenas e médias igrejas evangélicas, (...) No início da década de 1950, porém, surgiu o ‘pentecostalismo de cura divina’, que passou a usar o rádio para propagar mensagens e apelos chamando os ouvintes para reuniões nas quais ocorreriam milagres, curas e prodígios” (CAMPOS, 2008e, p. 69).

Atualmente, a presença dos evangélicos nos diferentes tipos de mídia não é novidade, o que os estudos de Hugo Assmann (1986), pelo viés da “Igreja Eletrônica”, lá nos anos de 1980, já apontava. Sendo assim, a consolidação dos evangélicos na mídia e no setor de comunicação no Brasil não demorou a acontecer, e segundo Karina Kosicki Bellotti (2004:98), isso se deu efetivamente a partir de dois processos concomitantes ocorridos na década de 1980: o crescimento das igrejas neopentecostais e a definição de uma religiosidade mais autônoma e individualista. Talvez seja por isso que o Brasil tenha se tornado a segunda maior comunidade de protestante-evangélicos do mundo e também o país que tem o maior número de seguidores pentecostais em todo o planeta.

O Brasil, conforme Freston (1993:135), ocupa o posto de segundo maior produtor de programas televisos de caráter religioso no cenário mundial. É por isso que Alexandre Brasil Fonseca (2003:45) declara que a presença evangélica nas diferentes formas de mídia se confunde com a comunicação de massa no Brasil. Assim, o crescimento da religião evangélica, especialmente das pentecostais, pode ser atribuído ao aumento da presença das igrejas carismáticas na televisão e à aliança profícua e vantajosa entre empreendedorismo e estratégia comunicacional. Weber (2004), já havia diagnosticado que a ética e os valores das denominações religiosas protestantes, em geral, eram favoráveis a um tipo específico de empreendedorismo, o de natureza econômica. Nos últimos tempos, porém, entre os evangélicos está havendo um novo tipo de empreendedorismo que é a estruturação de igrejas a partir de um plano de negócios e de estratégias comunicacionais.

Esse novo tipo de empreendedorismo aponta não só para uma mudança de mentalidade dos líderes das organizações religiosas, mas uma modificação nos métodos de ação e nas formas de comunicação que utilizam. Isso significa que o empreendedorismo e a comunicação devem ser concebidos como fenômenos globais que se conjugam com tantos outros aspectos da vida social, religiosa e eclesial. A ação empreendedora e as estratégias comunicacionais das igrejas são fundamentais para a sua sobrevivência na sociedade e, portanto, devem ser vista como uma mentalidade e um método, já que a inovação, comunicação, imagem e marketing são os que mais se contam numa época de concorrência religiosa. Nessa direção, em se tratando de igrejas, as que mais avançam são aquelas empreendedoras e as que melhor estão estruturadas em termos de mídia e de estratégias de comunicação. É por isso que Fonseca (2003:13), seguindo a tradição cultural, afirma que a comunicação midiática é tanto um espaço de constituição da organização religiosa quanto de formação de sua identidade.

Como a influência dos meios de comunicação nas igrejas evangélicas foi intensificada, a partir dos anos de 1950, a IBL, logo após ter sido constituída como uma organização religiosa autônoma, começou a investir em programas radiofônicos. Segundo Alonso (2007:51) o nome do programa da IBL era “Renovação Espiritual” e sua direção estava a cargo de Nascimento. O investimento da IBL em programas radiofônicos foi inicialmente pensado como uma estratégia comunicacional que visava a difusão da sua fé. Contudo, como a organização desenvolveu internamente um processo de pentecostalização, seus programas passaram a ser usados para propagar também as doutrinas do pentecostalismo. Tendo em vistas esses aspectos, é possível considerar a IBL como uma igreja empreendedora? Em que se encontrava o seu empreendedorismo se outras igrejas também possuíam programas radiofônicos? Quando surgiu a ideia de empreendedorismo?

O empreendedorismo começou a ser divulgado no Brasil somente nos anos de 1990, conforme José Carlos de Assis Dornelas (2008:10), com a abertura da economia. De acordo com Fernando Dolabela (2003:43 e 47) a palavra empreendedorismo é um neologismo que foi derivado de entrepreneurship e que diz respeito à inovação, por um lado, e a criação de novos empreendimentos, por outro. Apesar de a IBL ter surgido nos anos de 1950, ela pode ser considerada uma organização que historicamente tem sido empreendedora, pois tem agido com inovação no campo religioso e ainda criando novos empreendimentos. Nessa perspectiva, a IBL pode ser qualificada de uma corporação empreendedora, já que ela consegue interligar

religião e inovação, segundo Dornelas (2008:60), e ao mesmo tempo, diferenciar-se dos concorrentes pela transformação de suas ideias em negócios.

A IBL é, portanto, uma organização empreendedora e esse seu empreendedorismo vem desde 1958. Para se ter a ideia desse fato, a Convenção Batista Mineira, instituição a qual a IBL estava vinculada, não era afeita a programas de cunho comunicacional, em rádio ou televisão. Então, a IBL ousou e de forma empreendedora começou a investir em seu próprio programa de rádio. Neste aspecto, o empreendedorismo da IBL seu deu porque ela foi a primeira igreja batista de Minas Gerais a fazer uso da comunicação radiofônica, o que segundo Tognini e Almeida (2007:94), causou uma repercussão enorme no meio evangélico no final dos anos de 1950.

A IBL foi empreendedora porque o seu programa “Renovação Espiritual” buscava atingir todo o Brasil e era veiculado em duas emissoras, na rádio Guarani, em OC, e na rádio Inconfidentes, todos os domingos, em OM e OC. A IBL foi empreendedora também porque já naquela época, de forma inovadora, buscava manter uma interatividade60 com os ouvintes do seu programa por meio de cartas. Além disso, a IBL usou o programa de rádio para divulgar livros sobre o “batismo no Espírito Santo” e também o processo de pentecostalismo que nele se desenvolvia. Um outro aspecto do empreendedorismo da IBL é a sua capacidade de descobrir novos “nichos” de mercado no campo religioso e de atuar neles com criatividade e inovação, o que vem acontecendo no decorrer de sua história.

Sendo assim, o empreendedorismo da IBL, nos últimos anos, se deu na utilização das estratégias comunicacionais e estas ligadas à cultura da mídia, novas tecnologias digitais e à música para o público jovem. De acordo com Cunha (2007:49) a partir de 1990, os recursos de comunicação fizeram surgir um novo tipo de igreja que, ao mesmo tempo, organiza-se em torno de um líder e do investimento em recursos comunicacionais. Nesse sentido, a ação empreendedora da IBL e as estratégias comunicacionais fazem com que ela utilize o que existe de mais inovador no campo da mídia (Rede Super de televisão, TV online, radio lagoinha.com, a Internet com o site da igreja, blogs de cantores, pastores e ministérios, twitter...). Mas, o maior empreendimento da IBL nestes últimos tempos é a Rede Super de

60

Há no DVD que acompanha este trabalho um vídeo sobre o programa “Renovação Espiritual”. Nele há a ênfase da interatividade com os ouvintes e também as emissoras que a IBL utilizava para propagar a sua fé.

Televisão. Contudo, no final dos anos de 1980, a IBL já havia entrado na mídia televisiva com o programa “Profetizando Vida”61, veiculado pela TV Bandeirantes.

Essas estratégias comunicacionais e esses veículos de comunicação apesar de serem chamados de mídia denominacional (md), conforme Luther King de A. Santana (2005:58) é o que dá maior visibilidade à organização religiosa, tornando-a capaz de competir de igual modo no mercado religioso e comunicacional. A Rede Super de Televisão, nessa perspectiva, pode ser vista não apenas como um empreendedorismo da IBL, mas também como uma estratégia comunicacional que favorece em muito o crescimento da organização, bem como a sua hegemonia entre as igrejas batistas de Minas Gerais. Em outras palavras, o empreendedorismo e as estratégias comunicacionais fazem parte das estratégias de crescimento das igrejas.