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A IMPLANTAÇÃO DOS LABORATÓRIOS DAS ESCOLAS INVESTIGADAS

No documento INTEGRAÇÃO E GESTÃO DE MÍDIAS NA ESCOLA (páginas 151-156)

Clésia Maria Hora Santana Cleide Jane de Sá Araújo Costa

A IMPLANTAÇÃO DOS LABORATÓRIOS DAS ESCOLAS INVESTIGADAS

Os laboratórios de informáticas chegaram às escolas no segundo semestre de 2008 implantados pelo ProInfo criado para promover o uso pedagógico da informática na rede pública de ensino fundamental e médio.

As considerações acerca dos dados coletados, assim como as observações diretas e o contato com os atores dessa pesquisa nos conduzem a corroborar com Costa e Pain (2004, p. 22) quando afirmam que “a utilização de sofisticadas tecnologias na escola requer o desenvolvimento de projetos educacionais bem

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definidos, que tenham em vista estratégias que ampliem as chances de aprendizagem de conhecimento dos alunos”. Ressalte-se que não foi constatada a presença desses projetos nas escolas A, B e C. Nesse sentido Oliveira, Costa e Moreira (2004, p. 114) ressaltam que não basta equipar a escola com computadores, faz-se mister que os professores integrem-se de modo crítico ao processo de informatização e procurem compreender a extensão das mudanças que esses recursos “podem significar na perspectiva de uma coerência inevitável entre a prática pedagógica e a base teórica sobre a qual ela se fundamenta”.

No contexto atual, o conhecimento das TIC pelo professor é uma necessidade e um desafio para o fazer pedagógico, conforme Almeida (2003, p. 104) “o conteúdo digital é um poderoso aliado para o ensino e o grande desafio é trazer essa informação aos educadores, que precisam vencer sua própria resistência a esse novo meio de acesso à informação”. Cabe ao professor estar disposto às mudanças da sociedade atual, visto que a era da informação e do conhecimento requer um processo dinâmico, o que implica repensar seu fazer pedagógico e seus saberes. No percurso de realização dessa pesquisa, buscou-se observar e conversar com membros da comunidade escolar visando conhecer esses laboratórios e os trabalhos e projetos pedagógicos neles desenvolvidos. A escola “A” é uma instituição pública de ensino médio da rede estadual, cujo laboratório de informática, implantado em 2008, revela uma nova realidade. Nela, o laboratório foi aberto ao público por um profissional alheio à escola, que passou a desenvolver um projeto de inclusão digital. A parceria realizada com a escola incluía ofertar também, o curso aos professores que nela trabalhavam e que desejassem aprender. O que de fato se realizou. Contudo, a análise dos projetos pedagógicos desenvolvidos revelou que estes não contemplavam o uso dos recursos tecnológicos ou o uso do laboratório de informática. As estratégias de trabalho do professor, no laboratório, se resumem à solicitação de pesquisas na internet, sem a devida orientação ou acompanhamento. Os professores são unânimes em alegar que não há projetos interdisciplinares direcionados ao uso do laboratório com a presença dos alunos.

Quanto às formas de participação dos alunos, observou-se que estes podem desenvolver pesquisas, caso o coordenador pedagógico esteja presente, observando- os para que não danifiquem o equipamento. Entretanto, o trabalho não tem nenhum acompanhamento ou orientação do professor e os alunos ainda pagam pela impressão do trabalho. Já os alunos queixam-se de não poder entrar no laboratório de informática para usar os equipamentos nas horas vagas. Não se visualizou nenhuma preocupação com um trabalho direcionado

com a aprendizagem por parte de nenhum dos grupos observados. Conforme Oliveira, Costa e Moreira (2004, p. 111) “o uso da informática na educação exige em especial um esforço constante dos educadores para transformar a simples utilização do computador numa abordagem educacional que favoreça efetivamente o processo de conhecimento”. As práticas pedagógicas dos professores e as políticas da escola devem centrar-se em atividades pedagógicas que favoreçam o conhecimento da sociedade, da cultura através das pesquisas, dos trabalhos em equipe que questione análise e reflita as questões da vida pessoal, social, política, econômica e cultural, desenvolvendo, portanto, habilidades e competências próprias do ensino médio.

Na escola “B”, o laboratório de informática se encontrava fechado no momento da pesquisa, não era permitido o acesso dos alunos nem a sua utilização para a realização dos seus trabalhos escolares. Os professores também não podem desenvolver atividades que envolvam os alunos, embora haja um grupo de professores que conhecem o sistema operacional instalado nos computadores (Linux), e já tenha desenvolvido projetos utilizando blog e movie-maker. Todavia, a elaboração e o desenvolvimento desses projetos não foram garantia para que esses professores pudessem ter acesso e utilizassem o laboratório de informática com a participação dos alunos. A exceção é para a pesquisa e a elaboração de aulas e atividades do corpo docente. A política administrativa da escola emperra o trabalho dos professores alegando que o espaço necessita de equipamentos como: ar condicionado, mobiliários adequados, além de um profissional preparado para orientar o trabalho docente. Impedidos de utilizar o laboratório de informática, alunos e professores não pararam com os projetos da escola, que adentraram as lan houses do município. Com o blog da escola construído desde 2008, os alunos foram orientados a criarem os seus próprios blogs, fazem pesquisas, expõem seus roteiros em slides, preparam documentários em cds e dvds buscando aliar outros recursos tecnológicos como a máquina fotográfica, o celular, a filmadora, o som, passaram o ano letivo de 2009 colocando em ação os seus projetos. De acordo com Costa e Pain (2004, p. 22) “a informação e conhecimento são ao mesmo tempo, fonte e produto do saber”. Um saber que impulsionou a comunicação, a pesquisa, desafiou e estimulou a busca pelo conhecimento crítico. Os obstáculos ocasionados pela impossibilidade de usar o laboratório serviram de ponto para discussão e reflexão sobre o papel da escola, gerando questionamentos à direção, feitos por alunos e pais, acerca da utilização desse espaço e as providências a serem tomadas.

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Luís Paulo Leopoldo Mercado (org)

Ressalta-se, que nem todos os professores participaram dos projetos, assim como não exploraram em suas aulas as TIC e os coordenadores pedagógicos não se posicionaram, fazendo parte da cultura do silêncio. A reflexão acerca da utilização do laboratório de informática na escola se fundamenta na produtividade dos alunos, considerando o interesse que a internet desperta nos mesmos e a possibilidade da combinação de textos, sons, imagens e vídeos. Os inúmeros recursos possibilitam uma prática pedagógica que contribui para a construção do conhecimento, para a aprendizagem.

Na escola “C”, o laboratório de informática tem uma estrutura diferenciada, está instalado em uma sala ampla e bem equipada e tem um instrutor responsável, contudo, no momento da pesquisa ainda não havia projetos pedagógicos desenvolvidos ou sendo trabalhados de forma interdisciplinar. O uso do laboratório de informática se restringia às pesquisas solicitadas pelos professores e realizadas pelos alunos, através da consulta à internet, sob o olhar e a orientação do monitor. No que tange as estratégias de trabalho do professor, percebeu- se que esses profissionais não utilizam os programas do laboratório para desenvolverem, com os alunos, um trabalho dinâmico de pesquisa online trabalho aliando os conteúdos ministrados à pesquisa aos bancos de informação, jornais online com fatos do cotidiano da cidade ou da escola, ou mesmo a utilização de jogos educativos, não se observou articulação entre os recursos da internet com os conteúdos curriculares.

Na mesma escola, os professores do ensino fundamental menor (2º ao 5º ano) queixam-se de ficarem excluídos, por não possuírem habilidades para lidar com o computador e por não receberem instruções para usá-los. Por conseguinte, também não levam seus alunos para o laboratório e nem dispõem de projetos interdisciplinares, logo nenhuma atividade é desenvolvida com seus alunos no laboratório de informática. Na ótica de Almeida (2007), a escola é a estruturadora do currículo, capaz de viabilizar as políticas educacionais no sentido de ofertar uma educação de qualidade e aponta as novidades na informática como além de sonho, uma necessidade dos alunos. Com relação à análise dos projetos desenvolvidos, o responsável pelo laboratório de informática, informou que nenhum dos projetos interdisciplinares desenvolvidos pela escola teve a participação de trabalhos interligados ao laboratório. E corrobora a informação de que os alunos o frequentam apenas com fins de pesquisa dos temas dados pelos professores. Eles próprios agendam o horário e fazem a sua pesquisa sem nenhuma orientação. Nesse sentido, não basta apenas equipar as escolas com laboratórios de informática, conforme Demo (2006) o grande

desafio não está na tecnologia, mas na pedagogia. Incluir digitalmente os alunos da rede pública precisa ultrapassar os projetos do governo federal com políticas escolares que viabilizem projetos na escola em que os alunos possam se apropriar dos recursos tecnológicos, buscarem informação e transformá-la em conhecimento, tendo o professor como o orientador da sua aprendizagem.

Com relação ao uso do laboratório de informática na escola cabe ressaltar as políticas administrativas desenvolvidas na mesma que acabam por reduzir a experiência do estudante a seu desempenho imediato, medido, administrado registrado e controlado de forma que a experiência do aluno passa a ser diluída numa ideologia administrativa. (GIROUX, 1997). Essa é uma realidade nas escolas campo de pesquisa nas quais os alunos precisam acomodar-se em silêncio acatar ordens conforme afirmou a direção da escola. Com relação às formas de participação dos alunos, percebe- se que a pesquisa escolar tem se constituído apenas de informações coletadas na internet, sem reflexão. Segundo o depoimento dos alunos, o resultado do trabalho dessa ‘pesquisa’ é entregue ao professor, sem nenhum momento de explanação do conteúdo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do estudo nas escolas A, B e C percebe-se que as atividades desenvolvidas nos laboratórios tiveram direcionamento diferenciado nas três unidades de ensino e que as políticas públicas direcionadas a incluir o aluno na sociedade da informação e do conhecimento com a implantação dos laboratórios de informática devem ser inseridas numa discussão que perpasse os projetos federais e estaduais no seio da escola com vistas a uma política interna.

Os resultados da pesquisa de campo ressaltam ausência de uso efetivo do laboratório de informática no contexto educativo, visto que os foram implantados em 2008 e deveriam, portanto, serem utilizados pelos alunos e seus professores em 2009, porém se encontravam em desuso ou funcionando aquém das suas reais potencialidades. A ausência de projetos e a falta de habilidades em lidar com os recursos tecnológicos, em especial com o programa existente nos laboratórios de informática, no caso o Linux, apresentou-se como fator preponderante para que o trabalho não fosse desenvolvido pelos professores. Faz-se necessário que as escolas percebam o potencial dessa ferramenta, o laboratório de informática ligado a internet, e introduzir as TIC no cotidiano escolar, promovendo o contato direto dos alunos com o computador, objetivando utilizá- las como um poderoso recurso didático de apoio à prática pedagógica dos professores. Nesse sentido, compreende-

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se o papel social da escola enquanto formadora de capital humano e a capacidade que esta precisa ter para adequar- se a diversas situações na sociedade contemporânea, dentre elas o uso dos recursos tecnológicos, visando uma utilização proficiente dos conteúdos curriculares em consonância com o que afirma Giroux (1997) e gerando conhecimento através de práticas pedagógicas motivadoras e que atendam aos interesses dos alunos.

A falta de políticas que viabilize, construa e execute projetos fazendo uso dos laboratórios de informáticas perpassa a esfera estadual e federal, estando intrínseca na relação de poder no seio das escolas, envolvendo gestão, coordenação e professores. Uma discussão que perpassa pela formação de professores e a falta de criticidade dos alunos e de seus familiares. É importante que os alunos e professores compreendam o seu papel diante da sociedade, conscientizando-se da utilização das tecnologias no contexto educativo, trabalhando com os recursos do laboratório de informática, priorizando a construção de conhecimento e a formação de alunos cidadãos críticos. E que os professores busquem superar as fragilidades da sua formação, familiarizando-se com as TIC e buscando incorporá-las ao seu cotidiano e à sua prática pedagógica, tornando-se um profissional do seu tempo.

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As tic no currículo escolAr: A contrApArtiDA escolAr

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