• Nenhum resultado encontrado

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No documento INTEGRAÇÃO E GESTÃO DE MÍDIAS NA ESCOLA (páginas 57-62)

Valdirene Maria da Silva Sandra Regina Paz da Silva

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Fizeram parte desta pesquisa 21 colaboradores, entre professores e demais administradores. Todos foram entrevistados e responderam um questionário com 30 perguntas, referentes as uso das TIC no processo de conhecimento e desenvolvimento de processos pedagógicos.

Dos professores que responderam ao questionário, 81% possuem computador. Os 19% que não possuem computador e justificam sua situação por motivos financeiros, conforme depoimentos transcritos a seguir:

58

INTEGRAÇÃO E GESTÃO DE MÍDIAS NA ESCOLA

“Já tive computador. Mas, no momento, não tenho condições para adquirí-lo. Utilizo de outras pessoas”. “Não tive possibilidade de comprar”.

Dos 21 entrevistados, 7 não justificaram porque não utilizam a sala de informática da escola. Os 14 respondentes argumentam que não utilizam as salas de informática das escolas basicamente, por duas justificativas:

1) Falta de acesso às salas, como se pode verificar nos depoimentos: “Acesso é restrito.” “O tempo de aula não nos propicia e a aula de informática é ministrada no laboratório que é reservado somente para esse fim.” “Só se pode usar a sala de informática com o professor da área, como os horários são sempre incompatíveis, não é possível.” “Impossibilidade de acesso.” “A direção da escola não disponibiliza a mesma aos professores das outras disciplinas”.

2) Tempo insuficiente, é uma das dificuldades apresentadas pelos professores: “Falta de tempo, devido a conteúdos imensos”. “Falta organização para levar os alunos para a sala de informática, além de não existirem muitos programas freeware em geografia”. “Não há tempo hábil para o professor frequentar a sala”.

Uma das questões do questionário solicitava aos respondentes que falassem sobre a importância da informática na educação. Algumas respostas obtidas: “Complementa os conteúdos exigidos pela escola, ilustrando-os”. “Auxilia nos trabalhos e pesquisas, além de estimular um contato maior com as outras culturas”. “A informática na educação é necessária porque trabalha junto com as outras disciplinas, ajudando em pesquisas e informações”.”É mais um recurso de ensino-aprendizagem”. “Quando bem trabalhada para despertar a curiosidade e melhorar aspectos da inteligência, além é claro, de romper fronteiras impostas pelo livro didático.” “A informática tornou-se o principal instrumento de absorção do conhecimento e acesso a informação”.

Dentre as respostas e comentários informais feitos pelos respondentes, pôde-se perceber que, tanto a metodologia adotada quanto os recursos utilizados no ambiente educacional refletem a visão de mundo do sujeito e a postura pessoal do professor. Tal fato foi verificado, particularmente, em alguns comentários feitos por uma professora de História, que afirmava não utilizar computadores pelo fato de esses “não terem alma”, e afirmou, também, ter sido tranquilizada ao saber que era essa a opinião do papa João Paulo II. Além disso, a professora crê que o computador inibe a criatividade do homem, provoca obesidades, problemas de visão e estatura, além de limitá-lo o homem.

Um ponto a ser destacado refere-se ao local de aplicação dos questionários, pois é possível que algumas respostas tenham sido influenciadas pelo ambiente

escolar. A observação dos resultados nos leva a perceber que existe uma relação direta entre o uso pessoal do computador e o incentivo a que os alunos utilizem o recurso: 19% não possuem computador; 10% não possuem acesso à internet; 19% não possuem conta de e-mail; 10% não incentivam os alunos a pesquisarem na internet. Resultado inversamente proporcional pode ser observado nas respostas à questão 16, sobre uso das salas de informática: somente 15% as utilizam no dia a dia.

Desta forma, os fatores que dificultam o uso de recursos computacionais em sala de aula pelos professores podem ser divididos em dois grupos: fatores organizacionais e fatores pessoais.

Como fatores organizacionais destacam-se: a dificuldade de acesso às salas de informática, que são disponibilizadas somente aos professores de informática e; a falta de tempo para utilizar os recursos computacionais aliados ao conteúdo das disciplinas. Dentre os fatores pessoais, destacam-se as crenças e a falta de aprimoramento pessoal nos recursos computacionais.

Acreditamos que o caminho para reverter tal situação passará, inevitavelmente, por uma conscientização do corpo docente sobre a necessidade de atualização pessoal e profissional, a partir de um processo de formação pautada numa lógica de reflexão/ ação/reflexão sobre a ação, de modo a possibilitar, ao profissional, um repensar das suas práticas pedagógicas e dos seus valores.

Além do aspecto supracitado, a instituição a qual o professor está vinculado, deve oportunizar recursos para a total integração entre os professores de informática e das demais disciplinas, o que inclui capacitar toda a equipe docente para uso dos recursos computacionais.

Apesar de ser um estudo realizado com uma amostragem restrita, os resultados devem ser considerados significativos pelo fato de apontarem alguns fatores que inibem ou mesmo dificultam o uso efetivo de recursos computacionais nas escolas públicas.

Como desdobramentos futuros, este estudo deverá ser ampliado para atingir outros professores da rede e também outras escolas. Pretende-se ampliar a análise de modo a futuramente investigar a postura dos professores em incentivar os alunos na utilização do computador e da internet para realização das tarefas escolares.

Ao longo da pesquisa fica evidente que as escolas têm interesses em realizar um trabalho coletivo entre gestores, coordenadores e professores. Todos trabalhando de forma integrada procurando o aperfeiçoamento das novas tecnologias com a finalidade de alcançar melhores resultados não só no processo de produção do conhecimento como no crescimento intelectual de cada aluno.

59

Luís Paulo Leopoldo Mercado (org)

De fato, o que se pôde observar é que, os professores das escolas pesquisadas têm depositado muitas expectativas e crenças em melhorias na qualidade do ensino e possibilidades de formação para os alunos. Entretanto, é preciso ter um olhar crítico sobre a questão e refletir sobre o uso de computadores no espaço escolar. O computador, sozinho, enquanto máquina, não traz mudanças.

A diferença está na prática cotidiana do professor ao utilizar o computador como ferramenta no processo de construção de conhecimento. No entanto, essa consciência está vinculada à formação do professor e a necessidade constante de atualização de seus conhecimentos.

É importante considerar que nas escolas pesquisadas há uma visão crítica das TIC e de sua incorporação no processo de ensino e aprendizagem. É fundamental ressaltar, contudo, que as dificuldades observadas não são exclusividade destas escolas, nem mesmo deste município, uma vez que podem ser constatadas em diferentes realidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade da informação e da comunicação demanda um novo olhar para o aprender e para o ensinar e, a rede tecnológica, por si mesma, não garante mudanças na educação, embora propicie novas formas de lidar com a informação, de produzir conhecimento e de estabelecer comunicação entre as pessoas. Tudo isso levou ao interesse em aprofundar, um pouco mais, o conhecimento na temática em questão.

A eficácia do uso das TIC em sala de aula, em particular o computador se deve, também, à capacidade de articulação entre as disciplinas, de superação do desafio proposto e de planejamento quanto o seu uso.

Como os desafios contemporâneos provocam em repensar da educação nas práticas pedagógicas, nossa reflexão buscou compreender o processo de melhorias nos laboratórios de informática e salas de aulas das escolas pesquisadas no município de Marechal Deodoro. Assim como compreender as implicações pedagógicas contidas nas análises aqui apresentadas visam contribuir para uma política de educação que considere o computador como uma ferramenta educacional, como uma oportunidade de mudanças na qualidade de ensino, vinculadas a uma utilização adequada das novas tecnologias da informação e comunicação.

Entretanto, pode-se questionar qual a importância das histórias aqui relatadas? Estas são escolas entre milhares de escolas, mas contando as histórias dessas escolas em particular contamos parte da história da humanidade, da sociedade contemporânea, e conhecemos alguns de seus conflitos.

Este estudo coloca-se simultaneamente numa perspectiva crítica e otimista. Crítica em relação à escola

atual, que manifestamente não satisfaz as necessidades nem dos alunos nem da sociedade. Crítica em relação ao imobilismo que continua em muitos casos a ser a força dominante procurando desculpar e justificar o que é inaceitável e não tem muitas vezes razão de subsistir. Crítica, ainda, em relação a diversas perspectivas de utilização dos computadores que estão longe de conter o poder inovador que muitas vezes lhes atribuem. Otimista porque na sociedade é cada vez maior a necessidade de que a escola tem de evoluir de forma a passar a ser, ela própria, um fator de progresso e inovação social, com vista a amplair a projetos nesta direção.

Otimista porque a experiência vivida mostra a evidência que é realmente possível que ao introduzir a informática na prática do professor de forma reflexiva e planejada poderá o computador se constituir como uma indispensável ferramenta, instrumento valioso ao auxiliar no processo ensino e aprendizagem dos educandos das escolas públicas.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, R. Uma Incursão Sobre a História Recente da Introdução dos Computadores como Instrumento Pedagógico em Portugal. Actas do Seminário Sobre Computadores

no Ensino. Departamento da Educação da Faculdade de

Ciências, Universidade de Lisboa. 1986

COSTA, M. Informática rumo ao futuro. Lisboa: Plátano, 1988.

ELIAS, M. D. C. A formação do educador e os princípios apontados pela Pedagogia Freinet. In: ELIAS, Marisa C. (Org.).

Pedagogia Freinet: teoria e prática. Campinas: Papirus, 1996.

p.25-28.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

NOGUEIRA, Nilbo R. Pedagogia dos projetos: uma jor- nada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. 3 ed. São Paulo: 2002.

NOVOA, A. (Org.). Profissão professor. Porto Codex/

Portugal: Porto Editora, 1995.

_______. Formação contínua de professores, realidades

e perspectivas, Aveiro: Universidade de Aveiro, 1991.

PEREIRA, D. C. O computador: impacto na sociedade e na educação. Porto Editora, 1985.

ROSALEN, Marilena S. Educação Infantil e informática. Piracicaba: Unimep, 2001.

60

INTEGRAÇÃO E GESTÃO DE MÍDIAS NA ESCOLA

REZENDE, D. A. Evolução da tecnologia da informação

nos últimos 45 Anos. Disponível em: <http://www.fae.edu/

publicacoes/pdf/revista_fae_business/n4_dezembro_2002/ tecnologia2_evolucao_da_informacao_nos_ultimos.pdf>. Acesso em 22 abr 2009

TERUYA, T. K. Trabalho e educação na era midiática: uma visão sociológica. São Paulo: Vozes, 2000.

TRINDADE, A. A inovação e novas tecnologias da informa- ção. Revista Inovação, vol 1, nº 1, 25-28, 1988.

VALENTE, J. A. Computadores e conhecimento: repen- sando a educação. Campinas: Unicamp, 1993.

______. (Org.). O professor no Ambiente Logo: formação e atuação. São Paulo: Unicamp/Nied , 1996.

______. Computadores e conhecimento: repensando a educação 2 ed. São Paulo. Unicamp/NIED. 1998.

______. ; ALMEIDA, F. J. Visão analítica da Informática na educação no Brasil: a questão da formação do professor.

Revista Brasileira de Informática na Educação. Sociedade

Brasileira de Computação, nº 1, set. 1997.

______. (org.) Formação de professores para o uso da

informática na escola. Campinas: Unicamp/NIED, 2003.

______. Aprendizagem por projetos é o mesmo que en-

sino por projetos? Online: disponível em < http://www.esco-

la24h.com.br/salaprof/cursoweb/aprendizagem/extra/apren dizes/projetos/aprend_ensino.htm. s. d.> Acesso em 20 jun 2010.

SIMIÃO, L. F.; REALI, A. M. O uso do computador, conheci- mento para o ensino e a aprendizagem profissional da docên- cia. In: MIZUKAMI, M. G.; REALI, A. M. (Org.) Formação

de professores, práticas pedagógicas e escola. São Carlos:

Edufscar/Inep, 2002. p. 33-34.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profis-

No documento INTEGRAÇÃO E GESTÃO DE MÍDIAS NA ESCOLA (páginas 57-62)