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A importância do planejamento para as aulas de Dança

improvisação como recursos pedagógicos

4.2.1 A importância do planejamento para as aulas de Dança

Para (OSTETTO, 2000), planejar é uma atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e significativas para e com o grupo de crianças. Nesse aspecto, o planejamento na EI é uma prática incorporada ao cotidiano dos professores e em muitos

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municípios208 é discutido e articulado em relação ao que as crianças e a comunidade apresentam como interesse.

Nesse exercício de estimular e investigar conjuntamente as prioridades das crianças, o olhar e o receber no sentido que Larrosa (2010) atribui, o planejamento torna-se recurso de investigação. Isso porque receber implica colocar-se à disposição daquele que vem, considerando cada criança como um ser singular, em que a todo o momento os diálogos precisam ser estabelecidos e realinhados conforme as necessidades surgem.

Para elaborar um roteiro com o olhar para a criança é importante embrenhar-se no universo infantil para oferecer um planejamento que forneça pistas para auxiliá-las a estabelecer as suas relações de experiência com o mundo e, nesse caso específico, com os saberes em dança.

Isso requer dos professores o acionamento de seu conhecimento sensível (GODOY, 2013), no sentido de incorporar em suas práticas vivências significativas. Isso implica um olhar atento para o contexto da educação e para as crianças. A partir das necessidades que se apresentam, o professor planeja suas ações.

Para isso, o professor precisa saber que a Dança é resultado de formas complexas de aprendizagem, logo, não ocorre espontaneamente durante o desenvolvimento da criança, ela precisa ser estimulada. Isso requer a criação de situações que despertem o interesse dos pequenos pela Dança, como uma viagem ao inexplorado, ao desconhecido, que incite a investigação e a imaginação.

Para que a Dança se efetive na EI é preciso também que esteja no projeto pedagógico da escola, em busca de conectá-la aos demais processos de ensino aprendizado. A Dança nos documentos municipais e no RCNEI aparece integrada às demais linguagens da criança, essa conexão deve ser valorizada sem deixar de lado o protagonismo de cada linguagem artística (Teatro, Música e Visuais) e o que cada uma delas pode oferecer de conhecimento específico.

Vale ressaltar que o planejamento de Dança precisa estar articulado aos objetivos nacionais de educação para a EI, as orientações municipais de ensino e ao projeto político pedagógico (PPP) de cada escola.

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No capitulo 2 apresentei como os municípios articulam esse pensamento da organização do cotidiano escolar por meio do planejamento e dos projetos pedagógicos.

189 Figura 22 – Organograma do Planejamento e suas ligações.

O planejamento funciona como uma orientação, um projeto que o professor pretende alcançar. Nele se articula o que se pretende, porque e como ensinar a Dança em relação ao tempo necessário para chegar aos objetivos escolhidos. O planejamento pode ser dividido em unidades, bimestres ou, ainda, trimestres, e normalmente são feitos para um ano de trabalho. As unidades podem ser nomeadas por temáticas específicas da Dança, com seus objetivos, conceitos e metodologia e avaliação.

Nesse sentido, ao mesmo tempo em que ele funciona como um guia, ele precisa ser flexível, para o professor ter autonomia de modificá-lo de acordo com a resposta apresentada pelas crianças durante as práticas cotidianas. Esse tipo de ação exige um olhar, uma reflexão e avaliação constante dos professores sobre as suas escolhas. Para isso, o professor precisa se perguntar: O que eu pretendo ao ensinar Dança? O que é Dança? Onde a Dança acontece? Que referências tenho de Dança? Quais as diferenças entre as Danças (Danças Cênicas, Danças Sociais, Danças Religiosas, Danças da cultura popular etc...)? Como incorporar os variados tipos de Danças na escola sem que se torne repetição de movimentos?

Além desses questionamentos, a fim de realizar um planejamento de Dança para as crianças pequenas, o professor precisa conhecer as crianças e se perguntar: Quem são?

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Quantos anos têm? Em que lugar vivem? Quais as relações de grupo que já estão estabelecidas? Quais as experiências corporais anteriores? Elas conhecem Dança? Já assistiram, apreciaram ou já dançaram de alguma maneira? Quais as Danças que elas conhecem? Como incorporar as Danças que as crianças conhecem a um ambiente escolar? Quais as relações de experiência estética da Dança que posso trabalhar? Entre outras.

A partir desses questionamentos, o professor pode pensar no porque ensinar Dança para a EI e, especificamente, quais objetivos pretende alcançar. Por exemplo: conhecer o corpo, trabalhar a expressão, comunicação e desenvolvimento da sensibilidade estética, trabalhar formas de criação, estudar as culturas corporais, melhorar as relações dos grupos, trabalhar valores e autonomia, entre outros que surgiram do olhar do professor para a criança.

Com os objetivos definidos, o planejamento inclui o como fazer, ou que caminhos utilizar para atingir os objetivos previamente estabelecidos? Quais as estratégias? Vale lembrar que para a criança pequena a ludicidade é o mote principal do processo de ensino e aprendizado, por meio das brincadeiras, jogos e improvisações. Nesse aspecto, antes de planejar as ações o professor precisa se perguntar: Os recursos pedagógicos escolhidos se relacionam com os objetivos propostos? A imaginação, o faz de conta ou a imitação se articula ao ensino de Dança? Quais brincadeiras posso trabalhar com o objetivo de ensinar Dança?

Isso posto, refletir após o planejamento executado ou reflexão sobre a ação requer um questionamento sobre a prática, ressaltando os pontos positivos, negativos e as incertezas. Para isso, após cada aula o professor necessita se perguntar: A proposta estava adequada aos interesses das crianças? Os objetivos da aula foram atingidos? As escolhas para chegar aos objetivos foram satisfatórias?

Com um olhar atento às crianças, observar: Elas participaram ativamente das propostas de Dança? Que atividade cada um prefere trabalhar? Quais as facilidades e dificuldades de cada criança? Como trabalhar o indivíduo de maneira coletiva? Os recursos de ludicidade foram aplicados de modo a envolvê-las? Como as crianças trabalharam o faz- de-conta? Usei materiais de apoio, tais como objetos cênicos, brinquedos e outros recursos que auxiliaram no faz de conta e na transformação da brincadeira em Dança? As crianças aceitaram as propostas individuais e as coletivas de maneira a acolher a todos? O grupo acolheu as diferenças? Entre outras perguntas que possam surgir a partir da observação sobre a prática para expor, ponderar e avaliar os processos da própria atuação do professor, uma análise sobre os fatos que o indivíduo realiza a posteriori.

191 Para realizar esse exercício de olhar retrospectivamente sobre os fatos, o professor pode registrar em diários de bordo as aulas e as reflexões sobre a sua ação, a fim de facilitar a busca da relação da prática com a teoria como indissociáveis, como apontado nos pressupostos importantes para o ensino e aprendizado em Dança209. O ato de registrar a prática aliado ao planejamento, observação e reflexão contribui para o processo de formação profissional do professor, pois partindo das inquietações levantadas possibilita a reestruturação das práticas pedagógicas.

Essa ideia de (re) avaliação das próprias práticas remete à ideia do professor reflexivo trazida por Schön (2000) em busca um novo saber docente que se constrói em contato a prática por meio da ação, reflexão e volta à ação. A reflexão sobre Dança na EI tem em vista um professor crítico e transformador que aprofunda e aprimora os saberes em dança. Esse conceito colocado em ação auxilia o professor a trabalhar no terreno das incertezas, em situações singulares, instáveis, conflituosas, e oportuniza a caracterização do ensino de Dança como uma prática social transformadora (GODOY, 2003).