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Uma conversa com os professores das crianças que dançam.

improvisação como recursos pedagógicos

4.1.3 Uma conversa com os professores das crianças que dançam.

Inicio esse subitem trazendo outro depoimento do curso Poéticas, para ilustrar uma

visão que é recorrente nos professores que não conhecem a linguagem da Dança. ―Antes eu

não pensava Dança, somente reproduzia os movimentos. Ao entender a Dança como uma linguagem percebi o que a Dança pode ensinar. A linguagem permite nos comunicar com o

mundo‖. (tutora/formadora, questionário final, 27/11/2012).

Por iniciar esse diálogo com os professores recorro previamente à compreensão da Dança como uma linguagem artística; com um sistema de signos próprios que permite a comunicação por meio do corpo e do movimento. Isso significa que ela possui um conjunto organizado de elementos com possibilidades de combinação potencialmente estética que produzem significados (MARQUES, 2010).

Nascida em uma cultura historicamente constituída, a criança é um ser simbólico e de linguagem. Sua experiência nessa e em outras culturas vai lhe exigir e possibilitar apropriação de múltiplos signos criados pelos homens para dar sentido a suas relações com o mundo da natureza e o da cultura, que incluem o mundo da técnica, da ciência, da política e das artes, dentre outras áreas de produção humana, e a si mesma. (SÃO PAULO, 2007, p. 17)

GODOY (2011) destaca que as linguagens são construídas por signos. Uma vez nos corpos que dançam, eles podem ser articulados segundo um conjunto de regras e possibilidades chamado de código. Para ser capaz de ler e fazer a Dança, o sujeito precisa conhecer e relacionar os códigos da linguagem, signos e componentes. O corpo em movimento é responsável por comunicar os códigos da Dança por meio de seus elementos, tais como as ações corporais, as variações de dinâmicas e de movimento, o uso de espaço, tempo e dos ritmos variados. A combinação desses elementos aliados à expressividade,

207―A sensibilidade estética surge nesse processo de percepção dos objetos que transcende a dimensão utilitária

direta e ultrapassa uma atitude unívoca diante da realidade. Na relação estética o sujeito entra em contato com o

objeto mediante a totalidade de sua riqueza humana, não apenas sensível, mas também intelectiva e afetiva‖.

Fonte: CAMARGO, D. de e; BULGACOV, Y. L. M. A perspectiva estética e expressiva na escola: articulando conceitos da psicologia sócio histórica. Psicol. estud., Maringá , v. 13, n. 3, p. 467- 475, Set. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 73722008000300007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 fev. 2016.

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criatividade e intencionalidade de movimento constituem a Dança como forma de linguagem.

Nesse contexto, da Dança como linguagem, que abrange a comunicação por meio do conhecimento do corpo, do espaço, ritmo, peso, entre outros, é importante o professor compreender que apenas conhecer esses signos e códigos não é o suficiente para se ensinar Dança. É preciso que essas informações sejam acionadas em forma de saberes em dança

(GODOY, 2013), um conhecimento em que a experiência é incorporada. ―A criança constrói

conhecimentos por meio de múltiplas experiências que passam pelo corpo, por seus sentidos,

construindo significados do vivido‖ (GUARULHOS, 2010, p. 30).

Dessa maneira, os saberes em dança não podem ser ensinados, mas sim experienciados. A ideia é possibilitar a disseminação dessas experiências por meio da apropriação feita pelos sujeitos (professores e crianças) do que é único da linguagem e os sentidos atribuídos à Dança pelo indivíduo e pelo coletivo.

Nos estudos de Godoy (2013; 2014), os saberes se constroem a partir da vivência que na Dança acontece no corpo do indivíduo. A partir do sentido da experiência (LARROSA, 2002), o sujeito dançante se apropria, in-corpora (vive pelo corpo) o acontecimento para transformar a vivência em experiência. Outro conceito desenvolvido por Godoy (2013), o conhecimento sensível, complementa esse pensamento, já que para esta autora o conhecimento é construído a partir dos saberes estabelecido pelo sujeito, a partir do olhar para a sensibilidade e estesia e em conexão com o contexto que cada um está inserido.

Para trabalhar com o ensino de Dança, tendo em vista o conhecimento sensível, destaco três pressupostos vivenciados e experienciados por mim durante a construção desta tese e estabelecidos pelo GPDEE que entendo como importantes para a relação de ensino e aprendizado em Dança: a) práxis como premissa de trabalho; b) a efetivação da práxis no processo de trabalho; c) a partilha.

O primeiro pressuposto parte das ideias de Schön (apud PIMENTA, 2002), que relata que é preciso partir da prática como forma de realizar modificações no dia a dia. O conceito de práxis é apresentado como uma ação transformadora realizada pelo sujeito e pela qual ele se modifica ao mesmo tempo em que muda o mundo que o cerca (COUTINHO, 2012).

O segundo pressuposto aponta a práxis como uma perspectiva crítico-reflexiva que leva à reformulação do trabalho do professor. Ou seja, uma constante reconstrução pela observação do processo e a reprogramação do que foi planejado, por meio da reflexão posterior do professor junto com a equipe de trabalho e consigo. É importante partir do que

187 ocorreu na prática como forma de realizar modificações em ações futuras, com o intuito da efetivação da práxis no processo de trabalho. Isso posto, o professor de Dança, não se apresenta como um reprodutor de exercícios, coreografias ou modelos de aulas, focado em aquisição de habilidades ou transferência de conteúdos. Ele constrói as suas práticas diárias baseadas em conhecimentos anteriores, advindos dos processos de formação e da própria prática pedagógica, onde se coloca como protagonista no processo de construção de conhecimentos sensíveis em Dança.

Vale ressaltar que professor de Dança na EI não está sozinho no ambiente escolar. Ele está inserido em uma rede de colaborações de profissionais da educação e da comunidade. Desse modo, o último pressuposto parte do trabalho coletivo, que organizado como campo de experimentação e pesquisa pode ser concebido como um lócus do conhecimento sensível, por meio das práticas impulsionadas pela relação dos professores com o contexto.

Dessa maneira, para que esse conhecimento se efetive é importante compartilhar com seus pares os sentidos e significados das propostas de Dança para gerar o conhecimento advindo da relação, das teorias e das práticas a fim de estabelecê-las como uma só fonte de saber.

A partir dessas experiências, os professores podem se apropriar dos saberes em dança para construir o conhecimento sensível e, a partir dele, partilhar, interagir, modificar, identificar e buscar suas próprias referências em Dança voltada para EI.

Isso vai além do simples interesse dos professores em ensinar Dança. Necessita que por meio de experiências estéticas, artísticas, a Dança seja incorporada, vivenciada, experienciada e transposta para a criança pequena.

4.2 ANTES DAS CRIANÇAS DANÇAREM