Cada coisa em seu lugar: o Movimento, a Dança e seus temas correlatos

A seguir, apresento as áreas temáticas e os critérios utilizados para agrupar os textos34 em cada uma delas.

a)Perspectivas da Educação Física para o Movimento na Educação Infantil – Os

trabalhos desse grupo abordam o corpo e o movimento como expressão da cultura corporal. O movimento da criança no contexto educativo é discutido como necessidade

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A rede integra pesquisa, ensino e extensão em Dança, com a intenção de abarcar ―[...] o campo da Educação brasileira, sobretudo o ensino superior, ressaltando a relação estabelecida com a escola formal e não formal, no sentido de contribuir para mudanças efetivas na formação do profissional em Dança em seus aspectos sociais, políticos, culturais e históricos‖. (COOPERAC, 2013), para maiores detalhes consultar o

site <http://www.cooperacdanca.org/>. Acesso em: 22 mar. 2015.

33 _{Uma das ações da Cooperac são os ENGRUPEs, que possuem a finalidade de ―promover o diálogo e o}

intercâmbio entre pesquisadores participantes e líderes de grupos de pesquisas certificados pelo CNPq, fomentando, com isso, o reconhecimento da produção multidisciplinar na área. Os encontros também almejam intensificar a rede de cooperação acadêmica entre os grupos de pesquisas que participam do evento, por meio de ações que contribuam para a qualificação da pesquisa junto aos programas e instituições envolvidas, beneficiando professores, pesquisadores, alunos de graduação e de pós-graduação.‖ (COOPERAC, 2013), para maiores detalhes consultar o site <http://www.cooperacdanca.org/>. Acesso em: 22 mar. 2015.

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47 físico-motora do desenvolvimento infantil. Os textos trazem relatos de experiências pedagógicas, discutindo o papel de conteúdos como a Dança, os jogos e as brincadeiras na Educação Infantil sob o viés da Educação Física.

Sobre os trabalhos:

Parte desses trabalhos buscam estabelecer uma relação entre a prática pedagógica, os processos de aprendizagem e desenvolvimento e o papel da Educação Física e da cultura corporal na infância.

Como aporte teórico, trazem contribuições dos autores de referência35 Henri Wallon (1975; 1998) e Lev S. Vygotsky (1994) para abordar o movimento, o jogo, a afetividade e a interação. Para a teoria do ensino desenvolvimental utilizam Davidov (1988), que orienta as ações do professor para organizar a aprendizagem dos alunos.

A partir desses autores os textos apresentam questionamentos como: Que ações de aprendizagem podem ser propostas no ensino do movimento corporal? Que repercussões terá o ensino desenvolvimental nos sujeitos envolvidos? Quais as vantagens e possíveis dificuldades no uso das teorias do desenvolvimento para o ensino do movimento corporal na Educação Infantil? Outros trabalhos dessa área temática têm como objetivo reunir algumas experiências vivenciadas na formação inicial (e continuada) dos cursos de Pedagogia e Educação Física com momentos de observação da atuação desses profissionais na Educação Infantil. A busca se fundamenta em uma aproximação do ―educar e cuidar‖ do corpo e o papel do movimento corporal da criança no contexto educativo, como uma necessidade físico-motora do desenvolvimento infantil. De uma maneira geral, os textos apontam temas que estão sendo discutidos pela Educação Física, que destacam o movimento e a expressão corporal como forma de linguagem da criança. Neste caso, a expressão corporal é considerada fenômeno da cultura corporal presente na Educação Física e que dialoga com a Educação Infantil.

b)Dança na Educação Infantil e Experiências Pedagógicas – Os textos foram reunidos

por abordar metodologias, organização de conteúdos e análise de propostas para o ensino da Dança na Educação Infantil. Esses trabalhos tratam da aquisição do conhecimento sobre a linguagem da Dança e do Movimento pelos professores de Educação Infantil nas situações de formação (inicial e continuada) por meio de relatos de experiências.

35 _{Denomino autores de referência àqueles que possuem grande produção na área de conhecimento à qual}

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Sobre os trabalhos:

Os trabalhos buscam explorar a Dança na Educação Infantil como linguagem artística que dialogue com as características e necessidades das crianças pequenas. Em sua maioria, oferecerem propostas metodológicas e relatos de experiência pedagógica voltada para o trabalho de Dança na escola. Alguns textos buscam analisar propostas de Dança para a criança, já existentes nas práticas escolares e currículos de formação de professores. Uma parte dos textos se utiliza de autores como Henri Wallon (1975), Dantas (1992), Galvão (1995), Mahoney e Almeida (2004, 2009), Nunes (2000), Laban (1978, 1990), Marques (1995, 1996, 1997, 2003, 2004, 2010, 2012), Rengel (2003, 2004), Godoy (2003, 2007, 2008, 2010, 2011), Vieira et al. (2008, 2010, 2011, 2014) e Schön (1992). Outros têm como base a sócio antropologia do cotidiano, tendo como principais teóricos Edgar Morin (1999, 2002) e Michel Maffesoli (1995, 2004). E alguns ainda, utilizam Jean Le Boulch (1984, 1988) e Vitor da Fonseca (1996) – abordagem psicomotora.

c)Movimento – Jogos Corporais e Dimensão Lúdica – Os artigos e dissertações

selecionados abordam a valorização dos jogos corporais e atividades lúdicas centradas no processo de desenvolvimento infantil. Apresentam o jogo, a ludicidade e suas contribuições para o desenvolvimento cognitivo, relatando atividades e destacando a importância do lúdico na sala de aula.

Sobre os trabalhos:

Parte das produções está fundamentada na Teoria Desenvolvimento Cognitivo, de Piaget (1958, 1971) e discutem a importância da utilização do jogo como instrumento de observação e análise da compreensão interpessoal durante a brincadeira. As demais referências teóricas para os jogos utilizadas partem dos estudos de Johan Huizinga (1980), João Batista Freire (1997; 2005), Lino de Macedo (1999), Clarice Cohn (2005) e Adriana Friedmann (2005).

Os trabalhos desse grupo consideram o jogo, a brincadeira e o lúdico como recursos pedagógicos para a Educação Infantil. Além disso, tratam de observar e verificar como os professores utilizam o movimento corporal por meio das atividades lúdicas na Educação Infantil. Os conceitos se baseiam nos estudos de Saviani (1996) (saber atitudinal), de Guenther (2000) (talento psicossocial), de Rios (2002) (dimensão estética), de Chantraine- Demailly (1995) (competência relacional), de Gardner (1995, 1999) (inteligência interpessoal), Schön (1992) (conhecimento tácito) e Kishimoto (1997), que desenvolve trabalhos sobre o lúdico na formação do educador.

49 d)Reflexões a Respeito do Ensino da Dança para a Educação Infantil – Estes estudos

trazem a reflexão sobre a importância da inserção do ensino de Dança na Educação Infantil.

Sobre os trabalhos:

Parte dos textos tem a preocupação de discutir os pressupostos históricos, educacionais e artísticos da Dança criativa sob a luz de uma proposta contemporânea para o ensino de Dança voltado para as crianças pequenas. Apresentam e conceituam a linguagem artística da Dança como uma possibilidade de conhecimento de mundo na Educação Infantil.

Outros trabalhos dessa área temática pretendem buscar possíveis relações pedagógicas entre o processo de ensino-aprendizagem da Dança em aulas de Educação Infantil e relações com as teorias de Wallon (1998); Vygotsky (1994); Laplane (2005); Schön (1992); Freinet (1991) e Piaget (1958). Como referências de Dança, os autores apresentados são: Laban (1990), Vianna (1990), Rengel (2006), Marques (2003), Strazzacappa (2001, 2006) e Godoy (2003, 2007).

e)Experiências Pedagógicas para o Movimento na Educação Infantil – Os textos

refletem sobre as experiências pedagógicas especificamente para o movimento, voltadas para o ensino da Educação Física, sem citar a Dança, além de abordar o movimento corporal da criança no seu processo de aquisição e construção de conhecimentos.

Sobre os trabalhos:

Os textos discutem o trabalho com o movimento corporal da criança na Educação Infantil como forma de expressão, comunicação e interação. Enunciam a importância de uma formação de professores voltada para o humano, englobando elementos do sensível, afetivo, ético, estético, que fazem parte do processo de desenvolvimento. Apresentam como justificativa para a realização de atividades corporais a crítica à disciplinarização e adestramento baseada em Foucault (1999). Abordam teorias sobre a corporeidade proveniente das relações psicossomáticas de Reich (2009), da Psicomotricidade e da Psicomotricidade Relacional de Lapierre (2002) e da Bioenergética, de Reich (1972). Apresentam as fases do desenvolvimento motriz da criança como o fator que possibilita a aquisição de aprendizagens por meio das abordagens, construtivista (FREIRE, 1996; MATTOS E NEIRA, 2003), sócio-histórica (VYGOTSKY, 1994), recreacionista (WERNECK, 2003; WAICHMAN, 2002; MARCELLINO, 2002).

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nas universidades ou em estágios de observação. O movimento nesta área temática está voltado para a Educação Física abordada como construção sociocultural. Os textos apresentam sistematizações e ou proposições para um encaminhamento pedagógico da Educação Física no âmbito da Educação Infantil.

f) Concepção de Corpo e Movimento na Educação Infantil – Os textos foram agrupados

por trazer conceitos de corpo e movimento, expressão corporal, criatividade e as diferentes abordagens do tema na escola.

Sobre os trabalhos:

Esses trabalhos trazem uma concepção de corpo ligada a princípios cartesianos que, de acordo com Sérgio (2009), consiste na separação corpo-alma, acompanhado de um conceito de saúde, centrado no corpo-máquina e na plena autoridade do médico.

Uma parte dos textos enfatiza a perspectiva educacional espontaneísta, em que não há compromisso efetivo da escola com o desenvolvimento, porque este acontecerá naturalmente. Outra parte dos trabalhos fundamenta-se numa abordagem construtivista sobre o movimento. Também encontrei abordagens sobre desenvolvimento cognitivo e corporal, segundo a teoria de Henri Wallon (1975) apud Galvão (1995) e a questão do corpo disciplinado discutida por Foucault (1997).

Além disso, as pesquisas demonstram como os discursos das práticas educativas quanto à concepção de corpo/movimento estão submetidos aos processos cognitivos e às teorias do desenvolvimento humano.

Os textos ainda discutem a concepção de corpo e movimento ao longo da história e sua relação com a educação na atualidade por meio de Moreira (1995), Freire (1997), Merleau-Ponty (1996), Morin (1999) e reconhecem que os professores ainda não possuem clareza nas concepções de corpo e movimento para infância.

g)Legislação e o Movimento – Os textos apresentam interpretações, análises e críticas

do RCNEI (v. 3 – Movimento), da Legislação e dos Documentos Publicados pelo Ministério da Educação, que regulamentam a Educação Infantil.

Sobre os trabalhos:

Sob uma perspectiva histórico-cultural, defendem que o movimento seja parte da cultura acumulada pela sociedade ao longo de sua história. Os textos evidenciam que as atividades de Movimento na proposta dos RCNEI (1998c) não são apresentadas com clareza, permitindo que diversas posturas pedagógicas sejam assumidas pelos professores de Educação Infantil.

51 h)Perspectivas do Movimento para a Psicologia do Desenvolvimento – As pesquisas

organizam referências na área da Psicologia da Educação que abordam o movimento no desenvolvimento e educação da criança de 3 a 6 anos. Bem como o movimento em relação aos autores Piaget (1977), Vygotsky (1994) e Wallon (1998).

Sobre os trabalhos:

Apresentam uma organização de referências da Psicologia da Educação que abordam o movimento no desenvolvimento e educação da criança. Os textos investigam a contribuição das atividades psicomotoras para o desenvolvimento de crianças, partindo de autores como Wallon (1998), Leontiev (2001), Vygotsky (1994), Le Boulch (1984, 1988) Huizinga (1980), Piaget (1971) e Fonseca (1996).

Destacam também a importância da ludicidade no processo do desenvolvimento infantil e o uso do jogo, da brincadeira e do brinquedo como facilitadores do desenvolvimento motor e parte da construção do conhecimento da criança.

i) Movimento e as Formas de Linguagem e Comunicação – As pesquisas agrupadas

nesse tema tratam da apropriação do movimento como forma de linguagem e comunicação por meio de seus signos, apresentados pelos professores de Educação Infantil nas situações de ensino e aprendizagem.

Sobre os trabalhos:

Os textos investigam a articulação na prática pedagógica da Educação Infantil que viabilize o movimento como linguagem e suas relações comunicativas.

A compreensão do movimento parte da teoria do Se-Movimentar (SILVA, 2012), de base fenomenológica, para a qual o movimento é ação expressiva e significativa dos sujeitos na relação com o mundo. Os textos elegem dois princípios necessários para uma prática comunicativa: a capacidade de perceber e interpretar as expressividades significativas das crianças e a disposição para o compartilhamento das experiências pedagógicas.

Nesses trabalhos são analisados os diferentes modos de discurso que o corpo da criança utiliza para exteriorizar seus pensamentos e emoções: a fala, os gestos e os movimentos.

Utilizam ainda autores conheci dos na área da Semiótica, como Peirce (1995) apud Santaella (2007), abordam a concepção dialógica do movimento humano, trazida por Kunz (2001) e as relações comunicativas, apresentada por Ferrara (2002).

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