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2. O ADVENTISMO E A MENSAGEM DE SAÚDE NO BRASIL

2.6 A importância de Ellen G White para o estabelecimento das instituições

Esta última parte, do segundo capítulo, tem como objetivo resumir, em linhas gerais, a influência de White no estabelecimento, construção e manutenção das instituições adventistas. Foram imprescindíveis as instruções Whiteanas para a denominação adventista do sétimo dia. Muitos são os autores que percebem a grande influência de White na formação denominacional. Knight (2005), (2003), Greenleaf (2011), Schwarz (2009), Hosakawa (2003), Novaes (2016), Santos (2016) e muitos outros percebem que as instruções de White foram essenciais para o sucesso das instituições adventistas, seja no Brasil ou em outras partes do mundo. Restringindo essa parte da discussão ao discurso teológico construído sobre White, essa parte não pretende reafirmar o papel de White na denominação. Trata-se de perceber em que medida os autores consideram a mensagem de White como tendo sido essencial para o desenvolvimento das instituições adventistas.

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É preciso lembrar, que o primeiro capítulo deu vislumbres sobre a, “ascensão” de White como profetiza na denominação adventista. Diferente desta parte, que já se tratou no primeiro capítulo, essa parte pretende mostrar como os autores contemporâneos, que comentam sobre as instituições adventistas percebem as mesmas, como sendo resultado direto da influência de White. As instituições de saúde, educação e publicações, podem ser consideradas uma proposta, originalmente, Whiteana? Já foi possível perceber que White, não apresentou algo originalmente seu, seja na saúde, educação, ou publicações, mas acresceu importantes características que diferenciaram as instituições adventistas de todas as outras.

O pensamento de ser a mensagem de saúde o “braço direito” da instituição está bastante cristalizado na mentalidade denominacional. E como define Froés (2014, p.84): “O movimento adventista deveria buscar cura para a enfermidade do pecado, mas também, a de melhorar a condição humana ao servirem como bons samaritanos aos enfermos”. As diversas formas utilizadas para espalhar a mensagem de saúde adventista deixavam claro, o quanto White guiava o pensamento denominacional. Essa variedade de metodologias no estabelecimento da presença adventista levava em consideração o ambiente, a condição social e outras características. “Às vezes uma clínica, uma lancha fluvial equipada com recursos médicos, ou alguma outra instituição orientada em função da saúde como: escola de medicina, enfermagem, [...] artigos e livros de Ellen White sobre o assunto”, deixava clara a presença do pensamento whiteano na mensagem de saúde e, por conseguinte, o estabelecimento das instituições (FROES, 2014, p. 95-86).

No campo Sul Americano, a presença do pensamento Whiteano pode se fazer mais presente, do que talvez em outros países que não tiveram tanta resistência à entrada da obra médico missionária. No princípio do desenvolvimento denominacional na América do Sul, como já colocado anteriormente, a principal metodologia empregada para disseminação da mensagem de saúde, esteve restrita à obra de publicações. Uma série de dificuldades impedia a atuação médica dos missionários na região sul americana. A dificuldade em adquirir credenciais médicas e outras questões fez com que livros e artigos de White, fossem a única forma dos sul-americanos terem acesso a mensagem de saúde adventista por um longo período (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009).

Uma vez que os principais objetivos de White com a mensagem de saúde não se restringiam à longevidade, Fróes (2014, p. 87) destaca que foram três os objetivos de sua mensagem, a saber:

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1º) Beneficiar doentes e sofredores adventistas e não adventistas que precisassem das vantagens não encontradas nos populares “tratamentos hidroterápicos”; 2º ser um meio de divulgar os pontos de vista adventista a muitos, que dificilmente seriam alcançados pelos métodos comuns de pregação. 3º) um lugar onde as pessoas aprendam a ficar sãs.

Mesmo que personagens como, o Dr. Kellogg, tenham sido importantes para o desenvolvimento e progresso da mensagem de saúde, este não fora o idealizador da mensagem de saúde. White foi a responsável e, em parte os dirigentes da Associação Geral, pela referência que se tornaria as instituições de saúde adventistas no mundo. Interessante é perceber como muitas vezes os escritos whiteanos se tornariam argumentação para determinadas situações da denominação. Por exemplo, em sua tese: O Problema Adventismo Televisão: Uma Análise do Pensamento Adventista sobre a Tv a Partir da Tipologia de H. Richard Niebuhr em Cristo e Cultura (2016), Allan Macedo Novaes, deixa claro a relevância que as instruções de White tiveram para estabelecer um parecer negativo quanto a utilização desses aparelhos televisivos e cinema.

A respeito do status que os escritos de White possuíam Novaes (2016, p.87), declara que:

Nesse período de tensão entre tradição e modernidade, um dos principais temas debatidos pela igreja foi a validade, alcance e inspiração dos escritos de Ellen White, que havia falecido em 1915. Embora tivesse seu início calcado no Estudo sistemático das Escrituras desde o legado Millerita, nas primeiras décadas dos anos 1900 os textos de Ellen White ganharam entre a membresia um status que chegava a rivalizar com as Escrituras.

Outro exemplo que pode ajudar a medir a influência de White e seus escritos na denominação adventista aconteceu no episódio da Assembleia de 1888, Minneapolis, EUA. Nesta conferência, onde foram estudadas questões ligadas à justificação pela fé, White desempenhou um papel de grande importância. Um dos protagonistas, George Butler, então presidente da Associação Geral, reconhecia a importância que White tinha na denominação. Sobre Butler:

Uma característica [...] que não devemos passar por alto antes de prosseguirmos, era a sua concepção de liderança. Ele acreditava, em termos bem definidos, que sua posição como presidente da Associação Geral não apenas lhe conferia autoridade para praticar atos em nome de outros, mas também dotava-o de “pontos de vista mais claros que os outros” quando se tratava de questões doutrinarias (KNIGHT, 2003, p. 25).

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Em outras palavras, mesmo os mais relutantes se sujeitavam a mensagem de White. Knight (2003, p. 40) descreve um momento onde fica claro a importância que as instruções de White tiveram na denominação. Neste momento, Butler, havia escrito “uma série de cartas a Ellen G. White, então na Europa, a fim de pedir que o ajudasse a combater Jones e Waggoner [...] O mínimo que se pode dizer é que o silêncio de Ellen White, à repetida solicitação de Butler, o deixou bastante frustrado”. Um outro exemplo de liderança de White é citado por Schwarz e Greenleaf (2009, p.196), quando a mesma estava na Austrália, “enfrentou a emergência chamando voluntários e liderando seu próprio pessoal para ajudar a carregar tijolos, pregar o soalho e pintar paredes”.

Mas, para além da importância nos aspectos teológicos, a influência de White deu-se de forma mais precisa no desenvolvimento das instituições adventistas, que, em princípio, foram suas elaborações. Sua pro atividade e iniciativa, garantiram-lhe destaque diante das situações onde a Associação Geral considerava perdida. O caso de Avondale é um bom exemplo desta visão e liderança que White possuía. Enquanto a Associação Geral queria garantias para investir no estabelecimento da instituição, White mostrava como se dava a atuação "divina".

Embora um pagamento inicial tivesse sido feito pela propriedade de Coorabong, alguns dos homens agora começaram a vacilar, mas não Ellen G. White. Ela estava certa de que Deus “estenderia uma mesa no deserto”. A Sra. White demonstrou sua fé comprando alguns acres da propriedade, construindo ali uma casa e plantando várias árvores frutíferas. Ela pessoalmente tomou empréstimo de 5 mil dólares a fim de, por sua vez, emprestá-los à escola para que a construção do edifício pudesse começar (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p.196).

Considerando que o empreendimento australiano se tornou um modelo para a implantação de outros colégios adventistas no mundo todo, é inegável a importância que as iniciativas de White tiveram para implantação desta e outras instituições. O impacto que as iniciativas e instruções de White tiveram no final do século XIX, na educação e saúde, foi significativo. A importância que White haveria de ter na reforma educacional que atingiu o Battle Creek College, em 1897, aumentaria a responsabilidade e comprometimento dos que estavam engajados no desenvolvimento das instituições. Por volta de março [1897], [...] vários artigos na Review and Heralds descreveram o desenvolvimento de Avondale segundo o modelo defendido por Ellen G. White. Esses artigos tocaram um ponto sensível do coração de vários líderes [...], que favoreciam a reforma” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p.198).

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Santos (2016), em sua Dissertação: Internatos Adventistas no Brasil em questão: Os discursos de permanência da filosofia e das práticas educacionais e os indicativos de ocorrência de atualização na condição pós-moderna deixam clara a importância de White para a filosofia educacional adventista. Todos os pesquisadores, inclusive Santos (2016), recorrem ao episódio de, 1897, em Avondale College, para mensurar a influência que White teve nas instituições. “Foi sob a orientação pessoal de Ellen White e segundo os princípios educacionais assumidos na convenção de Harbor Springs. O resultado foi que o Avondale School se tornou o padrão para as escolas adventistas em regime de internato” (SANTOS, 2016, p.12). Esses são apenas alguns dos exemplos que apontam para a influência de White no desenvolvimento institucional.

Desse modo, pode-se compreender o desenvolvimento das instituições adventistas nas figuras da educação e saúde, tendo como principal idealizador e incentivador a pessoa e os escritos de Ellen G. White. Assim, parece razoável observar a Superbom como uma instituição calcada nos escritos e ideais de White. Afinal, a Superbom, a princípio, tratava-se de um setor da área de educação que se desenvolveu e quando autônoma, continuou comprometida com a proposta de saúde que lhe são particulares. Além das contribuições no desenvolvimento teológico, White teve mais regularidade e relevância no desenvolvimento institucional. Os modelos por ela estabelecidos continuam sendo relevantes na visão de muitos autores e pesquisadores, sejam nacionais ou internacionais.

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