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O comportamento dos adeptos do Adventismo, antes do período que é chamado de reorganização (1888-1945), é algo a ser compreendido. Foi com o intuito de modificar este comportamento que a “era de reorganização” se tornou possível. Os momentos que se seguiram ao evento do “grande desapontamento”, apresentam um Adventismo em busca de identidade. Afinal, antes, o movimento tinha um único objetivo: preparar-se para a segunda vinda de Cristo. Assim, os momentos pós 1844, mostraram o desenvolvimento teológico do Adventismo em busca de doutrinas particularmente suas. Essa parte pretende mostrar a necessária transformação de mentalidade adventista, e a atuação da obra Médico-Missionária como agente da mensagem de saúde Whiteana.

Observando o mainstream religioso estadunidense vê-se que não parecia algo complexo, levar a mensagem do evangelho para os, batistas, metodistas, presbiterianos, entre outros. Afinal, todas estas denominações derivavam de uma matriz cristã. No entanto, o que se observou foi um Adventismo engajado em conflitos teológicos. “O importante, seguindo a lógica, era pregar as verdades distintivamente adventistas, para que as pessoas se convencessem de outras questões importantes” (KNIGHT, 2003, p. 21). E tendo em vista que buscava identidade, o desenvolvimento de uma teologia particular mostrava-se como uma solução para o futuro da denominação.

Os momentos que se seguiram pós desapontamento, com essa mentalidade, apontavam para uma reação hostil por parte dos “opositores”. Conta-se que os resultados de anos desse estilo de pregação acarretaram em uma espécie de separação entre o Adventismo e o cristianismo em geral. Uma vez que o Adventismo buscava fortalecer suas práticas proselitistas, viu-se com problemas de aceitação pública. “Os métodos combativos dos evangelistas adventistas fizeram deles polemistas mais interessados em vencer na base de um bom argumento bíblico do que em expressar amor aos que deles discordavam” (KNIGHT, 2003, p. 21). Com isso, muitos compreendiam que os adventistas não aceitavam a Cristo, tampouco nele acreditavam, afinal de contas, muito se falava em lei, mas poucos praticavam o amor apresentado pelo Cristo.

O ponto de convergência desse comportamento aconteceria antes de adentrar no período de reorganização. A assembleia de 1888 em Minneapolis foi essencial para a correção de rumos teológicos da denominação, bem como para a modificação da

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sensibilidade dos adventistas diante do objetivo da Grande Comissão5. Knight (2003, p.22) relata que:

“Durante a assembleia da Associação Geral de Minneapolis em 1888, esse espírito ácido, afiado até ficar bem pontiagudo pelos repetidos debates, não foi direcionado contra outras denominações, mas contra os próprios pregadores adventistas”. A denominação seria alvo da ferina argumentação que desenvolvera ao longo de 40 anos de pregação distintivamente adventista.

Seria em 1888 que a denominação estaria pronta para correção dos rumos teológicos que a definiam. Que sem dúvida teve forte influência sobre a identidade missionária da denominação. Knight (2003, p. 17-18) resume a essência da mensagem de 1888 em:

Esta mensagem devia pôr de maneira mais preeminente diante do mundo o salvador crucificado, o sacrifício pelos pecados de todo o mundo. Apresentava a justificação pela fé no Fiador; convidava o povo para receber a justiça de Cristo, que se manifesta na obediência a todos os mandamentos de Deus. Muitos perderam Jesus de vista. Deviam ter tido o olhar fixo em sua divina pessoa, em Seus méritos e em seu imutável amor pela família humana. Todo o poder foi entregue em Suas mãos, para que Ele pudesse dar ricos dons aos homens, transmitindo o inestimável dom de Sua justiça ao impotente ser humano.

Esse seria o resumo, ou melhor, a essência da mensagem de 1888. No entanto, a mensagem também pode ser dívida em tópicos. (1) O salvador crucificado. (2) Justificação pela fé em Jesus. (3) A relação entre a Justiça de Cristo e a obediência aos mandamentos de Deus. (4) a necessidade de os adventistas focalizarem a atenção em Jesus. (5) a justiça de Cristo ou a justiça pela fé guarda íntima relação com a terceira mensagem angélica. (6) Cristo morre em expiação pelos pecados da humanidade. (7) Jesus tem bênçãos especiais para os seus filhos. (8) A ênfase na lei, em contraste com o sacrifício de Cristo. (9) a vida da igreja consiste na fé do salvador crucificado e ressurreto. (10) O alvo de satanás é inebriar a igreja quanto ao papel de cristo na vida de cada cristão. Esses tópicos resumem as preocupações levantadas na assembleia da Associação Geral de 1888 em Minneapolis. Uma teologia centralizada na figura de cristo teve uma forte influência na transformação das práticas missiologicas da denominação. É o que se costuma chamar de teologia cristocêntrica (Knight, 2003).

5É um termo amplamente utilizado pelas religiões de matriz cristã para fazerem referência à proposta de Jesus

aos discípulos. O texto de Mateus 28: 19-20 é o retrato deste termo, “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”,

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É interessante perceber que a resolução da assembleia de 1888 não fora completamente aceita de imediato, Zukowski (2011, p. 14) relata que: “Entre os diferentes pontos de vista apresentados, há um grupo que defende a necessidade de um arrependimento coletivo, porque, segundo eles, houve rejeição, por parte da liderança da igreja, à mensagem apresentada na Conferência Geral de 1888”. Argumenta-se que os acontecimentos pós 1888 foram, meramente, uma confissão institucional, “mas nunca uma experiência de transformação da igreja como resultado da pregação da verdade apresentada” (ZUKOWSKI, 2011, p. 14). Alguns como: Wieland (1987) e Short (1991) observam a “negligência” da mensagem de Minneapolis como um pecado de natureza semelhante à rejeição judaica ao Cristo. Desta forma, era necessário, mais que um arrependimento individual, mas um arrependimento institucional. Em resumo, a rejeição da mensagem, na visão dos autores citados anteriormente, foi uma rejeição do próprio Cristo.

Essa mudança de rumos no desenvolvimento teológico auxiliaria nas práticas proselitista e na exposição da mensagem adventista para o mundo. Uma vez que pensavam os adventistas serem um povo exclusivo, sua missão seria o de levar a mensagem do advento para o mundo. E os momentos que se seguiram a assembleia de 1888 em Minneapolis tiveram como objetivo, organizar a denominação em associações, divisões e programas. De fato, essa etapa do Adventismo foi necessária para a propagação da mensagem de saúde promovido pela denominação, que por sua vez é embasado nos escritos de White. Deve-se ter em vista que os momentos pós 1888 foram os de maior proveito, do ponto de vista literário, para as instruções whiteanas. Entretanto, o findar dessa época de reorganização, pouco, ou quase nenhum dos que auxiliaram na modificação dos rumos teológicos – primeira geração de adventistas – não viveram para observar as transformações na prática.

Por um lado, a morte da primeira geração de adventistas – os que conheceram e viveram as lutas embates teológicos das décadas de 1840, 1850 e 1860 - significava o desenvolvimento de uma mentalidade parcialmente desvinculada dos desserviços que alguns aspectos teológicos causaram a denominação. Por outro, representava a falta da segurança em poder contar com os conselhos e visões dos pioneiros – incluindo, Ellen G. White, que morreu em 1915.

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