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O pensamento de que a mensagem de saúde atua como um braço direito da mensagem adventista não é atual. E de fato, White faz menção a importância deste ministério para pregação do evangelho. Considera-se que, os países que continuavam a adotar as práticas econômicas do antigo regime sofreram fortes pressões, seja pela precariedade na alimentação, saúde e outros segmentos da sociedade (HOBSBAWM, 1998). E neste contexto cresceu a igreja adventista do sétimo, com o pensamento de que ela era a única denominação a defender uma “aplicação prática da declaração de Paulo de que até o que os cristãos comiam e bebiam deveria ser feito para a glória de Deus” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 478).

E à medida que a denominação crescia, cada vez mais ficava evidente e cristalizado esse papel de “braço direito” que a mensagem de saúde possuía. Existia uma grande porção de atividades que reafirmavam o êxito da mensagem de saúde. Schwarz e Greenleaf (2009, p.478) destacam que: os assuntos sociais, “sanatórios, hospitais, programas permanentes contra o fumo, álcool e outras substâncias nocivas, e uma dieta balanceada se tornaram assunto importante da agenda adventista”. É sabido que a relevância da instituição de saúde no espaço público era notável. E, “em alguns casos, o cuidado com a saúde por simples ou complexo que fosse, era ponto de partida para difusão do evangelho redentor” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 478).

Para citar como a mensagem de saúde, em particular a obra médico missionária, havia se tornado um importante elemento da pregação adventista, Schwarz e Greenleaf (2009,

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p.479) destacam o, Dr. A. W Truman, “então secretário da igreja mundial, disse na Assembleia da Associação Geral de 1926 que os 3 mil conversos nas Ilhas Salomão eram principalmente o resultado dos contatos médico-missionários”. E em outros locais onde a mensagem do advento teve uma acentuada resistência “Eric B Hare observou que os melhores aliados do missionário eram os medicamentos, a música e os projetores de filmes”. De fato, a mensagem de saúde se mostrava demasiado relevante para o contexto histórico em que se fundou a IASD. Mas mesmo que a instituição tenha crescido exponencialmente, com o auxílio da mensagem de saúde, Schwarz e Greenleaf (2009, p. 479) lembram que: “por mais que essas estatísticas parecessem boas, o progresso em estabelecer centros de cuidado com a saúde tinha sido irregular durante os 60 anos desde a fundação do Instituto Ocidental de Reforma de Saúde, em 1866”. Ainda assim, os números eram convidativos aos investidores. Embora na década de 1920, os obreiros médicos fossem pouquíssimos na África, Ásia, América Latina e nas ilhas do pacifico. “à igreja tinha cerca de 25 unidades de cuidado com a saúde na Ásia, a maioria delas na China e na Índia, que estavam classificadas como dispensários que as enfermeiras podiam supervisionar” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 479).

Especificamente na América do Sul, as principais dificuldades enfrentadas pela denominação, dizendo respeito à implantação da mensagem de saúde foi à convalidação das credenciais médicas. E mesmo com tais limitações tão explicitadas, o Dr. Robert H. Habenicht fundaria o Sanatório Del Plata, na primeira década do século XX. Mas isso não impediu que o auxílio dos adventistas aos necessitados ficasse letárgico.

No findar de 1950, o crescimento e o destaque da denominação chegavam a proporções mundiais. Tendo o avanço da mensagem de saúde como porta de entrada para a mensagem adventista.

Na África, novos hospitais adventistas estavam sendo construídos em Basutolândia, Barotselândia, Tanganica e Uganda. Outros estavam aparecendo no Brasil, Paquistão e Iraque. Nota Médicos se graduavam anualmente na escola de medicina da igreja e quase 300 enfermeiras vinham dos programas de enfermagem patrocinados pela denominação (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 480).

E com o passar dos anos, mais precisamente, os 30 anos que se seguiram de desenvolvimento da instituição de saúde, realçaria ainda mais esse crescimento denominacional via mensagem de saúde. “Por volta de 1975, a igreja operava mais de 400

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centros de cuidado com a saúde ao redor do mundo, incluindo dispensários, clinicas, lanchas, e tratava anualmente 4,5 milhões de pessoas” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 480).

Entretanto, ainda era latente a preocupação denominacional com os desdobramentos da mensagem de saúde, isto é, a preocupação de fazer da mensagem de saúde um fim em si mesma, e não um meio, ou facilitador, para inserir o indivíduo na mensagem do advento. Ellen G. White, muitas vezes faz menção a essa preocupação. A este exemplo pode-se citar o caso de Baby Fae, onde o Dr. Leonard Bailey conduziu o primeiro transplante de coração de um babuíno para uma criança, em 1984. Esse caso se tornou uns dois maiores casos de debate aceca do procedimento. Schwarz e Greenleaf (2009, p.483) colocam que: “os adventistas também debateram os problemas éticos da cirurgia de Baby Fae, acrescentando a pergunta sobre se a escola médica denominacional deveria ocupar-se seriamente de medicina acadêmica ou restringir-se ao cuidado geral”. Ainda que a argumentação teológica em favor da preservação da “humanidade” da criança estivesse presente no debate acerca da cirurgia de Baby Fae, “por mais fortes que fossem algumas das objeções, o apelo para que se tentasse estender a vida de crianças desamparadamente moribundas ganhou a discussão” (Ibid. ).

Outro bom exemplo da preocupação para com a obra médica missionária – mensagem e saúde – em tornar-se um fim em si mesma observou-se na crescente reputação da universidade denominacional de Loma Linda, Califórnia, USA.

Em 1961, foi feita uma cirurgia cardíaca bem-sucedida em uma menina paquistanesa de três anos de idade, que havia viajado milagrosamente para Loma Linda, impulsionou seus compatriotas a inundar a embaixada dos Estados Unidos em Karachi [...] a fim de receberem assistência médica (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 481).

Feitos como esse fizeram de Loma Linda uma referência nas questões de saúde. Inclusive, “Lyndon Johnson, vice-presidente, dos Estados Unidos, disse aos membros da equipe que eles tinham feito mais do que qualquer outra pessoa para fomentar os bons sentimentos entre o Paquistão e os Estados Unidos” (SCHWARZ& GREENLEAF, 2009, p. 481-482). Tudo isso aconteceu como desdobramento da mensagem de saúde.

Muitas viagens foram feitas pela universidade, com o objetivo de dar assessoria a outras entidades ou grupos que careciam de técnicas que eram dominadas pelos médicos de Loma Linda. As Viagens a Grécia em 1967 e 1969 incluíram instrução a médicos locais sobre técnicas cirúrgicas de coração. Em 1975 e 1976, Loma Linda viajou até a Arábia Saudita, para fazer procedimentos em um hospital militar. Isso colocaria a denominação e sua mensagem no papel de “embaixadores”, visto que desempenhavam um papel diplomático. “

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Ao longo das décadas de 1980 e 1990, a equipe do coração continuou suas viagens internacionais para levar não somente a cura, mas uma mensagem de boa vontade humanitária por parte da Igreja Adventista do Sétimo Dia” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 482). Mas o que preocupou de fato foi a perda de rumos que aconteceu com os que se comprometeram em levar em frente à mensagem de saúde. Os mesmos autores (Ibid.) destacam que: “Embora não se efetuasse esforço proselitista no sentido de reuniões evangelísticas, essas afiliações estabeleciam uma presença adventista baseada em interesses humanitários”.

Com o já iminente sucesso que havia obtido a educação adventista, promovendo alfabetização e educação geral em diversas partes do globo, esperava-se, por consequência, que a mensagem de saúde, na figura da obra médico-missionária, obtivesse o mesmo êxito, senão melhor desempenho. E mesmo aqueles que não tiveram contato com Loma Linda, como foi o caso do Dr. Edgar Bentes Rodrigues, por aproximarem-se da mensagem de saúde, uma medicina preventiva, e uma reforma dietética adventista, experimentaram os efeitos da mensagem desenvolvida por White. Conta-se que a doença fogo selvagem, ceifava várias vidas em solo brasileiro na década de 1930, e ninguém neste período conhecia sequer tratamento para essa doença, que era considerada repulsiva. Seus efeitos incluíam: chagas abertas empoladas, sensibilidade cutânea e perda de consciência. Dizia-se que as pessoas sentiam tamanha coceira que perdiam a consciência, ao coçarem incessantemente. Mas na década de 1940, Áurea Barbosa de Souza, esposa de um pastor adventista, contraiu a enfermidade. Foi quando seu marido comprou uma mistura baseada em piche de um agricultor local. Que era utilizada para fins agropecuários. Schwarz e Greenleaf (2009, p. 484) nos conta que: “Dias depois de haver aplicado a substância ao corpo de sua esposa, ela mostrou uma notável melhora. Encorajado por essa melhora nos acontecimentos, ele arrancou a fórmula das mãos do agricultor e a compartilhou com médicos adventistas”. Foi então que a IASD, procurou erguer um hospital para fornecer a cura para esse propósito. “E durante os anos de 1970, a terceira década do projeto, a atividade diminuiu gradualmente [...] não porque os médicos estivessem falhando, mas porque eles tinham reduzido substancialmente a incidência dessa doença nacional” (SCHWARZ e GREENLEAF, 2009, p. 484).

É inegável os benefícios que a obra de saúde, de uma forma geral, trouxe para diversas culturas e países pelo qual passou, ou se inseriu. E de uma forma bastante peculiar, o sucesso da reputação da obra de saúde deveu-se a sucessivas condições precárias pelas quais passavam, não apenas os estadunidenses, mas o mundo de uma maneira geral. Entretanto, ao longo dos anos, a obra médica missionária parece ter se desvinculado de seu compromisso

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denominacional evangelístico, em alguns casos. Ainda assim, por diversas vezes, a mensagem de saúde compromissada com o sentido evangelístico se desenvolveu pelas obras assistenciais e pelas campanhas antitabagismo, ou antialcoolismo, e outras formas de solucionar as dificuldades pelas quais passavam a comunidade.

Percebe-se, até o presente momento, que grande parte da propagação e reputação da mensagem de saúde adventista deu-se de forma peculiar. Primeiramente, o contexto histórico em que se desenvolveu a mensagem de saúde a tornou relevante a medida que ficava evidente a dificuldade dos hábitos alimentares/saudáveis dos estadunidenses. Um segundo ponto a ser ressaltado diz respeito à forte incidência de reformador pró saúde que surgiram no mesmo período, e até anteriores, aos conselhos de White. Tais condições teriam por reação o movimento dos reformistas do século XIX, que na denominação adventista desenvolveu-se como a obra médico-missionária. Por último, pode-se apontar para a crescente reputação da mensagem de saúde via obra médico-missionária, ou pelo assistencialismo social. Como tendo contribuído de maneira bastante significativa para o avanço/desenvolvimento da obra médico missionária e, por conseguinte, da denominação Adventista do Sétimo Dia.

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