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2. O ADVENTISMO E A MENSAGEM DE SAÚDE NO BRASIL

2.4 A imigração e o Adventismo Paulistano

Conforme apontado anteriormente, o primeiro batizado a ocorrer no estado de São Paulo aconteceu em 1895, na cidade de Piracicaba. O pastor F. H. Westphal, “desceria” Guilherme Stein Jr, às águas batismais. Aqui estaria o fundamento e início de toda missão que mais tarde se estabeleceria na cidade de São Paulo. Ainda que as instituições adventistas, no início do período, houvessem se concentrado no sul do país, é importante reiterar que o cenário seria mudado à medida que o crescimento populacional da cidade São Paulo chamasse a atenção dos responsáveis por pregar a mensagem do Adventismo no território nacional.

E foi em 1906 que a Missão Paulista foi organizada. As igrejas que auxiliaram na construção foram: Igreja de Rio Claro, Itararé e Santos. Liderados pelo pastor ordenado Emílio Hoelzle, os adventistas paulistas deram início a pregação da mensagem em São Paulo de modo sistemático e organizado.

A alta concentração de imigrantes na cidade de São Paulo favoreceria a expansão do Adventismo. Deve-se destacar a distinção existente entre os projetos de imigração do sul do país, e o projeto de imigração de São Paulo. Enquanto os projetos de imigração ao sul do país tinham como objetivo a fixação dos imigrantes nas terras, o projeto de imigração de São Paulo teve como objetivo adquirir mão de obra nas lavouras de café e, da crescente expansão das indústrias. Como observa Mendes (2015, p. 38): aqueles indivíduos que possuíam mão de obra especializada e os que enfrentaram alguma dificuldade em relação ao trabalho nas fazendas buscaram estabelecer-se na cidade de São Paulo.

Somado a essa crescente expansão dos meios de produção estavam as necessidades que a população enfrentava nas cidades. Seja na questão dietética, sanitária, habitacional ou educativa, as cidades embora fossem sinônimos de progresso, também apresentavam duros efeitos colaterais. Ainda assim, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, viu como sendo uma grande oportunidade, estabelecer a missão na cidade de São Paulo.

Em 1915, a IASD estabeleceria a primeira igreja da denominação na cidade de São Paulo, e nela participavam cerca de 25 membros ativos. Estabelecida no bairro de Santo Amaro, região com forte concentração de imigrantes alemães, a jovem igreja, sob o comando

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do Pr. Lipke daria início ao que no futuro seria um dos Adventismos mais expressivos do mundo. E neste mesmo ano seria implantada ou estabelecida, a primeira escola adventista na cidade de São Paulo. Localizada na região de Itapecerica da Serra, na época também um local com forte concentração de imigrantes germânicos, a escola adventista estabelecida também seria um indício do pesado investimento e confiança que se dava ao ministério urbano.

É preciso salientar que os imigrantes tiveram um papel fundamental, não apenas no desenvolvimento da cidade de São Paulo, mas também na expansão da mensagem do segundo advento pregado pela denominação adventista. No século XX, a cidade de São Paulo era uma das localidades que mais recebia imigrantes no âmbito mundial. Hall (2004, p. 121) coloca que:

Em 1920, após vários anos de imigração reduzida, a porcentagem de estrangeiros na Cidade ainda atingiu 35%, igual a Nova York na época, embora possivelmente menor do que a percentagem em Buenos Aires (49% de estrangeiro em 1914). De fato, naquele ano, entre população acima de quinze anos, os estrangeiros na Capital (188.045) eram mais numerosos do que os brasileiros (186.077). Mesmo em 1934, quando os imigrantes formavam 28% da população total.

Ainda que a necessidade primordial fosse buscar expandir a mensagem do segundo advento entre os nativos, os imigrantes não deviam ser ignorados. Se por um lado, grande parte dos responsáveis pela missão adventista na cidade de São Paulo, e o Brasil em Geral, fossem imigrantes, o mais lógico era pregar para este grupo. Mendes (2015, p. 39) lembra que, embora a missão adventista procurasse oportunidades entre os brasileiros nativos, também usou de sua condição de imigrante para trabalhar com os que possuíam condição semelhante.

A questão de imigração não se mostrava como uma barreira apenas para a denominação adventista. Afinal, muitos movimentos, sejam evangélicos, ou protestantes, chegaram ao Brasil na condição de religiões de imigrantes. Ainda que não se possa encaixar a denominação/religião adventista como pertencendo ao segmento protestante, Mendonça e Velasques Filho (2002, p. 25), destacam que o contexto da chegada do Adventismo no Brasil, era semelhante à de muitas outras Igrejas Protestantes de Missão.

Desta forma, a chamada nacionalização dos projetos missionários foi algo essencial a todas as religiões protestantes do país. “Diante dessa análise, parece ser válida a hipótese de que maior integração de um segmento religioso ao campo pode facilitar seu crescimento, ou seu volume relativo” (MENDONÇA &VELASQUES FILHO, 2002, p. 25). Considerando

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que os missionários saídos dos EUA, que eram falantes de português, constituíam quase nada diante do todo. Percebe-se a necessidade de estudo da língua, a fim de ganhar os nativos.

Foi com o estabelecimento do Colégio Adventista Brasileiro, em 1915, que a “produção”/ preparação de missionários falantes do idioma local se deu de forma mais intensiva. Depois das crises político-militares de 1924-1935, a indústria paulista começou a crescer exponencialmente. E com a queda considerável no nível de imigrantes a dinâmica do Adventismo acabaria por ser favorecida. Uma vez que a maior parte da população no estado de São Paulo era de imigrantes, o mais lógico era priorizar os não falantes do idioma nativo, português. Mas, como efeito direto das duas crises militares, apareceria o crescimento de migrantes do nordeste do país e, a diminuição do número de imigrantes fez com que acontecesse uma drástica mudança nos setores produtivos da economia. O novo público que se estabelecia nos planos missionários da denominação impulsionaria as instituições a trabalharem de forma mais intensiva.

Um dos nomes que marcariam, em 1936, a expansão das instituições foi o pastor, Rodolpho Belz. Ao assumir o cargo de presidente da Associação Paulista, Belz, juntamente com outros, observariam a importância que era atingir ao público falante em português. Afinal, segundo Mendes (2014, p. 44), “as informações sobre a composição populacional no final da década de 1940 haviam mudado bastante. Os imigrantes somavam 627.433, enquanto os migrantes totalizavam 1.080. 488”. Agora, era tempo em que os missionários nativos, no que se refere a material humano, não dependeriam tanto da Associação Geral. Dizia-se de Belz, que era um progressista. De fato, as transformações que aconteceram em sua gestão foram deveras importantes. O crescimento era visto não apenas do ponto de vista de crescimento de membros, mas do ponto de vista institucional. Segundo Mendes (2014, p. 44):

A missão adventista avançava em número de membros e de instituições. Mais igrejas foram construídas, outras foram reformadas, a fábrica de alimentos Superbom foi inaugurada na capital, o Hospital Adventista de São Paulo foi inaugurado e as Igrejas do Estado foram organizadas em distritos pastorais para organizar o atendimento pastoral.

Ainda que houvesse a dificuldade de atender a demanda, o Colégio Adventista Brasileiro foi bastante produtivo nas décadas que se seguiram. De 1922 à 1948, o número de formandos em teologia foi de 189 alunos (GREENLEAF, 2011). E como reitera Mendes (2014, p. 44):

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[...] o número de adventistas no Estado de São Paulo passava dos 3.000 e a maior parte deles estava na capital. O início do evangelismo adventista no rádio e o relacionamento com a imprensa secular foram oportunidades de diálogo e inserção social da missão adventista de São Paulo.

E o presidente que substituiu a gestão do pastor Belz, foi Germano Ritter. O pastor Ritter assumiria a responsabilidade pela missão adventista em ótimas condições de funcionamento. A década de 1940 seria um período onde o Adventismo já estaria bem estabelecido na cidade de São Paulo.

É verdade que o período de 1940 a 1960, foi importantíssimo para a capital, São Paulo. Segundo, Mendes (2014, p. 45):

A indústria continuava a crescer e a desenvolver-se, principalmente com a mudança de indústria leve para pesada, que trouxe um impulso econômico muito grande para a cidade. As 14.225 fábricas e 272.865 operários em 1940 passaram para 24.519 fábricas e 484.844 empregados no setor em 1950. A imigração havia encerrado seu ciclo maior com o início da Segunda Guerra Mundial e a migração dos trabalhadores nacionais ofereceu a mão de obra necessária para indústria paulistana, bem como mudou o quadro social da cidade, tornando suas relações muito mais diversas e complexas.

Com isso - um problema que já era recorrente em todas as cidades que passaram pelos processos de industrialização e urbanização - a cidade de São Paulo e seus habitantes experimentariam as condições precárias que eram particulares do processo de crescimento urbano, à medida que era necessário fornecer moradia para esse grande percentual de migrantes, agora na cidade de São Paulo. A igreja aproveitou para expandir ainda mais sua atuação geográfica.

Conforme os bairros para o operariado foram surgindo na capital, com preços acessíveis, a Igreja adquiriu lotes e construiu grandes Igrejas, mais de 50 nesse período. Apesar da missão não tomar parte ativa nas questões trabalhistas e raciais ocorridas nesse período, o trabalho assistencial da Igreja se desenvolveu nesse momento (MENDES, 2014, p. 45)

A compra de lotes não favoreceu somente ao estabelecimento das instituições adventistas, mas também auxiliou o alcance da mensagem adventista nos cantos mais isolados da capital. Ali, a denominação, na figura de suas instituições, auxiliava a população da forma que conseguia. O pastor Schubert, por exemplo, iniciaria uma série de reuniões públicas – que não era um modelo estranho na história da denominação, mas possuía pouca proximidade com o modelo evangelístico brasileiro - que tratava de diversos aspectos da vida

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cristã, onde muitas das instruções vieram da compreensão de White acerca dos assuntos trabalhados. Falavam, nestas reuniões, sobre: saúde, família, trabalho e espiritualidade, ou seja, coisas que atingissem o cotidiano do paulistano, e que lhe fosse pertinente.

Ações na área de prevenção como cursos antitabagistas, clinicas móveis que atendiam as populações da periferia e o custeio de uma lancha assistencial no Vale do Ribeira foram promovidas pela missão adventista da capital (MENDES, 2014, p. 45).

Afinal de contas, a observação de Haynes de que a cidade de São Paulo deveria ser o alvo dos esforços missionários e evangelísticos no Brasil, estava acertada.

Vale lembrar que na década de 1930, grande parte dos esforços da Divisão Sul Americana em prol da construção/estabelecimento de um centro médico, tinha em São Paulo a melhor opção. A intenção era que a construção desse centro médico fosse feita no Rio de Janeiro; mas, no final das contas, ambas as cidades conseguiriam seus centros médicos. Ainda que o progresso fosse lento, a existência de uma instituição de saúde, não apenas dava um senso de identidade; mas, de avanço na pregação da mensagem do segundo advento. (GREENLEAF, 2011, p. 456).

Toda a transformação da denominação que aconteceu na cidade de São Paulo, teve como pressuposto a questão da migração e imigração. Essas se tornaram cada vez mais necessárias à medida que se compreendia que existiam mais pessoas carecendo da mensagem de saúde da denominação. Com o aumento populacional, aumentaram também as complexidades que são particulares às grandes cidades. Ali – São Paulo - a denominação adventista encontrou terreno fértil para a propagação de sua mensagem de saúde.

Interessante será observar que junto à expansão da obra médico-missionária, o desenvolvimento da fábrica de produtos alimentícios Superbom foi ganhando cada vez mais força e notoriedade. Ainda que sua produção, diante do cenário da época, fosse restringida a um único produto, o suco de uva, sua busca por atender as demandas e cumprir com sua missão – transformar vidas pela alimentação saudável – levaria aos dirigentes buscarem maior diversificação no cardápio oferecido aos consumidores.

De qualquer forma, sugere-se a seguinte hipótese: um dos motivos que levaram os dirigentes da denominação a verem na cidade de São Paulo campo fértil para difundir a mensagem de saúde, foi sua concentração de pessoas que careciam de auxílio. Fossem imigrantes ou migrantes aqueles que participaram do processo de urbanização e industrialização da capital, ficaram sujeitos aos efeitos colaterais do desenvolvimento. Aí

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estava a oportunidade de espalhar a mensagem do segundo advento. E a denominação adventista “abraçaria” essa oportunidade.