• Nenhum resultado encontrado

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP. Cleyton Ribeiro de Souza. A filosofia por trás da Superbom: uma história do Adventismo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP. Cleyton Ribeiro de Souza. A filosofia por trás da Superbom: uma história do Adventismo"

Copied!
130
0
0

Texto

(1)

1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Cleyton Ribeiro de Souza

A filosofia por trás da Superbom: uma história do Adventismo

MESTRADO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO

SÃO PAULO 2018

(2)

2

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Cleyton Ribeiro de Souza

A filosofia por trás da Superbom: uma história do Adventismo

MESTRADO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em: Ciência da Religião, sob a orientação do Prof. Dr. Eduardo Rodrigues da Cruz.

SÃO PAULO 2018

(3)

3

Cleyton Ribeiro de Souza

A filosofia por trás da Superbom: uma história do Adventismo

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em: Ciência da Religião, sob a orientação do Prof. Dr. Eduardo Rodrigues da Cruz.

Aprovado em: ___ de _____________ de 2018.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ São Paulo 2018

(4)

4

Agradeço aos órgãos: FUNDASP e CAPES, por todos os meses de subsídio. Processo nº 88887.149846-2017-00.

(5)

5

No trajeto, encontramos uma multidão que também contemplava as belezas do lugar. Notei a cor vermelha de suas vestes, o brilho das coroas e o branco puríssimo das vestes. Quando os saudamos, perguntei a Jesus quem eram eles. Disse que eram mártires que, por Sua causa, haviam sido mortos.

(6)

6

AGRADECIMENTOS

Ao Deus-pai, todo Poderoso, provedor e galardoador.

Meus pais, Rita e Cleber, sem os quais esse projeto não seria possível.

À Igreja Adventista do Sétimo Dia, na figura dos seus mais distintos ministérios; Educação, saúde e publicações.

Em especial: Prof. Dr. Fábio Darius e Prof. Elder Hosokawa. Pr. Dr. João Cláudio Chaguri, Pr. Eduardo Bomfim e Pr. Dantte H. C. Vancine. Prof.ª Elaine Moreno, e demais professores da APSe.

Ao Prof. Dr. Eduardo da Cruz, docente da PPGCR da PUC-SP, que com paciência me orientou esse período de estudos, e a todo corpo docente do departamento.

Aos companheiros de estrada que, de uma forma, ou de outra, foram essenciais para o projeto.

Aos órgãos que custearam os estudos, FUNDASP E CAPES, por todos os meses de subsídio.

(7)

7

RESUMO

O presente trabalho apresenta uma narrativa histórica da fábrica Superbom. A necessidade de pesquisar tal instituição da Igreja Adventista do Sétimo Dia está em resgatar e ter aproximações iniciais da história dessa fábrica que foi essencial para a difusão da mensagem de saúde pregada pela denominação. O objetivo desta pesquisa foi apresentar elementos que evidenciem a mensagem de saúde da denominação interagindo com o desenvolvimento da fábrica Superbom. Ainda que, como se verá, a Revista Adventista mostre a Superbom como sendo fundamental para o desenvolvimento do movimento no Brasil, até o momento, não existem pesquisadores que se debruçaram sobre o tema. Aí está a justificativa do presente trabalho, propor uma primeira narrativa da fábrica, baseada no órgão de divulgação institucional, Revista Adventista. Se por um lado a fábrica teve de buscar a modernização para atender as demandas comerciais, por outro, a instituição teve de se adequar as nuances do mercado. Assim, a adaptação dos produtos foi uma realidade, embora em conteúdo a instituição continuasse engajada com a mensagem de saúde da denominação. Como se verá, a fábrica, desde sua fundação até a contemporaneidade, permaneceu compromissada com a mensagem do segundo advento e as instruções de White acerca da reforma de saúde.

(8)

8

ABSTRACT

The present work presents a historical narrative of the Superbom factory.The need to research such an institution of the Seventh-day Adventist Church lies in rescues and have initial approximations of the history of this factory that was essential for the dissemination of the health message preached by the denomination. The objective this research was to present elements that show the health message of the denomination interacting with the development of the Superbom factory. As will be seen, the Adventist Review shows Superbom as being fundamental for the development of the movement in Brazil, so far, there are no researchers who have studied the subject. Here is the justification of the present work, to propose a first narrative of the factory, based on the organ of institutional disclosure, Adventist Review. If on one hand the factory had to seek modernization to meet the business demands, on the other, the institution had to suit market nuances. Thus, the adaptation of the products was a reality, although in content, the institution remained engaged with the health message of the denomination. As will be seen, the factory from its founding to the present day remained committed to the Second Advent message and White's instructions on health reform.

(9)

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1. ADVENTISMO, ELLEN WHITE E A QUESTÃO DOS HÁBITOS 14SAÚDAVEIS NATURAIS ... 14

1.1 Padrão norte americano de alimentação ... 14

1.2 Surgimento do movimento Adventista do Sétimo Dia ... 20

1.3 De adolescente à profeta no Adventismo ... 24

1.4 Reformadores pró-saúde antes de Ellen White ... 28

1.5 As visões de White acerca do tema saúde ... 31

1.6 Crescimento e reorganização, o papel da saúde ... 38

1.7 O programa missionário da IASD, desafios e objetivo ... 41

1.8 Até os confins da terra, a mensagem de saúde e o mundo ... 44

2. O ADVENTISMO E A MENSAGEM DE SAÚDE NO BRASIL ... 49

2.1 A chegada do adventismo no Brasil ... 51

2.2 A condição de vida brasileira no período de implantação do adventismo ... 58

2.3 A ampliação da mensagem adventista e a autossuficiência da DAS ... 64

2.4 A imigração e o Adventismo Paulistano ... 68

2.5 Um adventismo nativo, a criação do CAB, e a Superbom ... 73

2.6 A importância de Ellen G. White para o estabelecimento das instituições ... 78

3. A SUPERBOM E O SEU DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO ... 83

3.1 A Superbom de 1940-1984, passos para a emancipação ... 85

3.2 A Superbom de 1984 até o século XXI, ganhando espaço no mercado? ... 109

3.3 Superbom no século XXI, desafios: adaptação ou permanência? ... 116

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 123

(10)

10

INTRODUÇÃO

A Superbom é uma fábrica de produtos naturais, que possui vínculo institucional com a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD). Por sua vez, a IASD possui justificativas históricas e teológicas para a mensagem de saúde que lhe é particular. A primeira delas diz respeito a uma das fundadoras da denominação, Ellen G. White. A segunda tem relação com o momento cultural em que viviam os Estados Unidos da América (EUA) no período em que se desenvolveu o Adventismo e a reforma de saúde.

O tema, hábitos alimentares adventistas, já é um tema recorrente na academia brasileira, ainda assim, não existem trabalhos sistematizados procurando apresentar a importância e desenvolvimento da Superbom. Assim, a principal justificativa é: resgatar a história de uma instituição que foi demasiado importante para o estabelecimento do Adventismo no Brasil.

Ao longo dos anos, a Superbom adquiriu certo status do ponto de vista mercadológico, sendo sinônimo de saúde e pureza. Tais elementos fazem parte das instruções de White acerca do tema, vida saudável. O problema que se busca responder é: a Superbom continuou, mesmo com declarado sucesso, engajada com a mensagem de saúde pregada pela denominação ao longo dos anos?

Sugere-se como hipótese, até por observar a posição atual da fábrica, que o comprometimento que ela possui com a mensagem, ainda que buscado adaptação em sua forma de expor o conteúdo, permanece fiel à proposta original, já que, por diversas vezes, buscou difundir a mensagem de saúde por novas metodologias e abordagens. Assim, o objetivo geral da pesquisa é: apresentar/mostrar a relação existente entre a Superbom e a reforma de saúde de White.

Para tanto, é necessário retroceder a fundação do movimento adventista para compreender o desenvolvimento de sua teologia e a mensagem de saúde proposta por White. O primeiro capitulo é dedicado a este objetivo especifico, isto é, apresentando o desenvolvimento denominacional, procura-se esclarecer qual era a importância de White para a denominação desde o evento conhecido como: grande desapontamento de 1844.

Ainda é necessário observar como a denominação tornar-se-ia comprometida com a abordagem missiológica. Uma vez que a denominação, pós 1844, ostentou um comportamento evangelístico bastante antipático, é necessário mostrar essa transformação de

(11)

11

comportamento para podermos compreender como a denominação se posicionou diante dessas novas abordagens missionárias. Com o objetivo de mostrar essa mudança, será apresentada a Assembleia de Minneapolis de 1888, onde a IASD fez correções teológicas a respeito dos seus procedimentos evangelísticos.

Destacar o que aconteceu na Assembleia de Minneapolis é essencial para compreender a mudança no comportamento evangelístico da denominação. Foi por meio desta assembleia que a denominação passaria a investir em espalhar a mensagem do advento além das fronteiras estadunidenses. De qualquer forma, a chegada do Adventismo na América do Sul foi repleta de ensejos. Mas não foi a obra médico-missionária o primeiro segmento do Adventismo a chegar ao continente; como era de costume em outros lugares. Os ministérios de publicações e colportagem foram os primeiros a começar o trabalho de desbravagem na América do Sul. Assim, nos primeiros anos do Adventismo a mensagem de saúde instruída por White só foi conhecida pela venda de literaturas, que estavam restritas às dificuldades linguísticas.

O segundo capitulo tem como objetivo apresentar a chegada do Adventismo no Brasil e como a mensagem de saúde foi difundida, visto que haviam dificuldades em implantar o que era na época o mais famoso segmento da IASD, a obra médica-missionária. Procura-se também expor as resistências culturais enfrentadas pela IASD. O Brasil e seus hábitos alimentares apresentavam-se como um problema para as investidas missionárias da denominação.

A entrada do Adventismo no Brasil teve por referência geográfica as regiões sul e sudeste, desta forma, existiam hábitos alimentares fortemente incrustados na cultura dos brasileiros que, por sua vez, eram incompatíveis com a mensagem adventista. Eram eles: o café, as bebidas alcoólicas, o chá mate, as carnes em geral e outros produtos condimentados. Assim, o capitulo também apresenta, rapidamente, os hábitos alimentares dos brasileiros para contrastar com a mensagem de saúde adventista.

Vale lembrar que se faz necessário mostrar as dificuldades linguísticas que existiam no campo brasileiro e como a abertura do CAB, futuro IAE, auxiliou na transformação dessa obra ainda restrita a estrangeiros. Será abordado também o crescimento demográfico pelo qual passou o Brasil, em especial a cidade de São Paulo com as imigrações e migrações. Esse último ponto aparece como o gatilho para a Divisão Sul Americana (DSA) de a IASD propor a mudança da sede, que antes era na Argentina, para a Cidade de São Paulo.

A cidade de São Paulo aparentava ser um excelente campo para a difusão da mensagem adventista, visto que o crescimento era exorbitante e as necessidades de igual

(12)

12

modo. Assim, os líderes do movimento adventista da América do Sul perceberam o potencial evangelístico que existia na cidade de São Paulo. Mesmo que existissem recomendações de White acerca da vida no campo, a mensagem deveria ser pregada em todos os lugares, sem exceção. Desta forma, o capitulo dois se dedica a construir o cenário no qual se desenvolveu a fábrica Superbom, apresentando suas dificuldades e oportunidades.

Ao final, procurando fazer uma ponte entre o segundo e o terceiro capitulo, são apresentados argumentos que destacam a influência do pensamento whiteano nas instituições adventistas. Faremos rápida menção aos empreendimentos da IASD na Austrália e White na conferência em Harbor Springs.

Como não existem trabalhos sistematizados sobre a Superbom, coube ao presente autor fazer uma narrativa a partir dos dados institucionais. O maior meio de comunicação que existia na época em que se fundava a Superbom era a Revista Adventista. Esta representa um reflexo de autoconsciência, idealismo, crescimento e mobilização da denominação adventista. Nas palavras de Michelson Borges e Marcos de Benedicto, “a liderança concluiu sabiamente que a comunidade adventista brasileira precisava de um veículo para expressar suas ideias e realizações” (REVISTA ADVENTISTA, Janeiro 2006, p. 08).

Assim, a revista adventista responde como porta-voz oficial da IASD no Brasil, e tem a tarefa de “alimentar espiritualmente” os membros que dela são assinantes. Os editores desta revista, que dizem respeito ao período trabalhado são: Luiz Waldvogel (1934 -1965), Naor G. Conrado (1965 -1971), Carlos A. Trezza (1971-1972), Arnaldo B. Christiani (1973-1975), Carlos A. Trezza (1975-1976), Rubens S. Lessa (1976-1982), Rubem M. Scheffel (1982-1985) e o último Rubens S. Lessa que continua em exercício até a contemporaneidade. No início de seu desenvolvimento, que remonta a 1906, tratava-se de uma revista trimestral, posteriormente tornando-se uma revista mensal, e apresentava as mais diversas conquistas da mensagem adventista em solo brasileiro e no mundo. Seu público era composto sumariamente de adventistas, pastores, leigos e outros. Daí percebe-se o porquê de a revista ser um órgão de comunicação dos avanços da obra adventista, embora também trouxesse conteúdo para “alimentação espiritual”, como artigos sobre: alimentação saudável, exegese de textos bíblicos, testemunhos, desenvolvimento da obra aliado a “providência divina”, e outros tipos de conteúdo.

Desta forma, as informações contidas na Revista podem ser consideradas autenticas do ponto de vista institucional. E transmitem muito bem os desdobramentos das investidas missionárias no país. Logo, parece coerente, para uma primeira sistematização, utilizar o acervo histórico da Revista para elucidar a proximidade da Superbom com os escritos de

(13)

13

White. Afinal, a Superbom sendo um órgão institucional, costumava informar o público em geral das suas investidas, progressos e regressos. Nas palavras de Michelson Borgens e Marcos de Benedicto: “Aquela pequena revista cresceu, testemunhou inúmeras mudanças e continua cumprindo seu papel” (REVISTA ADVENTISTA, Janeiro 2006, p. 09).

Assim, se valendo do acervo histórico da Revista Adventista, buscou-se construir uma primeira narrativa a respeito do desenvolvimento institucional da Superbom. Mostrando seu impacto na sociedade, suas conquistas, suas dificuldades de acordo com cada período, e seu compromisso com a mensagem de saúde.

Por mais que pareça ser uma problemática pueril, a contribuição e originalidade deste trabalho se encontram em: (1) contribuir para o estado da arte a respeito do Adventismo e suas abordagens missionárias, (2) propor uma primeira narrativa da Superbom com caráter acadêmico, procurando incentivar novos pesquisadores a se debruçarem sobre esse objeto futuramente e, (3) contribuir para as pesquisas acadêmicas que procuram destacar a influência do pensamento e escritos de Ellen G. White nas instituições adventistas em: instituições educacionais, hospitais, redes de comunicações, instituições de publicações, e agora, instituições de alimentos saudáveis.

As páginas que se seguem pretendem apresentar o objeto que foi introduzido. Peço do leitor, complacência pelos possíveis generalismos e reducionismos que possam existir no texto. O trabalho do historiador consiste, em grande medida, de reutilizar fontes de terceiros, e assim, o trabalho pode conter possíveis dados desatualizados. Para tanto, conto com a paciência do leitor.

(14)

14

1.

ADVENTISMO, ELLEN WHITE E A QUESTÃO DOS HÁBITOS

SAÚDAVEIS NATURAIS

Antes de tratar o objeto em questão - a Superbom - é necessário voltar aos primórdios da denominação. Isto é, seu contexto histórico, o desenvolvimento da mensagem, a reputação de White dentro da IASD, e os desdobramentos da mensagem adventista de uma forma geral. Afinal, a Igreja Adventista do Sétimo Dia foi a responsável por dar um sentido e missão a Superbom.

Essa parte da discussão é necessária, pois é ela quem pretende fornecer fundamentos sobre a mensagem de saúde desenvolvida ao longo da denominação. Embora White não trouxesse algo, que em princípio, fosse exclusivamente seu, suas instruções acerca dos hábitos alimentares seriam uma bandeira levantada pela denominação ao longo dos anos subsequentes.

O objetivo deste capitulo é apresentar a mensagem de saúde whiteana, que viria a existir em virtude de uma nação afundada em hábitos alimentares prejudiciais à saúde. Para tanto, o presente capítulo divide-se em: (1) apresentar os hábitos alimentares estadunidenses – sendo responsável pelos movimentos de reforma pró-saúde, incluindo White. (2) como surgiria o movimento adventista. (3) apresentar a trajetória de White até tornar-se uma personagem relevante no Adventismo. (4) apresentar alguns reformadores pró-saúde, destacando White como parte deste corpo reformista. (5) clarificar a singularidade da mensagem de saúde de White, a distinguindo de todas as outras propostas. (6) apresentar como se desenvolveu a mensagem de saúde na denominação e no mundo.

1.1 Padrão norte americano de alimentação

Antes de colocar os hábitos alimentares norte-americanos em vista, é razoável descrever como os eventos da revolução industrial e a ascensão da economia de mercado capitalista foram importantes para definir a forma em que o estadunidense se relacionou com a alimentação no século XVIII e XIX. Pretende-se também, apontar algumas das possíveis causas que desencadearam os movimentos pró reforma de saúde do século XIX - no qual, White aparece como uma das protagonistas.

(15)

15

Considera-se a economia anterior à revolução industrial como sendo de subsistência. A produção ligada a área agrícola era em resumo para o autoconsumo, e o excedente, se é que existia, em muito dos casos, era negociado por um alto preço. Vale sublinhar que, quando analisado o campo norte americano, o papel da industrialização na alimentação veio com um objetivo particular: o de proporcionar meios para aplacar a fome e sustentar os fabris da Europa. Mas dizer que a influência da industrialização na alimentação estadunidense foi exclusivamente para atender as demandas europeias, é restringir a influência que a industrialização teve sobre a alimentação norte americana. Afinal, mesmo os EUA sendo visto como campo para produção de alimentos e sustentação da demanda europeia, já no final do século XVIII os EUA estariam se desvinculando da monarquia inglesa.

A constituição da população também é algo a ser observado. Grande parte da sociedade colonial estadunidense possuía melhores condições de vida que os europeus. Flandrin e Montanari (1998, p. 629) lembram que:

No início do século XVII os primeiros colonos conheceram alguns anos difíceis, mas constatou-se rapidamente que a maioria dos habitantes das colônias americanas da Grã-Bretanha eram muito mais bem alimentados do que seus homólogos da pátria mãe.

Esse cenário logo seria reforçado pela industrialização e pelo modelo econômico que os Estados Unidos adeririam. A rápida implantação da nova forma econômica capitalista sobre a terra e a escola fisiocrata1, foram algumas das causas para o advento de uma alimentação industrial. Com o alto índice de indivíduos que careciam de alimentação, a solução era produzir comida em grande quantidade. Para isso, Grenha (2011) e Hobsbawm (1998), destacam que a transformação da terra em um meio de produção foi visto como algo necessário. Se antes a terra era utilizada para sustentar o proprietário e sua família, com quase nada de excedente, a nova proposta seria a de tornar esta terra propriedade de indivíduos que estivessem sedentos pela transformação deste meio de produção em algo extremamente eficaz, atendendo as demandas de uma economia que buscava hegemonia.

Também é importante colocar que a industrialização não afetaria apenas ao setor que processava os alimentos, como: açúcar, óleo e outros, mas a própria cultura foi adquirindo

1 A raiz da palavra Fisiocracia significa “governo (ou regra) da natureza”, e ela revela um aspecto fundamental

da crença que os une, quer seja, a ideia de que a sociedade e a economia funcionam de acordo com uma ordem natural. Todos os fatos sociais e econômicos estão intimamente ligados e sujeitos a leis inevitáveis. Portanto, tanto o governo quanto o setor privado devem entender e observar essas leis em suas ações se desejam alcançar resultados ótimos. Para informações mais detalhadas ver Mendes (2009), Hobsbawm (1998) ou Sandroni (2003).

(16)

16

novas formas mecanizadas de colheita. Grenha (2011, p.29) relembra que: a “utilização de máquinas como a ceifeira de McCormick (1834), o recolector mecânico de Pitts (1837), a ceifeira Marsh (1858) e a ligadora de feixes de cereais de Appleby (1878), e ainda o uso alargado dos cavalos aplicados a estes engenhos agrícolas levaram à expansão acentuada da produção”. Teixeira (2012, p.52) reitera dizendo que tal desenvolvimento do processo de colheita “sofreu rápida expansão em seus processos de mecanização e comercialização até o final da primeira metade do século XIX”.

Se por um lado, a produção acelerada era vista como benéfica, para sanar a fome existente, por outro, era tida como nociva, pois comprometia a renda do homem do campo. Pelo lado do agricultor, a produção acelerada de alimentos poderia ser vista como uma exploração. Mas para os especuladores, tal resultado era visto como a confirmação da grande quantidade de matéria prima disponível. Grenha (2011, p.28-29) ressalta que, “desde 1860 até 1900 mais de 400 milhões de acres de solo virgem foram reconvertidos em terreno cultivado”. O que ficava claro a partir disso era uma competição: entre as grandes corporações, desejosas por tornar a terra um produto, e as forças do campo em busca de não serem riscados do mapa.

Schwantes (1995, p.94) dá um panorama desta situação, na qual “os agricultores, que disponibilizavam colheitas para comercializá-las, descobriram que estavam à mercê da conveniência dos especuladores e dos compradores das cidades. Frequentemente o baixo preço que era oferecido ao agricultor não cobria seus custos”. E essa competição se acentuou gradativamente conforme crescia a desvalorização do homem do campo, afinal, esse era considerado prolixo e preguiçoso (HOBSBAWM, 1998).

Como a nova demanda de mantimentos trouxe a necessidade de desapropriar a terra daqueles agricultores que não agiam de acordo com os ditames do mercado, estes [os agricultores sem-terra] deveriam ser realocados para o outro setor não agrícola do mercado econômico capitalista. Neste caso, as fabricas e suas condições precárias de trabalho tornaram-se uma saída razoável para os empreendedores capitalistas.

É com base na influência que a industrialização teve sobre o setor agrícola da economia, forçando a mesma realocar o homem do campo para outros setores da vida econômica (fábricas), que se sugere a existência de uma tensão entre o projeto de urbanização e a vida no campo, neste período levantado. Se antes o homem do campo preocupava-se com o material de subsistência, depois da industrialização no setor agrícola, o homem do campo passaria a ser dispensável, e, portanto, devia ser realocado para outra área na qual seus músculos fossem utilizados. Teixeira (2012, p. 55), resume esse pensamento dizendo que: “o

(17)

17

lucro, que no processo agrícola era limitado por estação do ano, pela quantidade máxima produzida por espaço plantado e pelo volume colhido e comercializado, não deveria ser mais limitado por nenhum fator de tempo e de espaço”. lo a demanda não poderia ficar à mercê do acaso, mas sim das garantias de sucesso na produção.

É com base neste cenário que White escreveria a respeito dos hábitos alimentares de sua época. Ou seja, um homem do campo, trabalhando em uma fábrica - que resumidamente, oferecia péssimas condições de trabalho – agora na cidade. Este [o homem do campo] ficaria à mercê de todas as questões que diziam respeito ao estilo de vida “degenerado” que se tinha na época. Incluindo, álcool, fumo, conservas e outros produtos feitos para atender a fome do setor não agrícola da economia.

O tabaco e o álcool, por exemplo, eram considerados remédios para o tratamento de algumas doenças, e esse tipo de produto era vendido, não como nocivo, mas fazia parte da mesa de uma grande parte das famílias estadunidenses. Sepúlveda (2012, p.60) acrescenta que a medicina do período estava arraigada em superstições. Não somente Sepúlveda, mas, Thomas (1988, p.61-96) irá afirmar que, foi colocado sobre o homem do campo grande parte dos erros e superstições da medicina da época.

Ainda sobre o fumo e o álcool, deve se considerar com que regularidade esses produtos faziam parte da mesa do estadunidense. Clark (1995, p.148) dirá que os EUA eram uma república de alcoólatras, pela grande incidência deste produto. Teixeira (2012, p.61) relata que: “o consumo de álcool anual per capita havia subido de 11,3 litros em 1800 para 15,1 litros em 1830. Em apenas três décadas, o consumo aumentara 33,5%”. Mas esse era apenas um lado da “alimentação” do período.

O estilo de vida estadunidense incluía uma dieta restrita, com poucas opções ou variações. A alimentação mais comum era a base de carnes, batata, sal e açúcar. White (2000, p.101), coloca que: a escassez de alimentos, como: frutas e legumes, fazia com que a população optasse por uma alimentação demasiado calórica com pães e pasteis. E a regularidade com que comiam bolos, tortas e frituras era alta. Flandrin e Montanari (1998, p. 562) relatam que:

Até meados do século XIX, o consumo de frutas e legumes era essencialmente limitado às produções locais, e o calendário do cozinheiro era calcado no do cultivador da horta. No início do século XIX, no entanto, o desenvolvimento das técnicas de conservação por esterilização pelo calor, empreendido por Nicolas Appert, permitiu a fabricação das mais variadas conservas, em particular as de legumes, que mantinham mais ou menos o sabor do produto fresco.

(18)

18

Todo esse esforço tinha como objetivo abastecer o setor não agrícola da economia. E fornecer uma “ilusão” as classes menos favorecidas de que agora gozariam de algum conforto. O setor das conservas, por exemplo, dava ao estadunidense a oportunidade de variar seu cardápio que era demasiado restrito na época. Segundo Flandrin e Montanari (1998, p. 589):

O pioneiro da indústria de conservas nos Estados Unidos é William Underwood. Depois de ter realizado, na Inglaterra, experiências relativas à conservação dos alimentos, ele decidiu introduzi-las nos Estados Unidos para onde emigrou em 1817. Dois anos depois, abria em Boston uma modesta fábrica de conservas para preparar pequenas quantidades de frutas, pepinos e molhos aromáticos, que colocava em garrafas.

Assim, todo esse potencial que a industrialização trouxe aos estadunidenses foi observado por dois lados antagônicos, quanto a transformação que acontecia. Existiam aqueles que culpavam o modelo econômico e a industrialização pela situação degradante na qual vivia o indivíduo na cidade; afinal, haviam sido forçados a ir para lá. E aqueles que observavam o lado positivo do modelo econômico e da industrialização. Flandrin e Montanari (1998, p. 563) argumentam que: “Os negociantes de grãos e sementes, assim como os cultivadores de viveiros, estavam desempenhando um papel essencial ao proporem novas variedades, com produção mais precoce ou tardia, com melhor rendimento e com apresentação e sabor aperfeiçoados”.

O caso da carne também é interessante para demonstrar os impactos da industrialização sobre a alimentação. Durante o período em que a industrialização transformava o setor agrícola da economia, obrigando-o a se desenvolver tecnologicamente para atender a demanda do mercado, a carne, de igual modo, também teve de se adequar a esse novo modelo econômico. Flandrin e Montanari (1998, p.582) afirmam que durante todo o século XXI, o desenvolvimento considerável da criação de bovinos obrigou as empresas que comercializam esses gêneros alimentícios a empregar novas técnicas para preparar e conservar os alimentos. Esse seria o reflexo de uma sociedade onde muito se produz, mas pouco, se possível nada, deveria ser desperdiçado. Afinal, o lucro estava no despacho de todo material produzido a preço de mercado. Outro exemplo de conserva de produtos de origem animal, seria o leite. Flandrin e Montanari (1998, p.589) lembram que: “Na mesma época, tanto na Europa como nos Estados Unidos a expansão da indústria de conserva de produtos de origem animal e hortaliças é acompanhada pelo rápido desenvolvimento da indústria do leite em caixa”. Na realidade, a necessidade que se tinha de preservar o leite fresco era

(19)

19

notável. Por ser um produto com prazo de validade curtíssimo e perigoso, higiênica e sanitariamente, deveria ter sua composição química alterada, a fim de sanar esses problemas, que tanto preocupavam os produtores, quanto os consumidores do alimento.

O pão como outro exemplo, pode ser apontado como sendo um dos casos dessa cultura de conservação com a finalidade de não desperdiçar aquilo que se produzia. Grenha (2011, p.37) diz que o pão, “tradicionalmente feito em casa, era, cada vez mais, produzido em padarias situadas nos centros urbanos, onde não existam quaisquer critérios de limpeza”. A matéria prima para confecção deste produto ainda vindo de uma maneira subsistêncial, foi aos poucos dando lugar a uma produção mais acelerada. Mas mesmo a confecção do pão era questionável. Grenha (2011, p.37) sublinha que: “A água utilizada para a preparação dos alimentos provinha de rios e poços muitas vezes contaminados por infiltração das nossas fossas e a distribuição de água apenas se conseguia por canalizações muito rudimentares”.

É observando uma América do Norte em alerta no regime dietético que fica claro como que muitos personagens do movimento pró reforma de saúde surgiram. Foi neste cenário que White se mostraria como uma importante reformadora pró saúde. Zukowski (2010, p. 97) resume, apontando para as causas que impulsionaram a se ter uma reforma de saúde da nação estadunidense: “os problemas de saúde e a imoralidade experimentada pelos americanos levaram muitas pessoas a envolverem-se em terapias naturais e movimentos de reforma de saúde no começo do século 19”. Afinal, o cenário norte americano se encontrava mergulhado no álcool, no fumo, em alimentos pouco nutritivos, e a mercê da produção de alimentos feitos em péssimas condições sanitárias. Desta forma, “os pontos principais defendidos por estes reformadores eram a reforma alimentar, o uso de água dentro e fora do corpo, exercício, descanso e a abstinência de bebidas fortes, incluindo o chá e o café” (ZUKOWSKI, 2010, p. 97).

Mesmo com os movimentos pró-reforma de saúde divulgando essas questões na dieta alimentar estadunidense, a conscientização por parte da população levaria certo tempo para se estabelecer. E mesmo no caso de White seria difícil. Muitos ao receberem as instruções de White, simplesmente a ignoraram. Fato é que a primeira instrução que White teve acerca das questões de saúde e alimentação remonta a antes do movimento Adventista do Sétimo Dia, isto é, aconteceria em 1842. Interessante será perceber que sua proposta de saúde viria com um teor religioso, intimamente ligado a teologia escatológica da denominação. Mas antes, é necessário entender a passagem do movimento Millerita para o Adventista do Sétimo Dia.

(20)

20

1.2 Surgimento do movimento Adventista do Sétimo Dia

A IASD nasce institucionalmente em 1863, mas suas raízes remontam a um movimento conhecido por Millerismo. O Millerismo, foi, a grosso modo, a interpretação do fazendeiro batista William Miller a respeito das profecias para o tempo do fim. Sugerindo o segundo advento de Cristo à terra. Nesta parte, como objetivo, pretende-se apresentar em linhas gerais como foi o desenvolvimento do Millerismo até chegar ao Adventismo do sétimo dia.

Uma premissa importante para nosso tema, diz respeito ao imaginário norte americano fortemente ligado a eleição cristã. Karnal (2007, p.39) destaca que: “Os “puritanos” (protestantes calvinistas) tinham em altíssima conta a ideia de que constituíam uma “nova Canaã”, um novo “povo de Israel”: um grupo escolhido por Deus para criar uma sociedade de “eleitos”. E muitos são os historiadores que colocam os EUA como se desenvolvendo a partir da ideia de que foram escolhidos por Deus para gerenciar e guiar as outras nações. A doutrina do destino manifesto, A cidade sobre a colina, e o pós milenialismo, foram concepções que refletiam o imaginário norte-americano de povo escolhido por Deus. Todas as ações dos estadunidenses, quer fossem boas ou ruins eram justificadas pela “eleição” Karnal (2007, p. 50), por exemplo, declara que: “os peregrinos haviam se identificado com o povo eleito que Deus conduzia a uma terra prometida. Tal como Deus dera força a Josué (na Bíblia) para expulsar os habitantes da terra prometida, eles acreditavam no seu direito de expulsar os que habitavam da sua Canaã”.

Uma das questões fundamentais para compreender o Millerismo está na dinâmica de sua época. Tem-se os acontecimentos do século XVIII como sendo essências para o despertamento da humanidade em buscar compreensão das profecias que dizem respeito ao fim dos tempos. O terremoto de Lisboa1 em 1755 e a revolução francesa de 1790 foram eventos de projeção mundial e que chamaria a atenção dos estudiosos para a bíblia, ainda que fosse uma época com muitas dificuldades nos meios de comunicação. Segundo Knight (2010, p.8) “ A violência e magnitude da catástrofe francesa fizeram com que os olhos dos eruditos das duas margens do atlântico se voltassem para as profecias bíblicas de Daniel e

Apocalipse”.

Outra noção importante para compreender o campo no qual se desenvolveu o Millerismo, foi o ambiente revivalista pelo qual passava os EUA. Desde 1730, os estadunidenses experimentaram uma “revolução” no pensamento religioso do país. O primeiro grande despertamento, aconteceu com pregadores como Jonathan Edwards

(21)

21

(17031758) e George Whitefield (1714-1770). O segundo despertamento religioso aconteceu de 1790 até 1840. Seu discurso girava em torno de um posicionamento evangélico mais ativo, lutando contra todas as formas de cercear a liberdade, como: sufrágio feminino, abolicionismo, além de propor uma reforma no sistema prisional. Entre seus principais discursadores estavam: Charles Finney (1792-1875), Lyman Beecher (1775-1863), Barton Stone (1772-1844) e Joseph Smith Jr. (1805-1844). Miller era uma voz ofuscada diante do cenário religioso estadunidense, mas foi sua singularidade interpretativa que lhe garantiu sucesso no movimento.

Knight (2010, p.10) descreve Miller como um candidato improvável ao ministério. Mesmo nascendo em um berço cristão, e tendo parentes no ministério dos batistas, Miller, desde o início, demonstrou imenso desprezo pela religião, e o cristianismo em particular. Por grande parte da sua vida foi um deísta em busca da verdade. Sua adesão ao cristianismo se deu de uma forma particularmente interessante.2

Depois de sua experiência religiosa, Miller começaria a estudar a bíblia, se tornando “um homem de um único livro”. Foi sua interpretação de que Cristo voltaria de forma visível, pessoal e física, antes do milênio, que daria autenticidade ao seu movimento. Knigth (2010, p.9) lembra que: “a ideia era que as reformas e outros aspectos do Despertamento preparariam o mundo para o milênio de Apocalipse 20, durante o qual a terra continuaria a melhorar até o retorno de Cristo no fim dos mil anos”. E Miller, na contramão das correntes da época, acreditava em uma ideia tida por pessimista. O Mundo não melhoraria, pelo contrário, só pioraria, e Cristo voltaria para reformar e transformar.

Baseado nas Profecias de Daniel 8, Miller chegou à conclusão de que Cristo estava as portas. E depois de muito estudo, Miller marcaria a data para o segundo advento de Cristo à terra, 22 de outubro de 1844, foi a data limite estabelecida pelo movimento millerita. Vale lembrar que a marcação de datas para acontecimentos proféticos não era algo estranho a época, o próprio pregador Jonathan Edwards já havia marcado a data para o início do milênio em 1886. Assim, o mainstream estadunidense já havia se habituado a esse tipo de recurso. Segundo Schwarz e Greenleaf (2009, p. 31), foi “ao estudar Daniel 8:14, ele [Miller] se convenceu de que o santuário a ser purificado no final dos 2300 anos era a igreja, que seria purificada com o retorno de seu senhor”.

2 Knight (2015) destaca a conversão de Miller girou em torno da Batalha de Plattsburg, em setembro de 1814.

“Nela, o arremedo de um exército norte-americano derrotou as forças superiores de membros regulares do exército britânico, alguns dos quais haviam vencido Napoleão fazia pouco tempo” (KNIGHT, 2015, p.11). Isso, segundo Knight (2015), fez com que Miller abandonasse suas convicções deístas e creditasse tal “livramento” a providência divina. Para mais: Knight (2015, 2003, 2015).

(22)

22

Fato é que, o movimento de Miller foi ganhando força pelo teor da sua mensagem, que embora possa ser interpretada por pessimista por alguns, por outros foi entendida como a solução dos problemas sociais, culturais, sanitários e econômicos da época. E a medida que se aproximava do dia marcado por Miller, mais adeptos o movimento conquistava. Segundo Schwarz e Greenleaf (2009, p.45), Na manhã do dia marcado, estima-se que mais de 100 mil milleritas aguardavam o retorno de Jesus. Pessoas de várias denominações, que haviam deixado suas igrejas aguardavam a “volta do noivo”, Batistas, Anabatistas, Conexão Crista, Metodistas, Presbiterianos e outros.

O dia chegou, pessoas deixaram seus afazeres, muitos demitiram-se de seus empregos, colheitas foram deixadas sem recolher, tudo em virtude da segunda vinda de Cristo. Mas esse, não voltou. Knight (2005, p. 54), descreve esse quadro como:

“Desorientação” e “confusão” são duas palavras que nos ajudam a captar o ânimo e a estrutura do Adventismo millerita após 22 de outubro de 1844. Embora o movimento anteriormente soubesse para onde estava indo e tivesse ideias claras de como alcançaria seus objetivos, achava-se agora mergulhado num mar de incertezas. [...] O milerismo no período posterior a outubro de 1844 estavam em estado de crise. Os meses e anos posteriores a outubro de 1844 encontraram os adventistas em busca de identidade, tarefa que nunca sonharam empreender e para a qual, de muitas maneiras, estavam mal equipados.

Dentre os dispersos estava um grupo classificado por muitos teólogos da denominação, como: adventista da porta fechada. Essa classificação diz respeito a visão da missão evangelística denominacional, isto é, não acreditavam que tinham o compromisso de pregar o evangelho, mas tal pensamento aos poucos foi suplantado. Especificamente em meados de 1850.

White neste período, não possuía qualquer projeção, ou relevância, no movimento Millerita posterior a outubro de 1844. Knight (2005, p.65) esclarece que ela [White], era apenas mais uma voz conflitante dentro de um Adventismo de porta fechada, entre os muitos que afirmavam ter dom profético. Os momentos que se seguiram ao evento frustrante de 1844 guiaram o Adventismo a uma postura antipática e indiferente quanto a seu compromisso com as outras denominações e, quanto aos que não possuíam quaisquer proximidades com o evangelho. O principal objetivo do Adventismo até 1886 seria o de estabelecer doutrinas propriamente suas que justificasse e autenticasse a nova religião.

Todas as crenças básicas do Adventismo foram se desenvolvendo à medida que estes buscavam uma interpretação, que segundo os mesmos, “melhor exprimisse a vontade divina”.

(23)

23

A questão do sábado, o santuário celestial, a imortalidade condicional da alma e a volta literal, pessoal e física de Cristo, foram crenças que até 1848 estava em conformidade de pensamento entre os adventistas.

Em 1863, ela seria formalmente reconhecida como uma denominação, mas ainda com fortes traços sectários e, com suas práticas proselitista ainda engessadas. O comportamento dos adeptos do Adventismo fez com que cada vez mais a religião ficasse menos convidativa. A lógica era: porque pregar para as crentes questões que são semelhantes? O importante era pregar uma mensagem que fosse essencialmente adventista. Seguindo esse pensamento, os evangelistas adventistas tinham o costume de adentrar em uma comunidade e desafiar publicamente os ministros acerca de temas distintivamente seus. Temas como: natureza da morte e do inferno, o verdadeiro sábado, e outros temas. Os efeitos de tal comportamento não seriam positivos. Knight (2003, p. 21) descreve que:

40 anos de pregação desse tipo provocou uma espécie de separação entre o Adventismo e o cristianismo em geral. Assim sendo, o apelo de Ellen White, em Testemunhos para Ministrosenfatiza a necessidade de o Adventismo pregar a “mensagem do evangelho de Sua Graça”, para que “o mundo – incluindo as outras igrejas - não mais dissesse que os adventistas do sétimo dia falam na lei, mas não ensinam a Cristo nem nEle crêem.

Esse comportamento fez com que os evangelistas fossem rotulados como polemistas, que mais possuíam preocupação em vencer na base de um bom argumento do que expressar amor com aqueles que deles discordavam. Embora White os descrevesse como “estando doutrinariamente corretos ela sugeriu que os mesmos tinham um espírito errado. No entanto, muitos rejeitavam as instruções de Ellen por ser jovem, por ter pouco conhecimento secular e por possuir debilidades físicas, mas Joseph Bates (1792-1874) transformaria esse cenário.

É importante fazer referência a vida de White, como sendo um reflexo de seu tempo. Tendo nascido e vivido parte da sua infância em uma zona rural, Ellen e sua família foram forçadas pelo setor não agrícola da economia a mudar-se para a cidade grande mais próxima de onde ela e sua família moravam. E de fato, vivenciou toda a mudança dos hábitos alimentares norte-americanos, e por isso, junto a outros reformadores pró-saúde, traria instruções acerca de hábitos alimentares diferente dos que fora estabelecido pela sociedade de consumo e pela industrialização.

(24)

24

1.3 De adolescente a profeta no Adventismo

Esta parte tem como objetivo recontar a trajetória de White a partir de sua adolescência até seu reconhecimento como profeta no Adventismo. De fato, é importante tratar rapidamente de sua infância até a sua conversão ao Millerismo para compreender como se desenvolveu a figura White na dinâmica da denominação.

Ellen G. Harmon nasceu em 26 de novembro de 1827, no vilarejo de Gorhan, estado de Maine. A primeira parte de sua infância foi em uma fazenda que ficava a aproximadamente 3,5km de distância da sua cidade natal. Participante das transformações culturais, sociais e econômicas de sua época, a família Harmon estaria sujeita as pressões econômicas e industriais de sua época. Sepúlveda (1998, p.28), enfatiza que a primeira parte da vida de Ellen se deu em uma zona rural, posteriormente se mudando para Portland no mesmo estado; cerca de 20 quilômetros de diferença. Portland, que desde cedo foi um centro de atividades industriais e outras atividades ligadas à pesca se aprestaram como uma fuga do campo para a família Harmon.

O período no qual a jovem Ellen se mudou para Portland (1831-1833), seus pais viram-se sem saída. Utilizando como justificativa as oportunidades que a cidade apresentava para o sucesso da família, partiram de Gorhan. Sepúlveda (1998, p. 21) pondera que:

As mudanças revolucionárias que haviam se desencadeado sobre os Estados Unidos finalmente transformariam a vida diária da família Harmon e de quase todos os habitantes da nação. Robert e Eunice Harmon [...] não somente tiveram e abandonaram a fazenda. Eles mudaram-se para a cidade com seus filhos, e tiveram que aprender a sobreviver em um ambiente totalmente diferente do que haviam conhecido.

O ato de migração por parte dos camponeses era conhecido. Como dito anteriormente, uma das implicações para formação de uma classe industrial tinha por pressuposto a desapropriação de terras, assim, surgindo uma população excedente que favoreceria o setor não agrícola da economia. Portanto, muitos foram os que, pressionados pelo sistema econômico, seriam forçados a deixar sua terra natal e aventurar-se pela cidade.

Os Harmon, quando saíram do campo, habitaram nas regiões mais decadentes de Portland. Em maioria, todos aqueles que migravam do campo para a cidade encontravam residência unicamente em bairros pobres, onde viviam uma vida mais complexa que a do campo. No entanto, por mais que existisse pressão no deslocamento do campo para a cidade,

(25)

25

a infinidade de oportunidades era uma das motivações. Sepúlveda (1998, p. 33) argumenta que:

Novas portas abriram-se no Noroeste dos Estados Unidos para os filhos dos mais pobres. Ellen nasceu numa época em que essas portas se abriram para ela, dando-lhe oportunidades que as meninas de outras gerações não possuíam. Até então, a educação havia sido um luxo.

O estado do Maine era conhecido como um centro econômico devido a suas atividades portuárias. Localizado na costa leste dos Estados Unidos, apresentava-se como um local indesejável para os pobres que corriam atrás de trabalho (TEIXEIRA, 2012, p.34). A educação local era de cunho progressista e priorizava a educação masculina à feminina. O objetivo era formar homens capacitados para mão de obra no setor comercial do período. O sistema de saúde também deixava a desejar, o saneamento básico era quase inexistente. Douglass (2001, p. 45) reitera dizendo que:

A estatística da cidade enumera uma ampla relação de causa mortis, indo ‘desde uma extensa variedade de febres (tifoide, tifo, febre pútrida) e doenças comuns à época (cólera, sarampo), até a algumas designações hoje consideradas estranhas e arcaicas (escrófula, súbita e gavela). De longe, a mais comum causa de óbito era tísica pulmonar, seguida por febres, hidropsia, distúrbios intestinais e outras doenças que haviam atingido proporções epidêmicas (como sarampo, em 1835, e escarlatina, em 1842).

E o alto índice de imigração fortalecia a péssima qualidade de vida nas cidades. Ainda, segundo Douglass (2001, p. 46), a população nos Estados Unidos cresceria de forma abrupta. Se em 1800 a população estadunidense era cerca de 5 milhões, já em 1850, devido à grande oportunidade de crescimento e empreendedorismo que a nação apresentava, pulou para 20 milhões de habitantes. E esse abrupto crescimento no índice migracional, faria com que a estrutura e a dinâmica social nas cidades fossem ficando cada vez mais complicada. Essa, assim como outras questões, como afirma Teixeira (2012, p.36), “transformaram a política norte-americana durante o século XIX, de uma política humanista, pacífica, cooperativa e solidária, para uma política materialista, conflitiva capitalista e sectária”.

Sepúlveda (1998, p. 48) argumenta que o século XVIII e XIX foram decisivos para o crescimento da nação. Teixeira (2012, p. 46) reitera que:

(26)

26

Muitos eram os apelos que contribuíam para tamanho crescimento urbano das cidades. Educação gratuita e inovações úteis, como telégrafo, o telefone, a lâmpada elétrica, o bonde elétrico e o balão de transporte de passageiros, dentre outras invenções, alimentavam o entusiasmo daqueles que encontravam nessas comodidades, motivos atrativos que ao lado de outros os faziam correr para as cidades na busca de desfrutar de suas novidades.

Foi diante de tantas oportunidades que White desferiria suas críticas às cidades. Os atrativos escondiam as complexidades que lhe eram particulares. O alto índice migratório fez com que o crescimento infraestrutural fosse desordenado, causando inúmeras dificuldades de locomoção e saneamento. A este exemplo temos o grande incêndio de Chicago em 1871. Poluição do ar, poluição visual, ambientes construídos sem ventilação, ruas não pavimentadas, infestações de ratos, esgoto a céu aberto e água sem tratamento. Estes são apenas para citar alguns dos problemas que eram corriqueiros das cidades no período em que White viveu. Embora não tenha presenciado esse fenômeno de forma exata no início de sua vida, ela o conheceu na segunda metade da sua trajetória (TEIXEIRA, 2012, p. 49).

De qualquer forma, pioneiros como: William Miller, Joseph Bates, e Uriah Smith eram também homens de origem rural. Bates era pescador, Miller e Uriah eram fazendeiros. Grande parte dos que aceitaram os apelos da pregação de Miller eram de origem rural.

Entretanto, estas oportunidades, oferecidas nas cidades, trariam um efeito colateral irreparável para a jovem Ellen. Com cerca de nove anos de idade, Ellen sofreu um atentado à sua vida por uma jovem local que lhe arremessou uma pedra. Esse atentado marcaria a sua vida. Douglass (2001, p. 16) lembra que ocorreram alguns acontecimentos que “afetaram diretamente o resto de sua vida e serviram de ponto de convergência para ela: a lesão física que ela sofreu com a idade de nove anos, a pregação de Miller e sua profunda vida religiosa”. E foi essa pedrada que, além de um dano estético, por conta da ineficiência dos hospitais locais, fez com que Ellen tivesse de abandonar os estudos. Porém, aos 12 anos, encontraria alento para suas mazelas Karnal (2007, p. 100) coloca que: “Em sua maioria, congregacionais e presbiterianos, fortemente influenciados pelas tradições puritanas, os evangelistas do Norte promoviam reuniões menos emotivas do que as da fronteira, e encontraram terreno muito fértil nas cidades de tamanho pequeno e médio”. Portanto, torna-se característico do período, a ação adventista em procurar fixar raízes em cidades pequenas em detrimento de grandes cidades. Afinal, o senso de anonimato e permissividade que as grandes cidades forneciam tornavam as ações religiosas um tanto complexas.

Ainda assim, foi em uma cidade “grande”, para os padrões da época, que a pregação de Miller alcançaria a jovem Ellen. E nas palavras de Darius (2013, p. 156):

(27)

27

É sob esta fabulosa e alentadora premissa e promessa, sempre e cada vez mais urgente que reside a fé de cada adventista do sétimo dia desde os anos iniciais do movimento de Miller até os dias de hoje. Foi neste movimento de massa que Ellen White, já adolescente, redescobriu a alegria de viver, visto que fraca como era, temia a morte e o inferno em virtude de seus muitos alegados pecados, sendo que a retórica millerita alegando a breve vinda de Cristo em cores vibrantes, a transportou para o Céu, um céu literal e natural, onde os frutos e as flores jamais morreriam e homens e mulheres livres do pecado e da dor passariam seus dias eternais junto ao Sol da Justiça em meio às mais frondosas árvores, próximo do Jardim da Árvore da Vida, trabalhando na terra, sempre fértil e boa.

De fato, o teor da mensagem de Miller era convidativo e alcançou a muitos de muitas denominações. Knight (2010, p. 21) fala que os motivos para o sucesso da pregação de Miller estava em: (1) a atuação e habilidades de Joshua V. Himes como “napoleão da imprensa”. (2) O teor racional da mensagem, pouco apelativa as sensações. (3) E a aproximação da data marcada, que solucionaria os problemas dos EUA em decadência.

White no início do movimento, nada mais era que uma jovem com problemas físicos que alegava ter o dom profético. Neste período, muitos foram os que alegando ter dom profético fundaram denominações, que subsistem até hoje, como por exemplo, os Mórmons de Joseph Smith Jr.

Bates sempre foi demasiado duvidoso sobre a inspiração de White. Ele dizia: “Não acredito em visões. Mas se conseguisse crer que o testemunho relatado pela irmã nesta noite é mesmo a voz de Deus para nós, eu seria o homem mais feliz do mundo” (KNIGHT, 2010, p.63). Mesmo duvidoso Joseph Bates não havia rejeitado a possibilidade de imediato acerca da inspiração divina de White. Ele então decidiu investigar o que a jovem White entendia acerca do dom profético. Ele escreveu: “procurei oportunidades na presença de outros, quando sua mente parecia livre de exaltação, fora de reuniões, para questionar e interrogar a ela e aos amigos que a acompanhavam, sobretudo sua irmã mais velha, a fim de tentar chegar à verdade” (KNIGHT, 2010, p. 63). Ele continuou sua investigação, considerou inclusive que Ellen pudesse estar sob a influência hipnótica, mas foi em 1846, que testando o dom profético de Ellen que Bates começaria a crer na inspiração de White. Knight (2010, p.64) descreve o ponto de conversão de Bates acerca do dom de profecia de White. White teve uma visão que incluía dados astronômicos, aos quais Bates estava familiarizado, visto que era marinheiro. Depois que White saiu de sua visão, Bates indagou-a acerca de seu conhecimento sobre astronomia. Foi onde a autora assegurou que nunca havia tido contato com qualquer material de astronomia. Knight (2010, p. 64) relata que:

(28)

28

A evidência foi suficiente para o cético Bates. Daquele momento em diante, passou a acreditar firmemente que Ellen tinha dom divino. [...] Em janeiro de 1848, Bates fez um apelo a seus leitores para que não rejeitassem a obra de Ellen White “por causa de sua juventude, suas enfermidades corporais e sua falta de conhecimento secular”. Afinal, destacou: “A característica de Deus sempre foi usar coisas fracas deste mundo para confundir as sabias e fortes”. De acordo com Bates o Senhor a estava usando para “encorajar o pequeno rebanho” numa época em que muitos dos líderes estavam desertando.

De qualquer forma, mesmo com um parecer positivo de um dos pioneiros mais importantes da denominação, White tinha que ganhar atenção dos que negligenciavam suas habilidades proféticas. No entanto, a adesão de suas instruções foi ganhando espaço à medida que o tempo passava. Novaes (2016, p. 87) acrescenta, dizendo que: “Embora tivesse seu início calcado no estudo sistemático das escrituras desde o legado millerita, nas primeiras décadas dos anos 1900, os textos de Ellen White ganharam entre a membresia um status que chegava a rivalizar com as Escrituras”. Chegou-se inclusive a compreensão de que “os conselhos de White eram insubstituíveis, à frente de seu tempo e que todos vinham por revelação direta do céu – ao contrário do que ela mesma reivindicava” (NOVAES, 2016, p. 87).

Ellen teve uma trajetória de vida complicada. Desde sua infância sofreu com as transformações de seu tempo, onde foi vítima de um atentado a sua vida, posteriormente fora expulsa da sua congregação metodista. Na adolescência, encontrou alento na pregação de Miller, dando início a sua carreira como mensageira do senhor, mesmo que seu reconhecimento enquanto tal levou anos. O que se percebe a respeito é: uma mulher negra3, com cerca de 1,55m, com algumas debilidades físicas, na era vitoriana, que enfrentou diversas dificuldades afim de contribuir com a mensagem que reivindicava como sendo a vontade divina.

1.4 Reformadores pró-saúde antes de Ellen White

A questão da saúde, embora seja uma das primeiras abordagens do Adventismo no campo missionário, foi em primeira instância uma reação aos hábitos americanos do período.

3 Segundo Darius (2014, p.177), Ellen G. White era: “filha de pai descendente de europeu e de mãe caribenha:

uma negra, portanto. Uma mulher negra à frente de uma denominação religiosa genuinamente americana e conservadora, em um contexto de perseguição e preconceito, por si só constitui um paradoxo apenas possível em uma nação democrática militante”.

(29)

29

A reforma era saúde era defendida em solo estadunidense antes mesmo do advento dos escritos whiteanos acerca dos hábitos alimentares naturais. Schwarz e Greenleaf (2009, p. 100) destacam que “Nos tempos anteriores a Guerra Civil, os americanos sofriam muito de um grande número de doenças praticamente desconhecidas e seus descendentes do final do século XX: febre tifóide, difteria, malária, tuberculose”. E como parte da causa, a alimentação com gorduras excessivas, massas, frituras, carne e farinha refinada foram colocados como agentes dessas ondas de doenças.

As condições precárias no qual se encontrava os EUA faria com que alguns personagens propusessem uma reforma na alimentação e nos hábitos. Dentre eles estava o Dr. Joel Shew, Dr. Harriet Austin, Syvester Graham, William Alcott e Dr. J. C. Jackson (DOUGLASS, 2003), (ZUKOWSKI, 2010) e (SCHWARZ E GREENLEAF, 2009)

Sylvester Graham (1794-1851) foi um importante presbítero do século XIX. Foi conhecido por sua ênfase em uma dieta vegetariana. Os produtos que hoje existem, como: farinha Graham, o pão Graham e os cereais Graham, foram inspirados em sua pregação sobre hábitos dietéticos que contrastava com a alimentação pobre em nutrientes que era costume de sua época. Conta-se que seu desprezo pelos hábitos de fumo e álcool deveu-se a algumas experiências que teve quando dirigiu uma taberna em Connecticut. Sua conversão ao vegetarianismo deu-se em 1829, momento este em que ocorreram os grandes surtos de cólera na Europa. Diziam os médicos que a melhor forma de evitar contrair a doença era abstendo-se de alimentos cárneos e vinho do porto. Sua teologia unida a uma perspectiva vegetariana procurava sustentar o indivíduo e mantê-lo saudável.

William A. Alcott (1798-1859) foi um educador e reformador norte americano que escreveu o primeiro livro de receitas vegetarianas nos EUA. Em 1826, foi licenciado para ensinar medicina, onde contribuiu para mudança de hábitos que permeava o EUA. Foi o primeiro presidente da American Vegetarian Society. Teve um breve relacionamento com Graham, onde ambos dariam início a primeira sociedade fisiológica do mundo.

Joel Shew (1816-1855) foi um médico estadunidense que também no século XIX procurava a cura para as doenças por métodos naturais. Shew defendia que alguns tratamentos de doenças podiam ser efetuados pela hidroterapia. Shew foi um dos primeiros a propor a “cura pela água” e combatia veementemente os hábitos reinantes nos EUA (FORTIN e MOON, 2018).

A Dra. Harriet Austin (1826-1891) foi uma médica estadunidense que procurou contribuir para o campo da saúde através de uma necessária reforma no vestuário da população feminina de sua época. Influenciadas pela cultura francesa e suas roupas que pouco

(30)

30

favorecia a circulação de sangue entre outras questões, a Dra. Autisn escreveria para as mulheres de sua época. E percebendo tal dificuldade, procurou confeccionar trajes que favorecessem uma vida mais saudável tanto o quanto possível as mulheres de seu tempo.

E mesmo aqueles que não possuíam capacitação profissional para tratar o tema percebiam a relevância de tratar o tema da saúde com o devido respeito. A Sra. M. L. Shew, em seu livro: Water Cure for Ladies: A Popular Work on the Heatlh, diet, and Regimen of Females and Children, and the Prevention and Care of Diseases, Shew condenaria a utilização de bebidas alcoólicas. Tratava a medicina a base de drogas como perniciosa, e alguns condimentos, como o sal deveria ser eliminado da dieta estadunidense. O chá era tratado como um produto venenoso. O fumo e o tabaco eram, sem dúvida, algo a ser eliminado dos hábitos estadunidenses. Abster-se de produtos lácteos era tratado como um ideal. E, por fim, era recomendado que se fizesse uma dieta vegetariana, entre outras instruções. Em grande medida as instruções da Sra. Shew se aproximam da mensagem de saúde proposta por White.

Graham, por exemplo já observaria a relação entre alimentação e a mudança de comportamento, diz-se que este observava a dieta vegetariana como o melhor remédio para controlar os desejos e impulsos sexuais. Tema este que será recorrente nas instruções whiteanas. A relação entre alimentação e comportamento para White é algo razoável, e uma boa alimentação mostrava-se como uma solução para os comportamentos observados como: “depravados”.

É importante tal levantamento, para colocar a condição norte americana a respeito dos hábitos saudáveis como sendo objeto de preocupação de algumas figuras do período. E embora o tema da alimentação saudável que tenha surtido maior efeito em uma religião fossem os conselhos de White, não quer dizer que os outros fossem dispensáveis, muito pelo contrário, contribuíram para estabelecer uma linha de frente diante aos hábitos estadunidenses do período. Zukowski (2010, p. 97) comenta que:

As práticas convencionais de medicina não eram eficientes para promover a cura na maioria dos casos. Os procedimentos médicos baseavam-se em premissas erradas no que tange o diagnóstico e natureza das doenças. Os tratamentos mais comuns eram o sangramento e o uso de fortes estimulantes e drogas como ópio e protocloreto de mercúrio. Pobres hábitos alimentares contribuíam para o aparecimento de doenças. A base da dieta americana era carne, pão branco, massas, frituras e alimentos gordurosos.

(31)

31

Tais condições fariam com que os movimentos pró reforma de saúde fossem justificáveis. Uma questão interessante é observar como a influência dessa reforma de saúde foi importante para o estilo de vida, qualidade e longevidade. Zukowski (2010, p.97) coloca que Joseph Bates, foi um dos primeiros pioneiros do adventismo a aderir a reforma de saúde, “sendo ele o mais saudável dentre todos os líderes do movimento Adventista do Sétimo Dia”. Flandrin e Montanari (1998, p.604) observam que:

Thomas McKeown, professor de medicina social na Universidade de Birmingham, constata de maneira mais matizada que, nos países europeus e nos Estados Unidos da América, a taxa da mortalidade baixou nos séculos XVIII e XIX graças ao aumento das reservas alimentares, que se traduziu por uma alimentação mais regular, para não falar de uma nutrição mais elaborada.

Assim sendo, a taxa de longevidade não havia se tornado um denominador em comum entre os vegetarianos. De uma forma geral é razoável dizer que a taxa de longevidade cresceu abruptamente com a mecanização do processo agropecuário e não apenas em casos específicos. É importante observar que nos países que ainda persistiam na economia do antigo regime, sofreram ligeiras crises de fome e escassez, devido a produção ser menor que a demanda existente. Mas é importante sublinhar que, embora a quantidade de pão, alimentos cárneos, laticínios e conservar produzidas fosse benéfico, grande parte deste cardápio não estava acessível a grande parte da população.

Mas as instruções de White acerca dos hábitos saudáveis, do que se tratava? Quando aconteceram? De fato, as instruções de White acerca dos hábitos saudáveis possuem muita proximidade com o que os reformadores de seu tempo propunham? O que de novo seria acrescido na proposta de vida saudável escrita por White?

1.5 As visões de White acerca do tema saúde

A mensagem de saúde descrita por Ellen, embora possua proximidades com os escritos dos reformadores pró saúde de sua época, traz seu diferencial na junção de uma teologia à uma reforma de saúde. Ainda que em seus escritos White traga muitos outros conceitos que dizem respeito a alimentação, hábitos e comportamentos, pesquisadores como:

(32)

32

Darius (2014) e Zukowski (2010), destacam que ela não traria nada de “inovador”4. As quatro “visões” que a autora teve foram norteadoras, e quando exploradas abrangem muitas outras áreas da vida saudável. É importante salientar que até o momento a IASD sequer possuía compromisso com qualquer visão acerca da alimentação saudável, hábitos e outras questões ligadas a vida saudável. Foram as visões de Ellen que trouxeram à tona a necessidade de se ter como mensagem a questão da saúde.

Ao que tudo indica a primeira “visão” de Ellen G. White aconteceu em 1842. Neste mesmo ano os EUA estavam ratificando o tratado de Webster-Ashburton, que propunha as fronteiras entre EUA e Canada. Também neste ano aconteceria a ocupação de San Antonio, Texas, pelas tropas mexicanas de Rafael Vasquez. Também, neste ano aconteceu a primeira cirurgia usando anestesia feita pelo Dr. Crawford Long, em Danielsville, Georgia. Essas são apenas para citar algumas das transformações pelas quais passavam a recente e ainda frágil nação estadunidense, no ano em que White teve sua primeira visão acerca do tema referenciado anteriormente.

White baseou suas instruções, no que seus crentes acreditam ser “visões”. E Segundo Zukowski (2010, p.98) a primeira “visão” tinha que ver com a utilização de produtos como o tabaco e bebidas alcoólicas. Ele relata que: “O anjo lhe orientou que todos aqueles que não abandonassem o tabaco não receberiam o selamento, pois o uso de tabaco é idolatria”. Interessante é observar que o tabaco foi desde cedo uma das maiores produções das colônias do sul dos EUA. Karnal (2007, p.49) destaca que: “A planta implicou permanente expansão agrícola por ser exigente, esgotando rapidamente o solo e obrigando a novas áreas de cultivo. O fumo tomou-se um produto fundamental no Sul”. Mesmo depois da guerra civil norte americana que aconteceu entre 1861-865, a produção não findaria – afinal essa tinha como principal personagem da produção o escravo. O que aconteceria de fato seria apenas um retardo na produção, que após equilibrar-se, com a mecanização do processo, voltaria ao normal, mas agora tendo a disposição maquinário para a produção, e não mão de obra escrava.

White embora fosse a principio contra a escravidão, não critica a utilização e produção de produtos como o tabaco por conta do que se fazia aos escravos, mas pelo que esses produtos representavam para a vida espiritual. Zukowski (2010, p.98) esclarece que:

4 Segundo Darius (2014, p. 177), White se utilizou de meios e recursos de seu tempo para elaborar tais

afirmações. “Assim, observa-se que em seus primeiros panfletos temáticos, ela citou extensivamente outros reformadores da saúde de seu tempo, embora com ressalvas: ao não apresentar uma mensagem genuinamente nova, mas contextualizar os princípios de saúde dentro do escopo divino, ela optou por evitar ideias de reformadores de saúde da sua época que estavam em conflito com os princípios que ela recebera em visão.

Referências

Documentos relacionados

O imperativo presente da voz ativa, apenas na segunda pessoa do singular e do plural, é formado tomando-se para a segunda pessoa do singular o tema puro do verbo,

A pesquisa apresenta a comparação entre as diferentes regulamentações existentes relacionadas a auditoria contábil no mercado de capitais, na abertura de capital, emissão

Avraham (Abraão), que na época ainda se chamava Avram (Abrão), sobe à guerra contra os reis estrangeiros, livrando não apenas seu sobrinho Lot, mas também os reis

Opcional de quarto ampliado, aqui representado, deve ser escolhido no ato da assinatura do Contrato de Promessa de Compra e Venda, e a disponibilidade de execução do mesmo

Não é admissível que qualquer material elétrico não tenha este tipo de verificação, ainda mais se tratando de um produto para uso residencial... DI SJ UN TO RE S RE SI DE NC IA

• a família como aporte simbólico, responsável pela transmissão dos significantes da cultura boliviana, que marca o lugar desejante de cada imigrante nos laços sociais. Na

PUC-Campinas - Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Camilo - SP - Centro Universitário São Camilo São Judas

Entendemos que o estudo dos conhecimentos mobilizados pelos alunos relacionados ao valor posicional e, em particular, ao número zero no SND seja de fundamental importância para