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O que instantaneamente se percebe com os anos de reorganização na denominação tem que ver com os problemas da globalização e da secularização. Isto é, como a IASD se colocaria diante o cenário global? Esta parte, em especial, tem como objetivo dar uma breve apresentação a respeito de como foi o desenvolvimento das instituições vinculadas ao Adventismo diante deste cenário, e quais foram os principais desafios da mensagem de saúde diante este cenário.

Um dos maiores nomes da mensagem de saúde adventista foi o Dr. Harvey Kellogg (1852-1943). Kellogg foi responsável pela obra médica missionária dos primeiros anos do Adventismo. O século XX, com a expansão dos ministérios de difusão do adventismo, reconheceu a excelência nas instituições da denominação, dentre as quais a mensagem de saúde se incluía. “O número, variedade e distribuição geográfica dessas instituições impressionaram os primeiros pioneiros, afinal elas haviam se desenvolvido lentamente nas primeiras décadas do Adventismo” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 191). Mas foi nas últimas décadas do século XIX, que o Adventismo teve o vislumbre em números do crescimento exponencial das instituições. Mas “em nenhuma parte as instalações médicas cresceram, mais espetacularmente do que em Battle Creek. O modesto sanatório que ele havia herdado em 1876 tornou-se [...] um complexo gigantesco, capaz de acomodar 700 pacientes” (SCHWARZ E GREENLEAF, 2009, p. 200). A magnitude e excelência faziam com que o hospital fosse procurado por pessoas com alto poder aquisitivo, afinal, a excelência dos serviços disponíveis no hospital satisfazia os caprichos de todos os ricos da época. Schwarz e Greenleaf (2009, p. 200) o definem como possuindo uma atmosfera de “hotel de luxo”. Fato é, que a proposta de um hospital com tal sofisticação não era aprovada por White. O que sem dúvida acarretaria na futura dissidência do Dr. Harvey Kellogg.

O Dr. Kellogg, possuía ideias bastante progressistas para o hospital. Já em 1877, um ano após ter herdado o mesmo, Kellogg abriu um curso especial a respeito de higiene. E influenciados por White, este buscou expandir ainda mais a importância da mensagem de saúde. A Dra. Kate Lindsay e o Dr. Kellogg, em 1883, buscando alcançar maior projeção e abrangência da mensagem de saúde, recomendaram a criação de uma escola de enfermagem, que possuísse laços com o Battle Creek College. E mesmo com pouca aceitabilidade, que foi recebida a petição de Kellog e Lindsay, estes procuraram convencer os próprios administradores do hospital a dar tal passo. E já em 1890, várias centenas haviam se matriculado no programa de enfermagem. Schwarz & Greenleaf (2009, p. 200) destacam que:

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“Grande parte do sucesso da escola de enfermagem do sanatório de Battle Creek deveu-se a Dra. Lindsay” Que logo após concluir seus estudos em medicina na Universidade de Michigan em 1875, voltou a Battle Creek e estabeleceu um programa de treinamento para enfermeiras adventistas. Quando estabelecido o programa, em 1897, deixou a cidade e foi ser missionária no continente africano.

Outro exemplo da expansão da mensagem de saúde foi com o reativamento da Escola de Treinamento de Médicos Missionários, em 1889. Neste período a escola oferecia uma série de cursos de um mês a dois anos, com um foco especifico. “Muitos eram designados especialmente para ministros, missionários estrangeiros e professores das escolas adventistas. Era objetivo de Kellog dar instrução a todos os obreiros adventistas nas áreas de fisiologia, nutrição [...] exercício e reforma dietética” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 201).

A ajuda na criação de lares de repouso para idosos e orfanatos também podem ser citados como exemplo do avanço da disseminação da mensagem de saúde. A mensagem de saúde, juntamente com a gestão de Kellogg e também com sua influência em arrecadar gordas doações, fez com que fosse chamado para ocupar a cadeira de secretário médico da Associação Geral6. Schwarz e Greenleaf (2009, p. 202) destacam que, “em 1893, Kellogg recebeu uma oferta de 40 mil dólares destinados a filantropia da parte de dois adventistas relativamente novos”. No entanto, esse dinheiro foi investido em um sanatório para ricos, e seus lucros sustentavam a obra a ser feita nas cidades pelos pobres.

Durante os seis anos seguintes, a Missão Médico de Chicago desenvolveu uma grande variedade de serviços sociais, inclusive um dispensário médico gratuito, banhos grátis, uma lavanderia gratuita, um serviço de enfermeira em domicilio, uma creche gratuita para mães que trabalhavam, classes nutricionais e de assistência pediátrica, um balcão de venda de alimentos a preços irrisórios, uma casa de hospedes a preços reduzidos, uma agência de empregos, um programa para recuperação de prostitutas e alcoólatras, e várias associações de meninos. A missão até mesmo administrava uma fazenda de 160 acres fora da cidade, onde os alcoólatras podiam receber emprego temporário longe da tentação da vida urbana (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 202).

Mas a mesma ambição que Kellogg tinha em transformar a mensagem de saúde em uma porta de entrada para denominação foi a ambição que faria da sua gestão dos recursos algo insustentável. A manutenção desta obra tinha um valor altíssimo e os lucros obtidos no

6 A Associação Geral, ou General Conference, que consta no texto, faz referência à reunião de líderes da IASD.

Esta tem como objetivo organizar e proporcionar unidade à denominação. Das próximas vezes que tal referência for feita, deve-se considerar a mesma como sendo o órgão máximo da denominação.

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sanatório eram baixos, logo, como sustentar todas essas propostas? ”Kellogg esperava utilizar os lucros de suas invenções de proteína vegetal e de cereais, para sustentar a obra missionária na cidade, mas eles, também se mostraram insuficientes. Não havia escolha senão apelar para o apoio geral da igreja” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 203).

Isso faria com que, tanto os administradores da IASD, como Ellen White, olhasse com preocupação para o empreendimento de saúde comandado pelo Dr. Kellogg. Todo esse assistencialismo dado aos hospitais da denominação havia se tornado insustentável a medida que não se obtinham melhores formas para manutenção do estabelecimento. Esses empreendimentos pareciam “absorver uma grande parte das finanças da denominação e estava desviando os membros de anunciar as três mensagens angélicas de uma maneira vigorosa” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 203). Em virtude desses ocorridos viu-se como medida preventiva, eliminar da cidade as missões assistenciais.

Vale à pena lembrar que, tanto a obra assistencial como os hospitais, foi em principio estabelecido nas cidades, sendo a maioria de seu público, as pessoas da classe social menos favorecida e os fabris. Obviamente, com a excelência no atendimento, os hospitais, principalmente em Battle Creek, estariam alheios ao propósito de pregar a mensagem de saúde. Ainda assim, a liderança da IASD procurava recompensar ou amenizar tal defasagem com a aplicação de parte dos lucros nas obras assistenciais.

O último exemplo a ser citado neste momento, tendo relação com a mensagem de saúde, diz respeito ao estabelecimento de um curso de medicina, que com demasiado esforço do Dr. Kellogg, e a administração da IASD, abriram o American Medical Missionary Colege, em 1895, com cerca de 40 alunos matriculados. “Kellogg, em suas múltiplas funções como médico superintendente do sanatório, diretor do American Medical Missionary Colege e presidente da associação Médico-Missionária e filantrópica, era, sem dúvida, a pedra angular de todo o programa” (SCHWARZ & GREENLEAF, 2009, p. 204).

No que se refere aos princípios de expansão da mensagem de saúde, pela obra Médico-Missionária, deve-se colocar que o início da década de 1890, Kellogg, foi um personagem ativamente engajado em propagar a mensagem. Schwarz e Greenleaf (2009, p. 204), destacam que: Durante esses mesmos anos, Kellogg também desempenhou uma função importante desenvolvendo um sanatório adventista do sétimo dia em Guadalajara, México. “Seu conselho era procurado para todos os assuntos e detalhes à medida que a obra médica adventista esteve em andamento”. Em todos os países que se tinha a atuação da obra Médico- Missionária, como: Escandinávia, Suíça, Alemanha, Inglaterra, África do Sul, Austrália e América do Sul.

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Até o momento, o que se percebe é a mensagem de saúde avançando sendo difundida na figura da obra Médico-Missionária, - também idealizada por Ellen White. Deveriam atender aos necessitados, ou devia-se dar preferência aos que podem arcar com os custos de internação no sanatório Battle Creek? Embora existissem outras formas para alcançar os pobres, vê-se como a denominação se comportou diante dos problemas do final do século XIX, em mudança para o XX. Esse não foi o único problema apresentado, mas a dificuldade em caminhar com as próprias pernas, após a morte da primeira geração de adventistas, incluindo o casal White, apresentou-se como grande problema. Os momentos que se seguem serão abordados outros aspectos complementares do Adventismo no período de reorganização para o período de globalização da denominação.