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3.AImportânciaEstratégicadePortugal

No documento I Seminário IDN Jovem (páginas 169-175)

“Portugal, país com uma posição geográfica privilegiada no Atlântico e com uma extensa frente marítima, poderá desempenhar um papel de alguma relevância na estraté- gia europeia de segurança energética, contribuindo para a desejada diversificação das fontes de abastecimento, e dessa forma adquirir centralidade no futuro referencial ener- gético europeu de gás natural” (Viana, 2014, p. 10). Como foi anteriormente referido, Portugal foi o primeiro país a receber o shale gas americano. O shale gas é visto por muitos

como uma potencial alternativa ao gás russo, do qual a União Europeia tanto depende. Para que Portugal possa vir a ter um papel importante na política europeia de diversifica- ção dos fornecedores de recursos energéticos, é imprescindível uma aposta na criação e desenvolvimento de infraestruturas. “A posição privilegiada de Portugal pode permitir que através das interligações atuais e projetadas com Espanha e França, a Península Ibé- rica se transforme numa plataforma giratória dos fluxos energéticos da Europa, de forma a diminuir a dependência da Rússia e de fornecedores instáveis” (Fernandes, 2015, p. 95). É por isso muito importante aprofundar as ligações com Espanha e solidificar o mercado ibérico.

“Sendo que a identidade nacional é, em primeira instância, europeia, lusófona, ibero- americana e atlântica, Portugal deve privilegiar nas suas relações externas a participação em organizações e fóruns bilaterais e multilaterais desses espaços prioritários de atuação: a União Europeia, a CPLP, os fóruns de diálogo ibérico e ibero-americanos e a OTAN” (Governo de Portugal, 2015). A boa relação que existe entre Portugal e os países de lín- gua portuguesa revela-se muito importante para expandir o mercado português, tendo

também em conta que Angola é um dos principais fornecedores de Portugal. Moçambi- que promete ser um dos principais países exportadores de gás natural no futuro e a forte relação que Portugal mantém pode ser muito vantajosa. Mais uma vez, essas vantagens poderão ser utilizadas para estabelecer uma ligação entre os países de língua portuguesa e a União Europeia. “Neste âmbito, é de extrema pertinência reforçar a cooperação com os países de língua oficial portuguesa, seja em termos da nossa relação bilateral, seja atra- vés da CPLP, que importa dinamizar com mais investimento e iniciativa política dos diferentes governos” (Governo de Portugal, 2015).

A posição geoestratégica de Portugal é também importante para explorar as suas potencialidades a nível de produção de recursos. “Só recentemente o poder político nacional reconheceu o elevado potencial que o território nacional tem um termos de recursos geológicos. No âmbito dos recursos geológicos capazes de gerar energia, exis- tentes ou potencialmente existentes, esta é ainda uma área pouco explorada, onde é necessário assumir políticas conducentes à concretização de projetos, de utilização de recursos renováveis e de prospeção, pesquisa e exploração de hidrocarbonetos para os quais se tem vindo a revelar grande potencial em Portugal, em especial no deep offshore, isto

é, na Plataforma Continental Portuguesa, entre os 200 e os 2000 metros de profundi- dade.” (Rodrigues, Leal e Ribeiro, 2011, p. 40) Nesta lógica, o mar revela um enorme potencial estratégico. Cada vez mais as linhas de orientação da política portuguesa cen- tram-se numa maior aposta da exploração do mar, prova disso é a intenção e os esforços no sentido de aumentar o limite da plataforma continental, o que pode revelar o potencial energético de Portugal e, consequentemente, contribuir para diminuir a sua dependência externa. No entanto, ainda não foram descobertas quantidades de petróleo que justifique a sua extração em condições economicamente viáveis. Deve continuar a existir uma forte promoção de pesquisa nesta área; claro que tudo isto implica uma excelente coordenação de áreas como a política, económica, diplomática, cientifica, tecnológica e ambiental. (Governo de Portugal, 2013).

4.Conclusão

A energia é um elemento essencial para a estabilidade no desenvolvimento da eco- nomia, da indústria, dos serviços, da tecnologia, assim como para garantir a segurança interna. O risco de rutura no abastecimento colocaria em causa todo o funcionamento do Estado e da sociedade, diminuindo a segurança nacional. É pela extrema importân- cia dos recursos energéticos que, atualmente, a segurança energética é uma grande prio- ridade na política interna e externa dos Estados. Contemplando diferentes dimensões, as principais políticas energéticas passam pela diversificação de fontes energéticas e da origem dos fornecedores, e pelo aumento da produção endógena. O grande objetivo de muitas políticas energéticas, e especificamente, a política energética nacional, é a dimi- nuição da dependência externa. O Conceito Estratégico de Defesa Nacional identifica a dependência energética do exterior como uma das mais importantes vulnerabilidades estratégicas de Portugal e, a grande parte das medidas adotadas visam atenuar essa vul- nerabilidade.

É possível concluir que, ao longo dos anos, Portugal tem feito um esforço no sentido de diversificar os seus fornecedores. Ao nível das importações de petróleo, Portugal tem um leque diversificado de países exportadores, ainda assim, o continente africano e asiá- tico têm um enorme peso nessas importações, uma vez que Angola e Arábia Saudita são os principais fornecedores de petróleo. Relativamente ao gás natural, a sua entrada no mercado português em 1997, revelou-se essencial para diversificar o mix energético

nacional. Além disso, o terminal de Sines permitiu a diversificação das origens dos forne- cimentos, deixando de se limitar apenas às importações através de gasodutos. Portugal foi sempre muito dependente da Argélia e da Nigéria para importar gás natural, no entanto tem vindo a diversificar bastante as origens das suas importações. Parte dos fornecedores energéticos de Portugal são países com uma forte instabilidade política e social e que podem representar um risco para a segurança energética nacional. O terrorismo na Nigé- ria ou a pirataria no Golfo da Guiné podem ser uma ameaça. No entanto, apesar na ins- tabilidade dos fornecedores, Portugal não tem sofrido com interrupções no seu abasteci- mento. Novos mercados energéticos como o Catar e a Noruega, com gás natural, e os Estados Unidos da América, com o shale gas, revelam-se potenciais fornecedores por

serem, à partida, países mais estáveis e seguros e que, por isso, não colocam em causa a segurança energética nacional. Assim, Portugal deve continuar a estabelecer relações no sentido de diversificar os seus fornecedores, privilegiando as origens de menor risco associado, de forma a garantir a sua segurança energética. Neste sentido, encontra-se também a necessidade de aumentar a capacidade de reserva de energia de forma a garan- tir a estabilidade em caso de interrupção nos fornecimentos. No âmbito de diversificação dos fornecedores existe também uma evidente necessidade de uma maior aposta na cons- trução de infraestruturas que liguem Portugal ao resto da Europa, através de Espanha, e a importantes fornecedores de recursos energéticos, nomeadamente no norte de África. Existe um grande interesse por parte de Portugal de consolidar o mercado energético ibérico, o que pode trazer importantes oportunidades.

Portugal revela uma grande preocupação com a sua segurança energética, e os prin- cipais esforços da política energética nacional são no sentido de aumentar a produção endógena e, consequentemente reduzir o saldo importador. A estratégia da União Euro- peia para a energia está muito presente em todas as estratégias portuguesas para a sua segurança energética. O nosso país formulou a sua política energética em torno dos com- promissos que tem com a União Europeia e com o Protocolo de Quioto. Por esse motivo, as vertentes da sustentabilidade ambiental e da eficiência energética têm um grande peso na formulação das estratégias, existindo uma forte aposta no desenvolvimento de ener- gias renováveis, no qual Portugal tem saído bem-sucedido, pois estas energias têm cada vez mais peso na produção e no consumo, especialmente na eletricidade. Para além disso, Portugal tem cumprido as metas a que se propôs e está perto de alcançar alguns dos seus objetivos energéticos. Em termos de meta europeia, em 2014, Portugal encontrava-se em sétimo lugar dos 28 países da UE. A aposta na produção de energias renováveis é bas-

tante importante para reforçar a segurança no abastecimento, diversificar o mix energé-

desenvolvimento das fontes de energia renováveis, os recursos fósseis, nomeadamente o petróleo, continuam a ser a grande fonte de energia.

Portugal pode vir a ter uma importância estratégica no cenário energético europeu considerável, em grande parte pelo facto de beneficiar da sua localização estratégica no Atlântico, que lhe pode ser favorável para ganhar estatuto enquanto hub energético e ter

um papel fundamental na estratégia de diversificação de fornecedores da União Euro- peia, nomeadamente através do shale gas americano. Aliado a isso, está também o facto de

Portugal desenvolver muito boas relações com países de língua portuguesa, nomeada- mente com Angola, um importante exportador de petróleo, ou Moçambique, que pro- mete no futuro ser um dos maiores exportadores de gás natural do mundo, o que pode permitir a Portugal estabelecer a ponte entre os exportadores e a União Europeia.

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