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1. AMigraçãoemPortugal

No documento I Seminário IDN Jovem (páginas 198-200)

 1.1.AMigraçãoLegal

“Os portugueses sentem os benefícios da imigração, não só no plano económico, mas também na expansão da diversidade, qualificações, ambiente de tolerância, abertura ao mundo e maior cosmopolitismo”

(Plano Estratégico para as Migrações 2015-2020).

A imigração com destino a Portugal é de grande importância tanto para o anterior executivo, demonstrado pelo Plano Estratégico para as Migrações 2015-2020 (PEM) (Presidência do Conselho de Ministros, 2015), como para o atual, provado pelo Programa do XXI Governo Constitucional (PG) (Governo de Portugal, 2015), dado que é uma realidade que, se bem gerida, pode trazer grandes benefícios a Portugal. Em primeiro lugar, e de conhecimento ubíquo, é facto que as migrações são uma das ferramentas ao nosso dispor para combater o envelhecimento populacional e a deflação demográfica. Os principais benefícios económicos serão debatidos adiante mais detalhadamente; no entanto, “existe um quase consenso universal na academia de que a imigração é mais benéfica que prejudicial” (Migration Policy Institute, 2016b). Os imigrantes vêm assim contribuir para fortalecer a economia nacional, evitando o empobrecimento do País, bem como os problemas decorrentes desse empobrecimento.

O reverso da medalha são os problemas que uma grande massa humana de origens e culturas diferentes pode trazer. Na Europa começa a ser desenhado um ressurgimento de nacionalismos excludentes, que rejeitam políticas de acolhimento de imigrantes. Focar-nos- -emos agora nos problemas que podem decorrer devido a fenómenos migratórios, segundo a tipologia de Weiner, presente no trabalho de Teresa Ferreira Rodrigues (2010, p. 36).

Figura1 – Categorização das Ameaças Colocadas por Fenómenos Migratórios

No relatório Understanding and Addressing Public Anxiety about Immigration (Migration

Policy Institute, 2016b), elaborado pelo Migration Policy Institute, é argumentado que a ansiedade das populações nativas se deve principalmente a cinco fatores:

1) Fluxos migratórios que excedem a capacidade de um país a gerir de forma orde- nada.

O relatório argumenta que o fator mais relevante para o aumento da ansiedade da população residente não é a quantidade de migrantes per si, mas sim se o fluxo de

imigrantes é, ou aparenta ser, impossível de gerir de forma ordeira.

2) Preocupações de que os imigrantes irão competir com a população residente por recursos económicos escassos.

Este tópico aponta para a conhecida narrativa popular de que os imigrantes vêm “roubar” os trabalhos que poderiam ser feitos por cidadãos nacionais. Receiam que as suas características (possível desconhecimento da língua, ou falta de redes de apoio familiares, etc.) venham adicionar pressão aos sistemas de segurança social, sendo um fardo para o erário público, realidade sentida principalmente a nível local (Migration Policy Institute, 2016b).

3) Perceção de que os migrantes irão diluir os valores ou identidade da comunidade para onde migram.

Este ponto debruça-se sobre a ideia de que os imigrantes irão estabelecer uma comunidade segregada, sem se integrarem, mantendo valores e ideias que podem ser diferentes ou até mesmo contraditórios dos valores e ideias da sociedade rece- tora. O efeito é exacerbado se as diferenças entre a população imigrante e a nativa forem visíveis (particularmente diferenças religiosas).

4) Atos de terrorismo ou crime perpetrados por elementos da comunidade migrante. Refere como atos de terrorismo ou crime realizados por elementos de comunida-

des imigrantes (ou seus descendentes) vêm, por propriedade transitiva, afetar e manchar, aos olhos da sociedade recetora, a totalidade dos membros dessas comunidades.

5) A falta de confiança da população na capacidade dos governantes em executar uma política migratória de forma bem-sucedida.

Prende-se com a falta de confiança nas elites, dada a impressão de que estas não são capazes ou têm intenção de resolver este problema.

Como proposta de gestão do fenómeno migratório, o artigo propõe:

1) Tratar a imigração como fundacional da identidade nacional, ao invés de ser uma conjuntura recente.

Privilegiar narrativas que facilitam a inclusão do “outro”, como pertencente a “nós”, minimiza atritos entre as comunidades.

2) Auxiliar as comunidades migrantes (quer os recém-chegados, quer os descenden- tes) para que possam alcançar sucesso, mas nunca de forma a que a comunidade nativa sinta que está a ficar para trás.

Este é um tópico de suma importância, porque a reação das comunidades estabe- lecidas ao fenómeno da imigração é crucial no longo prazo: uma política migrató-

ria exemplarmente planeada falhará caso a população já presente num país ostra- cizar elementos oriundos de outras origens. Há que esvaziar a perceção de que cidadãos que esperam garantias do Estado social estão a ser preteridos em relação a novos elementos na sociedade, que ainda não contribuíram materialmente para o Estado social.

3) Fazer a população sentir que as suas preocupações são ouvidas. Os dirigentes políticos têm de reconhecer e engajarem abertamente as preocupações das popu- lações, sob risco de as alienarem para um assunto onde a sua cooperação é essen- cial. Dispensar posições a priori, ou rotulá-las com uma conotação negativa, into-

lerante ou xenófoba só contribui para extremar e entrincheirar posições. 4) Assumir uma política intermédia entre a acomodação, a adaptação e a restrição. Se assumirmos como resposta extremada da população nativa o aumento da

xenofobia, a ostracização e como resposta extremada da população imigrante a sua consciente e volitiva segregação, somos levados à seguinte conclusão: a polí- tica que reduz ao mínimo estes fenómenos é uma política que está consciente dos recursos disponíveis e sabe reparti-los pelas comunidades, que têm assumida- mente necessidades e contributos diferentes a dar, de forma a que nenhuma jul- gue que a outra tem uma posição favorecida.

A estas propostas, julgamos útil acrescentar outra, oriunda de um outro artigo da mesma organização, intitulado Managing religious difference in North America and Europe in an era of mass migration (Migration Policy Institute, 2016a);

5) Dar oportunidade à população imigrante para demonstrar que estão comprome- tidas em respeitar os valores e instituições da sociedade recetora.

Com estes conceitos operacionais bem alicerçados, podemos agora estudar e ana- lisar mais detalhadamente o caso de Portugal, a nível demográfico e de políticas. Existem aproximadamente 388.731 imigrantes a residir em Portugal. As nacionalida- des mais representativas e significantes são, por ordem decrescente: a brasileira (21%), a cabo-verdiana (10%), a ucraniana (9%), a romena (8%), a chinesa (5%), a angolana (5%), a britânica (4%), a bissau-guineense (4%), a espanhola (3%) e a são-tomense (2%) (Ser- viço de Estrangeiros e Fronteiras, 2015). Como aproximadamente 43% da população migrante residente em Portugal é originária de países da CPLP, o seu processo de integra- ção é facilitado devido às afinidades linguísticas e culturais que unem estas nacionalidades à nossa. Esse aspeto, aliado à reduzida quantidade de imigrantes no total, que estão em linha com a capacidade de Portugal os receber, são possíveis explicações para o facto de não existirem fenómenos de segregação, ou de partidos e movimentos xenofóbicos de relevo.

Portugal é reconhecido como um caso de sucesso, conseguindo empreender, no PEM, um esforço considerável no que toca a integração de imigrantes (Lusa, 2015; Migrant Integration Policy Index, 2015). São cinquenta medidas que procuram atingir os motivos de preocupação discutidos previamente: há medidas para facilitar a integração no mercado laboral dos imigrantes (medidas 22 a 25), para facilitar o seu acesso à saúde, área em que Portugal mais estava em falta (medidas 26 a 32), e também medidas para

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