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4.FonteAlimentar

No documento I Seminário IDN Jovem (páginas 132-134)

A pesca é um dos setores que desde cedo se desenvolveu em Portugal devido à situa- ção geográfica favorável. No século XV desenvolve-se a pesca longínqua nos mares do Norte e nas águas do Norte de África. Em finais do século XVI sofre os efeitos da redução da frota em virtude das batalhas marítimas e só no século XIX virá a recuperar quando as técnicas do arrasto se desenvolvem a par da introdução do vapor e do emprego de gelo a bordo, numa lógica de exploração industrial. No século XX assume- se como uma das atividades de grande importância ao nível da economia nacional, atin- gindo o apogeu nos anos 60 e 70 através de uma frota que se lançou nos mares do Noroeste Atlântico – Terra Nova e Gronelândia – e do Atlântico Sul – Cabo Branco e Mauritânia.

O setor atravessa uma enorme crise há vários anos motivada por fatores diversos. A inexistência de regras de controlo do pescado conduziu à sobre – exploração dos recur- sos e, em consequência a redução das possibilidades de pesca com impacto económico e

social5 muito negativo. Enquanto membro da União Europeia, Portugal tem a sua atua-

ção condicionada pelas linhas de orientação definidas pela Politica Comum de Pesca cujas linhas de ação têm por base as dimensões biológica, económica e social.

5 Assume particular relevância os aspetos associados á pesca local, cujas embarcações são guarnecidas por pequenas tripulações, raramente superior a três pessoas, normalmente membros do mesmo agregado fami- liar, constituindo pequenas comunidades piscatórias junto à costa portuguesa que têm nesta atividade o único meio de subsistência.

Apesar da sua grande extensão, a Zona Económica Exclusiva (ZEE), apresenta um volume relativamente reduzido de pescado em quantidade e pouca variedade de espécies, sendo estas de baixo valor comercial tais como a sardinha, o carapau e a cavala. A procura de pesqueiros em águas internacionais foi a alternativa encontrada.

A captura de pescado nacional apenas satisfaz cerca de metade das necessidades do mercado sendo inevitável o recurso à importação. As principais espécies importadas são o bacalhau, a pescada, e o atum, cujos mercados de origem são a Espanha, a Rússia, a Noruega e a Dinamarca. No que respeita às exportações, os produtos são essencialmente os derivados da indústria conserveira, sendo os principais mercados a Alemanha, o Reino Unido, a França e os Estados Unidos da América.

As principais espécies que chegam aos locais de desembarque são a sardinha, o cara- pau, o polvo e o peixe-espada, provenientes das águas da zona de proximidade continen- tal; o atum proveniente das águas das Regiões Autónomas (Madeira e Açores) e o baca- lhau, o cantarilho, a palmeta, o peixe-espada e o camarão proveniente de águas externas. As artes mais utilizadas são as redes de cerco e as de arrasto.

Portugal é dos principais consumidores e exportadores de conservas: em 1896 exis- tiam mais de 70 fábricas de conserva em Portugal e em 1926 havia mais de 400 unidades em funcionamento. É conhecida a qualidade destas conservas um pouco por todo o mundo, no entanto, atualmente, existem apenas 21 fábricas em que 60% da produção se destina aos mercados externos: Portugal exporta conservas de peixe para cerca de 70 países em todo o mundo (Costa, 2013)6.

O peixe é, assim, um elemento primordial da nossa alimentação, no entanto, a pesca, tal como as conservas, é também mais um setor industrial que tem decrescido abrupta- mente devido à implementação da política de pescas da União Europeia que reduziu a frota pesqueira numa década, em cerca de 20% (Comissão Europeia, Assuntos Marítimos

e Pescas, 2009)7. É fundamental ter em conta que os subsídios que entraram em Portugal

para o setor das pescas não tiveram resultados visíveis no aumento/melhoria da nossa frota pesqueira.

Com uma costa de mar abundante em peixe e bivalves, muitos estuários e acidentes geográficos – como é o caso das rias Formosa e de Aveiro –, onde a pesca se apresenta fácil e de grande retorno, regista-se um significativo crescimento do comércio e fixação das populações nestas regiões, assim como as artes e saberes ligados à pesca como a cordoaria, a construção naval, a tanoaria, a extração de sal e outras. Esta especialização moldou culturas e tradições não só locais, como nacionais, mas a verdade é que o setor tem vindo a perder peso relativo e absoluto na economia.

6 Por 60% das nossas conservas se destinar aos mercados externos, é possível considerar esta indústria como um sector exportador. Os principais destinos de exportação das conservas de peixe portuguesas são: França, Itália, Inglaterra, Benelux, Suécia, EUA, Brasil, Canadá, Israel e Japão.

7 Referência à política comum das pescas. Esta política representa um conjunto de regras que se aplicam à gestão das frotas de pesca europeias e à conservação das unidades populacionais de peixes. Foi concebida para gerir um recurso comum e confere a todas as frotas de pesca europeias igualdade de acesso às águas e aos pesqueiros da UE.

Portugal tem o maior consumo per capita8 de pescado para alimentação da UE, à volta

de 57 kg por ano/habitante, situando-se bem acima da média de 22,5 kg para esta região,

representando um valor aproximado de 25% na dieta alimentar portuguesa9. Este fator,

em termos de emprego assume significativa importância face às múltiplas dependências de diversas áreas de negócio como é o caso das transportadoras, restaurantes, mercados e supermercados (comércio de peixe fresco), das conservas, dos congelados e das fari- nhas.

No que respeita à pesca é importante ter presente as diferentes tipologias de inter- venção uma vez que podemos dividir esta em local, costeira, de arrasto, ao largo e longín- qua. Esta distinção é importantíssima exatamente para demonstrar a diversificação e necessidade de reerguer a cultura piscatória em Portugal uma vez que todas as técnicas para cada tipo de pesca foram adquiridas ao longo de largas centenas de anos, sendo até um contrassenso importar um produto que nos é tão querido e apreciado.

É necessário recriar estas indústrias de forma sustentável e inovadora por serem elementos chave para a economia tanto de consumo interno como externo.

Tendo em conta as capturas e quotas de pesca determinadas pela EU, a velha e redu- zida frota pesqueira portuguesa, a reduzida variedade e quantidade de pescado das nossas águas e o baixo preço das espécies torna-se fulcral a aposta na indústria das conservas, aproveitando o know-how existente; na pequena pesca que se traduz pela pesca local, pois

para além de ser bastante representativa na realidade da pesca nacional, possui um enorme potencial de sustentabilidade tanto ao nível ambiental como económico e social. A aqui- cultura constitui um aspeto chave de uma estratégia de desenvolvimento sustentável, tendo a nossa costa e os nossos estuários elevadas potencialidades para a sua incremen- tação e desenvolvimento.

No documento I Seminário IDN Jovem (páginas 132-134)