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8.DefesaeContextoInternacional

No documento I Seminário IDN Jovem (páginas 137-145)

Fornecimento de alimentos, fonte de energia (petróleo e gás), transporte e comércio. O mar é tudo isto, contudo, sempre assumiu um papel chave na área da defesa e segurança.

Pela sua localização Portugal assume uma implantação geográfica privilegiada. É, simultaneamente, uma das portas de comunicação da Europa marítima com o exterior,

ponto de controlo e de vigilância de duas importantes vias de acesso à Europa – Gibraltar e Biscaia/Canal de Inglaterra, eixo de ligação entre a Europa do Norte (atlântica) e Europa do Sul (mediterrânica).

O conceito estratégico de defesa nacional compreende a valorização do posiciona- mento atlântico e a proteção do amplo espaço marítimo e dos recursos sob jurisdição nacional. Sendo, desde o inicio, um dos signatários da Organização do Tratado do Atlân- tico Norte (OTAN), onde deposita a confiança nas suas fronteiras de segurança, Portugal terá de continuar a expressar a sua solidariedade transatlântica também pela importância do controlo e segurança do Atlântico Sudoeste. Uma demonstração do reconhecimento desta importante localização geoestratégica assim como a confiança no sistema português é o projeto de construção da escola de ciberdefesa14 que vai servir toda a Aliança Atlântica,

uma das áreas mais importantes da defesa coletiva, tendo um investimento de 20 milhões de euros que permitirá potenciar um conjunto de capacidades de grande importância para a Defesa Nacional, contribuindo significativamente para a afirmação de Portugal como um centro de conhecimento e desenvolvimento nos domínios da ciberdefesa.

O desenvolvimento de políticas de cooperação passa também pela coordenação entre as forças internacionais. É fundamental continuarmos a garantir a nossa presença e participação nos processos e ações coletivas, tendentes à melhoria de um clima de paz e segurança no mundo. A estabilidade na periferia da área euro-atlântica é crucial para os interesses de Portugal quer no seio da OTAN e da União Europeia, quer individualmente, através do reforço do diálogo e cooperação com o Mediterrâneo e os países do Atlântico Sul.

Sob o ponto de vista económico, aqui confluem as grandes rotas marítimas que ligam o Atlântico, Sul e Norte, o Mediterrâneo e o Norte da Europa. Do ponto de vista militar, para além de Portugal, têm uma presença naval a Espanha, Marrocos, Inglaterra e França. Por aqui passam ainda as ligações marítimas entre a França atlântica e a França mediterrânica. Sob a perspetiva geostratégica não se pode descurar a relevância da região para os EUA para a projeção do seu poder em direção à Europa do Sul, Mediterrâneo Oriental e Golfo.

Ao olharmos para a área da Aliança Atlântica observamos a fragilidade e o terror no Norte de África, a guerra civil na Síria, o desenvolvimento sem precedentes do autointi- tulado Estado Islâmico e o desafio da Rússia, com a anexação da Crimeia. Apesar de ser improvável uma guerra em alto mar, como a maior parte da doutrina militar indica e os especialistas apontam, é necessário haver capacidade de resposta, com navios bem comandados e prontos para intervir, sempre que essas ameaças se afigurem perigosas para a aliança, constituindo-se como uma capacidade distintiva ao nível estratégico.

Para alcançar a profundidade estratégica que lhe é conferida pelo seu espaço marí- timo delimitado a Leste pelo território continental, a Sul pelo Arquipélago da Madeira e

14 A infraestrutura, designada Escola da NATO de Comunicações e Sistemas de Informações (NCISS), demonstra que o ciberespaço é cada vez mais um domínio operacional de guerra, tal como já acontece com terra, mar e ar.

a Oeste pelos Açores, Portugal terá de tirar outro partido dos seus portos, tornando-os mais eficazes e competitivos e, sobretudo, de modernizar a sua Marinha dotando-a com meios capazes de exercer o esforço de imprescindível dissuasão e marcar presença nos compromissos internacionais que assumir.

9.GovernaçãoeDiplomacia:EntreoDiálogoeaPartilha

O mar tem um papel determinante na construção histórica e identitária da Europa. Ao longo do tempo, as águas oceânicas foram o canal da expansão de povos como os portugueses. Julgava-se que o centro da Terra estava no mar. Atualmente, e relativamente à União Europeia, há a clara necessidade de partilha do espaço marítimo por todos os europeus e esta é entendida como uma fonte inestimável de riqueza e de inovação, cres- cimento e emprego. O estabelecimento de alianças, processos de integração económica e cooperação podem vir a constituir um fator de superioridade e, por esse motivo, é neces- sário agir.

Somos um país membro da União Europeia, é verdade, mas somos mais do que isso. Somos um país europeu que partilha uma língua mundial. Um país com uma cultura que se cruzou ao longo da história com tantas outras culturas que adquiriu facilidade de com- preensão com as mesmas, é por isso necessário não nos excluirmos na própria aldeia global, criando um muro entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Se somos a nação oceânica, disposta para o mundo, teremos de caminhar em direção a uma política de diálogo e de partilha de experiências e conhecimentos entre os países aliados e amigos. De facto, o caráter do nosso povo tem sido talhado, em grande medida, pelas raízes mediterrâneas e atlânticas, que lhe têm conferido uma comunicação fácil e convivência afável, habituando-o a uma convivência multissecular, dentro e fora de portas, com acei- tação reconhecida nos quatro cantos do mundo.

Os interesses de Portugal sempre passaram pelo Mar embora nem sempre com o adequado envolvimento. Sendo um ativo nacional que importa explorar e maximizar, tanto mais que nos constituímos como centro geográfico da comunidade transatlântica, convirá que nunca seja descurado no âmbito das relações internacionais.

No entanto, é relevante não esquecer que, para Portugal assumir esta posição em relação à defesa do mar português, tem de fazer corresponder capacidade técnica e finan- ceira, de forma a poder revelar aptidão para monitorizar e explorar o seu espaço marí- timo, na eventualidade de ter que partilhar o espaço marítimo com atores mais fortes, com mais meios e mais bem preparados.

A extensão e desejável exploração da plataforma continental permitirá a Portugal assumir-se como uma nação marítima europeia o que obrigará a um esforço exigente e oneroso. A opção por parceiros internacionais com conhecimento e experiência na pros- peção e exploração do fundo dos oceanos é inevitável.

Lisboa, a capital, deve assumir a liderança e coliderança dos assuntos marítimos europeus, principalmente se a proposta do Alargamento da Plataforma Continental for aprovada, revelando capacidade de resistência e resiliência às “forças da maré”, pois caso contrário é possível assistir à gestão, monitorização e exploração do seu próprio território

por outros intervenientes, no princípio de que não há espaços vazios, estes tenderão a ser ocupados por quem dispõe de meios e capacidades para o efeito. A falta de capacidade autónoma não poderá dar azo ao recurso a soluções exógenas usurpadoras dos nossos direitos e responsabilidades. É imperativo garantirmos a ocupação efetiva dos nossos espaços e a gestão dos recursos vivos e não vivos que constituem o nosso património marítimo.

10.Conclusões

A pimenta da Índia, o ouro do Brasil, as remessas dos imigrantes, as exportações das ex-colónias, os fundos de Bruxelas, foram soluções pouco mais que precárias, ou até enganosas pois não mudaram, no essencial, a nossa situação económica. Assentamos na plena convicção de que o nosso futuro passará pelo mar, ou seja, pela investigação e exploração dos seus recursos, no solo, no subsolo e nas águas territoriais ou sob jurisdi- ção nacional.

Teremos de acreditar que a mesma vontade que presidiu ao esforço civilizacional e que permitiu superar as dificuldades sentidas pelas gentes de Gama, irá possibilitar agora que Portugal, também no mar, ultrapasse, pela interdependência e cooperação, a depen- dência a que está sujeito.

O mar é indissociável de Portugal desde sempre e é indubitavelmente o mais impor- tante recurso natural de que dispomos. A verdade é que o mar pode representar para nós o que o petróleo foi para outros países: pode ser a nossa maior fonte de riqueza e estabi- lidade.

O mesmo mar que inspirou Portugal durante séculos continua a ser, agora e para o futuro, um ativo económico fundamental. Há que saber valorizá-lo pois, estrategicamente, tem um papel crucial para um país com as mais velhas fronteiras mas que permanece pequeno, pobre e periférico. Pelo seu potencial de recursos naturais por explorar, no espaço económico português, deveremos interpretá-lo como de extraordinária relevância em ter- mos de criação de valor para a nossa economia e até mesmo para a da Europa e do Mundo.

Cabe a nós, estudantes universitários, especialistas e todos os que, despertos, pude- rem contribuir, relevar que o mar é um vetor estratégico incontornável, se queremos sair da estagnação em que nos encontramos. Existe uma multiplicidade de áreas de interesse a ele associadas, direta e indiretamente. Esta transversalidade exige uma grande capaci- dade de articulação e harmonização de modo a delas extrair o máximo partido com o mínimo de recursos pois a nossa disponibilidade de financiamento é reduzida. Teremos de saber encontrar parceiros fiáveis e credíveis ao nível das competências nos domínios em que estamos carecidos sem nos preocuparmos com jogos de interesses que não sejam os legítimos.

Para que se cumpra este desígnio é também essencial garantir uma política de segu- rança e defesa que seja capaz de responder às perturbações e aos conflitos, designadamente o terrorismo ou a competição pelos recursos energéticos. A segurança no mar não poderá excluída, menorizada ou depreciada. Os riscos decorrentes do ambiente marítimo internacional são sérios, como é o caso da pirataria e assaltos à mão armada, prejudicando

a segurança da navegabilidade e do comércio internacionais; as ações terroristas que com- prometem o transporte, instalações de exploração e outros interesses marítimos; o uso de navios inadequados ao transporte marítimo e/ou com características que dificultem o resgate em caso de acidente ou avaria, a pesca ilegal, que origina uma redução drástica de recursos e compromete a sustentabilidade; as descargas de substâncias nocivas, aumen- tando drasticamente os níveis de poluição. Os impactos ao nível económico, ecológico e social, sobretudo para os países como Portugal terão de, permanentemente ser tidos em conta.

A investigação e a exploração dos recursos do mar carecem igualmente de um plano de ação estratégica com soluções de conceção e materialização assentes em parcerias, não só ao nível nacional como internacional. Só a congregação de vontades em torno de uma economia integrada e inclusiva das diversas áreas de interesse através de um modelo de governação que não descure politicas setoriais concretas, a nível nacional e, a sua articu- lação no quadro da cooperação internacional. Este é um ponto-chave, não só para refor- çar as ligações entre a União Europeia, mas também para explorar novas relações diplo- máticas, principalmente com o Atlântico Sul, dado que temos em comum o Mar como porta de entrada e de saída para um Mundo a descobrir.

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MarPortuguês,RecursoNacional

noContextoGlobal:

ACriaçãodeumSistemadeInformações

MarítimasparaPotencialização

deumAtivoEstratégicodoPaís

PedroGonçalves

“Da minha Língua vê-se o Mar”

Vergílio Ferreira (1998, pp. 83-84)

1. Introdução

Por se revestir de enorme potencialidade para o país, o importante ativo, apelidado como “Mar Português”, adquire grande importância geopolítica, em virtude da pertinên- cia que o mesmo apresenta no que diz respeito aos interesses estratégicos de Portugal.

Perante tamanha importância, o mar deverá ser utilizado em prol do desenvolvi- mento nacional, mas para que tal ocorra importa alcançar o conhecimento concreto do mesmo, bem como de tudo o que nele se passa e se encontra, bem como assegurar a sua defesa, algo indispensável para a concretização de uma eficaz utilização do mesmo. Por isso, através do presente trabalho, pretendemos demonstrar a importância do espaço marítimo sob jurisdição nacional, destacando a indispensabilidade da segurança, funda- mental na materialização de uma defesa cabal deste, que poderá vir a ser ampliado, dentro em breve, mas também das zonas costeiras até onde os nossos interesses, diáspora e legado linguístico-cultural se estendem, hoje, como ao longo da história, canalizados por aquele que é o mais pronunciado elemento do território nacional, o mar.

Aquilo que suprarreferimos é mais do que uma circunstância conjuntural, mas antes uma condição que Portugal acarreta e que a geografia, a par da história, sempre reforça- ram, tornando o país estruturalmente marítimo. Por essa razão, aquando da implementa- ção de novas modalidades de ação política ou do desenho de objetivos estratégicos, a maritimidade nacional jamais deverá ser esquecida, sob o risco de novas estratégias e possíveis decisões governativas poderem tornar-se parcas, se não mesmo infrutíferas, principalmente no âmbito das relações externas e das políticas de defesa, mas também no que diz respeito à economia, aos assuntos do mar e, obviamente, à segurança interna.

O mar afigura-se como um elemento que para os desígnios estratégicos nacionais adquire um valor incomensurável, constituindo-se como fator essencial à composição de um muito aguardado Conceito Estratégico Nacional, que tarda em surgir (Correia, 2015). Pese embora tal atraso, que não diminui a importância do mar para Portugal, interessa contemplar a defesa dos espaços marítimos, que deverão ser integrados nas ações de segurança nacional, por esse ser, também, território e espaço de interesse para a projeção externa do país.

De forma a defendermos tal necessidade, predispomo-nos, inicialmente, a enquadrar a temática através da análise contextual da dimensão histórica e utilização do mar como elemento identitário da nacionalidade portuguesa, para depois identificarmos as poten- cialidades que esse mesmo mar oferece ao país, nas múltiplas áreas e setores, tal como a importância da defesa das mesmas, que consideramos poder ser feita através de recurso à utilização de análise e produção de informações estratégicas, ferramentas que cremos serem fundamentais para a concretização desse objetivo.

Posteriormente, no decurso do presente texto, pretendemos demonstrar como o

cluster marítimo português pode ser, para além de protegido, concretizado através da com-

posição de informações estratégicas nacionais no sentido de defender e projetar os inte- resses do país, o que deverá ser realizável através de uma profícua articulação entre as várias agências e serviços com competências na área, para que se possam obter resultados eficazes e passíveis de advirem das várias dimensões que esse vetor alberga, tendo em conta a observação do mar como recurso estratégico nacional.

Para culminar, e alargando o espetro geográfico desta análise, predispomo-nos, tendo em conta o recurso à diplomacia para alcance de objetivos de índole externo, apre- sentar a oportunidade existente na elaboração de um sistema de inteligência cooperativa no Atlântico sul, espaço inserido numa das zonas de maior pertinência para Portugal, onde se encontra parte importante da nossa diáspora e local onde estão muitos dos nos- sos interesses económicos, culturais e linguísticos, outrora levados pelas salgadas águas atlânticas e consubstanciados por uma língua, comum a vários Estados desta área do globo. Se posto em prática tal objetivo, poderá Portugal, se considerarmos a área que abarca o Atlântico sul como um “Complexo Regional de Segurança” (Buzan, 1983), assu- mir o lugar de ator externo com capacidade de influência e intervenção, numa região onde deposita alguns dos interesses nevrálgicos para a sua política externa.

O esforço proposto contempla, do ponto de vista metodológico, o recurso às componentes teórica e concetual, principalmente das áreas das relações internacionais, história e estratégia, o que obriga a um trabalho transdisciplinar, tal como pretendemos sugerir para as futuras ações a poderem ser tomadas pelas entidades competentes, no sentido de fazer o melhor aproveitamento possível dos recursos ao seu dispor para salvaguardar os interesses de Portugal, algo que pensamos poder acontecer através do desenvolvimento de um projeto e de uma estratégia de caráter horizontal e de âmbito de interagência.

No documento I Seminário IDN Jovem (páginas 137-145)