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4. CrimeOrganizadoTransnacional

No documento I Seminário IDN Jovem (páginas 91-95)

Nos últimos anos o mundo tem sido abalado por uma extensa lista de escândalos e fugas de informação que revelaram como o crime organizado transnacional se mobi- liza.

O crime organizado transnacional tem um carácter multidimensional, as organiza- ções criminosas estão envolvidas em várias práticas criminais, como por exemplo o trá- fico de droga, seres humanos e de bens culturais, incluindo antiguidades e obras de arte, extorsão, contrafação de produtos, falsificação de documentos de identidade e adminis- trativos, falsificação de notas e de meios de pagamento, criminalidade informática, cor- rupção e branqueamento de capitais, tráfico de armas, munições e explosivos, atividades essas que podem ser executadas em diversos países (Fernandes, 2001).

O caso mais flagrante do crime organizado transnacional tem sido as contas em territórios offshore, que são na sua maioria, pequenas regiões, geralmente ilhas, que pro-

porcionam aos investidores um regime de taxas tributárias quase inexistente e que se rodeiam de um elevado secretismo. Caracterizam-se pela reduzida carga fiscal, a autopro- moção enquanto centros financeiros, a opacidade e a falta de transparência e a ausência de intercâmbio de informações fiscais com outras jurisdições.

Mas até que ponto isto é moralmente legítimo perante os cidadãos?

A verdade é que os Estados mais poderosos a nível mundial são coniventes com estes paraísos fiscais, porque encobrem um certo status quo que insistem em proteger, que

se imiscui, principalmente, entre o poder político e o poder financeiro, e dos quais retiram fortes dividendos.

Esses indivíduos e empresas que depositam o dinheiro em offshores têm vantagens

óbvias: no caso das empresas que abrem sucursais nesses territórios e tiram partido da pouca regulação, muitas vezes transferem para lá parte de lucros onde, uma vez regista- dos, são pouco ou nada tributados. O esquema funciona sempre através da criação de

uma empresa que detém um fundo offshore ou de uma empresa fachada que passará a ser

que torna uma missão hercúlea para as autoridades, a maior parte das vezes, perseguir o rasto do dinheiro e descodificar quem é o proprietário do mesmo.

Tem sido uma dor de cabeça tremenda para as nações industrializadas numa altura em que a corrupção e o financiamento ao terrorismo estão muito em voga. O problema

coloca-se também quando quem diz querer combater os offshores também tem territórios

próprios com offshores, o caso do Reino Unido e dos EUA. Na União Europeia países

como o Luxemburgo, a Holanda e a Irlanda praticam políticas tributárias que promovem o dumping fiscal e que faz com que muitas multinacionais europeias estejam a deslocar os

seus lucros operacionais para estes países.

Deste modo os offshores facilitam o crime da evasão fiscal, com efeitos nefastos sobre

a coleta de impostos nos Estados, gerando fugas de capitais e contribuindo para o agra- vamento das desigualdades sociais. O seu secretismo favorece além de mais o branquea- mento de capitais e a ocultação de dinheiro ilícito proveniente da corrupção, do crime organizado, de verbas desviadas por ditadores dos cofres públicos e o financiamento ao terrorismo só para citar alguns casos.

Gabriel Zucman (2013), na sua obra A Riqueza Oculta das Nações conclui que o valor

acumulado em paraísos fiscais deva rondar os 7,6 mil milhões de euros, o equivalente a 8% da riqueza mundial.

Perante todos estes factos e argumentos perguntamos porque não se acabam com os

offshores? A verdade é que uma ação concertada entre Estados e suas respetivas máquinas

tributárias permitiria pôr fim aos paraísos fiscais, mas o problema é que os interesses dos Estados têm esbarrado com outros interesses, e o combate tem-se ficado pelo aumento das restrições e diminuição do sigilo bancário, mas que no papel pouco ou nada tem tido efeito, o que continua a demonstrar a opacidade dos paraísos fiscais e a impunidade de que eles gozam para atingir os seus fins e proteger as suas clientelas.

Há várias ameaças que os Estados têm de enfrentar, não só agora, como também no futuro. Alguns desses mecanismos de defesa passam por:

• evitar a penetração por parte das organizações criminosas no mercado de energia e noutros setores estratégicos da economia mundial;

• travar o apoio logístico e suporte aos terroristas, serviços de inteligência e gover- nos;

• travar o tráfico de pessoas e contrabando de bens para dentro de fronteiras nacio- nais;

• parar a exploração do sistema financeiro mundial, que se tem feito com a movi- mentação de fundos ilegais;

• combater a utilização do ciberespaço para afetar determinadas infraestruturas, pondo em risco a segurança de informações pessoais, a estabilidade das empresas e a segurança e solvência de mercados de investimento financeiro;

• prevenir a disrupção dos servidores públicos, particularmente nos países de vital importância estratégica (Departamento de Estado dos EUA, 2008).

5. AsarmasNucleares,BiológicaseQuímicas

As armas nucleares, biológicas e químicas são conhecidas por serem armas de des- truição maciça. São capazes de causar um número elevado de mortos numa única utiliza- ção. Na maior parte dos casos, o uso de tais armas (especialmente as químicas e biológi- cas) constitui crime de guerra, tanto pela crueldade e sofrimento proporcionado e pela grande quantidade inevitável de mortes civis, e por limitar a capacidade do inimigo se defender ou contra-atacar.

Das três categorias de armas referidas, as armas químicas, são consideradas particu- larmente desumanas em virtude dos sofrimentos que infligem. Os seus componentes estão normalmente disponíveis no mercado e as técnicas de fabrico e formas de emprego são amplamente conhecidas, também em virtude da sua utilização em cenários de guerra como vimos na guerra da Síria em curso. As armas químicas têm uma elevada eficácia militar, e é tecnicamente muito mais acessível aos países em desenvolvimento que a arma nuclear, sendo por isso também apelidada de “arma nuclear dos países pobres”.

As armas biológicas podem produzir efeitos ainda mais letais, na medida em que algumas delas são contagiosas, são mais complexas devido à necessidade de se manipular as bactérias ou toxinas visando a sua transformação em agentes mortais e são de difícil dispersão. Não obstante, foram utilizadas pela Alemanha, em maio de 1985, para envene- nar um reservatório na Boémia, atual República Checa e já antes, em 1940, os japoneses haviam distribuído pelos territórios da China e da Manchúria, arroz e trigo misturados com pulgas portadoras do agente da peste.

As armas nucleares representam um avultado investimento em termos financeiros e tecnológicos que nem todos os países estão preparados para fazer, utilizadas por duas vezes apenas no contexto da Segunda Guerra Mundial. A perceção dos efeitos devasta- dores da explosão da arma nuclear viria a modificar completamente a maneira de colocar os problemas da paz e da guerra, introduzindo o conceito de dissuasão.

Atualmente, os receios em torno da utilização da arma nuclear resultam precisa- mente do facto de a sua posse já não constituir necessariamente impedimento para o desencadeamento de um conflito. Não obstante, fabricar bombas atómicas continua a ser um desafio tecnológico superior, muito dispendioso e a sua detonação extremamente difícil.

Em consequência, as armas NBQ (armas nucleares, biológicas e químicas) evocam angústias profundas nas populações e infundem um tipo de terror qualitativamente dife- rente daquele produzido por ataques com recurso a armamento convencional. A ameaça omnipresente de contaminação por um agente invisível, mas mortal pode ser mais ate- morizadora que o trauma súbito de uma explosão. Inclusivamente, um ataque químico ou biológico que mate menos pessoas que uma bomba convencional pode ter um impacto psicológico desproporcionado na população atingida pelo mesmo.

As sondagens demonstram que o maior receio das populações neste momento são ataques com este tipo de armas. Cabe à Agencia Internacional de Energia Atómica (AIEA), através dos seus inspetores, e ao Conselho de Segurança da ONU fiscalizar o uso da ener- gia nuclear, e perceber qual o objetivo dos países ao usarem a energia nuclear: para fins

pacíficos ou não? Deve também garantir a paz e a segurança internacional, através de tra- tados e convenções como o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) em vigor desde 1970 e que atualmente conta com a adesão de 189 países. Estados Unidos da América, Rússia, França, Inglaterra e China – todos signatários do TNP – possuem 90% das armas nucleares, sendo o restante distribuído entre a Índia, Paquistão e Israel.

Considerado pelos seus signatários como pedra fundamental dos esforços interna- cionais para evitar a disseminação de armas nucleares e para viabilizar o uso pacífico da tecnologia nuclear da forma mais ampla possível, o tratado paradoxalmente, apoia-se na desigualdade de direitos, uma vez que congela a chamada geometria do poder nuclear em nome da conjuração do risco de destruição da civilização. Os EUA acusam o Programa de Energia Nuclear do Irão de desenvolver capacidade nuclear militar, o que tem provo- cado uma grande tensão crescente no Médio Oriente, apesar das declarações do governo iraniano de que o programa se destina ao fornecimento de energia e uso científico e não para fins bélicos. Por isto o país sofreu sanções e embargos anos a fio por parte da comu- nidade internacional, que foram recentemente revertidas pela comunidade internacional através da AIEA. Contudo, a Coreia do Norte é agora a maior “dor de cabeça” para a comunidade internacional, com a sua incessante propaganda nuclear protagonizada pelo regime de Kim Jong-Un.

Em Março de 2013 surgiram notícias da Síria, que indicavam o primeiro uso de armas químicas desde o início da guerra com testemunhos, provas fotográficas e vídeos que foram amplamente divulgados pela comunicação social internacional. Tratava-se aparentemente de um ataque em grande escala com armas químicas, contendo gás sarin em Damasco, que provocou entre 300 a 1500 mortos segundo fontes oficiais de organi- zações internacionais.

Em Setembro de 2013 a Síria, devido a pressão dos EUA e da Rússia aderiu oficial- mente à Convenção sobre as Armas Químicas e adotou um plano para a destruição das mesmas, tendo sido finalizado em dezembro de 2015, segundo a Organização para a Proibição de Armas Químicas.

O debate académico em torno da proliferação nuclear divide-se fundamentalmente entre os otimistas, aqueles que afirmam “more may be better”, e os pessimistas, aqueles que argumentam “more will be worse”. Por um lado, Kenneth Waltz e outros otimistas defendem que os Estados são atores racionais que atuam conscientemente de modo a maximizarem os seus interesses, na medida em que as armas nucleares aumentam o custo do conflito, dissuadindo os líderes políticos a envolver-se numa guerra contra os países com armas nucleares. A proliferação de armas nucleares, na conceção dos otimistas, tem um efeito pacificador sobre a sociedade/política internacional, levando à estabilidade mundial (Waltz, 2003).

Por outro lado, Scott Sagan e outros pessimistas argumentam que as armas nucleares nas mãos dos Estados aumentam ainda mais a possibilidade de crises, guerras preventivas e de guerras nucleares por acidente e que todos os Estados que possuem armas nucleares devem proceder ao desarmamento. De acordo com os pessimistas, a proliferação nuclear contribui para um maior nível de instabilidade internacional (Sagan, 2003).

No documento I Seminário IDN Jovem (páginas 91-95)