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Como se pode verificar ao longo deste trabalho, as hortas urbanas têm vindo a ser consideradas cada vez mais um elemento fundamental e estruturante do espaço urbano, observando-se diversos exemplos de iniciativas por todo o mundo. Como não podia deixar de ser, Portugal não é excepção. O processo de industrialização despoletou a ocupação urbana dos terrenos, em diversos países, tais como Portugal e Espanha, destruindo o que outrora foram quintas e campos agrícolas. Simultaneamente, Babo (2014) destaca os movimentos migratórios – Êxodo Rural – que cresceram exponencialmente, a partir dos anos 60.

124 Tal como já foi mencionado anteriormente, em Portugal os primeiros espaços de agricultura urbana surgiram em Lisboa entre 1960 e 1970, como resposta às mudanças sociais que os movimentos migratórios despoletaram (Rodrigues et al., 2014). A primeira função associada a estes espaços consistia na produção alimentar, sendo que as funções como recreação, educação ambiental e terapêutica apenas surgiram nas últimas décadas.

É cada vez maior o número de hortas urbanas em Portugal e encontram-se espalhadas um pouco por todo o país, incluindo as ilhas. Actualmente, o Porto é o distrito que apresenta maior número de hortas urbanas, sendo imediatamente seguido por Lisboa, que conta com um total de 15 hortas. A Câmara Municipal de Lisboa iniciou, em 2007, o desenvolvimento de uma estratégia para a agricultura urbana, tendo criado, a partir de 2011, vários Parques Hortícolas. Estes constituem jardins ou parques urbanos com todas as valências requisitadas por estes espaços e onde se limitam áreas, também, para a prática da agricultura. Em 2011 foram inaugurados os dois primeiros Parques: Quinta da Granja, com 56 talhões de 150 m² e os Jardins de Campolide, com 22 talhões, entre os 50 e os 100 m². Já em 2013, foram inaugurados mais cinco novos Parques Hortícolas, na Quinta de Nossa Senhora da Paz, no Parque Bensaúde, no Parque dos Olivais, no Parque do Vale de Chelas e na envolvente da cerca da Graça. Ao todo, em 2014 a Cidade de Lisboa contava já com 10 Parques Hortícolas, servindo mais de 400 famílias, pois, tal como afirma Telles (1987: 26) “Lisboa não fugiu ao fascínio da horta e, ainda hoje, as hortas tentam romper as muralhas de betão”.

125 De facto, este fenómeno está a crescer em Portugal pois a cidade de Lisboa (Figura 48), juntamente com as restantes cidades, continuam a necessitar da ruralidade, quer para produzir os alimentos, quer como uma necessidade ecológica e lugar de lazer. Por essa razão, o número de Hortas Urbanas tem vindo a crescer e adquirir relevância, nomeadamente, a nível político, devido às suas potencialidades socioeconómicas e potencialidades ambientais. As hortas funcionam, assim como um espaço multifuncional para o desenvolvimento urbano sustentável (Gonçalves, 2014). Tendo em conta o que foi anunciado previamente, seguem-se alguns casos de sucesso que constituem modelos de hortas urbanas bem sucedidas, tanto social como ambientalmente.

Horta Pedagógica de Guimarães

A Horta Pedagógica de Guimarães foi pensada com a ideia de criar um espaço de domínio público onde se possibilita a melhoria da qualidade de vida das populações e o aumento da experiência prática e sensorial na ligação com a Natureza que se traduz na possibilidade de contacto entre a população e as espécies agrícolas que se utilizam na alimentação, através do seu envolvimento em diversas actividades.

Este espaço agrícola foi criado em 2008 com a intenção de potenciar a prática de agricultura urbana no concelho e ocupa uma área de cerca de 8 hectares atravessada pelo Ribeiro de Couros. O local de implementação da Horta Pedagógica, designado por Veiga de Creixomil, insere-se no tecido urbano, numa área agrícola por excelência com uma significativa produtividade económica e conseguiu sobreviver pela sua peculiaridade de inserção no tecido urbano e a valorização da sua marca identitária como património cultural de origem rural e de fortes tradições agrícolas, sobretudo com a actividade hortícola, prolongando a vivência rural na cidade (Silva, s.d.).

De acordo com o autor, a Horta Pedagógica (Quadro 5) distribui-se pelos dois campos agrícolas. Babo (2014) menciona que o desenho do espaço foi devidamente pensado para se adaptar às condições topográficas do local. Para isso, foram realizadas várias acções de revitalização e valorização da Ribeira de Couros, bem como correcções ao nível da drenagem e da recuperação da galeria ripícola existente, tais como o alinhamento de choupos e salgueiros ao longo da linha de água.

Na Horta Pedagógica (Figura 49), os 19 canteiros repartidos por 332 talhões disponíveis estão totalmente ocupados, existindo 197 pessoas inscritas e 421 colaboradores. Os talhões foram desenhados com dimensões de 50 m², e foram projectados espaços de lazer para toda a população poder experienciar a horta. Por fim, Babo (2014) indica que foram ainda realizadas correcções ao nível do solo. Cada hortelão paga 5€ por

126 ano para a concessão de um espaço na Horta Pedagógica. Uma das marcas indeléveis da aposta acertada que constituiu a concretização deste projecto é o facto de existir já uma lista de espera considerável de pessoas que procuram a utilização da Horta Pedagógica de Guimarães (Silva, s.d.).

Quadro 5 – Quadro Síntese da Horta Pedagógica de Guimarães. CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO

Horário de funcionamento Aberto todo o ano

Localização Creixomil

Tipologia Espaço Verde de Uso Público - Horta

Data de construção 2008 (1ª fase) e 2011 (2ª fase)

Autor do projecto Arquitecto Miguel Frazão, Arquitecta Rita

Salgado e Engenheiro Jorge Fernandes

Área aproximada das zonas plantadas 6,15 hectares

Vegetação Populus nigra, Fraxinus angustifolia, Citrus

sinensis, Malus domestica, Alnus glutinosa, Rhododendron sp.

Equipamento/ mobiliário urbano presente WC, Armazém para sementes e ferramentas,

sala pedagógica, bebedouro, papeleiras, bancos e mesas de piquenique

Principais funções Reprodução de plantas e componente

pedagógica Fonte: Câmara Municipal de Guimarães

Este projecto foi realizado em duas fases, sendo que a primeira começou em 2008 e a segunda apenas em 2011, resultando num espaço multifuncional e, vivenciado pelos utilizadores da horta como um espaço agrícola e pela população como um parque de recreio. Após a implementação da primeira fase da Horta Pedagógica, Gonçalves (2013) refere que esta aumentou ainda mais o seu valor como património agrícola por excelência, sensibilizando a população para a necessidade de preservação destes espaços. Com o aumento para uma segunda fase o grande objectivo foi o de continuar a incentivar e dinamizar processos e práticas de formação pessoal e colectiva, de economia solidária de pessoas e famílias que vivem em espaços urbanos que inicialmente se desenvolvera com a construção da primeira fase da Horta Pedagógica.

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Figura 49 – Horta Pedagógica de Guimarães.

A Horta Pedagógica inclui 42 canteiros destinados à produção de hortícolas, dois canteiros demonstrativos para abastecer o banco alimentar da cidade, um canteiro para produção de plantas aromáticas e medicinais e um espaço para sementeiras de flores. É recomendado o modo de produção biológico e cada utilizador recebe, de acordo com Babo (2014) um talhão com 50 a 100 m² e os alimentos produzidos são para consumo próprio. Para além desta utilização por parte dos cidadãos, a própria Câmara Municipal de Guimarães cultiva quatro canteiros permitindo o abastecimento de hortaliças à Cooperativa Fraterna, cujo destino final é o abastecimento dos cabazes alimentares que são distribuídos pelos agregados familiares mais necessitados e que recorrem ao apoio da autarquia. O espaço é gerido por dois jardineiros da Câmara Municipal de Guimarães, que fazem uma vigilância contínua dos espaços de cultivo.

Gonçalves (2013) conclui assim que, este espaço tem como objectivo proporcionar um convívio mais facilitado entre a população e a natureza, criando uma complementaridade entre os diferentes espaços e restabelecendo o continuum naturale de uso público. Além disso, desempenha o papel educativo junta das populações mais jovens, uma vez que eleva a importância das práticas associadas à agricultura biológica, bem como os produtos naturais que proporcionam uma alimentação saudável e equilibrada resultante dessa prática agrícola.

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Hortas Municipais da Maia – Horta da Quinta da Gruta

O Complexo de Educação Ambiental da Quinta da Gruta está aberto ao público desde Julho de 2001 e ocupa uma área total de 29693 m², prevendo-se a sua ampliação até aos 55 000 m² (Moreira, 2013). A Horta da Quinta da Gruta é a 10ª Horta do projecto da LIPOR e a terceira do município da Maia. É composta por 66 talhões, de aproximadamente 40 m² cada. Apresenta ainda dois abrigos comuns de arrumos para alfaias e diversos pontos de água para rega e manutenção dos talhões. Estes são disponibilizados aos agricultores inscritos, por ordem de inscrição. Requere a obrigatoriedade de agricultura biológica (Quadro 6).

Moreira (2013: 113) indica que a principal finalidade da Câmara Municipal da Maia com a abertura deste espaço era o de “promover actividades de educação e sensibilização ambiental que, dirigidas a diferentes públicos, fomentem o desenvolvimento sustentável numa perspectiva de agir local, pensar global. Actualmente, este Complexo é constituído por um conjunto de espaços e edifícios que contemplam diferentes funções. O autor descreve, assim este espaço, iniciando o seu percurso pelo portão e onde se pode “observar um palacete, de inícios do século XX, na tradição das construções brasileiras do século XIX, mas já depurado pelo estilo art deco e art noveau que, totalmente renovado, mantém os seus traços originais. Este palacete, rodeado de frondosos jardins, convida à entrada dos visitantes e impõe-se como uma presença majestosa. No seu interior, gabinetes de trabalho com vistas privilegiadas para os jardins contribuem para o sonho, que se quer real, de que o trabalho desenvolvido contribua para um planeta mais limpo para todos.”

O edifício onde se localiza a Escola de Educação Ambiental da Quinta da Gruta foi inaugurado em 2007, onde se desenvolvem um conjunto de iniciativas, dirigidas a todas as faixas etárias a partir dos 3 anos de idade. Estas actividades são organizadas nos diversos sectores:

- Sector Laboratorial: actividades de carácter lúdico, associadas às seguintes temáticas: Ar, Água e Seres Vivos;

- Sector Cozinha Tradicional: actividades desenvolvidas na cozinha tradicional. Estas representam uma parte importante de toda a estrutura, onde se pode aprender a fazer os produtos típicos das quintas tradicionais, nomeadamente pão caseiro, chás de plantas aromáticas e compotas.

- Sector Animais de Quinta: espaço dedicado aos animais, onde os participantes podem interagir com os caprinos, ovinos, equídeos, galinhas, patos e coelhos.

129 Quadro 6 – Quadro Síntese da Horta da Quinta da Gruta.

CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO

Horário de funcionamento Aberto todo o ano

Localização Avioso

Tipologia Horta Social/ Ocupacional

Data de construção 2001

Autor do projecto Arquitecto João Álvaro Rocha

Área aproximada das zonas plantadas 2640 m²

Vegetação Diversas plantas hortícolas, aromáticas,

algumas árvores de fruto, arbustos e árvores ornamentais

Equipamento/ mobiliário urbano presente Abrigo de materiais, compostores,

papeleiras, bancos de pedra

Principais funções Reprodução de plantas e componente

pedagógica

- Sector de Reutilização de Materiais: este sector promove a reutilização de materiais recorrendo a objectos do quotidiano;

- Sector Hortas Biológicas (Figura 50): Estes espaços dedicados às hortas biológicas envolvem o edifício da Escola de Educação Ambiental da Quinta da Gruta. Foram desenvolvidas com o objectivo de proporcionar aos hortelãos e demais utilizadores do espaço uma actividade que permita um contacto directo com a prática de agricultura biológica (Moreira, 2013). Estas hortas urbanas são essencialmente vocacionadas para a educação e sensibilização do ambiente.

Este pequeno espaço permite que a vida rural que há até alguns anos era tão característica na Maia, volte a ser experimentada através da companhia dos animais de quinta e da produção de alimentos. Estas hortas pedagógicas são locais onde as pessoas de todas as faixas etárias podem apreciar os ciclos das culturas em todo o seu esplendor, colaborando nas actividades diárias da Quinta e conhecendo os diferentes aspectos da gestão de um espaço rural. Esta horta urbana não foi a primeira horta colectiva no município da Maia, mas é diferente de todas as que já estão implantadas nesta cidade, sendo que os

130 talhões da horta são maiores e o mercado vai receber os seus produtos da horta, graças à proximidade com o local de cultivo.

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CAPÍTULO IV

Caracterização do Concelho do Porto e das suas Hortas Urbanas e Proposta da

Rede Municipal de Hortas Urbanas do Concelho do Porto

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