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Em 2000, o território correspondente à Grande Área Metropolitana do Porto encontrava-se ocupado do seguinte modo: 22% de áreas artificializadas³⁶, 48% com ocupação florestal e natural e 30% reservada ao uso agrícola. Os usos urbano e agrícola predominam na faixa litoral da AMP. Por outro lado, nas zonas mais interiores, a ocupação florestal e natural apresenta-se como o uso dominante, em termos de superfície ocupada (Pinho, 2009).

No entanto, Marques e Delgado (2014) referem que actualmente os espaços construídos estão mais compactos, com maior ou menor densidade. Reflectindo os níveis de densidade (proporção de ocupação na superfície total), as diferentes funcionalidades espaciais, na cidade do Porto pode visualizar-se texturas muito diferenciadas e descontínuas. Em primeiro lugar, uma extensa coroa central reúne os tecidos urbanos de maior densidade de ocupação à volta da cidade do Porto. Os autores destacam que esta mancha constitui uma estrutura funcional mista, com residência, equipamentos, comércio, indústria e serviços. Em segundo lugar, verifica-se uma extensa coroa contínua, cuja densidade de ocupação é variável. Esta, por sua vez, reflecte a dimensão dos fenómenos de extensão-agregação, constituindo uma mono funcionalidade residencial, onde pontuam as indústrias, o comércio e os serviços.

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³⁵ Pinho (2009: 20) destaca que o tecido urbano não aparenta ser condicionado pelas características

do solo, ainda que os Luvissolos estejam, quando ocorrem com grandes percentagens de argila, expostos a fenómenos de consolidação, o que implica cuidados especiais na concepção das estruturas que sobre os mesmos se apoiarão.

144 Neste processo de urbanização, Marques e Delgado (2014) mencionam que é perceptível um crescimento urbano por extensão-agregação, onde a expansão urbana se desenvolve a partir do núcleo central, ou seja, do Porto, e dos núcleos tradicionais da região metropolitana – Braga, Aveiro, Guimarães, Santo Tirso, Vila Nova de Famalicão, Barcelos, Penafiel, Espinho, entre outros. Esta expansão tem-se registado nas últimas décadas e trata-se de um crescimento por contiguidade, ou seja, um processo de extensão dos tecidos existentes e de sucessiva ocupação e colmatação dos vazios ou dos interstícios urbanos. Paralelamente, verifica-se ainda um crescimento urbano que segue formas de dispersão, onde aparecem urbanizações autónomas relativamente aos tecidos urbanos existentes e dominantemente nas áreas de transição entre o urbano e o rural.

Figura 59 – Uso e ocupação do solo na cidade do Porto.

Neste sentido, Pinho (2009: 32) realça que análise da configuração e extensão das áreas urbanizadas permite concluir que o planeamento do desenvolvimento das áreas urbanas não coincide com o aumento do número de famílias ou o aumento do número de empresas. Assim, o autor conclui que o espaço reservado para urbanização parece ser superior e exceder as necessidades da Grande Área Metropolitana do Porto, definindo que no futuro se tenderá para a correcção de algumas opções do passado em termos de desenvolvimento urbano, apostando cada vez mais na consolidação das áreas urbanas pré-

145 existentes³⁷.

Tal como se pode observar na Figura 59 e no Quadro 7, a cidade do Porto está classificada como sendo inteiramente integrada em solo urbano. Deste modo, a carta de uso e ocupação do solo está dividida em duas categorias operativas – o Solo Urbanizado e a Estrutura Ecológica Urbana. Como a cidade do Porto não apresenta Solo Rural, os espaços destinados à Agricultura Urbana estão incluídas na Estrutura Ecológica Urbana.

Os solos afectos à Estrutura Ecológica Urbana incluem assim as Áreas Verdes de Utilização Pública, Mistas e Privadas a salvaguardar e as áreas de Enquadramento de Espaço Canal e de Equipamento, sendo cada uma delas definida e caracterizada no Plano Director Municipal:

- Áreas verdes de utilização pública: correspondem a parques públicos ou de utilização pública e ainda a praças e jardins com carácter estruturante do verde urbano;

- Áreas verdes mistas: correspondem a matas e campos agrícolas ou florestais que podem integrar, sem prejuízo da produção associada a estas estruturas, equipamentos colectivos e infraestruturas de apoio às actividades de recreio, lazer e de pedagogia ligada à natureza e ao património;

- Áreas verdes privadas a salvaguardar: correspondem a prédios ou jardins, logradouros e quintas não afectos à utilização colectiva que, pela sua localização no tecido urbano, existência de áreas permeáveis, qualidade e tipo de massa vegetal ou composição florística, são considerados relevantes na imagem da cidade e promotores da qualidade ambiental urbana;

- Áreas verdes de enquadramento de espaço canal: destinam-se a servir de protecção física, visual e sonora aos diferentes usos urbanos que marginam os corredores de transporte e a requalificar os espaços que lhes são adjacentes ou a garantir o enquadramento de vias panorâmicas.

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³⁷ O conjunto dos Planos Directores Municipais dos 14 concelhos que constituem a AMP define que aproximadamente 35% do território está reservado ao uso urbano. Assim, dos 28,5 mil hectares de solo urbano, 64% correspondem a zonas urbanizadas, ou seja, áreas urbanas consolidadas, enquanto os restantes 36% englobam as áreas com urbanização em curso, áreas com urbanização programada ou áreas passíveis de serem urbanizadas. Pinho (2009) define urbanização como um processo lento, que aliado à edificação e infra-estruturação, conduz ao aparecimento de novas áreas, ditas urbanas, as quais devem reunir todas as condições indispensáveis à permanência e uso dos espaços por parte das populações e empresas.

146 Quadro 7 – Áreas obtidas na medição da Planta de Ordenamento do PDM Porto.

Qualificação Categoria Sub-

categoria Área Medida (km²) Área Total Categoria (km²) Área Total Classificação (km²) Solos Urbanizados Área Histórica 0,98 0,98 30,11 Área de Frente Urbana Consolidada 1,88 11,12 Em Consolidação 9,24 Área de Habitação de tipo Unifamiliar 5,35 5,35 Área de Edificação Isolada com Prevalência em Habitação Colectiva 6,67 6,67 Área de Urbanização Especial 1,35 1,35 Área Empresarial do Porto 0,89 0,89

Área de Equipamento Existente 3,53 3,74 Proposto 0,22

Solos

Afectos à

Estrutura Ecológica

Área de Equipamento Existente 2,52 2,78

9,81 Área Verde de

Utilização Pública

Proposto 0,25

3,54 3,54

Área Verde Mista 0,92 0,92

Área Verde Privada a Salvaguardar 0,82 0,82 Área Verde de Enquadramento de Espaço Canal 1,77 1,77 Fonte: Guedes, 2015

Assim, conclui-se que os espaços agrícolas se encontram incluídos nas Áreas verdes mistas, que representam apenas 0,92 km² da superfície na cidade do Porto. Contudo, o carácter agrícola dos concelhos do norte apresenta naturalmente as suas particularidades (que se manifestam nos restantes concelhos da AMP, particularmente na Póvoa de Varzim). As culturas temporárias predominam, com destaque para o sistema de

147 produção forrageira destinado à alimentação de bovinos de leite e para a horticultura intensiva. Na zona sul da Área Metropolitana do Porto, particularmente em Vila Nova de Gaia e em Gondomar já é perceptível a forte pressão construtiva sobre os campos agrícolas. Consequentemente, a pequena dimensão e pulverização das parcelas nestes espaços faz com que o produtor agrícola se depare com grandes dificuldades de gestão do sistema de cultura, levando ao abandono da actividade agrícola comercial (Andresen et al., 2004).