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Em 2003, foi identificada por parte da LIPOR³³ a oportunidade e necessidade de articular a disponibilidade de várias entidades locais numa rede que viabilizasse uma estratégia para a Região do Grande Porto no domínio da compostagem caseira, na criação de hortas e na promoção da agricultura biológica (Lopes, 2013). A criação de uma rede desta natureza reveste-se de enorme importância, pelo que a LIPOR, na tentativa de optimizar os espaços, a informação e os meios existentes na Região, lançou o Projecto Horta à Porta.

Reflectindo sobre a ausência entre as tradições rurais que poderiam permanecer têm surgido projectos, disseminados por todo o mundo, incluindo Portugal, de recuperação de tradições rurais, que difundem novas práticas agrícolas, através da sensibilização ambiental, no sentido de motivar e ensinar as populações a participar na concepção e fruição de um meio menos poluído e uma vida com mais qualidade.

Lopes (2013) destaca que esta iniciativa passa pela criação de espaços verdes dinâmicos e úteis, promovendo a biodiversidade e boas práticas agrícolas, através da compostagem caseira e agricultura de modo biológico, mas também pela promoção do contacto com a natureza, qualidade de vida, subsistência e responsabilidade social. Este projecto tem actualmente o apoio de 27 parceiros, incluindo a LIPOR. As Juntas de Freguesia em cooperação são: Aldoar, S. Pedro de Rates, Aver-o-mar, Custóias, Vairão, Fajozes e Ermesinde. Por outro lado, as Câmaras Municipais envolvidas são, a de Matosinhos, Maia, Porto, Vila do Conde, Espinho, Gondomar e Valongo. Contam ainda com a Comunidade Terapêutica do Meilão, empresa Nobrinde, Albergues Nocturnos do Porto, Parque de Ciência e Tecnologia da Maia, Centro de Formação Profissional, Escola E.B. 2,3 da Maia, Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Intelectual, Sociedade Portuense, Outras Tendências Lda, Centro Social e Paroquial da Sé, Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina, Espaço Municipal – Renovação Urbana e Gestão do Património, e a Cooperativa de Habitação Económica de Matosinhos (Fernandes, 2014). __________________________________________________________________________

³³ A LIPOR – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto – é a entidade responsável pela gestão, valorização e tratamento dos Resíduos Urbanos produzidos pelos municípios de Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde. Foi criada em 1982, e tem como finalidade a gestão integrada de resíduos, recuperando e construindo infraestruturas necessárias para o efeito, em paralelo com programas de sensibilização junto aos cidadãos.

133 Desta forma, Lopes (2013) refere que o projecto “Horta à Porta” em parceria com as estas entidades públicas e privadas, Municípios, Juntas de Freguesia e Empresas pretende potenciar sinergias e actuar numa linha de orientação comum de promoção de boas práticas ambientais, sociais e sustentáveis através da reestruturação dos espaços verdes, criando espaços úteis, e promoção da biodiversidade, aproximação das pessoas com a natureza, potenciando o convívio, lazer e melhoria da sua qualidade de vida, promoção do espírito comunitário, com vista ao bem comum e sensibilização para a plantação de diversidade de plantas e utilização de plantas de época e, cultivo dos próprios alimentos, promovendo a alimentação saudável, apoiando de forma generalizada o orçamento familiar, crucial no actual contexto de crise.

Figura 51 –Horta Urbana na cidade do Porto.

As parcerias assentam, ainda de acordo com o mesmo autor, num trabalho de colaboração que envolve, por parte do parceiro, a disponibilização de água e toda a obra necessária para a horta comunitária poder ser utilizada pelos futuros utilizadores. A LIPOR responsabiliza-se pela gestão do projecto, nomeadamente a avaliação periódica do espaço, fiscalização dos talhões, gestão dos utilizadores e base de dados, formação e consultoria agrícola aos utilizadores.

De forma a responder às diferentes situações financeiras e sociais das populações, p Projecto “Horta à Porta” (Figura 51) definiu diferentes tipologias que se diferenciam de

134 acordo com o seu objectivo, nomeadamente Hortas de Subsistência, Hortas Sociais e Empresariais e Hortas Institucionais.

O autor refere assim que foram criadas 6 hortas, nos dois primeiros anos de implementação do projecto (2004 a 2006) e 5 novas hortas criadas em 2010 e 6 em 2011, convergindo com os objectivos delineados no Plano Estratégico para a Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos do Grande Porto. O projecto “Horta à Porta” vem registando a criação de pelo menos duas novas hortas por ano, um aumento crescente de parcerias e novas dimensões de intervenção, nomeadamente responsabilidade social, subsistência e vertente empresarial e institucional.

Em 2009, foram criadas 2 hortas com o objectivo de complementar o orçamento de famílias carenciadas, aliando os objectivos do projecto “Horta à Porta”, a promoção da qualidade de vida das populações, a prevenção na produção de resíduos orgânicos e a promoção de boas práticas agrícolas, com a subsistência e a responsabilidade social (LIPOR, 2013).

A primeira horta de subsistência nasceu na Maia em Novembro de 2009. No caso específico da Horta de Subsistência do Castêlo da Maia, os inscritos tinham de preencher pelo menos um dos seguintes requisitos: ter mais de 3 filhos a encargo, rendimento familiar anual inferior a 20 000€ ou pelo menos um dos elementos do agregado familiar em situação de desemprego. Esta horta é constituída por 31 talhões de cerca de 100 m² cada que se destinam a quem pretender ter uma horta biológica para produção e eventual comercialização de bens, funcionando como um meio de subsistência complementar para o agregado familiar (LIPOR, 2013).

Lopes (2013) menciona que em 2010, surgiu a primeira horta de vertente empresarial, direccionada aos colaboradores. É também objectivo da LIPOR, até 2016, alcançar 25 hortas comunitárias, com um grau crescente desta dinâmica em estreita colaboração com os actuais parceiros e outros que se venham a associar.

Assim o autor refere que no total, o “Horta à Porta” disponibiliza actualmente 664 talhões, maioritariamente em hortas localizadas em zonas urbanas. São cerca de 4,3 hectares cultivados em agricultura de modo biológico e com preocupações ambientais e sociais. O projecto disponibiliza 1 talhão por agregado familiar, com cerca de 25 m², a particulares interessados em praticar agricultura biológica e compostagem caseira. As hortas são implantadas em áreas sobrantes ou áreas de cedência ao domínio público, muitas delas sem especial aptidão agrícola. Os deveres dos utilizadores incluem, entre outros, utilizar apenas meios de cultivo biológico e zelar pela boa conservação e manutenção do talhão. A monitorização das hortas consiste, segundo o autor, num apoio

135 técnico no terreno realizado por um hortelão e é feita mensalmente, através de uma avaliação do estado actual das hortas. Cada hortelão preenche um relatório que identifica o estado das zonas comuns, o estado das placas de identificação e o número de compostores funcionais. Verifica ainda o estado do compostor individual de cada talhão, bem como o estado de cada horta.

O objectivo futuro deste projecto consiste na continuação do plano de implementação de novas hortas e gestão das existentes, potenciando as actuais parcerias e as que se venham a gerar. Além disso, Lopes (2013) refere a sensibilização da população local para os benefícios da agricultura biológica, aliando-a aos melhores produtos, ambiente e consequente qualidade de vida. Refere ainda o contexto de crise actual, pois muitas famílias se debatem com fortes problemas financeiros. Assim, este projecto constitui um complemento para o orçamento familiar, contribuindo ainda para a disseminação de boas práticas ambientais e sociais.

Figura 52 –Rede de Hortas Urbanas existentes na cidade do Porto.

O primeiro passo para iniciar a definição e implementação de uma rede Municipal de Hortas Urbanas na cidade do Porto consistiu no levantamento das Hortas Urbanas já existentes (Figura 52). Devido à elevada e crescente procura destes espaços pela população urbana do Porto, considerou-se imprescindível um crescimento desta rede no espaço urbano da cidade, com expansão por todo o concelho.

136 Assim, as novas hortas urbanas serão instaladas em terrenos expectantes, tanto municipais como privados, cedidos pelos proprietários para o efeito, através de celebração de contratos de comodato. Devido à densidade de edifícios que constitui a cidade do Porto, propõe-se ainda a instalação de Hortas Urbanas no topo dos edifícios, nomeadamente no centro urbano consolidado. Poderão instalar-se em edifícios comerciais, como edifícios habitacionais, que se proponham para o efeito. O levantamento dos terrenos expectantes existentes constituiu, assim, a segunda fase de elaboração da rede municipal de hortas urbanas.

Para se poder proceder à escolha dos locais mais apropriados para a expansão e delimitação da rede municipal de hortas urbanas segue-se uma análise de alguns aspectos e características da cidade do Porto, nomeadamente da sua paisagem, da demografia que o caracteriza, da sua rede hidrográfica, da sua estrutura ecológica e das condicionantes existentes.