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O território metropolitano do Porto é preenchido por cinco bacias hidrográficas: Douro (864,3 km²), Ave (297,2 km²), Leça (278,0 km²), Vouga (83,0 km²) e Cávado (52,3 km²). Pinho (2009) refere também que o sistema hidrológico da Grande Área Metropolitana do Porto é estruturado pelas 3 primeiras bacias, que cobrem a quase totalidade dos 14 concelhos. Todas as bacias que integram as áreas da AMP exibem um âmbito territorial muito superior ao âmbito metropolitano, à excepção da bacia hidrográfica do Rio Leça. O mesmo autor refere ainda que nas bacias do Ave e do Douro, as respectivas fracções metropolitanas correspondem a zonas de aproximação à foz, caracterizadas por uma diminuição da densidade da rede hidrográfica e por um aumento do caudal das linhas de água.

148 No entanto, tal como se pode constatar na Figura 60, a cidade do Porto engloba apenas duas bacias hidrográficas: a Bacia Hidrográfica do Rio Leça e a Bacia Hidrográfica do Rio Douro. Ambos marcam profundamente o sistema hidrológico da área metropolitana, constituindo-se como os rios mais importantes do espaço metropolitano, quer no que respeita ao sistema biofísico e paisagístico, quer no que se relaciona com o abastecimento de água e outras actividades humanas (Pinho, 2009).

Gomes e Marafuz (2014) destacam que a disponibilidade de recursos hídricos no Noroeste de Portugal é superior às necessidades de água para os usos consumptivos e não consumptivos, o que sugere a sustentabilidade desta macrorregião em termos de sistema azul. Contudo, pode ocorrer escassez de água em anos secos. Relativamente aos usos consumptivos, os autores referem que a Região Hidrográfica do Douro é a região que necessita de maiores volumes de água – 628 hm³/ano -, enquanto a Região Hidrográfica a norte é a que apresenta quantitativos mais baixos - 111 hm³/ano. Destacam ainda a agricultura como o sector com maiores necessidades hídricas, com valores percentuais próximos dos 70 a 80%, enquanto o sector urbano é responsável por 14 a 24%. Assim, a capacidade de armazenamento de água reparte-se por inúmeras albufeiras que se localizam, em maior número e com maior capacidade útil, nas áreas do interior com relevos mais encaixados.

Deste modo, a carta de solos e a carta de aptidão agrícola na Bacia do Leça permitem estabelecer uma relação entre as diversas classes de aptidão e as diferentes categorias de uso do solo. Assim, Madureira (2011) destaca que dos 47 km² que se encontram ocupados pela actividade agrícola, 17 km² encontram-se em solos de elevada aptidão agrícola e 11 km² em solos de aptidão agrícola moderada. Estes localizam-se nas proximidades das principais linhas de água. O autor realça ainda que 13 km² de área agrícola localizam-se em tecido urbano, o que remete para um contexto de “forte interpenetração entre os elementos tradicionalmente associados ao urbano e ao rural”.

A persistência das áreas agrícolas em tecido urbano é justificada por Madureira (2011: 181) por uma “ancestral prática de salvaguarda das margens ribeirinhas para a actividade agrícola, o que se verifica em variadas vertentes – na relação entre a construção e o rio, na degradação das unidades industriais implantadas na sua margem, na generalizada poluição da água ou na desqualificação das áreas agrícolas subsistentes nas suas margens”. Todavia, a diminuição dos espaços agrícolas nesta bacia, que inclui a cidade do Porto relaciona-se como a expansão da mancha urbanizada, acentuando o carácter fragmentado e disperso do território. Esta característica é consequência do padrão disperso de ocupação do território, que já foi abordado anteriormente.

149 Neste sentido, o autor define dois cenários distintos: um primeiro onde os espaços agrícolas pontuam morfológica e fundamentalmente em territórios com dinâmicas de urbanização muito acentuadas, sendo assim denominadas pelo autor de áreas agrícolo- urbanas e, um segundo contexto, onde apesar da distância absoluta ser diminuta, as áreas agrícolas constituem um relativo afastamento dos processos de urbanização mais intensos. Assim, o autor conclui que as áreas agrícolas representam e constituem uma base fundamental para a definição e estabelecimento da infra-estrutura verde urbana, apesar do seu carácter fortemente fragmentado. Estas poderão ser interligadas com as restantes áreas verdes, constituindo uma rede espacial, conectando a cidade ao seu espaço envolvente.

Por outro lado, a Bacia Hidrográfica do Rio Douro ocupa uma área de 19 000 km² e, o seu sector ocidental corresponde a um relevo em escadaria que sobe para o interior. A ocidente ocupa uma faixa aplanada designada por Plataforma Litoral, a qual sobe gradualmente até aos 200 metros, seguindo-se uma série de colinas até aos 600-800 metros de altitude, culminando numa linha de serras – Alvão, Marão e Montemuro – que atingem cerca de 1400 metros. Os valores da precipitação média anual correspondem a esta linha de elevações, diminuindo para oeste, onde os valores podem variar entre os 1000 e os 1200 mm, e para o interior, com valores inferiores a 600 mm, O escoamento total médio corresponde a 8023 hm³ (Gomes e Marafuz, 2014).

A rede hidrográfica do Rio Douro é densa e bem hierarquizada. Os seus leitos de água têm geralmente fundo rochoso e o vale do Douro possui algumas curvas importantes, por vezes controladas estruturalmente, em toda a sua extensão, sendo bastante encaixado perto da foz. A foz é definida como um “estuário de tipo vestibular, em forma de funil, simples, com apenas um depósito de lodos junto à margem esquerda, ao abrigo da restinga”, também conhecido por Cabedelo do Douro (Vieira: 2015: 45).

No entanto, a agricultura e a pecuária não são significativas a nível da Área Metropolitana do Porto no vale do Douro, quer pela densa terciarização do troço final do rio Douro, quer pela pouca abundância de terrenos com boa aptidão agrícola na área mais a montante, que se limitam a alguns vales encaixados.

A cidade do Porto é ainda constituída pelo Rio Tinto e Rio Torto. O rio Tinto, cuja extensão é cerca de 11,7 km, desagua na margem direita do rio Douro, em Campanhã. Por outro lado, o Rio Torto, com 12 km de extensão, é também um afluente do rio Douro e desagua também na Campanhã. Ambos definiram terrenos que propiciaram a prática agrícola, a nascente de uma faixa decalcada pela Estrada da Circunvalação. Esta área agrícola constitui uma agricultura de fundo de vale e de agricultura de socalcos. É uma

150 agricultura temporária com especial realce para os produtos hortícolas, facto que se deve à sua inserção no meio urbano.

A cidade do Porto apresenta ainda diversas ribeiras espalhadas por toda a área urbana, que poderão ser cruciais no estabelecimento da rede municipal de hortas urbanas.