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CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES

6.2 A INDÚSTRIA AUTOMOTIVA E O SEGMENTO DE AUTOVEÍCULOS

A indústria automotiva foi escolhida por ser uma das de maior tradição e força dentro do setor industrial, contando com uma posição de destaque na economia dos países mais desenvolvidos e carro-chefe do desenvolvimento de muitos dos chamados países emergentes, que devem à ela o papel de destaque que exercem na cadeia produtiva e no comércio local e mundial. No Brasil, a sua importância não é menor, tendo desempenhado um papel de grande relevância no processo de desenvolvimento e industrialização do país.

Até o fim da década de 1980, a indústria automotiva brasileira, detentora de um mercado interno cativo e em expansão, fechado às importações, tanto de produtos acabados, quanto de insumos e equipamentos, não encontrou estímulo para realizar os investimentos necessários ao acompanhamento do processo de modernização que ocorria em outros países. A partir dos anos 1990, com a abertura do mercado local à

concorrência internacional e, mais tarde, com a estabilização da moeda brasileira, viu ser modificado por completo o cenário econômico que a havia levado a se instalar e a crescer no país. Exposta de forma abrupta e mal planejada a um novo padrão de concorrência, teve que empreender esforços para se reposicionar e voltar a ser competitiva, só que, desta vez, em termos globais.

Assim, a cadeia produtiva automotiva brasileira vem passando por muitas transformações ao longo dos últimos anos, destacando-se especialmente aquelas relacionadas com mudanças tecnológicas que permitiram expressivos incrementos de produtividade. Neste contexto, importância fundamental tem o segmento de autoveículos compactos, pois é o chamado segmento de entrada das montadoras, representando, em unidades de veículos, 63,12 % do total da produção nacional e 55,13% do total de vendas.

É um segmento muito disputado pelas montadoras, pois, neste trabalho, apesar de formalmente o campo preço não ter sido declarado como campo da competição (principal) das montadoras, ficou nítida a aplicação de armas nesse campo. Uma explicação plausível é que grande parte dos volumes desses autoveículos são direcionados para os frotistas assim como outra significativa parte é direcionada àqueles consumidores com poder aquisitivo mais baixo, e outra, para aqueles que têm esses autoveículos como segundo ou terceiro carro da família.

A concorrência é grande nesse segmento, o que é comprovado pelo atual número de competidores diretos (dez) e pela ameaça de novos entrantes, principalmente da Rússia, Índia, China e países do Leste Europeu, que prometem, para breve, lançar modelos competitivos e com preços reduzidos. Também as consagradas montadoras japonesas, reconhecidas pela sua competitividade mundial, já instaladas no Brasil e que ainda não possuem modelos para competir nesse segmento (caso da Honda e Toyota), prometem fazê-lo em breve. Dessa forma, o atual cenário, já muito competitivo, promete muitos desafios aos atuais e futuros competidores.

Cabe também destacar que a indústria automotiva vem passando, nas últimas décadas, por profundas modificações estruturais, tais como:

1º - o deslocamento da produção para países do BRIC e Leste Europeu, os quais, após um primeiro surto de desenvolvimento, tiveram condições de investir em plantas integradas, de grande capacidade fabril, e, portanto, aptas a obter alta produção com significativos ganhos de escala, mão-de-obra especializada, abundante e a baixos custos;

2º - preocupação com o meio ambiente, exigindo autoveículos mais econômicos e menos poluentes. Assim, a indústria automotiva lançou-se na busca de combustíveis alternativos, onde o Brasil ocupa lugar de destaque desde meados da década de 1970 quando lançou o primeiro veículo movido a álcool combustível, produzido a partir da cana-de-açúcar. Destaque também para o Brasil que em 2003 lançou o autoveículo bicombustível, movido a álcool e/ou gasolina simultaneamente. Atualmente as montadoras brasileiras produzem veículos tetracombustível, que podem ser abastecidos e funcionam com quatro tipos diferentes de combustíveis. Destaque também para o bicombustível, onde o Brasil novamente aparece como pioneiro em pesquisa, desenvolvimento e aplicação.

Os grandes desafios da indústria automotiva são: eliminação dos desperdícios, integração dos fornecedores, uso intensivo de materiais alternativos (alumínio e materiais recicláveis), intensificação do uso da eletrônica, maior segurança aos autoveículos e menor agressão ao meio ambiente.

A indústria automotiva brasileira enfrenta uma série de problemas estruturais, onde se destacam:

• alta carga tributária incidente sobre os autoveículos, a maior do mundo;

• baixa produtividade das plantas;

• dólar baixo, o que implica na redução das exportações e no aumento das

importações, ameaçando as montadoras instaladas no país;

• gargalos na indústria de autopeças devido aos subfornecedores que

enfrentam problemas de capacidade, aquisição de matérias-primas e mão-de- obra qualificada.

Assim, para o segmento de autoveículos compactos adquirir um maior nível de competitividade, é essencial:

• uma política focada na redução da carga tributária, o que passa pela ampla

reforma fiscal;

• aumento da capacidade instalada e da produtividade, o que passa por

investimentos setoriais por parte das matrizes e também do governo, em forma de incentivos, na criação de barreiras e na construção de acordos multilaterais;

• desenvolvimento da engenharia automotiva local, capacitando-a para o

principalmente, que funcione como unidade de negócios, fornecendo seu trabalho e know-how para outras plantas e para outras montadoras.

Em resumo, como já assinalado, a indústria automotiva brasileira segmento de compactos, para se tornar competitiva em nível nacional e mundial, necessita de ganhos de escala, de especialização, incentivos e de uma configuração industrial concentrada, em que as várias etapas do processo industrial, desde o projeto, até os produtos finais, estejam coordenadas e integradas.

Essas são condições que afetam toda a indústria automobilística brasileira no âmbito de sua competição com a de outros países.

Mas, esse não é o nosso problema, não estamos interessados em analisar a indústria como um todo, mas sim descobrir os fatores que levam um modelo de autoveículo compacto a ser mais competitivo que outro.