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CAPÍTULO 3 – O MODELO DE CAMPOS E ARMAS DA COMPETIÇÃO

3.16 VALIDADE, UNIVERSALIDADE, CONSISTÊNCIA E COMPLETUDE DO

Para finalizar o conteúdo abordado, Contador (2008) destaca que é necessário responder quatro questões. O modelo de campos e armas da competição: 1) foi validado?; 2) é universal?; 3) é isento de contradições?; e 4) é completo?

Dessas questões, duas merecem um cuidado especial quanto à validação: a configuração dos campos da competição e a tese do modelo. Aqui será discutida a validação do modelo como um todo e da configuração dos campos da competição em particular.

3.16.1 A concepção epistemológica do modelo de campos e armas da competição Conforme Contador (2008), a via epistemológica é um dos caminhos da evolução do conhecimento, pois “consiste na reflexão em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo” (HOUAISS, 2001).

Esse foi o caminho adotado para a concepção do modelo de campos e armas da competição, o caminho da observação sobre o processo de competição entre as empresas e da reflexão, para se chegar às proposições.

Esse foi também o caminho para verificar a validade das proposições, o caminho da validade cognitiva da prática – se funciona, é válido. Muitos testes empíricos foram realizados para chegar às conclusões.

Esse também foi o caminho para verificar a universalidade, consistência e completude do modelo (CONTADOR, 2008).

3.16.2 Validade e universalidade do modelo de campos e armas da competição e da configuração dos campos da competição

Para responder à primeira questão, segundo Contador (2008), é necessário validar as seguintes afirmações:

1. o modelo de campos e armas da competição é adequado, capaz e suficiente para analisar as formas usadas pelas empresas para competir, para identificar e analisar suas estratégias competitivas, para explicar os fatores determinantes da sua competitividade, para recomendar medidas destinadas à ampliação da sua competitividade e para formular suas estratégias competitivas; e

2. a configuração dos campos da competição é adequada, capaz e suficiente para representar as estratégias competitivas de negócio das empresas.

Desde 1999, o modelo de campos e armas da competição tem sido aplicado para: analisar como as empresas competem, identificar suas estratégias competitivas, explicar por que umas são mais competitivas que outras (quais fatores explicam sua competitividade) e recomendar medidas destinadas à ampliação da sua competitividade. Isso foi feito em 12 estudos, envolvendo 186 empresas industriais e de serviço de variados segmentos econômicos, que embasaram nove dissertações de mestrado e três projetos de iniciação científica. Pela importância desses trabalhos, que são submetidos à aprovação de bancas constituídas por três professores doutores, conclui-se que os estudos foram feitos em profundidade (CONTADOR, 2008).

O modelo de campos e armas da competição foi utilizado também em três extensos estudos de caso, dois para fundamentar dissertações de mestrado (RIBEIRO, 2003 e RYLO, 2004) e um para trabalho de conclusão de curso (MANTOVANI, 2003), e em outros 219 estudos de casos realizados por alunos de mestrado.

Todos esses estudos, que foram feitos em profundidade e envolveram mais de quatrocentas empresas, alcançaram de forma bastante satisfatória seus objetivos. Isso evidencia que o modelo de campos e armas da competição mostrou-se adequado, capaz e suficiente. Pela importância e seriedade desses estudos, pode-se inferir a validade do modelo, no sentido de possuir todas as condições para produzir os efeitos dele esperados. Ou seja, não é possível rejeitar sua validade.

Paralelamente a esses estudos, o conceito e a configuração dos campos da competição vêm sendo testados, quase diariamente desde 2000, por meio da análise de centenas de casos, publicados na literatura especializada e na imprensa, relativa às estratégias competitivas de empresas dos mais diversos segmentos econômicos.

Como, ainda, a configuração dos campos da competição foi adequada, capaz e satisfatória para identificar e classificar as estratégias competitivas de negócio das mais de quatrocentas empresas nas quais foram realizados estudos sobre competitividade empresarial, pode-se inferir sua validade. Ou seja, a configuração tem se mostrado adequada, capaz e suficiente para representar todas as possíveis estratégias competitivas de negócio das empresas (CONTADOR, 2008).

Em resumo, como a validade das duas afirmações colocadas no início desta seção pôde ser inferida, pode-se inferir também a validade do modelo de campos e armas da competição e da configuração dos campos da competição, no sentido de eles possuírem todas as condições para produzir os efeitos deles esperados (CONTADOR, 2008).

A validade implica na universalidade do conceito. Pois, como afirmou Kant, quando o juízo é válido para tudo que está compreendido em dado conceito, também é válido para qualquer um que represente um objeto segundo esse conceito.

Assim, pela mesma argumentação, pode-se inferir que o modelo de campos e armas da competição e a configuração dos campos da competição gozam das propriedades da universalidade. Pela Filosofia, universal é a idéia ou o conceito aplicável a todos os indivíduos de uma mesma classe de seres ou objetos.

Entretanto, deve-se mencionar a observação de Kant: a universalidade empírica nunca é rigorosa ou totalmente verdadeira. Assim, deve-se aceitar, em tese, que poderá ocorrer alguma situação onde o modelo de campos e armas da competição e a configuração dos campos da competição não sejam adequados, capazes ou suficientes.

Enfim, por gozarem das propriedades da universalidade, o modelo e a configuração são aplicáveis a qualquer tipo de empresa, quer industrial, de serviço, extrativista ou do agronegócio, de qualquer porte e de qualquer natureza jurídica (CONTADOR, 2008).

3.16.3 Consistência e completude do modelo de campos e armas da competição e da configuração dos campos da competição

Para responder a terceira e a quarta questões, segundo Contador (2008), é necessário examinar a consistência e a completude do modelo e da configuração.

Em função das aplicações bem-sucedidas relatadas na seção anterior, pode-se inferir que o modelo de campos e armas da competição e a configuração dos campos da competição gozam das propriedades da consistência, no sentido dado pela Lógica, que é

caracterizado pela coerência lógica e pela ausência de contradição em um pensamento, doutrina ou proposição (CONTADOR, 2008).

O modelo de campos e armas da competição e a configuração dos campos da competição são completos? Pelo Teorema de Gödel (NAGEL e NEWMAN, 1958), eles, por possuírem as propriedades da consistência, não gozam das propriedades da completude, no sentido de serem completos e acabados. Ao analisar os sistemas matemáticos (como a Geometria Euclidiana e a Aritmética), esse genial matemático concluiu que “se a Matemática é consistente (livre de paradoxos) então ela é incompleta”. Segundo Ricardo Kubrusly (2004), professor do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “o Teorema de Gödel é talvez o mais surpreendente e o mais comentado resultado matemático do século XX. Com certeza, é o mais incompreendido e um dos únicos teoremas que se presta a discussões filosóficas acaloradas e imediatas”.

Assim, pelo Teorema de Gödel, apesar de o modelo de campos e armas da competição e a configuração dos campos da competição terem se mostrado completos até o momento, nada se pode afirmar sobre sua completude. Ou seja, o modelo e a configuração poderão vir a ser completados (CONTADOR, 2008).

Entretanto, com respeito à configuração dos campos da competição, duas afirmações são significativas: 1) até hoje, cada um das centenas de casos analisados pôde ser enquadrado em um dos campos da competição; e 2) no nível de agregação adotado na configuração, não foi descoberto até agora um novo campo da competição (CONTADOR, 2008).