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3. A INSTALAÇÃO DA UNIVERSIDADE NO CHILE.

3.2. A Instalação da Universidade

Quase duzentos anos depois, o movimento independentista no Reino do Chile e o processo de fundação da Pátria interveem e a universidade colonial é fechada (1839). Argumentou-se que a Universidade de São Felipe não se adaptou seus planos de estudos, nem suas estruturas docentes às novas exigências e mudanças político-ideológicas do momento (MELLAFE, REBOLLEDO & CARDENAS,1992).

O último Reitor da Universidade de São Felipe (USF), Juan Francisco Meneses, foi um realista contrário à independência e ex-conselheiro do último governador espanhol. Depois de fazer uma declaração de fé republicana, reincorporou-se à USF e tentou evitar o fechamento dela. Meneses propôs que a universidade fosse restaurada e mudada em uma superintendência do sistema educativo do país, mas a inciativa não prosperou, e a USF foi, por fim, fechada (SERRANO, 1992).

A Universidade do Chile foi fundada em 1842, dez anos antes que Newman escrevesse A Ideia

da Universidade, no período em que o Modelo de Humbolt tornava-se o novo modelo universitário

(KERR, 1982), e enquanto os países hispano-americanos começavam a organizar os seus sistemas educacionais (VERA, 2015).

Sobre a relação entre a Universidade de São Felipe e do Chile, Serrano (1992) explica que existem duas tendências sobre este tema. Há aqueles que exprimem a ideia, de que não existe nenhuma continuidade entre as duas universidades, já que não há semelhança nem nas funções, nem na organização, nem nos objetivos ou espírito entre as instituições. E outros que defendem, por sua

91 vez, que existe continuidade legal e de tipo prática entre as duas universidades (SERRANO, 1992; VERA 2015).

Para diferentes autores, essa instituição chilena acadêmica nasceu no período de transição do conceito mesmo de universidade no mundo ocidental e, como outras da América Latina, recolheu na sua ideia as características do modelo francês (RIBEIRO, 1969; STEGER, 1970; TÜNNERMAN, 2003; VERA, 2015) e do modelo alemão (SERRANO, 1992). Do primeiro para organizar a sua definição como Superintendência de Educação, portanto, da relação dela com o sistema de ensino do país. E, do segundo, para sua definição como Academia Científica, isto é, para estabelecimento da sua relação com a rede mundial de conhecimento e com a população nacional (SERRANO, 1992).

Para Serrano (1992), o discurso de Instalação da Universidade, com inumeráveis estudos em torno dele, permite identificar em seu autor, Andrés Bello, uma visão unitária do conhecimento (ciência e fé, ciência e humanismo) que é valiosa por si mesma, mas também por sua aplicação. Essa concepção do saber foi coerente com o projeto de desenvolver a ideia de Pátria Chilena através da conexão à nova nação com o acontecer científico internacional.

Além do mais, favoreceu a racionalização do novo Estado inspirado no modelo napoleônico, que procurou laicizar a educação, isto é, arrebatá-la do controle eclesiástico para transformar a educação em um dever do Estado (LOUREIRO, 1966). Nesse sentido, podemos observar um exemplo nesse modelo de universidade de “adaptação da instituição universitária aos contextos políticos, sociais, etc. dados” (VERGER, 1990, p. 47).

O conceito de universidade de Bello foi influenciado pela discussão entre dois modelos. Primeiro, a ideia de universidade secular na Escócia, de tipo científica, profissional e que adota o sistema de ensino nacional. E segundo, o modelo oposto de Cambridge e Oxford de ensino de habilidades gerais para a formação do Homem Culto através da Educação Liberal (SERRANO, 1992)25.

Blanco-Fonvona (1981) explica que na época em que o venezuelano Andrés Bello esteve na Inglaterra, muitos estrangeiros ficaram surpresos ao saber que, mesmo em 1828, se qualquer inglês desejasse estudar em Oxford ou Cambridge, precisava ser membro da Igreja Anglicana, pois tais universidades não permitiam a matrícula de nenhum dissidente, inconformista, católico ou judeu. Só

25 Além de mais, os interesses desse intelectual vão desde o empirismo inglês até o pensamento utilitarista, incluindo

92 com a criação da Universidade de Londres o grupo de pessoas que antes precisava viajar ao exterior para se formar teve a possibilidade de estudar em uma universidade não sectarista e organizada segundo os princípios de Jeremy Bentham.

A proposta de universidade de Andrés Bello focou em desenvolver o ensino e o cultivo das letras e das ciências. Orientou o ensino público e fez a inspeção de todos os estabelecimentos educacionais. Desse modo, essa universidade nasceu com um marcado interesse pelo nacional e pelo aumento do conhecimento do Chile e de seu povo em nível literário, físico, social, histórico, etc. (MELLAFE, REBOLLEDO & CARDENAS, 1992).

A Universidade do Chile teve no começo cinco Faculdades ou Academias que deviam desenvolver suas disciplinas, além de se responsabilizarem por tarefas específicas do Estado. Assim, a faculdade de Filosofia e Humanidades orientou-se para a educação; enquanto que a de Matemática e Física orientou-se para mapas, para a geografia do Chile e para as obras públicas; a de Medicina para higiene pública e doméstica; e, por fim, as Faculdades de Leis e Ciências Políticas e Teologia para o assessoramento do governo em matérias legais diversas26. A articulação da universidade com a educação popular foi através da formação dos professores em ciências e letras e também do desenvolvimento de textos adequados cientificamente (SERRANO, 1992).

O discurso de Instalação da Universidade foi publicado em 1843 na Revista Anales da universidade. Hoje acessamos esse texto através de uma plataforma digital da instituição. Como olharemos, na primeira seção há uma advertência que explicita que o escopo do periódico é reunir os documentos mais importantes relacionados à universidade. Portanto, existem diferentes assuntos e seções: Leis e decretos do Supremo Governo, Acordos do Conselho da Universidade, Acordos das Faculdades, Discursos, Memórias e Notas dos acadêmicos mortos.

Tal discurso de Instalação, como enunciação ligada profundamente com a atividade, isto é, com a prática que lhe deu sentido e que ao mesmo tempo o configura, ainda que longe no tempo e em um formato digital muito diferente do seu original, apresenta marcas das práticas políticas e administrativas das quais fez parte e assim indícios das formas de mediação que nesse discurso são ressaltados. Por isso nos perguntamos: A linguagem jurídica – que na Revolução Francesa permitiu

26Para os autores Vera (2015) e Serrano (1992), Bello colocou a Faculdade de Teologia para evitar tensões com a Igreja,

93 a condução da luta de classes com a aparência de paz social (Pêcheux, 1990) – pode ser uma dessa marcas e indícios de formas de mediação?

Na imagem a seguir, podemos observar a página web do discurso de Andrés Bello:

Imagem 1: Portal web Revista Anales, Universidade do Chile27.

27Universidad do Chile. Revista Anales. Analeshttps://anales.uchile.cl/index.php/ANUC/issue/view/2107. Visitado 15

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Fonte: https://anales.uchile.cl/index.php/ANUC/issue/view/2107

Na página reproduzida em uma revista especializada que visa o acesso de pesquisadores, aparece o assunto de nosso interesse na seção “discurso”: Instalação da Universidade, de Andrés Bello (1943). Esse discurso, como acontecimento, foi lido pelo autor em 17 de setembro de 1942 ao meio dia, portanto, nas Festas Pátrias do país, momento de comemoração dos 30 anos da Independência do Chile. Nessa cerimônia, estiveram presentes o Presidente da República, os Ministros, os senhores Deputados e diferentes servidores públicos civis e militares, além de estudantes do Instituto Nacional28.

Ainda que assinado pelo senhor reitor Andrés Bello, o discurso de Instalação da Universidade define, de modo explícito, sua polifonia, não apenas ao dizer S4: “El Consejo de la Universidad me a encargado expresar a nombre del Cuerpo nuestro profundo reconocimiento por las distinciones i la confianza con qe el Supremo Gobierno se ha dignado onrrarnos” (p. 140), mas, especialmente, por trazer na sua fala e fazer circular diferentes campos de atividade e vozes como as da Religião, da Lei, da Moral, das instituições sociais, do Chile, da Pátria, das Ciências, das Letras.

Bello também trouxe em seu discurso locais como a América, Europa, Grécia e Roma, com um acabamento tal que os coloca em relação hierárquica com a Ásia e a África. Da mesma forma, Andrés Bello incorporou as vozes de grandes personagens – nenhum da Ásia e da África – como Lucrécio, Sócrates, Dante, Lavoisier, Chenier, Pascal, Racine, Villemain, Charteaubriand, Herder, Euclides, Anacreonte, Safo, Horácio, Aristóteles e Goethe.

28 O Instituto Nacional (IN) General José Miguel Carrera é a instituição educacional pública de ensino médio mais antiga

95 Olhemos a seguir um recorte do mesmo discurso de Andrés Bello que especifica os efeitos de sentido em torno da Ásia e da África e a supremacia da Europa:

Imagem 2: Recorte “afortunada América” - Instalação da Universidade

Fonte: https://anales.uchile.cl/index.php/ANUC/article/view/23217/24561

Nos seguintes recortes de sequências discursivas poderemos olhar a hierarquia que mencionamos:

Sd1: “comparemos a la Europa i a nuestra afortunada América, com los sombríos imperios del Asia, en qe el despotísmo ace pesar su cetro de ierro sobre cuellos encorvados de antemano por la ignorância”

Sd2: “o com las ordas africanas, em qe el ombre, apénas superior a los brutos, es como ellos un artículo de tráfico para sus próprios ermanos”

Sd3:¿Qién prendió en la Europa esclavizada las primeras centellas de libertad civil? ¿No fueron las letras? ¿No fué la herencia intelectual de Grecia i Roma, reclamada, despues de una larga época de oscuridad, por el espíritu humano?

Na formação discursiva, nos limites semânticos se confrontam a nossa América da boa sorte, do bom azar, do bom destino de se encontrar com aqueles Europeos, herdeiros da Grecia e da Roma, que ligaram as centelhas da liberdade civil na frente de uns sombrios, lúgubres, escuros, pretos, tormentosos impérios de Ásia e as ordas, as manadas, os semi-humanos, porque quase brutos, africanos.

Se há silêncio no sentido e sentido no silêncio, como Soto (2009) propôs, poderíamos entender o apagamento que Bello faz da influência intelectual da África sobre a Europa que já comentamos

96 (MOKHTAR, 2010, p.158). Além do mais, poderíamos entender “nuestra afortunada América” e o silêncio no discurso de Instalação da Universidade de Andrés Bello como não apenas sobre o povo mapuche, mas sobre todos os povos pré-colombianos.

Já no final do texto, na voz de Andrés de Bello, as vozes do Corpo, da Universidade e do Estado se direcionam explicitamente aos jovens poetas. Observemos a seguir um recorte do discurso sobre os jovens poetas:

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Fonte: https://anales.uchile.cl/index.php/ANUC/article/view/23217/24561

Partindo do diálogo entre a Universidade e os jovens poetas, focamos em três sequências que o autor articulou no Discurso de Instalação: 1) o caráter internacional e histórico do conhecimento, 2) a importância do estudo da língua nativa, 3) o patriotismo através do estudo da República: S1: “La Universidad, alentando a nuestros jóvenes poetas les dirá talvez: “Si quereis qe vuestro nombre no qede encarcelado entre la Cordillera de los Andes i el Mar...”;

S2: “aced buenos estudios, principiando por el de la lengua nativa” e S3: “tratad asuntos dignos de vuestra Patria”

No acabamento proposto por Andrés Bello, pode-se dizer, primeiramente, que está colocado ao jovem poeta a necessidade de ser reconhecido fora do Chile e estudar a língua nativa e os assuntos

98 pátrios. E, ademais, que a língua nativa é posta como o primeiro dos assuntos dignos de estudo na universidade.

Podemos dizer também, na perspectiva de Pêcheux, que no discurso de Andrés Bello há um deslize de sentido de jovem poeta para jovem patriota (St2: el jovem poeta es um jovem patriota) sustentado na sequência transversal St1 (St1: “el estudio de la lengua nativa es un assunto digno de la Patria”), a qual faz o deslize para o jovem poeta que estuda a língua da Pátria – por isso, jovem

patriota. A seguir, sublinhamos partes das sequências e sua articulação com as transversais:

S1: “La Universidad, alentando a nuestros jóvenes poetas les dirá talvez: “Si quereis qe vuestro nombre no qede encarcelado entre la Cordillera de los Andes i el Mar...”;

S2: “aced buenos estudios, principiando por el de la lengua nativa” e S3: “tratad asuntos dignos de vuestra Patria”

(St1) (St2) S1: jóvenes poetas

S2: aced buenos estudios de la lengua nativa S3: tratad asuntos dignos de vuestra Patria

St1: el estudio de la lengua nativa es un asunto digno de la Patria (liga S2 e S3) St2: el joven poeta es un joven patriota (Liga S1 e S3)

A língua nativa sublinhada por Andrés Bello – não apenas em torno do jovem poeta, mas nos estudos da universidade – nos remete a Pêcheux (1990), que coloca na experiência da Revolução Francesa o aparecimento de políticas burguesas sobre a língua como condição de se tornar cidadão. Isso inclui a alfabetização no uso da língua nacional, o que representa uma mudança na luta ideológica. Assim, há a igualdade frente a língua como condição da cidadania, e em paralelo a desigualdade no ensino da mesma língua. Desse modo, poderíamos olhar outro sentido presente na

Instalação da Universidade como projeto discursivo nacionalista e educativo, isto é, a instalação das

políticas de controle da língua no Chile no contexto da Instalação de um aparato político, jurídico, administrativo e militar – o que nos permite falar em uma revolução nacional e uma revolução linguística. Quais são as línguas silenciadas nessas políticas? As línguas pré-colombianas.

99 Aliás, as políticas linguísticas no desenvolvimento do Estado do Chile não apenas se organizam através do silêncio, mas também por meio de ativas políticas de gramatização (Auroux, 2014). De fato, a Gramática de la lengua castellana destinada la uso de los americanos (1847) de Andrés Bello é considerada parte da “política panhispánica” da Sociedade de Academias da Língua Espanhola. Os compiladores Jaksić, Lolas, Matus (2013) trazem a seguinte afirmação de Bello: “Chile y Venezuela tienen tanto derecho como Aragón y Andalucía para que se toleren sus accidentales divergencias, cuando las patrocina la costumbre uniforme y auténtica de la gente educada” (Andrés Bello em Jaksić, Lolas, Matus 2013: 9).

No texto Indicaciones sobre la convivencia de simplicar y uniformar la ortografía en América, escrito por Juan García del Río y Andrés Bello (1823/2013), os autores sinalizam a supremacia da língua castelhana:

Desde que los españoles sojuzgaron el nuevo mundo, se han ido perdiendo poco a poco las lenguas aborígenes; y aunque algunas se conservan todavía em toda su pureza entre las tribus de indios independientes, y aun entre ellos que han empezado a civilizarse, la lengua castellana es la que prevalece em los nuevos estados que se han formado de la desmembración de la monarquía española, y es indudable que poco a poco hará desaparecer todas las outras (p. 51).

Nesse sentido estamos de acordo com Serrano (1992), para quem na universidade existiu a ênfase na criação da cultura chilena e na adaptação de valores de outras culturas – ou seja, não se promoveu apenas uma mera cópia das ideias estrangeiras na realidade da nova nação. Kirberg (1981) também coincide com Serrano, já que para o autor talvez a universidade como entidade nacional foi o aspecto mais sobressalente da concepção do Andrés Bello. No mesmo sentido, Cussen (1992) descreve a transformação da educação e a deslatinização da cultura hispano-americana promovida por Bello. Mas a Instalação da Universidade, como afirmação patriótica, nacionalista e fonte de políticas de alfabetização, traz o apagamento de uma parte importante da história, portanto, das contradições dessa instalação em uma e a mesma língua “Una e Indivisível, como a República” (Pêcheux, 1990: 11).

Steger (1970), fazendo uma comparação entre o modelo de universidade de Humbolt e a criação de Andrés Bello, ressaltou a ênfase na 'Ordem e Progresso' do intelectual venezuelano, cujo princípio básico seria a conversão do índio através da mestiçagem, buscando-se, assim, uma cidadania universal: o indivíduo deveria ligar “sua ambição de perfeição pessoal, espiritual e moral à formação econômica, técnica, social, política e cultural daquelas sociedades e culturas que agora expandem-se no horizonte moral rumo a uma civilização unificada” (STEGER, 1970, p. 2). Portanto, a opção de

100 Andrés Bello, de acordo com Steger (1970), foi relegar a “americanidade” crioula a um papel secundário de subcultura, impondo ao novo país a civilização citadina orientada pelos valores europeus.

De fato, podemos ver a extensão do projeto civilizatório do qual fez parte a Instalação da Universidade no caso do povo Mapuche, povo pré-colombiano que tem uma outra língua, um outro projeto civilizatório e uma outra cultura, e que no território do Chile está assentado na zona centro- sul, hoje a VIII região do Bio-Bio, a IX região da Araucania e a X Região das Lagoas. Como Soto (2007) descreve, ainda que até a atualidade o povo Mapuche resista e seja reprimido pelo Estado chileno, de 1859 até 1881, com a Campanha militar “Pacificação da Araucania”, esse mesmo Estado conduziu uma guerra violenta contra esse povo, ocupando seus terrenos para logo entregar essas terras aos colonos imigrantes da Europa, o palanque do desenvolvimento nacional. Em 1881 o Estado chileno decretou a derrota militar do povo Mapuche para, posteriormente – até a década de 1930 –, pouco a pouco delimitar o espaço físico das reduções indígenas.

Tünnerman (2003) diz que a aristocracia, predominante no movimento independentista latino-americano, compreendeu a igualdade de Rousseau apenas quando se tratava da população branca (TÜNNERMAN, 2003).

No processo da instalação das políticas sobre a língua nacional no Chile, o exame de admissão foi uma parte concreta da Instalação da Universidade. De fato, para Vera (2015) uma das primeiras questões abordadas pelo claustro acadêmico da Faculdade de Filosofia e Humanidades foi os estudos e exames para ascender aos graus acadêmicos. Portanto, definiu-se que, para ingressar na Universidade do Chile, os candidatos deviam fazer um exame chamado de “Bachillerato”.

De acordo com Vera (2015) o “Bachillerato” era oral, público e feito em uma data definida pela universidade. Esse sistema de admissão trouxe a tradição francesa de Bruno Belhoste, para quem apenas uma entrevista permitia julgar as qualidades intelectuais e morais dos postulantes. No exame, através de sorteios, definiam-se o tema e a seção que o estudante deveria desenvolver.

Podemos observar que o deslize de jovem poeta para jovem patriota, produto do efeito de sustentação exercido pela transversal St1 (St1: el estudio de la lengua nativa es un assunto digno de la Patria), articula-se com o exame de admissão universitário. Assim, uma parte importante dos temas avaliados no exame seletivo são temas sobre a língua nacional (VERA, 2015). Primeiro, a língua castelhana (hoje chamada de espanhola): analogia e sintaxe na análise de um texto castelhano – ortografia, prosódia, métrica –, assim como análise prosódica e métrica de um texto castelhano em

101 verso. O exame também incluiu a tradução de um texto em prosa e de outro em verso da língua latina. E, no que concerne à literatura, noções gerais sobre o bom gosto nas letras – dicção e estilo, composições oratórias, histórico, didáticas, epistolares – , além de poemas épicos, dramáticos, didáticos, líricos, satíricos e composições menores em verso.

A natureza polifônica do discurso Instalação da Universidade coincide com o acabamento dos limites geográficos em relação aos assuntos de estudo dignos da Pátria: a Europa, a América e o Chile. No discurso de Instalação, Andrés Bello recortou na Europa e na América as relações e o “outro” para o Chile e sua universidade, portanto, Bello propôs um acabamento para os interlocutores do jovem poeta que está além da cordilheira dos Andes e do Mar (S1: “La Universidad, alentando a nuestros jóvenes poetas les dirá talvez: “Si quereis qe vuestro nombre no qede encarcelado entre la Cordillera de los Andes i el Mar...”).

Além dos temas sobre línguas já assinalados, os candidatos necessitaram demonstrar conhecimentos no mesmo horizonte Europeu, Americano e Chileno sobre os princípios de história sagrada e profana antiga, além de história grega, romana (Augusto-Júlio César), europeia (Carlo Magno, Carlos V, a Revolução Francesa e Napoleão), americana e chilena. Tinham também que demonstrar conhecer filosofia (princípios de psicologia, lógica, filosofia moral). Desse modo, observamos as mesmas marcas geográficas do discurso de Instalação no exame universitário.

Mais tarde, em 1844 adiciona-se aos anteriores temas e seções o conhecimento de mais uma língua ou “idioma vivo” (definidos em 1849 como inglês, francês, alemão ou italiano).

Além da prova ou exame oral, os candidatos precisavam pagar uma taxa da qual ficavam eximidos os estudantes de baixa renda. Ademais, cada estudante necessitava apresentar o diploma do ensino médio, encaminhar testemunhas de bons costumes e, se fosse o caso, apresentar outros atestados (VERA, 2015).

De acordo com Vera (2015), entre os anos de 1860 e 1873 foram modificadas e aumentadas