• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2- Enquadramento Teórico

2.1. Caraterísticas do meio online

2.1.3 A interatividade

Rost (2014) defende que é no conceito de interatividade que assenta o pilar mais importante do webjornalismo. O mesmo está implícito no processo jornalístico, bem como nas próprias produções jornalísticas. Ou seja, é o processo de interação com o outro, isto é, entre o jornalista, o meio e os leitores (que, por vezes, também são as suas fontes de informação). É cada vez mais uma necessidade do leitor ser ativo nos conteúdos que consome. Já não lhe chega apenas ler, ele quer também pesquisar, e que, com um clique, lhe seja mostrada uma nova página, com novos dados. Se gostar do conteúdo, o leitor sente necessidade de partilhar com a sua rede de amigos,

59

de recomendar ou até de comentar (que é uma forma de interagirem também com o conteúdo) (Deuze, 2017).

Há, assim, diversas formas de interação com as notícias. Uma delas é a partir de um conteúdo estabelecer-se ligação com outros, através de hiperligações e dar a possibilidade ao leitor visualizar conteúdos multimédia (Russel, 2017). Esta é uma forma de dotarmos o navegador de liberdade, que pode também fazer transitar os conteúdos entre plataformas, através de um simples clique, partilhando-o.

Este conceito de interatividade é entendido como positivo por Ksiazek, Peer e Lessard (2014), por permitir aos jornalistas estarem mais próximos do seu público. Com o jornal impresso, os leitores apenas conseguem ler a informação, de forma passiva, sem interação com o conteúdo ou com o jornalista. Já com a publicação no online, a comunicação passou a permitir ao leitor comentar, escolher o caminho a fazer dentro do conteúdo através das hiperligações, e relacionar-se, através de chat de comunicação ou via email, com os profissionais de comunicação (Ksiazek et al, 2014). Há, desta forma, um fluxo multidirecional da informação, no qual o leitor possui um papel mais ativo, consciente e participativo face ao conteúdo.

Mas existe vários níveis de participação do cidadão. Por um lado, aquilo que chamamos ciberjornalismo participativo: “São vistas como possíveis criadoras de seus próprios referentes e não apenas recriadoras simbólicas de significados ou interpretações dos referentes produzidos e emitidos por outros através dessas telas” (Gómez, 2009, citado por Palácios, 2014, p.92). É a interatividade que permite abordar a relação entre o emissor e o recetor, ao mesmo tempo que analisa o nível de seleção, intervenção e participação nas produções jornalísticas. Essa interação tem aumentado conforme se toma conhecimento das potencialidades da web, consequentes da evolução tecnológica (Santos, 2018). Mas é esta evolução tecnológica (a par de outros fatores, como os económicos) que tem feito com que haja uma constante definição do conceito de jornalista. Recolher informação e publicá-la diante de um grupo de pessoas está cada vez mais acessível a todos. Através de um telemóvel, regista-se a fotografia que comprova o facto que é descrito pelo texto, que vai integrar uma publicação numa rede social, por exemplo.

Não podemos, contudo, esquecer que os grandes - combates que são hoje travados na fronteira do que é Jornalismo e de quem é jornalista são outros e dizem respeito, como referimos no ponto anterior, a embates com quem reclama o estatuto de jornalista, como é o caso dos bloggers. (Marinho, 2011, p.110)

60

Mas, por outro lado, a era da convergência – originada pelos avanços tecnológicos – permitiu que uma notícia fosse construída por um vasto ecossistema de fontes de informação (jornalismo de ecossistema) que envolve não só o jornalista, como também vários outros agentes, como uma abordagem em rede, com a participação de grupos, em diferentes lugares, em constante evolução (Jorgensen, 2014).

Esta proliferação de informação arrecadada pelo cidadão e partilhada pelo mesmo deu o

boom

com a emancipação do Facebook, em 2004. No entanto, o cidadão fornece precisamente a informação e, com ela, o jornalista pode ou não decidir fazer jornalismo. Mais tarde apareceram novas redes sociais que foram/ vão ganhando terreno, como o Twitter

.

Por jornalismo participativo entende-se a colaboração do cidadão, coletivamente com a redação e não de forma paralela. A população não escreve notícias, mas passa informação ao jornalista. Processo esse que veio a ser mais facilitado com as redes sociais. Mas, perante estas formas atuar, torna-se importante assegurar o lugar do jornalista, para que não se confundam os papéis de cada um na sociedade. Para tal, é necessário manter a lealdade para com os cidadãos, mantendo a sua ética profissional e a conduta da profissão, respeitando os direitos e os deveres do cidadão participativo como fonte (Machado, 2001), verificar a informação veiculada e, principalmente, manter a sua independência face ao cidadão (Canavilhas & Rodrigues, 2012).

Esta participação do cidadão torna-se importante e favorável ao jornalista, caso ele seja capaz de não descurar as suas tarefas e responsabilidades. Devem, portanto, selecionar e interpretar os dados, assim como fazer a contextualização dos mesmos e fazer o contraditório (Canavilhas & Rodrigues, 2012; Santos, 2015; McGregor & Molyneux, 2018; Marín et al., 2017).

Para esta convergência ao nível da produção contribuiu também o aparecimento dos agentes agregadores, encarados como espaços de convergência, dos quais são exemplo a Google, a Sapo, o Facebook, entre outras plataformas, que permitem ao leitor comunicar com os jornalistas. Embora Russel (2017) e Deuze (2017) defendam que há efetivamente uma maior participação dos cidadãos nas notícias, também reconhecem que os jornalistas mantêm a sua autoridade, no sentido de manterem o seu papel de “guardiões” das decisões daquilo que é e não é notícia, assim como de todo o processo que a origina (Russel, 2017; Deuze, 2017). Os jornalistas deram as boas-vindas aos trabalhos dos cidadãos naquilo que consideram as notícias mais leves, mas em temas mais complexos, como a política, resistem à interatividade do cidadão. Se, outrora, a presença nas redes sociais por parte dos profissionais dos órgãos de comunicação se devia à

61

necessidade de partilha dos links nas redes, agora prende-se mais com a interação com o público do que com a autopromoção.

Mas Peixinho e Marques (2015) afirmam que há uma interatividade ilusória. Embora a Internet permita uma comunicação bidirecional, chamar o jornalismo atual de interativo era, para as autoras, “sobretudo de alguns sites e empresas de media, um abuso na utilização do termo” (Peixinho e Marques, 2015, p.123). Defendem, portanto, que o cidadão comum não interfere “assim tanto” no resultado final do jornalista, embora a tentativa de interferência tenha vindo a alterar as rotinas de produção dos profissionais de comunicação:

O facto de existirem diversos instrumentos tecnológicos à disposição dos leitores chat, email, fóruns, redes sociais com linkagem nas páginas online dos meios de comunicação social por si não nos parece ser suficiente para se afirmar que a interatividade é hoje uma realidade concreta do jornalismo (Peixinho e Marques, 2015, p.123).

É certo que a maior interatividade do cidadão, nomeadamente no que respeita à sua presença nas redes sociais e nos sites de notícias, através dos seus comentários, não passa despercebida no dia a dia do jornalista. No entanto, há rotinas e regras estabelecidas que fazem com que esta interatividade nem sempre seja levada em consideração pelo jornalista. As redes sociais, por exemplo, podem fazer parte da rotina dos jornalistas. Uma partilha de um cidadão pode ser o alerta para um facto que desencadeie uma notícia. Mas nem sempre será assim. As organizações podem, por exemplo, estabelecer o uso que cada profissional deve dar à rede social (Russel, 2017).

Desta forma, as organizações vão mantendo as práticas oriundas dos meios tradicionais e adaptando-se às modernas. Ou seja, não se pode descurar que o leitor não é mais um ser passivo, que espera simplesmente pela receção dos conteúdos. Ele assume hoje mais possibilidades de interação com os conteúdos, não só pela liberdade de navegação nos mesmos (através do hipertexto, por exemplo) como também em fazer chegar informação às redações dos jornais e partilhar as suas opiniões sobre os conteúdos que lê. No entanto, nem sempre a sua interação com os conteúdos deixa marcas nos mesmos. “Contudo, parece-nos francamente excessivo considerar que estas peças conferem ao leitor o poder de controlo e menos ainda a possibilidade de se situar num patamar comunicacional similar ao do emissor” (Peixinho e Marques, 2015, p.125).

62