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Capítulo 2- Enquadramento Teórico

3.5. A entrevista

Sentiu-se ainda necessidade de recorrer à realização de uma entrevista à gestora de redes sociais no norte. Isto porque, se a observação participante deu oportunidade de percecionar o trabalho dos intervenientes (jornalistas, editores, grafista, e editores de vídeo), o mesmo não se pode dizer no que respeita à gestão das redes. O facto de não ter contacto direto com esta tarefa não me permitiu percecionar o seu impacto. Tendo em conta as questões que me propus responder, houve necessidade de percecionar melhor como era desenvolvido este trabalho, bem como ter acesso à opinião e dados relativos à gestão de redes. Para tal, optou-se por implementar, na última semana se estágio (por ser o momento em que já tinha as questões formuladas e o caminho a desenvolver neste relatório definido) uma entrevista. Consistiu no desenvolvimento de “precisão, focalização, fidedignidade e validade de um certo ato social comum à conversação” (Goode & Hatt, 1973, p.237). Partiu-se de um guião previamente estruturado – mas aberto a novas questões que surgiram no momento da sua implementação -, que permitiu aprofundar o tema abordado, isto é, a interação dos conteúdos partilhados, e a respetiva opinião da entrevistada sobre o sucesso dos mesmos nos leitores. A preparação da entrevista e a formulação de um guião permitem guiar a

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conversa, ao mesmo tempo que auxiliam o entrevistador a recolocar-se no seu papel quando se aproxima demasiado do entrevistado. Porém, esta solução de “padronização” das entrevistas poderá colocar em causa a sua “profundidade” (Goode & Hatt, 1973, p.239).

Torna-se igualmente importante atender, em momentos de entrevista, a aspetos subliminares, referentes à comunicação não verbal, isto é, aos “pequenos comportamentos que acompanham as emoções” (Goode & Hatt, 1973, p.240). Isto porque é através deste tipo de linguagem que, por vezes, se comunica tanto ou mais do que a partir da linguagem verbal. No entanto, o investigador deve ser capaz de implementar as entrevistas de forma consciente, de modo a não se deixar envolver nas emoções e tornar-se parcial. Caso isso aconteça, estará a influenciar os resultados finais da entrevista (Goode & Hatt, 1973).

O entrevistador não deve se tornar num amigo (…) devem ser mantidos elementos adicionais de respeito, de competência profissional (…) além disso ele [o entrevistado] verificará que sua própria confiança diminuiu, se o objetivo passa a ser manter a amizade. (Goode & Hatt, 1973, pp.248- 249)

É certo que “quanto maior quantidade de liberdade de ação permitida ao entrevistado, mais necessário é um alto nível de competência” do entrevistador (Goode & Hatt, 1973, p.239) e, para tal, é necessário, por exemplo, conseguir-se manter o distanciamento para com o entrevistado. A entrevista foi uma técnica de recolha de informação que é “fundamentalmente um processo de interação social” (Goode & Hatt, 1973, p.239) e que se tornou fulcral para perceber para onde estavam a ser canalizados recursos financeiros para gerar interação nos conteúdos, assim como a estratégia de comunicação do

V Digital,

que, somente com a observação participante, poderia tornar-se insuficiente.

3.6. Análise de conteúdo

Para analisar os dados da observação, foi aplicada a técnica de análise de conteúdo para proceder à codificação e categorização dos dados recolhidos (Santos, 2015). Por análise de conteúdo entende-se o “conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (Bardin, 2004, p.38). Com esta técnica teve-se a intenção de inferir conhecimentos a partir dos dados observados atendendo às suas “condições de produção”, de modo a “ultrapassar a incerteza” e, através de uma leitura atenta aos dados recolhidos, enriquecer o conhecimento acerca do tema escolhido (Bardin,2004, p.29). Ou seja, na análise de dados ter-se-á em conta o contexto em que os mesmos foram desencadeados. Este será o momento em que se colocará em confrontação aquilo que foi

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apurado, a partir de uma análise descritiva dos dados, com a análise interpretativa do investigador (Guerra, 2014). Além disso, nesta técnica, o investigador deve-se usar construções analíticas para que, a partir dos dados, obtenha respostas às suas perguntas de partida. Esta técnica permite o uso de elementos qualitativos e quantitativos na análise (White & Marsh, 2006), tal como será feito e poderá ser verificado ao longo deste capítulo.

Por um lado, partiu-se de uma análise quantitativa aos dados tendo por base a categorização pré- existente, que decorreu do modelo de análise e que integrou o guião de observação, de modo a obter dados objetivos e sistemáticos do conteúdo observado, e que foram “submetidos a testes e técnicas independentes para julgar a sua viabilidade e confiabilidade” (White & Marsh, 2006, p.27).

Por outro lado, foi aplicada uma análise de conteúdo qualitativa perante os dados resultantes da observação sistemática. “As conclusões podem ser retiradas acerca do comunicador, da mensagem ou do texto (…) incluindo o contexto sociocultural da comunicação, e/ou os efeitos da mensagem” (White & Marsh, 2006, p.27). Do material recolhido, procurar-se-á chegar a descrições sistemáticas do significado (Santos & Dalto, 2012). Para tal, é intenção identificar no conteúdo tendências, estilos e intenções de modo a que sejam agrupados e, depois, analisadas as conclusões dos dados.

Vai-se proceder à comparação intra-conteúdo (White & Marsh, 2006), ou seja, à relação existente entre os diferentes conteúdos dentro do mesmo corpus de análise, face aos objetivos previamente definidos, através de categorias pré-existentes oriundas da revisão literária e da experiência de estágio, que integraram o guião de observação. É importante dizer que, em muitos dos componentes, a partir da análise qualitativa da comunicação – que foi registada a partir do preenchimento do guião de observação – foram agrupadas quantitativamente para uma melhor perceção da informação (Santos & Dalto, 2012). Houve apenas um momento de análise quantitativa que teve por base uma categoria emergente, no ponto de análise 4.1.6, que deu origem ao gráfico 6, onde serão levadas em conta duas categorias, isto é, o número de visualizações de página e o número de visualizações de página únicas, segundo a definição do Google Analytics. Houve necessidade de analisar estes dados a fim de comprovar o que foi explicado na análise descritiva dos dados. Depois do processo de categorização da informação e, como já explicado, foram feitas inferências de modo a atribuir, “por meio de deduções lógicas e justificadas, significado ao discurso” (Santos & Dalto, p.3). Tentou-se recolher, com a observação

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participante, dados minuciosos, com o máximo de anotações, nomeadamente de emoções, reações, padrões de comportamento, entre outros. Visa-se fazer uma análise dos dados mais precisos e aprofundada. Isto porque sabia que poderiam passar-se vários meses desde a recolha até à interpretação de dados (o que aconteceu). Ou seja, foram tidas em conta as formas de comunicação verbal e não verbal, através do processo de descrição, de modo a desconstruir os significados de tais comunicações perante os componentes de análise propostos (Santos & Dalto).

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