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Capítulo 2- Enquadramento Teórico

2.1. Caraterísticas do meio online

2.1.6 A ubiquidade

Pavlik (2014) aborda a “ubiquidade” como um dos princípios fundamentais para a criação de conteúdos online. O termo significa que algo está em todo o lado, ao mesmo tempo. Jornalisticamente falando, a Internet acarretou consigo a possibilidade de um conteúdo circular rapidamente por várias pessoas, em várias partes do país e no mundo.

No que concerne aos meios de comunicação, os mesmos são ubíquos, porque quaisquer pessoas, em qualquer lugar, conseguem aceder à informação numa rede interativa que decorre em tempo real. Neste sentido, o leitor pode, não só aceder à informação, como também participar nela. Esta caraterística explana a interação entre a informação produzida amadoramente, pelo cidadão, e profissionalmente, pelo jornalista (Pavlik, 2014).

Eric Schmidt e Jared Cohen, da Google, fornecem evidência de que 5 bilhões de pessoas passarão a estar online durante a próxima década, especialmente por meio da mídia móvel, elevando o total de indivíduos conectados em todo o mundo para 7 bilhões. (Pavlik, 2014, p.160)

É toda esta emancipação da Internet que faz prever uma mudança ainda mais acentuada do que aquela que o jornalismo já atravessa. Pavlik (2014) defende que haverá tendência de, tanto o poder político como os próprios media, se deslocarem em direção ao cidadão. Mas este mundo em que tudo é acessível em qualquer lado acarreta a diminuição do preço por cada nova obtenção de conhecimento. Ao mesmo tempo, haverá cada vez mais velocidade de navegação, o que aumentará a possibilidade de ver vídeos com qualidade e sem interrupções, bem como suportar novas aplicações (Pavlik, 2014).

Mas, se, atualmente, este cenário ainda é imprevisível em alguns lugares do planeta, a intenção é que a Internet deixe de ter barreiras físicas. É nesse sentido que verifica a intenção de levar a tecnologia a todos os países, mesmo aqueles em que a mesma chega de forma mais lenta. Até porque continuam a haver diferenças a este nível entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.

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, muitos dos temas sugeridos por mim, vieram de pistas que fui observando da minha rede de “amigos” online, ou seja, consequência, não só da interatividade, mas também desta ubiquidade, em que a informação passou a estar em todo lado porque há cada vez mais meios de recolha e partilha de informação. Angústias, experiências, conquistas eram partilhadas em redes sociais, por exemplo. Davam pistas para reportagens e, depois de um longo trabalho até ser publicado, nesta última instância, o cidadão interferia novamente no conteúdo publicado pelo

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– ajudava no processo de partilha. As redes podem ser benéficas, quando há, por parte do jornalista, todo o processo de verificação da informação, a devida recolha de dados e o seu tratamento.

Atualmente há uma maior rede de contactos, mais formas de contar histórias, mas maiores desafios colocados nas mãos dos jornalistas, no que concerne ao seu papel de filtros daquilo que é ou não informação. Isto requer uma melhor preparação académica dos profissionais de comunicação e mais pesquisa.

Há estudos que analisam o jornalismo como uma rede que envolve o jornalismo cidadão como parte integrante da rotina global e do diálogo nas produções de notícias, incluindo a análise ecológica global e local. Assim como outros estudos empíricos mostram que, no entanto, muitas organizações de média não integram a participação do cidadão nas suas rotinas de produção de notícias em rede. (Gagnon & Anderson, 2015, p.6)

As redes sociais auxiliam na partilha com a rede daquilo que o repórter cidadão captou. Esta forma de partilha de conhecimento tem-se evidenciado benéfica, na medida em que são dadas pistas, informação vivenciada, muitas vezes na primeira pessoa, transformando-se em fontes de informação acessíveis através da Internet. Mas se não são necessários tantos jornalistas no terreno, então isso poderá ser um fator impulsionador de despedimentos que já se tem vindo a manifestar nas redações (Lorenz, 2014). Em todo o caso, se analisarmos pela perspetiva de Russel (2017), em que os jornalistas continuam a ser os detentores do papel de produzir notícias a partir da informação recebida (realizando o trabalho de verificação e tratamento de informação), esses despedimentos podem estar acautelados. No entanto, para Lorenz (2014), a ubiquidade acarreta outro problema: a rapidez com que a informação chega às redações e delas parte para as plataformas online, que são igualmente meios de propagação de informação de forma veloz. A Internet veio trazer a oportunidade de o leitor não ter de esperar pelo dia seguinte, para saber o que estava a acontecer na atualidade, e isso provocou o imediatismo da circulação de notícias (Greenberg,2012; Deuze, 2012) Assim, os erros das notícias também se espalham mais

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rapidamente. As informações pouco verificadas, uma consequência da rápida publicação e falta de verificação, podem provocar danos significativos na sociedade. Foi por isso que o jornalista e professor catedrático de Jornalismo na Universidade do Oregon, Laufer, criou um movimento intitulado “

slow news

”.Este seria um esforço de apelar à apuração da informação e à sua reflexão rigorosa. O professor explica que é tão importante dar informação exata para a sobrevivência humana como o ato de comer (Lorenz, 2014).

As “

slow news”

vão vistas por vários teóricos (Deuze, 2012; Drok & Hermans, 2016; Greenberg, 2012; Lorenz, 2014; Santos, 2018) como as produções jornalísticas pelas quais os consumidores pagarão, como ensaios e reportagens, e outras formas que oferecem alternativas às

“fast news

”, ou seja, que vão além da informação veiculada no imediato e que se dedicam à explanação rigorosa e aprofundada dos factos. “É investindo mais tempo nas produções e consumação da obra, que descobrimos coisas que, de outra forma, não saberíamos, e noticiamos coisas que ficaram perdidas, e comunicamos na mais elevada arte de contar histórias” (Greenberg,2012, 382).

Tendo em conta a revisão de literatura, foi possível perceber que o jornalismo enfrentou, sobretudo a partir do ano 2000, várias mudanças, que o colocaram e ao jornalista perante um novo paradigma. Este trouxe-lhe novas exigências, mas, com elas, surgiram oportunidades de se reinventarem. Os estudos da comunicação, nomeadamente sobre as caraterísticas do jornalismo online, intensificaram-se em Portugal e no mundo. Todas as particularidades explanadas anteriormente fazem do jornalismo digital um jornalismo mais híbrido, conjugando a hipertextualidade, interatividade, multimedialidade, ubiquidade, memória e personalidade (Deuze, 2017). Neste relatório, foi feito o levantamento de alguma da literatura existente nesta área. O objetivo foi que, com isso, seja possível percecionar, no próximo capítulo (aquando da análise dos dados recolhidos no

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) se o meio de comunicação, que se autoapresentou como de inovação online, cumpriu as caraterísticas que a teoria afirma serem necessárias, para que os conteúdos sobrevivam neste meio. Desta forma, tentar-se-á retirar conclusões sobre quais as particularidades que mais contribuíram para o sucesso do

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