• Nenhum resultado encontrado

5. A cooperação entre estados e municípios em quatro estados brasileiros

5.1. Ceará

5.2.2. A intermediação estadual no Mato Grosso do Sul

Os entrevistados apontaram que, antes do fortalecimento da cooperação entre o Estado e os municípios na Educação no Mato Grosso do Sul a partir de 2007, havia programas em cooperação que envolviam o transporte escolar e a realização de formação inicial e continuada. Os entrevistados não foram claros em relação à trajetória desses programas e à sua institucionalização. Apesar disso, eles enfatizam que foi, nos últimos anos, que a colaboração entre Secretarias Estadual e Municipais foi ampliada e institucionalizada.

A cooperação entre o Estado e os municípios na Educação foi, portanto, fortalecida no governo estadual nos Governos de André Puccinelli (2007 a 2010 e 2011 a 2014), em que a Secretária Estadual era Nilene Badeca da Costa. Os entrevistados enfatizam o fato de que essa Secretária pensa na rede pública como um todo e não somente na rede estadual, o que pode ser explicado pela sua própria trajetória. Antes assumir o governo estadual, André Puccinelli foi Prefeito de Campo Grande de 1997 a 2000 e de 2001 a 2004 e Nilene foi Secretária Municipal de Educação durante esses mandatos. Antes de assumir a Secretaria Municipal, Nilene já tinha trabalhado na própria Secretaria Municipal e havia sido delegada do MEC no Estado e, após sua gestão como Secretária Municipal, ela trabalhou com assessoramento aos municípios.

Além disso, enquanto Secretária Estadual de Educação, Nilene foi Presidente do CONSED de 2011 a 2014. Nesse período, ela visitou outros estados, que tinham iniciado

experiências cooperação com os municípios, como o Ceará. Isso teve um efeito positivo na política estadual, levando preocupações de coordenação para o estado.

No começo da sua gestão, em 2007, o PAR estava sendo iniciado nos municípios com os piores IDEBs em todo o país. No entanto, a Nilene negociou com o MEC a elaboração do PAR em todos os municípios do Estado. E a partir da concordância do MEC, a Secretaria Estadual realizou uma série de encontros e palestras sobre o tema e, em seguida, conseguiu ocupar oficialmente o papel de acompanhamento dele.

Uma equipe da Secretaria Estadual também realizou visitas aos municípios. O objetivo era assessorar tecnicamente as Secretarias Municipais em relação à sua adesão aos programas federais. Segundo os entrevistados da Secretaria Estadual, havia casos em que as Secretarias Municipais tinham recebido materiais para escolas indígenas e quilombolas, mas não tinham essas escolas em suas redes municipais.

Depois dessa fase inicial, a Coordenadoria de Apoio aos Municípios foi criada em 2010 para continuar esse acompanhamento e assessoramento aos municípios. Dessa maneira, a cooperação entre o Estado e os municípios ocorre fundamentalmente por meio do assessoramento técnico aos municípios para a elaboração do PAR e adesão, implementação e prestação de contas dos programas federais. Também realiza outras ações de cooperação como formações e convênios e parcerias.

Desde 2007, portanto, a Secretaria é responsável pelo monitoramento do PAR municipal no Estado. Segundo relatado por um dos técnicos da Coordenadoria, o PAR é elaborado durante uma gestão e, muitas vezes, com a mudança política, as equipes das Secretarias Municipais buscam revisar e modificar o PAR. Essa é a maior demanda da Coordenadoria. Além disso, ela auxilia as equipes municipais esclarecendo questões específicas sobre contrapartidas, prestação de contas e monitoramento.

A Coordenadoria é composta por técnicos, que se dividem para cada um deles assessorar grupos de dez a doze municípios29. Há também um técnico responsável pelos convênios que envolvem emendas parlamentares.

Como apontado, todas as Secretarias Estaduais possuem uma coordenação do PAR e dos programas federais em suas estruturas. Apesar disso, a maioria delas não realiza uma

29 A Coordenadoria não presta assessoria à Campo Grande, pois, em municípios de grande porte, as Secretarias

assessoria organizada e institucionalizada, apenas responde às demandas que eventualmente surgem na implementação dos programas. A equipe da Coordenadoria possui acesso ao sistema do PAR, o que permite uma assessoria mais efetiva aos municípios. Ademais, quando os técnicos do MEC realizam visitas à Secretaria Estadual, a Coordenadoria organiza palestras com os representantes das Secretarias Municipais.

No que se refere à formação, a Secretaria Estadual realiza formação continuada para os professores e equipe técnica das Secretarias Municipais de Educação. Isso inclui a implementação do programa federal Profuncionário, formação para o uso dos Núcleos de Tecnologia Educacional e para acessibilidade comunicacional aos alunos surdos por meio do curso de Língua Brasileira de Sinais. No caso das formações, os municípios precisam ceder espaço, transporte e alimentação como contrapartida.

No âmbito dos convênios e parcerias, estão: a oferta de cursos técnicos de nível médio em conjunto com os municípios; o repasse de recursos para a execução do transporte escolar; cessão de profissionais para o atendimento de alunos com necessidades educacionais específicas e de uso de prédio e/ou dependências de escolas estaduais para funcionamento de escolas municipais, nesses casos, em um período, funciona a rede municipal e, no outro, a rede estadual, o que ocorre tanto em prédios estaduais como municipais; realização do Censo Escolar, incluindo a capacitação dos representantes das Secretarias Municipais; e elaboração de calendários de maneira conjunta para facilitar o transporte escolar.

Além disso, em função do pedido de alguns municípios, a Secretaria Estadual permite que os municípios façam adesão ao programa estadual Além das Palavras. Ele foi criado em 2008 como um projeto para os alunos do 1º ao 5º anos do ensino fundamental em algumas escolas da rede estadual de ensino que apresentavam os piores IDEBs. Em 2011, o projeto se tornou um programa estadual, na medida em que passou a ser implementado em toda a rede estadual.

O Programa consiste na formação continuada, no assessoramento técnico-pedagógico, na distribuição de materiais, como livros e materiais lúdicos, na avaliação diagnóstica inicial e final e no monitoramento online e in loco. Quando ele é implementado pelas Secretarias Municipais, a Secretaria Estadual apenas realiza as formações com os professores das redes municipais. As demais ações que compõem o Programa devem ser custeadas e implementadas pelos próprios municípios.

Em relação à negociação e ao diálogo entre as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação no Mato Grosso do Sul, alguns entrevistados afirmaram que as negociações entre Secretarias Estadual e Municipais de Educação eram realizadas com intermediação da UNDIME e hoje são realizadas diretamente entre as Secretarias. Apesar disso, foi relatado nas entrevistas que a Secretária Estadual sempre participa das reuniões da UNDIME. Ademais, o entrevistado da seccional da UNDIME no Estado apontou que representantes da Secretaria Estadual sempre discutem os programas e ações que tenham relação com os municípios com representantes UNDIME. Segundo ele, todas as decisões são consensuadas.

Observa-se que a dimensão mais importante da cooperação no Mato Grosso do Sul está relacionada com a assessoria prestada aos municípios no âmbito dos PARs municipais, da adesão e da implementação dos programas federais. A Secretaria Estadual não desempenha, portanto, um papel de coordenação federativa como no caso cearense, mas atua como um intermediador regional dos programas federais. Destaca-se que, como apresentado no capítulo anterior, esse tipo de cooperação entre estados e municípios tem sido comum na política de Educação brasileira. Ele está presente, por exemplo, nos casos da Bahia, Goiás e Mato Grosso.

Nesse sentido, a Secretaria Estadual auxilia as Secretarias Municipais por três motivos principais. Em primeiro lugar, ela influencia a coordenação desses programas, ou seja, a adequação deles às reais necessidades das redes municipais e a própria coordenação entre eles, na medida em que há inúmeros programas sendo financiados pelo Governo Federal nos municípios brasileiros que não são a priori coordenados. Em segundo lugar, ela assessora a implementação deles, principalmente, no que se refere às dificuldades operacionais, administrativas e financeiras resultantes da falta de profissionalização das burocracias das Secretarias Municipais. E em algum grau, profissionaliza as burocracia locais com essa assessoria. Por fim, essa assessoria também é importante, pois, como mostrado por Faria & Guimarães (2014), as escolas que apresentam os melhores resultados educacionais acessam a um número maior de programas federais.

Ademais, é importante notar que a Coordenadoria não representa um departamento responsável apenas pelo assessoramento, ela passou a ser a “porta de entrada” dos municípios na Secretaria Estadual. Isso ocorre, pois a equipe da Coordenadoria, muitas vezes, encaminha os Secretários Municipais e suas equipes para outros departamentos do governo estadual. Segundo um dos entrevistados, ela não fornece assessoria em relação ao Programa Mais

Educação, por exemplo, mas orienta as equipes municipais a buscar informações com o setor específico dentro da Secretaria Estadual.

5.2.3. As políticas municipais de Educação e a cooperação nos municípios sul-